Re: O Por Que???
Vamos por partes:
1 - Aqui no Brasil pelo menos 80% não dá valor aos escritores nacionais ou lusos e prefere alguns estrangeiros; porém existe uma parte que nem os estrangeiros de renome preferem. Se estudar literatura portuguesa por aqui já é considerado um porre, pois os professores em grande parte não conseguem despertar um interesse em seus alunos eos alunos preferem fazer outras coisas do que ler, imagina o que fazem quando se trata de literatura estrangeira... o descaso parece ser maior!
O impacto que o nome de Clarice Lispector pode causar para nós muitas vezes não é o mesmo para um britânico, por exemplo; e assim é com Tolkien para a maioria brasileira, que não lê. Ele não passa de apenas mais um escritor. E se bobear, tanto leigos quanto críticos são capazes de tachar Tolkien como um escritor chato e que não merece esse sucesso todo que vem fazendo. E esse é um dos problemas para Tolkien não aparecer lá, entre os grandes, ao menos por aqui.
2 - O estilo literário que Tolkien preferiu seguir, ou seja, o fantástico, é pouco visado e apreciado por muitos críticos e estudiosos. O motivo nem sei porque ao certo. Muitas vezes parece que aqueles que classificam os grandes nomes da literatura procuram por certas características nos escritores que muitas vezes se tornam clichê - como ousadia em termos de estrutura de escrita, inovação...
Tolkien não é o único injustiçado nisso tudo; Italo Calvino também escreveu algumas obras fictícias e , embora tenha mais renome entre os estudiosos, não recebe todo o reconhecimento que merece. Com Tolkien é assim muito provavelmente por ter escolhido um caminho diferente em plena época onde o Modernismo ainda estava em voga. E o Modernismo parece não ter dado tanta bola assim pra ele, embora seus livros tenham feito um sucesso bom quando foram lançados e na Inglaterra a coisa seja muito diferente do que por aqui, no Brasil (lá eles estudam Tolkien, ele recebe o devido reconhecimento e, pelo que parece, cai em vestibular ou coisa assim).
Vejam só que anos depois é que as obras dele começaram a sofrer uma espécie de
boom no meio literário, ou seja, tempos depois de sairmos do Modernismo. De uns anos pra cá a literatura fantástica conquistou mais espaço e mais leitores e, embora nem todos os livros sejam recentes, o sucesso começou a vir "recentemente" (a partir da década de 1980 a seguir).
Gabriel disse:
Aproveitando o post do Parisio para mencionar um detalhe que poucos sabem e/ou pouco se fala: foram encontrados na biblioteca particular de Guimarães Rosa exemplares do SdA, provavelmente da primeira edição inglesa da década de 50.
De todos os modernistas brasileiros, Guimarães Rosa é o que mais me lembra Tolkien. Ele criava novas palavras e as inseria em suas obras, que eram um mundo a parte (ok, sertão brasileiro que se tornava algo universal em suas obras).
E o mais engraçado entre Tolkien e Guimarães é que tem muita gente que rejeita o último por não entender seus livros. Com Tolkien acontece isso também com algumas pessoas.
E tem outra coisa interessante entre os dois: O Senhor dos Anéis e Sagarana passam mensagens boas e que, dependendo de quem ler, pode mudar alguns conceitos dentro de sí. E a sensação que tenho é de que quem leu esses dois grandes escritores está num mundo a parte - fui mais além do que o Jornal falou, hein...
Caramba, como eu escrevi!