A questão não é não acreditar que não exista um propósito, mas aceitar. Aceitar que tudo que você vive, tudo que você sente, tudo que você constrói, tudo não vai servir pra nada.
O que acontece é que a sociedade é muito tendenciosa em relação a isso... A própria educação em si é meio confusa. Se a própria vida não tem propósito que propósito terá estudar, trabalhar, ter dinheiro, construir uma família?
Eu sempre me senti um pouco usada com isso. Por que o que eu sinto agora, por mais que não signifique nada, é alguma coisa pra mim nesse momento.
Eu sei que quando eu morrer isso não vai fazer absolutamente nenhuma diferença. É que nem sonhar. Você sonha a noite toda, mas só se lembra algumas vezes. De que adianta ter um sonho fantástico se você não se lembrar sequer que sonhou quando acordar?
Mas isso remete também ao papel do ser humano no universo. Eu gosto de ver as coisas como uma unidade. Não existe o ser humano, o ar, o peixe. Existe o tudo. Até por que o universo não é feito só das coisas que nós compreendemos ou sentimos. O ser humano é extremamente limitado em todos os sentidos.
O exemplo perfeito pra o que eu quero dizer é o que eu vi na televisão outro dia. Era um programa sobre animais etc. E mostrava o falcão caçando. Falava que o falcão se orientava pelos raios ultravioletas para seguir a urina do rato e poder caçar. E o programa mostrava como se fosse uma simulação da visão do falcão, mostrando umas luzes roxas por onde o rato tinha urinado.
A partir do momento em que você vê o roxo, que vc consegue sentir isso, aquilo já está errado. Se os raios ultra violetas fossem apenas luzes roxas a gente conseguiria vê-los, mas é um sentido que a gente não tem. Só.
Eu acho que o problema do ser humano é que ele não se convence que ele não pode tudo. Existem coisas que a gente simplesmente não consegue compreender, a gente não pode entender, uma vez que as nossas capacidades são totalmente limitadas.
Eu vejo o mundo como um desenho do Daniel Azulay. Eu me lembro dele fazendo os desenhos mais ou menos assim: Ele pegava um papel com uma montanha desenhada, botava um papel manteiga por cima e desenhava uma casinha, botava outro por cima e desenhava uma árvore. Pra testar outra árvore, ele destacava aquele papel manteiga e botava outro. Mas a montanha sempre estava lá. Pra mim é assim que funcionam as coisas. Mas o que é a montanha do mundo? Simplesmente a gente NUNCA vai saber. NUNCA.
Quando você morrer não vai vir um anjinho pra te explicar como funciona o universo. Você simplesmente morrerá na ignorância.
É triste, mas eu penso que uma vez que a gente faz parte desse Universo, de certa forma nós também movemos ele, também sabemos como ele funciona, também somos o Universo. Quando morrermos, continuaremos fazendo parte dele, seja em qualquer papel manteiga for.