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Notícias O que São Paulo perde com o fim do Ginásio do Ibirapuera?

Fúria da cidade

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Vista parcial do Ginásio do Ibirapuera - Werner Haberkorn/Acervo do Museu Paulista da USP/Domínio Público

Vista parcial do Ginásio do Ibirapuera Imagem: Werner Haberkorn/Acervo do Museu Paulista da USP/Domínio Público

"É muito fraco esse argumento de que [o Ginásio do Ibirapuera] não tem uso e que as despesas são muito altas. Está super claro o que a cidade vai perder e não é tão claro o que ela vai ganhar". Rodrigo Milan não é o único com opiniões fortes sobre o futuro de um dos maiores símbolos da cidade de São Paulo. Mas sua opinião não se resume ao achismo temperamental. O urbanista e sociólogo chileno é doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP com uma tese sobre urbanismo esportivo na América Latina.

pc
A possível demolição do Ginásio do Ibirapuera e do Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães se tornou assunto de destaque no noticiário e nas ruas da maior metrópole da América Latina. O governo do Estado de São Paulo pretende conceder um dos equipamentos públicos esportivos mais tradicionais da capital paulista à iniciativa privada, transformando-o em um "complexo multiuso". Em bom português, tal mudança levaria à demolição da estrutura para dar lugar a outras instalações, como um shopping center.

Segundo publicação do governador João Dória (PSDB), no dia 4 de dezembro, em suas redes sociais: "São Paulo vai ganhar a mais moderna arena de esportes e entretenimento da América Latina, no lugar do velho e ultrapassado Ginásio do Ibirapuera. Conheça agora mais detalhes da nova e tecnológica arena esportiva, Ibirapuera Complex".

Um abaixo-assinado pela preservação do conjunto reúne mais de 70 mil nomes de atletas olímpicos, especialistas, representantes de entidades ligadas à defesa do patrimônio e cidadãos comuns que se colocam contra o projeto de concessão apresentado pelo governo de João Doria (PSDB).

No final de novembro, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) do Estado de São Paulo rejeitou abrir um processo de tombamento do complexo, projetado na década de 1950 pelo arquiteto paulista Ícaro de Castro Mello. A composição do conselho foi alterada pelo governador, em 2019, por meio de um decreto que reduziu a representação das universidades e aumentou a do próprio governo do estado entre seus membros.

A publicação do edital de concessão foi suspensa em 17 de dezembro por uma liminar concedida pela Justiça a pedido de uma ação pública protocolada por arquitetos e atletas ligados ao grupo Esporte pela Democracia. O governo ainda pode recorrer da decisão.

Ginásio do Ibirapuera - Gabriel Cabral/Folhapress - Gabriel Cabral/Folhapress




Vista aérea do Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, onde fica o ginásio do Ibirapuera, em São Paulo
Imagem: Gabriel Cabral/Folhapress

O conjunto é considerado um ícone da cidade e um marco da arquitetura moderna brasileira. Além disso, teve influência decisiva na formação de muitos atletas olímpicos do país e na iniciação ao esporte de incontáveis moradores da cidade.

"Para além de perder um ícone, [a demolição do conjunto] significa perder um espaço de sociabilidade, de iniciação esportiva, de convívio democrático, de respeito ao direito ao lazer. Seria uma perda enorme, considerando que não são muitos os espaços dessa qualidade que a cidade tem que sejam gratuitos, de acesso público para as pessoas", disse a Ecoa o urbanista e sociólogo Rodrigo Milan.

Patrimônio público​


Além do Ginásio Geraldo José de Almeida, conhecido como Ginásio do Ibirapuera — que, equipado com quadra e arquibancadas para cerca de dez mil espectadores, se adequa à prática de diversas modalidades esportivas e abriga espetáculos de esporte e cultura —, o complexo abrange ainda outro ginásio poliesportivo, quadras de tênis, além de conjunto aquático, estádio de atletismo, alojamento para centenas de atletas e salas de condicionamento físico.

