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Observações em Paris

mandah

Usuário
Sentada à mesa de um tradicional café parisiense, à beira do Sena, vejo o quão encantadora é esta cidade e o quanto as pessoas são felizes nela. A minha frente está sentado um jovem casal. Dezesseis no máximo. Começam simplesmente tentando se olhar, mas quando seus olhares se encontram eles fogem. Talvez isso seja demais para jovens corações. Aos poucos vão começando a conversar e rir. Sim, aquele provavelmente era seu primeiro encontro. Ele, por fim, toma a iniciativa e coloca sua mão sobre a dela. Os dois enrubescem. Ah, como é fascinante o primeiro amor...
Numa mesa mais distante, ainda mais discreto, há um casal de idosos. Eles sorriem. Imagino que já passaram por muitas coisas ao longo de sua vida, já terão os filhos crescidos, com uma penca de netos. Passaram juntos por muitos momentos felizes, e talvez algumas crises, mas superaram todas, juntos, felizes e unidos como nunca haviam sido antes. Mas agora vendo, noto que ele tira algo do bolso e mostra a ela. É uma aliança. Ele a está pedindo em casamento. Eu estava enganada, não viveram a vida toda juntos, mas se conheceram já na maturidade da vida, já devem ser viúvos, perdidos do amor que os acompanhara a vida toda. Ou talvez já se conhecessem de outrora, talvez tenham se amado na juventude e o destino os separara, se unindo muito tempo depois, na velhice.
Há também um casal de adultos, com cerca de 40 anos. Mas, diferentemente dos outros dois, eles não parecem estar muito felizes. Discutem. Ela provavelmente fala sobre os problemas dos filhos na escola, ou talvez sobre as dívidas do lar. Ele começa a se exaltar. Posso a ouvir gritando algo como aquela rapariga. É isso, ele provavelmente a traiu com outra, talvez a melhor amiga dela ou a secretária dele. Ela se levanta. Está chorando. Vai embora. Ele também chora. Paga a conta e se vai. Aquele deveria ser o fim de anos de vida em comum, de promessas de amor não cumpridas, de uma paixão que se dilacerou com o passar do tempo.
E ao meu lado há um rapaz. Não tão jovem quanto o casalzinho que já está mais próximo, nem tão velho quanto os dois que discutiam. Eu diria que ele não é mais velho do que eu sou. É belo. E está sozinho. É a única outra pessoa no café que não tem companhia alguma. Ele também me observa. Nossos olhares se cruzam a todo instante. Só que já não somos tão tímidos a ponto de desviá-los. O que será que ele está pensando? Eis uma coisa que eu gostaria de saber. Vejo que ele também toma notas em um caderno. Talvez também esteja escrevendo uma crônica.
Ele se levanta e se aproxima de mim. Meu coração começa a bater mais forte. O que será que ele quer? Ele traz a crônica consigo. Talvez queira comparar as nossas observações. Ele se senta a minha frente. Me mostra o pedaço de papel em sua mão. É um esboço. Sou eu. Estava mais uma vez enganada. Ele estava me desenhando. E era um lindo retrato. O tenho agora mesmo em minha mão. Eu estou com um rosto diferente do qual estou acostumada a ver no espelho. Meus olhos eram a parte mais interessante da obra. Tinham um ar observador. Reais, mas mais bonitos do que são na verdade. Eu disse isso a ele, que me respondeu que quem me disse isso não deveria enxergar muito bem. Nós sorrimos.
Estávamos nos reencontrando após muito tempo. Tínhamos tudo e nada em comum. Gostávamos de escrever e descrever o comportamento humano. Só que de maneiras diferentes. Enquanto meu principal instrumento era as palavras, o dele eram os pincéis.


Anos depois, já no fim da vida, vejo que todas aquelas personagens que encontrei um dia, num pequeno café em Paris, representavam toda a minha vida, toda a minha essência. Sim, um dia eu fui aquela jovem garota, as voltas com o primeiro amor. Também era eu a mulher de meia idade que discutia com o marido após imaginar uma traição. E me descubro também como aquela velha senhora, refazendo na velhice, o amor de toda a vida.
Muitos anos vivi, muita coisa passei, muita coisa sofri. Mas nunca o amor deixou de bater dentro de mim.
 
Brigada pelos elogios gente.
Clover, acho que os casais de 40 tem mais problemas, isso faz com que eles briguem mais. Ou talvez eu esteja enganada.
 
Amandinha, eu votaria nesse texto pro destaque não fosse o Maycon ter postado seus cinco minutos no céu.

Só uma coisa, acho que "renca" não existe. Seria "penca".
 
Não sei se renca existe tipo "oficialmente", mas eu conheço bem a palavra neste mesmo sentido, só nunca usei num texto... não será um regionalismo?

Legal a história Amandinha... faz a vida parecer meio que a brincadeira das cadeiras...
 
Tauil disse:
Amandinha, eu votaria nesse texto pro destaque não fosse o Maycon ter postado seus cinco minutos no céu.

Só uma coisa, acho que "renca" não existe. Seria "penca".

Que bom que você gostou do meu texto. Isso já me alegra muito. :sim: Eu tinha escrito primeiramente penca. Mas aí eu achei que renca poderia ser melhor, mas não sei se é certo usá-la. Vou pesquisar sobre isso, aí qualquer coisa eu mudo.

Vail disse:
Não sei se renca existe tipo "oficialmente", mas eu conheço bem a palavra neste mesmo sentido, só nunca usei num texto... não será um regionalismo?

Legal a história Amandinha... faz a vida parecer meio que a brincadeira das cadeiras...

Como assim brincadeira das cadeiras?
 
Eu sempre escutei "penca" e é assim que está nos dicionários. Uma penca de banana é uma porção de banana etc.
 
Amandinha disse:
Como assim brincadeira das cadeiras?

Era aquela brincadeira, que nós que nascemos A.I ( antes da internet) faziámos: crianças corriam ao redor de cadeiras até a música acabar, sentavamos e uma cadeira era retirada até a penúltima, que é quando a brincadeira termina.
Essa mudança... a coisa de você estar numa situação observando e noutra hora vc ser o centro das atenções me lembrou isso não sei pq direito, talvez porque apesar de ser uma situação muito comum (enamorar-se), sempre será uma experiencia única, aconteça quantas vezes for... é isso.
 
Tauil disse:
Eu sempre escutei "penca" e é assim que está nos dicionários. Uma penca de banana é uma porção de banana etc.

Pronto, mudei pra penca. Acho que renca é coisa da minha cabeça.


Vail disse:
Amandinha disse:
Como assim brincadeira das cadeiras?

Era aquela brincadeira, que nós que nascemos A.I ( antes da internet) faziámos: crianças corriam ao redor de cadeiras até a música acabar, sentavamos e uma cadeira era retirada até a penúltima, que é quando a brincadeira termina.
Essa mudança... a coisa de você estar numa situação observando e noutra hora vc ser o centro das atenções me lembrou isso não sei pq direito, talvez porque apesar de ser uma situação muito comum (enamorar-se), sempre será uma experiencia única, aconteça quantas vezes for... é isso.

Eu já brinquei disso. É que eu não tinha entendido direito o que significava. É uma boa maneira de pensar. Gostei.
 

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