Continuando. Agora, não sobre as repercussões, mas relacionado ao tema principal:
Ka Bral o Negro disse:
Deriel disse:
Qualquer um que já frequentou uma universidade sabe com certeza que as mulheres, por quais motivos forem, de fato são minoria absoluta nos cursos de Exatas (no caso do meu campus, no ano de 1996 a taxa era de 83/17 entre homens e mulheres).
O motivo disso acontecer é um assunto muito válido de pesquisa
"Minha opinião é que tais discrepâncias ocorrem mais por imposições culturais do que por fatores biológicos; convencionou-se que os homens são mais racionais, convencionou-se que as mulheres são mais emotivas..."
...ou pelo menos era isso que eu ia declarar agora. Mas, se nem eu, muito menos as pessoas ao meu redor escapam dessa premissa (homens racionais, mulheres emotivas), então...
Ok.
Ainda bem que o Ka Bral parou de repetir o bordão das "imposições culturais", mas ele ainda não parece satisfeito. Então eu vou começar por aqui: essa questão de "fatores sócio-culturais x fatores biológicos" na escolha de um curso universitário.
Qual dos fatores é predominante? Eu aqui não vou provar nada, mas vou colocar elementos a respeito da questão. E, antes que o Ka Bral fique ultra-indignado com minha "parcialidade", vou opinar logo de cara que fatores sócio-culturais certamente influem, mas não estou convicto de que são os predominantes. Afinal, debate é colocar pontos divergentes na mesa. Isso posto, seguimos...
Minha fonte de dados, as estatísticas da Fuvest:
http://www.fuvest.br/vest2004/estat/estat.stm
Em particular, vou usar a distribuição por sexo de 2004, segundo respostas ao questionário sócio-econômico:
http://www.fuvest.br/scr/qasen.asp?...000000TOT&quest=27&tipo=3&grupo=1
Copiando alguns dados pra ilustrar
Distribuição geral por sexo entre os aprovados 2004:
5790 (57.1%) Masculino
4337 (42.8%) Feminino
[O fato de não ser 50/50% entre os aprovados poderia significar alguma discriminação, mas eu vou atribuir isso ao fato de na Fuvest serem oferecidas muitas vagas para Exatas (área de grande procura masculina) e não a algum vício social. Aliás, no Brasil, as mulheres em universidades já são mais numerosas que os homens (é, eu li em algum lugar, mas não tenho link), então o acesso existe. ]
A distribuição por área nos diz:
Biológicas (Total das Carreiras de Biológicas)
1074 (39.6%) Masculino
1634 (60.3%) Feminino
Humanas
2236 (52.8%) Masculino
1993 (47.1%) Feminino
Exatas
2480 (77.7%) Masculino
710 (22.2%) Feminino
Então, pelo bordão "homens racionais, mulheres emotivas" devemos concluir que a área de Biológicas é menos racional e mais emocional e que Humanas é meio a meio? Ahn?
Esse gráfico é interessante, é a distribuição por curso dos aprovados masculinos:
http://www.fuvest.br/scr/qasecompn.asp?resp=0&tipo=3&anofuv=2004&quest=27&grupo=1
O gráfico das mulheres: (este é redundante se você já viu o outro, mas vou colocar para não ser "discriminador")
http://www.fuvest.br/scr/qasecompn.asp?resp=1&tipo=3&anofuv=2004&quest=27&grupo=1
Um exemplo do gráfico - a proporção de homens aprovados em "Engenharia, Computação e Matemática Aplicada": (seria o basicão de Engenharia da USP, ahn?)
760 de 870 (87.3%)
Hm, pela hipótese da imposição cultural, essa proporção deveria ser 50%. E a pergunta que vale o Prêmio Nobel é:
Pelo bigode de Einstein, onde estão essas mulheres?
Então quer dizer que há por aí milhares de mulheres em universidades que possuem aptidão para Exatas, gostam de Exatas, mas por fatores sócio-culturais foram reprimidas e terminaram fazendo outro curso? Tipo, Fonoaudiologia, Nutrição, Terapia Ocupacional? Uma maneira simples de testar isso seria fazer uma enquete nesses cursos de maioria feminina, perguntando às mulheres "você faz esse curso X, mas no fundo você não queria fazer Exatas e foi reprimida pela sociedade"? Ka Bral, você mesmo pode conduzir uma enquete dessas na sua turma e no seu campus. (ainda não começou, oras?
)
Hm, talvez essa mulherada reprimida não esteja nas universidades, mas então por onde andará? Será que um imenso contingente de mulheres com gosto e aptidão para Exatas engravidou na adolescência e não conseguiu seguir com seus estudos? Será que o grupo que não engravidou desistiu da faculdade para virar donas de casa? E será que esses fatores sociais (que existem e devem ser tratados) afetaram dramaticamente apenas a proporção nos cursos de Exatas e não nas outras áreas? Será?
Se alguém encontrar essa mulherada, vai causar uma revolução no ensino superior. E vai virar o herói dos estudantes de Exatas. Muita gente lá venderia a alma por uma sala 50%/50%.
Como eu disse, eu não provei nada. Minha argumentação foi apenas para mostrar que, se as tais "determinações sócio-culturais" fossem o fator predominante, muita coisa esquisita (o sumiço dessa mulherada reprimida) teria que ser explicada.
Mesmo que o mecanismo predominante não seja o tal fator sócio-cultural, isso não significa automaticamente que o fator biológico é o principal. Talvez seja um terceiro fator, que até agora foi subestimado.
Enfim, Igualdade não é todo mundo ter os mesmos interesses e gostos. É ter os mesmos direitos e deveres, é ter as mesmas oportunidades. Talvez homens e mulheres se interessem por assuntos diferentes, e daí?