O projeto foi inovador na escala, por não haver nenhuma infraestrutura do mesmo tipo e porte na época, em São Paulo, e se tornou um divisor de águas na trajetória do arquiteto, consagrando-o definitivamente e possibilitando que projetasse grandes ginásios para outras capitais do país, como Recife e Brasília.

O ideal do lazer público, visto como direito, e do esporte como prática aberta à população, esteve embutido na concepção do complexo.

"Em termos urbanísticos, é importantíssimo compreender o projeto [do conjunto esportivo] dentro de um projeto maior: o do Parque do Ibirapuera. Ele trazia a ideia de um espaço público, aberto, gratuito, disponibilizando para a população uma experiência de lazer e recreação em uma cidade que é trabalho, trabalho, trabalho"Rodrigo Milan, doutor em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP

O pai do Ibirapuera​


Além de serem exemplos da arquitetura moderna brasileira, o Ginásio do Ibirapuera e o Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães são fruto de um momento, situado a partir da década de 30, em que várias cidades da América Latina investiam em espaços públicos de esporte e lazer.

O esporte, que passava por um processo de profissionalização e de institucionalização do ponto de vista do investimento, era visto por governos e setores da sociedade também em sua potencialidade pedagógica, na dimensão da formação cívica. A reivindicação de um grande ginásio para a capital paulista surgiu na esteira da edificação de estruturas semelhantes em outras capitais do continente, nos anos 40. Foi em 1954, com a comemoração do quarto centenário da cidade, no entanto, que o projeto ganhou impulso e financiamento. O conjunto esportivo nasceu integrado ao projeto do Parque do Ibirapuera, com a ideia de se conjugar lazer, esporte e cultura num mesmo espaço.

Autor do projeto do ginásio, o atleta e arquiteto Ícaro de Castro Mello (1913-1986), dedicou a carreira a projetar edifícios esportivos no Brasil e na América Latina, quando a arquitetura moderna brasileira se encontrava no auge. Recordista sul-americano de salto em altura e salto com vara, Mello participou da equipe brasileira de atletismo nas Olimpíadas de Berlim, em 1936. Recém-formado engenheiro-arquiteto, abriu no mesmo ano seu escritório e uma pequena construtora, começando a viabilizar seus primeiros projetos. A partir de meados dos anos 40, passou também a trabalhar como arquiteto do Departamento de Educação Física e Esportes do governo de São Paulo, órgão que pleiteou a construção do Ginásio do Ibirapuera como parte das comemorações dos 400 anos de São Paulo.

Uma constelação em prol do ginásio​


"Um equipamento público de esporte é fundamental numa sociedade desigual como a nossa", diz Maju Herklotz, esgrimista, membro da delegação brasileira nas Olimpíadas de Atenas (2004) e arquiteta. "No caso da esgrima, a gente tinha um espaço onde os técnicos podiam trabalhar com crianças que não podiam pagar pela esgrima, que é um esporte que ainda é de elite. Essa sala d'armas na Federação Paulista, durante os 20 anos que ela operou, ampliou a possibilidade das pessoas praticarem um esporte como a esgrima", completa Maju que faz parte do movimento Esporte pela Democracia

No pedido de tombamento que foi rejeitado pelo Condephaat, o arquiteto Renato Anelli, representante do Instituto dos Arquitetos do Brasil no conselho, destacou o significado cultural e histórico do conjunto, seu valor estético e arquitetônico, assim como o papel do espaço para a formação esportiva dos habitantes da cidade, desde atletas de alto desempenho até esportistas amadores.

Campeões de diferentes modalidades formados no Ginásio do Ibirapuera deram a UOL Esporte depoimentos sobre a importância do espaço em suas trajetórias.

