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O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, 2006)

Sua nota para o filme:


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Re: O Labirinto de Fauno (El Laberinto del Fauno, 2006)

O "plot summary" do filme nos dá a dica:

"Pan's Labyrinth" is the story of a young girl that travels with her mother and adoptive father to a rural area up North in Spain, 1944. After Franco´s victory. The girl lives in an imaginary world of her own creation and faces the real world with much chagrin. Post-war Fascist repression is at its height in rural Spain and the girl must come to terms with that through a fable of her own.

Ela inventa um mundinho na cabeça dela pra poder "sobreviver" à dura realidade.

Jantar formal? "Inventa" um jantar com um monstro. Trancada? "Inventa" um giz especial. Desimportante? Nada, princesa incógnita. Mãe doente e incapaz de fazer algo a respeito? Inventa um modo de "saber" o que acontece e de "ajudar a sarar". And so on.
 
Última edição:
Talvez por a mãe dela já estar bem mal e ela estar esperando (ou temendo) que cedo ou tarde ela vá mesmo ter um piripaque?
 
Atrasado, mas antes tarde do que nunca (sempre que eu falo isso, parece coisa do Chapolin :eek:). Aah, spoilers aí pra baixo.

Assisti ao filme ontem, e achei foda. O jogo entra o fantástico e o real pra falar da ditadura franquista ficou muito bom, porque, entre outras coisas, as partes fantásticas são bem ácidas quando tocam no assunto da ditadura, também, mas aí é subjetivo.

A composição dos personagens imaginários foi foda. Igual o Ulguk disse, aquele Fauno bestial tava de cagar nas calças mesmo, tanto que eu assustei bem mais do que a Ofélia. Além da expressividade teatral que o fauno e o branquelo tinham. Não era a expressão cinematográfica da atuação, mas teatral mesmo, jorrando expressão e intenção nos movimentos. Isso deu uma densidade absurda pras criaturas, além de ficar próprio pro teor fabulesco da coisa.

A trama foi cuidada pra num sair com muitos maniqueísmos, com elementos básicos pra isso: o médico e a empregada que trabalhavam de ambos os lados da ditadura, e o fauno bizonhamente assustador que repreende com avisos mortais a Ofélia, essa que tem algumas dúvidas sobre o fauno, depois que a Mercedes fala pra ela do que sua avó dizia. Claro que isso não é uma constante, tanto porque não seria um conto de fadas a imaginação da menina.

Aliás, lendo toda a discussão da cena do branquelo, a explicação mais coerente é a do Uglúk, junto com o fato de ela estar sem comer o dia todo e de a situação ser um conto de fadas criado justamente por ela. "Fome? Banquete. Mas ei! Esse conto de fadas num representou perigo mortal ainda... É isso! O banquete é diabólico. Tralalalalalá, fadas morrem, eu me salvo." A única inconsistência é se o Quisito discordar do teor imaginário dos acontecimentos... Mas mesmo assim, resta o fato de que, se tudo aconteceu mesmo, aquele banquete tinha um quê de maçã do paraíso, como o Tisf falou. E a magia, que o Uglúk disse tb.

Tem o paralelo do sapo na hora que o capitão corta a boca que eu achei foda. Além de a cena do corto e dele se dando pontos serem bem agoniantes, mas perdem pro esmagamento de crânio, em termos de gore.

Pontos fracos? Bom, achei que as relações humanas no filme poderiam ser melhor exploradas, como a relação da mãe da Ofélia com o capitão ou a proximidade das relações entre Mercedes e o médico com os soldados da milícia, mas aí acho que foi responsabilidade dos atores que não me passaram segurança na subversão deles. Isso foi ponto fraco também. Só a Mercedes me convenceu de que era contra mesmo a ditadura, mas na cena em que o capitão vai torturá-la. O médico até mesmo quando ele fala contra o capitão me pareceu fraco.

Mas o filme é foda, mesmo assim. Foda.
 
Re: O Labirinto de Fauno (El Laberinto del Fauno, 2006)

O "plot summary" do filme nos dá a dica


Discordo. Pra mim, não passa de mais uma interpretação e não acho que deve ser tida como 'absoluta', independente de ser oficial ou não. Como não se trata de algo inquestionável ou literal como o fato da história se passar na Espanha ou de o médico ser humano, o fato dela criar um mundo de fantasia para si não é uma certeza, na minha opinião.

Porque daí estaríamos tomando como absoluta ou 'certa' a intenção do diretor (ou de sua assessoria de imprensa, por ex.), enquanto o que acho que deve ser levado em consideração é a intenção da obra e nada mais. E a obra não deixa essa questão clara, portanto, deixa aberta a interpretações.

