A idéia de Tolkien, ao que dizem vários estudos, era criar uma mitologia 'inglesa' ao misturar elementos de outras mitologias - vide nórdica, por exemplo, ao usar a idéia de Trolls, e grega, pela imagem de Taniquetil (que remete ao monte Olimpo) ou de Aman (relacionando-se com os Campos Elíseos) - com traços da mitologia celta e anglo-saxã mas norteando tudo dentro de uma visão católica.
Há alguns paralelismos que podem ser traçados entre a obra de Tolkien e o catolicismo, a existência de um deus único, a queda de Melkor, entre outros aspectos. Mas não parecia haver nenhum interesse da parte de Tolkien de elaborar um livro teológico ou que possuísse todas as imagens retratadas na História da Salvação.
O que se discute mais é a presença de uma 'moralidade' (que inclui traços católicos), já que existe uma relação invisível entre os atos nobres ou vis de um e outro personagem - como se um ato fosse recompensado de alguma maneira conforme o tipo de intenção que leva o seu autor a fazê-lo. Até em SdA, a posse do um Anel desperta desejos como a avareza, a cobiça, a inveja e outros 'pecados' que acabam por degradar as pessoas (trazendo sim a idéia do mal versus o bem, ou do moral versus o imoral).
Porém isso não era uma premissa de caráter exclusivamente cristão na obra tolkieniana e sim uma derivação de seu projeto de criação de uma obra mitológica que pudesse permanecer como um reflexo de uma sociedade. Portanto, não havia na obra de Tolkien uma idéia maniqueísta ou exclusivamente católica, e sim um espectro de 'fábula', ou seja, que fosse embutido no texto alguma forma de lição moral (da qual não seriam imunes os heróis, visto que Tolkien não os pinta como perfeitos e sim como imperfeitos e capazes de perdas de moral).
É claro que não há como desvalorizar a presença católica na obra tolkieniana, já que os valores que ele traz têm, sim, projeções repletas de uma moral religiosa mais específica. Por outro lado, há uma idéia que ultrapassa a religiosidade, englobando características de uma obra de valor perene e universal, que tenha abrangência de valores que não se restrinjam ao grupo a qual Tolkien pertencesse.