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O príncipe maldito - Parte IV

JLM

mata o branquelo detta walker
[size=x-large]O PRÍNCIPE MALDITO - PARTE IV[/size]
de Jefferson Luiz Maleski


[align=justify]O arauto abriu o pergaminho escarlate, maior que o anterior, e começou a ler em voz alta. O que se segue é, em partes, o que foi lido e, em outras, fruto da imaginação dos que ouviram a narração.

Em uma das jornadas do príncipe Nadj em busca de aventuras, sabedoria e de uma maneira de quebrar as suas maldições, ele encontrava-se em uma taverna de muito má reputação. Era um lugar freqüentado pelos piores tipos. Mercenários, ladrões, prostitutas, assassinos, políticos, ex-celebridades, enfim, gente ruim mesmo. Mas o príncipe era discreto e não chamava a atenção em meio a baderna ao seu redor. Sentado em um canto com pouca iluminação, poucos prestavam atenção no forasteiro vestido com um manto druida cinza-escuro e que segurava um bastão de madeira. Os que o olhavam de relance, pensavam ser mais um matador de aluguel qualquer. Coisa que ali dentro não faltava. Por isso, era comum brigas começarem por besteiras e terminarem com alguém sendo carregado, aos pedaços, para fora.

O ar fedia a cerveja, sangue, suor e um leve toque de lavanda, pois um dos mais temidos assassinos que freqüentava o ambiente era o perfumado espadachim Carpeaux. Ele usava um chapéu de longas abas, para esconder a cicatriz que cortava o seu rosto em diagonal, fazendo-o usar um tapa-olho e meio bigode. Não era algo bonito de se ver. Até mesmo quando Carpeaux sorria parecia uma careta. E, apesar dele não ser o mais forte dos que estavam ali, nem o mais ágil, com certeza era o mais ardiloso e traiçoeiro. Carpeaux dizia-se francês e, neste instante, jogava cartas com outros três carrancudos. Diziam as más línguas que ele era uma serpente sempre pronta para o bote, mesmo quando o seu único olho parecia dormir. Era alguém que poderia-se entender facilmente, caso se passasse algum tempo perto dele: qualquer coisa que brilhasse próximo a ele virava alvo da sua ganância. Mas era Carpeaux que agora era o alvo do olhar invisível sob o capuz druida no canto da sala.

Outro observado era Gordulfo. Em um lugar preparado especialmente para ele, com mesas e cadeiras reforçadas e com mais espaço, segurava com uma das mãos um pernil de um animal qualquer de grande porte, enquanto abria a bocarra com poucos dentes para rasgar a carne gordurosa. Gordulfo chamava a atenção não tanto pelo seu tamanho, mas pela sua armadura. Parecia um inseto gigante redondo com exoesqueleto – a armadura era feita de partes de ossos dos seres que Gordulfo matava e, na maioria das vezes, comia, encaixando os ossos das vítimas em seu corpo como algo natural. Na cabeça, usava o crânio de um réptil gigante que entrara em extinção porque o gordo tomou gosto pela carne do bichinho. A única coisa que não combinava naquela figura era uma boneca de pano que ele trazia amarrada na cintura que, comparada ao tamanho do homenzarrão, parecia um chaveiro, que ele brincava vez por outra. Tinha fama de ingênuo, mas ninguém era idiota o suficiente para provocá-lo. Pois se ele costumava quebrar portas, mesas, carroças e derrubar árvores sem querer, ninguém desejava vê-lo nervoso.

Carpeaux e Gordulfo, embora diferentes, faziam parte do mesmo bando, conhecido como Os Três Terríveis. Nadj aguardava a chegada do terceiro membro da gangue, o mais perigoso deles, o lider. Ou A lider. Não precisou esperar muito tempo, pois logo viu descendo por uma escada lateral feita de toras de madeira quem ele queria. Primeiro apareceram os sapatinhos vermelhos e as meias brancas até o joelho. Depois o vestido rodado rosa com uma capa vermelha. Tinha cachinhos dourados e bochechas rosadas, olhos azuis e um sorriso que enganaria qualquer idiota que nunca pisara naquele recinto antes. Era Balbina Beladona, ou simplesmente BB. Ela atravessou a sala saltitante, entre brigas, discussões e ameaças, como se tudo aquilo lhe fosse natural. Contudo, Nadj não se deixava enganar pela aparência de BB, pois ela era uma poderosa feiticeira que, ao jogar um feitiço sobre um príncipe que lhe recusara um beijo, este o rebateu de volta com um espelho, fazendo com que a feiticeira assumisse a forma de uma linda menininha de cabelos loiros. E todos sabem que uma feiticeira não consegue desfazer um feitiço feito nela mesma. No começo, as coisas não foram fáceis para BB, mas depois de transformar em sapos alguns engraçadinhos, voltou a ser temida, mesmo com a aparência que tinha. BB chegou na mesa de Gordulfo, parou e olhou rapidamente para o canto onde o desconhecido estava. O príncipe quase reconheceu naquele semblante angelical um tom de ameaça velada misturado com um aguçado senso de alarme. Quase. Um segundo depois percebeu que já era tarde demais.