A minha interpretação também é de que Ofelia cria um 'mundo de fantasias' para si, mas não por causa da sinopse.
 
Você poderia desenvolver isso lá no tópico do filme, porque eu fiquei curioso, que tal? :dance:

A questão é que o filme acaba e não se pode chegar a uma conclusão sobre o que seria a verdade. Existem 3 possibilidades:

1. O Fauno e tudo o mais é parte da imaginação da Ofélia;

2. O que o Fauno diz sobre ela ser a filha do Rei do subterrâneo é verdade;

3. O Fauno mentiu o tempo todo e usou ela.

Você pode ver que, além de ter uma aparência assustadora, ele diz coisas tais como "Você vai me obedecer sem questionar" e "Me dê o seu irmão". Esse não é o tipo de coisa que uma pessoa bem intencionada costuma pedir. Ele também diz que ela não passou na prova, e depois aparece pra dar uma segunda chance, o que é suspeito. E a Mercedes conta que a avó dela dizia pra ter cuidado com os faunos.

Tudo isso coloca ele como um vilão em potencial.
 
Se tudo foi parte da imaginação de Ofélia, como eu acho que foi (mas como disse o Kim ali em cima não se pode tomar isso como verdade absoluta), então o fauno não seria um vilão.

Se tudo fosse verdade e ela fosse a filha do tal rei, o fauno tb não seria um vilão.

Mesmo assim, ele me assusta.
 
É. O que mais me deixou emocionado no filme foi essa história de ter sido real e ao mesmo tempo não. Pelo filme, não dá para responder essa pergunta (e, meudeusdocéu, pra que precisa responder, curtam a dúvida!).

Destaque para a cena no labirinto. O padrasto não vê o fauno, a menina vê. As coisas fazem sentido para ele, fazem para ela também. Para ela, a imortalidade foi alcançada, mas não para Mercedes, que está chorando pela "morte" da menina.

O mais incrível é exatamente pensarmos que o pensamento e a crença podem moldar a realidade - já assistiram "Quem somos Nós"? No filme, é dito algo interessante: não são os olhos que enxergam, mas a mente. Os olhos são a lente, mas o filme é o cérebro. Se enxergamos alguma coisa com a mente, ela pode ser considerada real, de certa forma. Ah, é uma maluquice só, mas é exatamente o que o filme me disse de mais bonito.
 
Spoilers etc.


A questão é que o filme acaba e não se pode chegar a uma conclusão sobre o que seria a verdade. Existem 3 possibilidades:

1. O Fauno e tudo o mais é parte da imaginação da Ofélia;

2. O que o Fauno diz sobre ela ser a filha do Rei do subterrâneo é verdade;

3. O Fauno mentiu o tempo todo e usou ela.
Seria interessante ter mais uma camada de significado, mas eu não vejo elementos suficientes no filme. Até o final, há razões para desconfiar do Fauno, sim, como foi citado. Eu achava que ele estava tentando passar a perna na menina (o que também é típico em contos de fadas). Entretanto, o final não dá muita base para (3), ele remete a (1) ou (2).

Para o Fauno tê-la usado para seus próprios fins, ele precisava de um objetivo, de uma agenda, e isto nunca fica estabelecido. Por ex, se houvesse indicação de que o Fauno pretendia tomar o reino, aí teríamos algo. Sem isso, o comportamento dele, como no caso de "Me dê o seu irmão" pode ser interpretado como um requisito das provas. Mais uma coisa: o Fauno é o narrador da história, os voice-overs do começo e final.

Entretanto, uma outra história, centrada no Fauno, poderia revelar outras coisas, por ex, se o Fauno desconfiava dela e de humanos em geral, se ele achava que ela conseguiria, se ele estava fazendo aquilo por devoção ao Rei ou como compensação por algum crime... mas este filme provavelmente é o que foi produzido no Reino Subterrâneo.



O mais incrível é exatamente pensarmos que o pensamento e a crença podem moldar a realidade - já assistiram "Quem somos Nós"? No filme, é dito algo interessante: não são os olhos que enxergam, mas a mente. Os olhos são a lente, mas o filme é o cérebro. Se enxergamos alguma coisa com a mente, ela pode ser considerada real, de certa forma.
A tese de "Quem Somos Nós?" é essa, mas por outro lado podemos dizer que, como é a mente que enxerga e a mente delira, relatos oculares não são tão confiáveis assim. Se bem que, voltando a Fauno, se a menina o enxerga e os demais não, pode ser devido à mágica do Fauno de só aparecer para quem ele quer.
 
