BUMP
Sendo apenas uma versão mais amarga da origem-trágica-padrão (gênero: super-heróis), utilizada como estopim para a boa e velha busca-por-vingança (gênero: crime), O JUSTICEIRO (Jonathan Hensleigh, 2004) [41] tinha poucas chances de se tornar algo realmente notável; a energia selvagem, bizarra e over-the-top das histórias escritas pelo escocês e whacko de carteirinha Garth Ennis seriam (em teoria) uma solução para que o filme tivesse pelo menos cojones de ter ido mais longe do que qualquer adaptação de quadrinhos jamais fora. Em teoria. De fato, os realizadores utilizam vários elementos criados pelo Ennis, e conseguem estragar quase todos. A possivelmente única exceção é justamente a melhor cena, a luta com O Russo - a única parte do filme que teve a coragem de ser violenta e hilária, enquanto o resto é tratado com uma seriedade excessiva, forçando o dramalhão novelesco muito além do suportável.
O mais espantoso é o quão genérico tudo é, do dolorosamente forçado relacionamento familiar pré-massacre às demonstrações de crueldade do vilão (Travolta em piloto automático). Ironicamente, o resultado final é só um pouco menos genérico do que o frequentemente-utilizado-como-justificativa filme com Dolph Lundgren, e olha que não era muito difícil superar aquilo. Os vizinhos, que existem exclusivamente para mostrar o ostracismo do protagonista, são um detalhe agradável (apesar de claramente se acharem mais engraçados do que realmente são), mas a essa altura eu já tinha parado de me importar há muito tempo.
Dica para Jonathan Hensleigh: uma família (crianças inclusas) sendo massacrada é algo chocante - mesmo que você não mostre uma gota de sangue, a atrocidado deve ser transmitida de alguma forma. Tudo que eu vi foi uma confusão dos diabos e tiros pra todo lado. Obviamente eu deduzi que as pessoas estavam morrendo, mas não consegui sentir por elas. Talvez porque tenha ficado tão claro que se tratava de atores em um filme. Aliviar a violência a ponto de conseguir uma classificação R realmente tem se mostrado um problema hoje em dia - o que não impediu o filme de receber censura 18 nos países mais paranóicos com cenas violentas, como Canadá, Alemanha e Reino Unido (e ser banido na Malásia).
Mais uma dica: a decisão de não usar CGI e filmar todas as cenas de ação do jeito old school é louvável, mas não adianta nada se o maior stunt do filme consiste em um carro saltando uma rampa. Digo, isso já não era impressionante desde Starsky & Hutch (a série, não o filme com Ben Stiller). De qualquer forma, a luta com O Russo detonou - foi brutal, bem dirigida, bem editada, deu até pra sentir as porradas mais doloridas. Se ao menos o resto do filme se equiparasse...