Excluído045
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Isso cai naquilo que eu postei tempos atrás sobre quem defende que homossexualismo seja uma patologia. Esses patologicistas parecem enquadrar a heterossexualidade como um padrão a partir do qual nos dizem o que é um comportamento sexual 'natural' e o que foge disso, como antinatural.
O problema não está somente nesse 'referencial', que é ideologia pura, mas na dificuldade de se colocar limites entre sanidade e insanidade. Eu quero algum dia começar a estudar psicologia só pra tentar entender como a ciência analisa e fixa esses limites, que eu sempre achei tênues. Afinal, o que é loucura? Algumas sociedades encaram o incesto como algo normal, e o mesmo se pode dizer da pedofilia, no entanto, esses comportamentos não são considerados doentios? Parece que há também uma certa confusão entre o que é patológico e imoral pelos mesmos motivos, o de fixação de limites. Autores que eu comentei que jogam bastante com esses assuntos são Nietzsche e Dostoievski, o primeiro enquanto parte de sua crítica ao pensamento ocidental e sua imposição de padrões morais como valores absolutos sendo que a valoração é atividade essencialmente humana e, portanto, condicionada, relativa; o segundo, com sua análise profunda de tipos psicológicos, muitos enfrentando situações de tensão extrema, nervosismo, e patologias diversas, como monomania, esquizofrenia, idiotia etc. Foucault retoma a crítica de Nietzsche ao analisar os hospícios que serviriam mais como centros de despejo de tipos mentais indesejáveis. Manutenção do status quo.
Se os valores são assim tão relativos, sendo a própria loucura quase indistinguível da sanidade, se você tentar eliminar esses condicionamentos onde cai a doença no entendimento do homem, o que nos resta? Uma consciência 'sã' talvez não exista, e loucura talvez seja um modo mais extremo ou diferente de se exercitar os impulsos, ou rebeldia contra uma ordem mental vigente, ou mesmo intelectual. Talvez toda a alma seja mesmo esse jogo caótico de impulsos desgovernados que só são domados de forma artificial pelo que chamamos de cultura, arte, pensamento, enfim, civilização. Nesse sentido não só o potencial para a psicopatia é o mesmo para todos como o próprio conceito de psicopatia só sirva pra indicar uma resistência anormalmente maior à domesticação?
Lembro também que em várias sociedades primitivas atitudes de extremo devocionismo religioso, presença contínua de êxtases místicos, comportamento anormal, eram considerados traços típicos de santos, profetas, mesmo deuses encarnados segundo a mentalidade desse povo. Engraçado que como há uma transição semelhante do sentimento religioso para o sentimento que se dedica ao sábio, filósofo, mesmo ao cientista, está ligado a essa sua aparente existência apartada da sociedade. Aí a gente tem uma estranha ligação entre loucura e intelectualidade, como os mais altos voos do espírito serem tão admirados pela sua irreverência, novidade, revolução. E isso se estende à religião e a arte, como se os quatro, fé, loucura, arte, razão, fossem a mesma coisa ou, pelo menos, experimentados como tendo a mesma fonte ou como sendo iguais.
O problema não está somente nesse 'referencial', que é ideologia pura, mas na dificuldade de se colocar limites entre sanidade e insanidade. Eu quero algum dia começar a estudar psicologia só pra tentar entender como a ciência analisa e fixa esses limites, que eu sempre achei tênues. Afinal, o que é loucura? Algumas sociedades encaram o incesto como algo normal, e o mesmo se pode dizer da pedofilia, no entanto, esses comportamentos não são considerados doentios? Parece que há também uma certa confusão entre o que é patológico e imoral pelos mesmos motivos, o de fixação de limites. Autores que eu comentei que jogam bastante com esses assuntos são Nietzsche e Dostoievski, o primeiro enquanto parte de sua crítica ao pensamento ocidental e sua imposição de padrões morais como valores absolutos sendo que a valoração é atividade essencialmente humana e, portanto, condicionada, relativa; o segundo, com sua análise profunda de tipos psicológicos, muitos enfrentando situações de tensão extrema, nervosismo, e patologias diversas, como monomania, esquizofrenia, idiotia etc. Foucault retoma a crítica de Nietzsche ao analisar os hospícios que serviriam mais como centros de despejo de tipos mentais indesejáveis. Manutenção do status quo.
Se os valores são assim tão relativos, sendo a própria loucura quase indistinguível da sanidade, se você tentar eliminar esses condicionamentos onde cai a doença no entendimento do homem, o que nos resta? Uma consciência 'sã' talvez não exista, e loucura talvez seja um modo mais extremo ou diferente de se exercitar os impulsos, ou rebeldia contra uma ordem mental vigente, ou mesmo intelectual. Talvez toda a alma seja mesmo esse jogo caótico de impulsos desgovernados que só são domados de forma artificial pelo que chamamos de cultura, arte, pensamento, enfim, civilização. Nesse sentido não só o potencial para a psicopatia é o mesmo para todos como o próprio conceito de psicopatia só sirva pra indicar uma resistência anormalmente maior à domesticação?
Lembro também que em várias sociedades primitivas atitudes de extremo devocionismo religioso, presença contínua de êxtases místicos, comportamento anormal, eram considerados traços típicos de santos, profetas, mesmo deuses encarnados segundo a mentalidade desse povo. Engraçado que como há uma transição semelhante do sentimento religioso para o sentimento que se dedica ao sábio, filósofo, mesmo ao cientista, está ligado a essa sua aparente existência apartada da sociedade. Aí a gente tem uma estranha ligação entre loucura e intelectualidade, como os mais altos voos do espírito serem tão admirados pela sua irreverência, novidade, revolução. E isso se estende à religião e a arte, como se os quatro, fé, loucura, arte, razão, fossem a mesma coisa ou, pelo menos, experimentados como tendo a mesma fonte ou como sendo iguais.
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