"É muito triste você ver uma estrutura esportiva não ser mais utilizada. Faz parte não só da minha história, mas também da de muitos atletas. Outros locais podem ser utilizados para outras atividades privadas, não um local público como este. Não temos tantos locais como esse no Brasil. Os atletas e a população deixam de ganhar", disse a nadadora e comentarista Fabíola Molina, vencedora de quatro medalhas nos Jogos Pan-Americanos e ex-recordista de nado costas nas três Américas.

Fabíola Molina londres - Divulgação - Divulgação




Fabíola Molina na Olímpiada de Londres, em 2012
Imagem: Divulgação

Quem é favorável à concessão privada do espaço aponta como justificativas a obsolescência e a degradação do conjunto, que estaria subutilizado e teria uma manutenção de alto custo para o poder público.

"Há um investimento enorme em saúde, sociabilidade, recreação e lazer [embutido] nesse espaço que não está sendo valorizado, não está sendo colocado na conta", disse Millan. "Não é tão claro o que [a cidade] vai ganhar com um projeto de concessão como esse, tão pouco preciso nos seus objetivos e nas suas promessas de como o esporte vai se manter ali", diz o sociólogo e urbanista Rodrigo Milan

O sucateamento e mesmo um boicote por parte do Estado desestimularam o uso do equipamento pela população, que já foi muito mais intenso, abrindo caminho para a privatização.

O fato de que a concessão altera o programa do equipamento e coloca em xeque o uso gratuito do espaço pela população é para a arquiteta e urbanista Carolina Heldt um ponto central da discussão: "É uma questão de programa político. Não tem como delegar à iniciativa privada diretrizes programáticas para um bem público" diz
Carolina, Segundo ela, que também é professora da Escola da Cidade, o tombamento garantiria que a concessionária tivesse requisitos a cumprir para manter o interesse público do complexo.

"É um recurso ideológico tratar esse processo [de degradação do conjunto] como algo natural, como se fosse um objeto que envelheceu. Naturaliza um processo que na verdade é artificial -- de falta de investimento público e falta de uma política pública programática de uso naquele território"Carolina Heldt Arquiteta e urbanista

Benefícios de equipamentos públicos de esporte e lazer
  • Iniciação ao esporte e formação de atletas (de base e de alto rendimento)
  • Convívio horizontal e democrático entre habitantes da cidade
  • Acesso ao lazer
  • Promoção de saúde

Haverá futuro?​


Para Carolina Heldt, a resposta para a manutenção e gestão do conjunto esportivo do Ibirapuera está em aproveitar o engajamento dos atores que têm se posicionado sobre o destino do equipamento para criar uma agenda e gestão compartilhadas, que levem em conta seu caráter metropolitano. Ela destaca a segunda consulta pública acerca do Projeto de Intervenção Urbana (PIU) do ginásio, que será realizada em 2021 pela prefeitura de São Paulo, como uma oportunidade para formular esse novo modelo de gestão.

A possibilidade de concessão à iniciativa privada e a necessidade de reforma do equipamento não são descartadas por Rodrigo Milan. Para ele, o fundamental é que se mantenha o programa e a função do conjunto esportivo.

"A arquitetura brasileira já tem muitos exemplos de reformas super bem feitas. Tem pessoas qualificadas para fazer isso. Mas tem que manter o uso, a ideia de um espaço em que o esporte amador, a indústria esportiva e o espetáculo possam conviver", disse Milan. Em 2003, o governo do Estado de São Paulo promoveu com o apoio do IAB-SP um concurso público nacional de projetos para a modernização do conjunto esportivo do Ibirapuera. O projeto vencedor, dos arquitetos Hector Vigliecca, Luciene Quel e equipe, é elogiado por especialistas por respeitar as características originais do conjunto. Mas não saiu do papel.

https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas...-perde-com-o-fim-do-ginasio-do-ibirapuera.htm
 
O Ibirapuera tem um complexo esportivo que se fosse melhor cuidado é muito útil e que já formou muitos atletas. Se demolirem pra outros fins será mais um patrimônio esportivo perdido, já não bastasse o que aconteceu no Rio de Janeiro após a Olimpíada.
 

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