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O homem, a gata e o estacionamento

Diva

Usuário
Era um corredor longo. Inúmeras portas. Em um primeiro momento, pareciam não dar em lugar algum. Mas havia janelas de vidro, quase no teto. Janelas? Ou seriam vidraças? Vidraças. Por estas vidraças dava para visualizar luz no interior de algumas poucas salas. Luz artificial. Azulada.

Um gato passou por ali. Não. Uma gata. Estava prenha. E com uma barriga assustadoramente grande. Mal conseguia andar. Fazia o percurso, sozinha, no corredor. Então, uma das portas abriu. E ela assustou-se. Correu com alguma dificuldade. Mas logo sumiu dali.

Só restou o senhor de testa saliente. Ele trancava a porta com uma espécie de chave especial. Depois guardou o molho de chaves no bolso direito da calça jeans. Ajeitou os óculos no rosto. Fez o mesmo percurso do gato. Aliás, da gata. E viu passar o que supôs ser um estudante. Vinha do rumo da biblioteca. Aquilo o surpreendeu. Mas não ocupou sua mente por muito tempo.

Desceu pelo caminho de terra, um atalho para o estacionamento. Eram quase dez horas. O clima estava quente. A sensação de sair do ambiente com ar condicionado para aquela quentura provocou uma estranha sensação em sua pele. Mas tudo bem. Entrou no carro. Não tinham tantos carros assim por ali. Para falar a verdade, só mais um ou dois. E não havia mais ninguém por ali. Deu partida e foi embora.

E o estacionamento ficou mais vazio.
 
Gostei. Ficou bem encadeado o texto. Nada acontece. E a ultima frase só esvazia um pouquinho mais o nada que aconteceu. Que só por ter acontecido já deixou de ser um nada. Mesmo tendo sido um nada que aconteceu. :P
 
seu texto fluiu bem, apesar de só conter descrições, sem um objetivo ou trama.

eu só tomaria cuidado com o "visualizar-se luz" e "uma das portas abriu-se". teste retirar o "se" e veja o resultado.
 
Wilson disse:
Gostei. Ficou bem encadeado o texto. Nada acontece. E a ultima frase só esvazia um pouquinho mais o nada que aconteceu. Que só por ter acontecido já deixou de ser um nada. Mesmo tendo sido um nada que aconteceu. :P

A interpretação que eu tenho dessa pequena narrativa é que ela se passa num feriado.

JLM disse:
seu texto fluiu bem, apesar de só conter descrições, sem um objetivo ou trama.

eu só tomaria cuidado com o "visualizar-se luz" e "uma das portas abriu-se". teste retirar o "se" e veja o resultado.

Gostei da sugestão. E é verdade que não tem A Trama no texto, mas tem um objetivo, sim. Só leia(m) o resto se estiverem dispostos a se contaminarem com o sentido de quem escreveu :rofl::


O objetivo era enfatizar "o estar só" e o individualismo. O uso da gata tem um pouco a ver com isso. Porque é um bicho doméstico muito comum, mas ao mesmo tempo muito independente e muito "na dele". O início também, eu meio que pensei no conjunto janela/vidraça. Penso que uma janela é algo mais familiar. Ela se abre e se fecha. Vidraças, quase sempre estão fechadas. Os grandes prédios me passam sempre essa ideia de "distância próxima" com suas vidraças. Você pode ver através delas, por isso você não precisa abri-las. E quase sempre não as abre mesmo. Bem, foi mais ou menos por aí que eu andei.
 
ok, mas vc concorda q se o seu objetivo ñ ficou claro ao leitor, talvez seja pq tenha faltado algo no texto? talvez estender-se nas descrições d 1 jeito q passe esse sentimento d individualismo, ou usar períodos longos, geralmente usados para reflexões ao invés de frases curtas, indicativas de ação imediata, rapidez &tc.

a técnica ajuda bastante a transmitir o sentido real do autor, embora mta gente ñ acredite nisso. mas geralmente é gente com preguiça d aprofundar-se na técnica.
 
A intenção foi passar essa ideia dessa forma que expus. Tanto é que eu não fiz esse conto jogando frases aleatoriamente. Eu ponderei bastante sobre a construção de cada uma delas. Eu não estava buscando ser clara demais, até mesmo porque a linguagem é arbitrária, logo, muito derrapante. A interpretação que eu dei é apenas uma das possíveis. Cada um pode ter a interpretação que quiser. Se for o contrário do que eu tinha em mente, ainda assim estará correto.


Eu não queria mesmo me estender em longos períodos, longas explicações ou adentrar na mente de personagem nenhum. Acho que dá pra você sacar muita coisa observando as ações e, num paralelo, as representações de determinados elementos. Acho interessante o uso de uma construção para passar um sentido que, aparentemente, não tem tanto valor dentro de uma narrativa mais redondinha, mas que se você olhar sob outra perspectiva, o que ele representa ali dentro, achará uma resposta mais plausível pra o sentido do texto como um todo. E tento fazer isso.


Acredito que essa clareza da qual você fala é imprescindível num texto científico. Um texto literário tem sempre que ser observado de todos os ângulos possíveis.
 
ñ confunda clareza com prolixidade, detalhismo, explicacionices. todo texto literário, para ser entendível, deve ser claro, até mesmo se for para dizer q ñ tem nada a dizer. na teoria da comunicação, se o receptor ñ compreende a mensagem do emissor, a falha geralmente está na linguagem utilizada.
 
JLM disse:
ñ confunda clareza com prolixidade, detalhismo, explicacionices. todo texto literário, para ser entendível, deve ser claro, até mesmo se for para dizer q ñ tem nada a dizer. na teoria da comunicação, se o receptor ñ compreende a mensagem do emissor, a falha geralmente está na linguagem utilizada.

