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O som e a fúria (William Faulkner)

Pesquisei e não encontrei um tópico sobre esse livro fantástico. Parece-me que o próprio objetivo da obra e confundir. Confesso que no início não achei sua leitura prazerosa. O prazer é todo deixado para depois, postergado, para quando após um esforço hercúleo de leitura, se compreende, ou pelo menos se imagina compreender, o universo imaginado por Faulkner. Ah, claro, sem o apêndice de 1946, acho que a compreensão da obra chegaria perto do impossível. Excelente obra para um tópico aqui no meia palavra !
 
RE: O som e a fúria

tenho o livro (cosac naify) aqui mas nunca me animei pra ler.... apesar de já ter lido um texto falando do avanço temporal (acho que era isso mesmo) entre o retrato do artista do joyce e o texto de faulkner...
 
RE: O som e a fúria

Engraçado... Pelo que li acerca dele, não achei que ele é lá tão difícil... Mesmo porque, pelo que entendi, só as partes do Benjamin (é isso mesmo?) dão uma dificuldade maior que as outras,
pelo fato dele ter retardo mental e "distorcer" o tempo...
 
RE: O som e a fúria

Também li na ediçã da Cosac. As partes do Benji (que antes se chamava Mauri como o tio) são de fato as mais difíceis. Mas quando li sequer sabia que a história era contada por personagens diferentes e muito menos que existiam personagens diferentes com nomes iguais (inclusive de sexo diferente, p. ex. Quentin). Isso, somado ao fato de não saber que o Benji tinha retardo mental e distorcia o tempo, fez com que a confusão da primeira parte fosse comunicada para todo o restante do texto. Só consegui pescar depois, com o apêndice. Se tivesse lido uma edição sem o apêndice de 1946 não teria entendido nada do livro. Lucas, acabei de ver a lista. Legal !
 
RE: O som e a fúria

Maldição, o Kelvin já criou o tópico!! Mas tudo bem, ainda tem muito que falar. Não tenho costume de ler várias vezes o mesmo livro, mas agora que terminei "O Som e a Fúria" pela segunda vez pude entender perfeitamente o prazer que existe em repassar uma história que admiramos. Ou talvez justamente por ser considerado um livro hermético, ele ofereça ainda mais oportunidades para ser apreciado em leituras subsequentes...

Uma das coisas mais excepcionais sobre o livro é que não sendo algo completamente alienígena (essa foi para o Joyce), ele ainda se estrutura de uma maneira muito original. Como disse o Kevin, o primeiro contato, quando não temos nenhuma ideia sobre o modo como o texto se organiza, faz com que se insinue como algo inexpugnável. Mas existe sim uma estrutura e desvendá-la mesmo se torna um dos prazeres do livro. Então, estejam avisados, tudo que se segue já é de alguma maneira um spoiler.

Como o Kevin comentou, o livro é dividido em 4 partes, cada uma delas com o seu narrador peculiar, e cada um deles o Faulkner representa por recursos diferentes. Gradativamente eles vão se tornando mais convencionais, mais próximos do que seria um romance "tradicional", mas embora seja realmente uma ideia tentadora lê-lo de trás para frente, não sei se isso teria um bom resultado... A compreensão geral, de qualquer forma, só pode emergir com a conciliação de todos os narradores, todas as partes se apoiam entre si.

Imagino que um dos grandes motivos para que este seja considerado um livro difícil seja mesmo a primeira parte. Logo assim de cara ter que lidar com um texto não-linear, com personagens que somem e reaparecem, com misteriosos trechos em itálico... Mas existe uma chave simples que consiste em considerar o seguinte: como seria a compreensão de uma pessoa que não tivesse percepção do tempo? Benjamin, o autista ou deficiente mental pelo qual acompanhamos essa primeira parte, vive em um mundo assim, fugidio, em que imagens do presente se encadeiam às memórias de outros tempos, numa sequência de associações fortuitas. Existe então para esse narrador um fluxo de consciência, mas de uma qualidade especial, porque se refere a uma consciência que em si é fragmentária. Ao mesmo tempo, Benjamin se torna o observador que mais fatos colabora para o entedimento das circunstâncias da derrocada dos Compsons, justamente por captar elementos que atravessam todo o período, quase aí uns 30 anos.

Partindo dessa ideia, relendo agora, minha compreensão da primeira parte se enriqueceu muito. Mas para o caso de isso ainda não ser suficiente, acho que vale a pena deixar mais algumas chaves.

Chave Nível 2
Os itálicos indicam uma transição no tempo. Geralmente eles acontecem porque alguma coisa fez com que Benjamin se voltasse para um outro período da história.

Chave Nível Master
Para identificar o período a que se refere o texto, vá reparando nos personagens que acompanham Benjamin.

