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O semeador de livros

Aconteceu há uns cinco anos. Três assaltantes, armados, entraram na livraria e editora Cortez, pertinho da PUC, em Perdizes. Era noite e muitos funcionários já haviam ido embora. José Xavier Cortez, o fundador e proprietário do estabelecimento, interveio.
- Pode levar meu relógio, minha carteira, meu celular... Mas o cofre eu não sei abrir, não.
E como bom proseador, desatou a papear com um dos assaltantes. Da origem em comum – nordestinos – tiraram assunto.
- Olha, meu negócio é pequeno, não sobra muito dinheiro, não – dizia o livreiro.
- Sabe como a vida está difícil, né? Não tem emprego... – responda o bandido, como que para se justificar do crime.
- Você tem filhos? Não quer levar livros para que eles não tenham a mesma sorte que a sua?
Ao descobrir que o sujeito era pai de três crianças, Cortez pediu para uma funcionária separar os 19 títulos que, na época, compunham a coleção infantil da editora. “Ele me agradeceu e levou a sacola cheia”, relembra o livreiro, todo feliz.

A reportagem me chamou a atenção com essa pequena história. O tal editor, José Xavier Cortez, é um nordestino hoje com 73 anos. Superou as dificuldades tão comuns no interior do Brasil - principalmente a de educação precária – com trabalho, estudo e determinação, o que implicou mudar-se para São Paulo.

Virou dono de um negócio de livros sempre tendo a exata noção de que mexer com livros pode ser mais do que um negócio, mais do que venda: é formar pessoas, politizar cidadãos. Na PUC-SP, próximo de alguns intelectuais, como Paulo Freire, conseguia para eles em plena ditadura militar muitos livros proibidos pela repressão. Depois o negócio virou a editora Cortez.

História de vida interessante do cara. Um bom exemplo made in brazil, e com o carimbo do Norte, de alguém que sempre apostou nos livros como fonte de mudanças gerais e com eles venceu na vida. Apesar de não gostar do tom perto da idolatria – que acredito eu mesmo ter impresso nesse breve resumo -, saiu um documentário biográfico sobre o sujeito. Apesar do tom, num país que a leitura é tão marginalizada, um nordestino que foge do destino comum justamente por apostar na leitura, é algo estimulante.

Aqui para assistir o documentário.

Só recomendo ficarem longe da parte inferior do site! Se a setinha do mouse relar no menu interativo, outra seção do site é exibida, o documentário para, e aí é preciso recomeçar desde o início – eu fiz isso 4 vezes :calado:

“Tudo na minha vida foi acontecendo. Não escolhi nada, só abracei as oportunidades”, constuma repetir o livreiro, com seu jeitão simples e cativante. E, quando se põe a pensar sobre seu passado, é bonita a dúvida que lhe vem. “Eu queria saber como é que aquele assaltante chegou em casa com os livros que eu dei. Será que os filhos gostaram?”

Fonte: O Estado de São Paulo, caderno Cidades - 28/02/2010
 

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