A feiticeira soltou um grito infantil que pareceu mais uma birra de criança querendo doce, mas que paralisou tudo o que havia ali dentro. Canecas de vinho, cadeiras, facas e sutiãs ficaram suspensos no ar. Socos amassavam narizes e dedos apertavam gargantas como se estivessem em um museu de cera. Somente três personagens se mexeram, e os três caminharam lentamente até a mesa do canto. Qualquer um no lugar de Nadj pensaria que a sua jornada acabava ali. Mas não ele, pois estava preparado.

Antes, vamos esclarecer como Nadj chegou naquela situação. O príncipe maldito estava em uma viagem de peregrinação em busca de iluminação. Em visita aos druidas do leste, aceitou as duras provas que os mestres lhe impuseram, com o objetivo de conquistar uma mente mais concentrada e sábia. Estava exatamente na última prova, que duraria 12 luas cheias, e consistia em 1) não falar com ninguém, o que não era façanha para ele, que há anos não emitia som algum, 2) fazer voto de pobreza, somente levando consigo um manto e um bastão para a viagem, e 3) praticar somente ações em benefício de outros, altruístas. Nadj aceitou o treinamento e deixou o reino sob as ordens de seu primo, o grão-vizir Merodaque, partindo em sua jornada de um ano. Como o reino era próspero e pacífico, Merodaque era tão bom e justo quanto o príncipe e Nadj sempre voltava com inovações tecnológicas a cada viagem, a partida do príncipe era feita com uma grande festa popular. O povo orgulhava-se do sábio rei que tinham. Quando estava há algumas semanas em viagem, Nadj pernoitou junto a uma caravana de ciganos. Os ciganos gostam de contar histórias ao redor da fogueira e lendas de países distantes. E foi por meio deles que o príncipe soube a resposta que tanto procurava: como deixar de ser amaldiçoado. Era uma lenda que falava de um objeto mágico capaz de fornecer a solução para qualquer problema. Um objeto que respondia a qualquer pergunta feita a ele. Apesar de ser antiga, a lenda citava um local que Nadj já ouvira falar antes, as distantes terras do norte, morada dos gigantes. Contudo, o príncipe não sabia como chegar, nem quais perigos haveria no caminho, e precisava encontrar alguém corajoso ou burro o suficiente para levá-lo até lá. Em todo lugar que procurou, indicaram os mesmos guias, que encontravam-se naquela taverna.

- Quem é você, estranho, e o que quer por estas bandas? – perguntou a voz suave e infantil, sem transparecer nenhum tom de ameaça, soando mais como se fosse uma brincadeira.

Nadj levantou-se – ele também não fora paralisado – diante dos três que estavam à sua frente e com um pé virou a mesa redonda na direção deles. Os olhos de Gordulfo seguiram as comidas que rolavam pelo chão. Carpeaux alisou o meio bigode. Foi BB quem leu o que estava escrito na parte de cima da mesa, agora apontando para eles.

“Tenho uma proposta de negócios para vocês”, foi o que ela leu.[/align]

[align=right](Continua...)[/align]
 
LucasCF disse:
Esse final só deixou-me curioso. pô, cê é bom em um suspense eim.

isso se chama "gancho". mais detalhes com uma odalisca chamada sherazade.
 
Muito bem... Sua história esta cada vez melhor. :lendo: Tô gostando muito do universo que você está construindo ao redor dos personagens. Legal como a sua estrutura de faz-de-conta se encaixa muito bem num mundo estilo RPG (é assim que se chama?).
Tanto que me veio uma dúvida: você criou esse universo junto com os personagens, ou você o vai construindo com o desenrolar da história? Por que estou achando muito boa a maneira que ele está se encaixando na história ( ou a história está se encaixando nele?) sem deixar pontas soltas.
Parabéns! :winner:
 
Vail disse:
Tanto que me veio uma dúvida: você criou esse universo junto com os personagens, ou você o vai construindo com o desenrolar da história?

tudo começou com uma pequena idéia de um príncipe amaldiçoado, tanto é que não era para continuar, mas como eu tinha bolado um começo e um meio mas não um final, resolvi deixar um (continue...) no final e ver no q dava. tanto é q entre a parte I e a parte II passaram 2 meses, mas depois peguei um certo ritmo.

ao invés de ter como ponto de partida um universo, ou uma história, e ir inserindo os personagens, eu fiz o inverso, criei um personagem e fui montando uma história ao redor dele. o livro oficina de escritores diz q ambas técnicas são boas e capazes de produzir ótimas histórias. eu começo a pensar no q virá a seguir só depois q termino a ultima parte, como um daqueles desafios de escrita em q alguém escreve um parágrafo de uma história e vc tem a missão de continuar. dae, é só pensar no q eu gostaria de ler na px semana, me colocando no lugar do leitor, e botar a mão na massa.

geralmente uma idéia vaga aparece 1º, depois vai tomando forma e deixo ela maturar por um ou dois dias, e qdo sento, sai mta coisa, algumas até q não tinha imaginado antes (o ato de sentar pra escrever é quase um sopro divino, ou kamikaze, como quiser interpretar). qdo vejo q já escrevi um bom tanto, q não canse ler no pc, imagino um final q possa ligá-lo ao começo da próxima parte, e assim vai.
 
Adorei a parte que explica como a bruxa foi transformada em " Chapeuzinho Vermelho" ou coisa do tipo. :sim:
 

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