Jason III - Pai de Jason IV, Caddy, Quentin e Benjamin (Maury).
Caroline - Matriarca.
Caddy - Mãe de Miss Quentin, batizada em homenagem ao tio.
Benjamin - Nome de batismo Maury, em homenagem ao tio (irmão de Caroline).
Dilsey - Matriarca dos empregados. Mãe de Versh, Frony e T.P.
Versh - Irmão mais velho, cuidadava de Benjy na sua infância.
T.P. - Que cuidava de Benjy na sua adolescência.
Luster - Filho de Frony. Cuida de Benjy no presente (1928).


Na verdade, fiquei agora com a impressão de que a segunda parte é que é realmente a mais complicada. Essa é narrada por Quentin, irmão de Benjamin, em primeira pessoa, com bastante recurso também ao fluxo de consciência. Acontece que, apesar de ser intelectualmente saudável, tendo sido inclusive enviado a Harvard como esperança de recuperação da família, Quentin se encontra em um momento de grande perturbação emocional, que se reflete em um discurso bastante incoerente em alguns momentos. Desaparece a pontuação, a sintaxe... fica só o impulso de algumas palavras e algumas imagens. Essa só na terceira leitura...

E para não ficar parecendo que o Faulkner vive só de ficar inventando novos tipos de narradores com perturbações mentais, acho bom ressaltar que ele também é perfeito em formas mais tradicionais. "O Som e a Fúria" é um daqueles livros em que nem uma palavra parece fora do lugar.
 
Ai, que alívio! Eu tava me sentindo uma lerda por me embananar de verde e amarelo nessa leitura inicial...

Lá vem a história, sentaram? =P

Engraçado, eu e meus preconceitos...rs. Eu só conhecia esse livro pelo nome (que aliás, acho encantador), mas nunca li sinopse, resenha, nada, não fazia ideia de qual era a história do livro. Assim que comecei a ler, desconfiei que o narrador era deficiente mental, por causa das referências da idade dele e a maneira com que ele narra, meio infantilizada/infantil, não sei. Mas aí, quando fala da menina que o veste para ir no frio, e da mãe que o chama de bebê, e força um beijo que não estala, etc, logo pensei que era uma criança bem pequena. Como tava tudo muito truncado, fui escarafunchar umas páginas aleatórias mais pra frente e vi umas notas no fim que explicavam qq coisa de o narrador ser cuidado e entretido por um negro 3 vezes mais novo, daí comecei a desconfiar que eu tava entendendo quase certo. Só que fui ler o resumo na contracapa e ficou tudo turvo de novo porque os personagens tidos como protagonistas nem tinham surgido na história ainda, rs. Daí me dispersei completamente e comecei a brincar de quebra-cabeça tentando encontrar lógica sequencial na narração toda embaralhada e... ai. Na verdade, me custou aceitar que o narrador era deficiente mental. Sei lá, fiquei meio desconfortável de entender isso e ler tudo em primeira pessoa. É estranho. Me senti uma observadora impassível diante de uma realidade insondável que foi inocentemente aberta pra mim, como se, sei lá, me faltasse empatia e isso criasse um jugo desigual entre mim e o narrador, rs, ah, não sei explicar. Mas é estranho. Vou continuar amanhã, torcendo pra esse capítulo (ou essa "antipatia") acabar logo. Nem desconfiava que havia múltiplos narradores. Isso me alivia um bocadinho também, se fosse tudo à la Benji, eu ia me questionar se essa não era uma receita para fazer um livro dadaísta... :hahano:

Vcs não sentiram um certo incômodo, ou isso é frescura da minha parte?
 
Não sei se entendi bem, Manu, mas é incômodo mesmo ler uma coisa da qual você se sente sempre de fora, à margem da qual você vai se arrastando, esperando um espaço para se afinar com a históra...

Mas se você resistir até o fim, e reler depois essa primeira parte, garanto que vai perceber o quão legal ela é! :sim:
 
RE: O som e a fúria

Mavericco disse:
Engraçado... Pelo que li acerca dele, não achei que ele é lá tão difícil... Mesmo porque, pelo que entendi, só as partes do Benjamin (é isso mesmo?) dão uma dificuldade maior que as outras, pelo fato dele ter retardo mental e "distorcer" o tempo...
Estragou o livro pra todos que ainda não leram, basicamente.
 
Não acho que tenha estragado... :think: Quase toda resenha que você for encontrar do livro destaca este aspecto do Benjamin -- aspecto este que inclusive ajuda na compreensão de um livro difícil como O Som e a Fúria. Seria como você dizer que alguém estragou o Finnegans Wake ao te dizer que é um sonho.

Mas de toda forma, coloquei em Spoiler a informação.
 
É algo tão ponto-chave assim? Ok, vou parar de floodar e tratar de ler o livro, é melhor, né? XD
 

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