A tese de "Quem Somos Nós?" é essa, mas por outro lado podemos dizer que, como é a mente que enxerga e a mente delira, relatos oculares não são tão confiáveis assim. Se bem que, voltando a Fauno, se a menina o enxerga e os demais não, pode ser devido à mágica do Fauno de só aparecer para quem ele quer.

Mas independentemente da mente delirar ou não, a questão é: esse relato ocular é real? O delírio não altera o fato de que, para o cérebro de cada indivíduo, o que se enxerga é sempre uma experiência, e o que o filme discute é justamente a validade da experiência.

Para mim, é possível aceitar que o Fauno existia para a menina e não-existia para o padrasto sem que sejam duas afirmações contraditórias.
 
O foco do filme não é a fantasia e sim a brutalidade daquele período histórico e a fuga através da fantasia de uma menina sensível crescendo naquele período. Muitas críticas que eu li vêm justamente disso: as pessoas esperam fantasia, mas fantasia é o escape, apenas.
 
SPOILERS



Seria interessante ter mais uma camada de significado, mas eu não vejo elementos suficientes no filme. Até o final, há razões para desconfiar do Fauno, sim, como foi citado. Eu achava que ele estava tentando passar a perna na menina (o que também é típico em contos de fadas). Entretanto, o final não dá muita base para (3), ele remete a (1) ou (2).

De fato, o final meio que desconsidera a terceira possibilidade (sendo que por "final" eu quero dizer a última cena do filme).

É estranho, porque no resto parece algo bem possível.

Para o Fauno tê-la usado para seus próprios fins, ele precisava de um objetivo, de uma agenda, e isto nunca fica estabelecido. Por ex, se houvesse indicação de que o Fauno pretendia tomar o reino, aí teríamos algo. Sem isso, o comportamento dele, como no caso de "Me dê o seu irmão" pode ser interpretado como um requisito das provas.

Ele poderia querer o bebê para um sacrifício ou algo do tipo. Se ele fosse um demônio isso seria bem natural.

Mais uma coisa: o Fauno é o narrador da história, os voice-overs do começo e final.

Curioso...


Deriel disse:
O foco do filme não é a fantasia e sim a brutalidade daquele período histórico e a fuga através da fantasia de uma menina sensível crescendo naquele período. Muitas críticas que eu li vêm justamente disso: as pessoas esperam fantasia, mas fantasia é o escape, apenas.

A sugestão que o filme dá no final de que é tudo imaginação é só uma parte da coisa: a idéia é que não dá pra saber se foi uma fuga ou se realmente aconteceu. Isso vai ficando claro no decorrer do filme, com as situações que parecem imaginação (como o tal inseto que vira fada) e aquelas em que acontecem coincidências "estranhas" (a recuperação "sem explicação" da mãe dela, a previsão da hemorragia no livro etc.). O final é o ápice disso: o filme deixa a dúvida entre a possibilidade perturbadora da Ofélia ter morrido fingindo que era uma princesa e a chance de que ela realmente seja.
 
O foco do filme não é a fantasia e sim a brutalidade daquele período histórico e a fuga através da fantasia de uma menina sensível crescendo naquele período. Muitas críticas que eu li vêm justamente disso: as pessoas esperam fantasia, mas fantasia é o escape, apenas.

Discordo. Pra mim, a Guerra Civil Espanhola pareceu mais o plano de fundo para narrar a oposição fantasia X realidade do que para mostrar a sua brutalidade e apresentar a fantasia como um escape. Tanto que, como o Balbo disse acima, a fantasia PODE ser um escape, ou não.
 
Mas independentemente da mente delirar ou não, a questão é: esse relato ocular é real? O delírio não altera o fato de que, para o cérebro de cada indivíduo, o que se enxerga é sempre uma experiência, e o que o filme discute é justamente a validade da experiência.

Para mim, é possível aceitar que o Fauno existia para a menina e não-existia para o padrasto sem que sejam duas afirmações contraditórias.
Sim, é possível. Nas 2 interpretações pode-se assumir isso. O problema é o significado variável de "existir para". O Fauno existe como resposta a uma realidade brutal ou existe de forma independente.


Como o filme propositalmente deixa as coisas ambíguas, escolher uma interpretação é questão de preferência pessoal. Tem gente que é atraída pela idéia de que havia algo mais. Tem gente que interpreta aqueles eventos como escapismo. Enquanto uma delas não furar, ambas vão coexistir.
Balbo, como eu sei que você gosta de alternativas, vou propor uma, mais tarde.
 

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