[align=justify]Sabe o que gosto de pensar sobre isso (não que esse seja o mote da obra, mas ainda assim ela permite esse diálogo): que mesmo os casos que "anômalos" são designados anômalos por uma referência que não é natural, mas que é construída e criada pelo homem, ou seja, ela é social e historicamente construída.
Isso me leva a pensar sobre uma coisa interessante sobre o livro: partindo do pressuposto de que a ilha é isolada (tudo bem, os garotos seriam em tese criados partindo de princípios ingleses, embora eles pareçam bem "universais" no livro) e que, se não houvesse uma carga histórica sobre o comportamento humano e nem houvessem outras pessoas na ilha (sem sociedade, portanto) qualquer comportamento que qualquer pessoa tivesse não poderia ser considerado anormal, justamente pela falta de referência ou parâmetro para julgá-lo como tal.
Dessa forma, e é aí que eu quero chegar, que os comportamentos bárbaros, ferais, animalescos ou qualquer caracterização que queiramos a eles atribuir, só assim são considerados com base em um padrão ou estigma de "normalidade" e "anormalidade" construídos pelas pessoas. Logo, mesmo que haja uma carga biológica primitiva em nossos genes, a forma como ela é percebida pelas outras pessoas, ou seja, pela sociedade; é mediada com base na própria experiência social.
Por isso, e espero que tenha sido minimamente claro, é que acho intrigante e difícil saber qual o peso de cada dimensão em nossa existência: se o determinante é o social, se o que pesa é o biológico/natural, ou se tudo isso não passa de uma forma que a gente criou para tentar entender o que é a vida humana.
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