Na teoria da comunicação, se o receptor não compreende a mensagem do emissor, pode ser também porque ele não tem referências. Na maioria das vezes, o problema está na recepção e não na produção.

O problema está na produção quando ela não define a que público está se dirigindo e utiliza uma linguagem hermética ou conteúdos que a maioria não tem conhecimento. Este não é o meu caso.
 
mas se 1 texto ñ explora referências q o leitor comum desconheça, como o seu, ñ há de se falar de problemas no receptor.
 
JLM disse:
mas se 1 texto ñ explora referências q o leitor comum desconheça, como o seu, ñ há de se falar de problemas no receptor.

No meu texto, eu faço até mais simples do que isso porque eu trabalho "apenas" com o sentido das palavras. Basta a pessoa pensar um pouquinho na multiplicidade de sentidos que uma palavra/construção pode ter para conseguir compreender.

O apenas fica entre aspas porque sempre considero aquilo que fiz inconscientemente, como todo ser humano impregnado de marcas culturais das quais não tem controle.
 
Hm...

Eu gostei do conto. Gostei e desgostei, para falar a verdade. Achei que a narrativa assim meio fria, distante, caracterizou bem o conteúdo, mas, ainda assim, não gostei tanto da construção dos períodos - demasiado travados - e das retificações que o narrador se faz.

Ah, também concordo que a clareza não é necessária em um texto de literatura.
 
Os argumentos aqui me lembraram aquela questão da legitimidade/autoridade: pode ser que culpar o emissor ou o receptor dependa somente de quem são esses dois.

Já li muitos contos em que ‘nada acontece’, aparentemente ‘sem trama’, e coisas assim. Mas por serem de Fulano de Tal, um dos imortais da literatura ou simplesmente um escritor conceituado, todo mundo busca o sentido por detrás da ‘pura descrição’, sempre pensando que se Fulano de Tal escreveu então deve ter um sentido – e muito profundo, aliás.

Uma boa vontade interpretativa que falta quando o escritor não é famoso nem está num livro de coletânea dos melhores contos da década ou coisa que o valha...

Enfim, só minha modesta opinião sobre os argumentos trocados.

Eu particularmente prefiro contos simples com sentidos dados simplificadamente – afinal, sou um cara simples XD -, mas achei o conto bem escrito e vem até com o brinde dos possíveis significados por detrás dele – o que ajuda, mas não é indispensável num conto.
 
Franco disse:
Os argumentos aqui me lembraram aquela questão da legitimidade/autoridade: pode ser que culpar o emissor ou o receptor dependa somente de quem são esses dois.

Já li muitos contos em que ‘nada acontece’, aparentemente ‘sem trama’, e coisas assim. Mas por serem de Fulano de Tal, um dos imortais da literatura ou simplesmente um escritor conceituado, todo mundo busca o sentido por detrás da ‘pura descrição’, sempre pensando que se Fulano de Tal escreveu então deve ter um sentido – e muito profundo, aliás.

Uma boa vontade interpretativa que falta quando o escritor não é famoso nem está num livro de coletânea dos melhores contos da década ou coisa que o valha...

Enfim, só minha modesta opinião sobre os argumentos trocados.

Eu particularmente prefiro contos simples com sentidos dados simplificadamente – afinal, sou um cara simples XD -, mas achei o conto bem escrito e vem até com o brinde dos possíveis significados por detrás dele – o que ajuda, mas não é indispensável num conto.

Bom, eu não queria sair do foco do tópico, mas aproveitando o assunto, acho natural que se trate de forma diferente o texto de um autor que já se conhece. Conhecer o autor amplia a visão do leitor sobre o que esse autor escreve, porque, além do texto escrito, ele consegue perceber diversos outros elementos, e etc.
 
poderia ser um log de um espião. poderia ser a descrição de uma câmera de segurança. ou a descrição detalhada de uma cena imaginada. de qualquer jeito, só teve uma parte que sobressaiu na minha cabeça:

Não tinham tantos carros assim por ali. Para falar a verdade, só mais um ou dois. E não havia mais ninguém por ali. Deu partida e foi embora.

E o estacionamento ficou mais vazio.

não tem muito em comum com isso, mas pensei numa amiga que disse uma vez que se sentia diferente quando se fazia uma lista de chamada e alguém, quem quer que fosse, estivesse ausente. como se um a menos não fizesse diferença
 
Objetos inanimados como um meio de expressar emoções humanas. Essa é a linguagem do cinema. Apenas os bons diretores entendem como fazer isso. - Paul Auster

Nós determinanos à informação uma existência material em objetos. Rearranjo de objetos é mudança no conteúdo da informação; a mensagem mudou. Isso é uma linguagem que nós perdemos a habilidade de ler. - Philip K. Dick

Duas citações que talvez enriqueçam em algo a discussão.

Talvez para expor o individualismo como tema faltou uma exposição mais verborrágica, acho que foi isso que o JLM quis dizer. Isso é um conto, não é um curta, mas a primeira citação vale, porque passou bem o marasmo da situação. E sendo o seu objetivo exprimir algum significado através das palavras, pura e simplesmente organizadas desse jeito, acho que não foram nem as vidraças nem a gata mas o estacionamento que fechou bem a cena. As vidraças são meramente decorativas, a gata serviu pra dar um aspecto humano(?) ao texto, algum ponto de ligação, mas o estacionamento, não-lugar por excelência, foi que fechou a atmosfera.
 
"Ah, também concordo que a clareza não é necessária em um texto de literatura."Rodrigo concordo também, isso pode variar de autor,alguns são claros e objetivos outros nem sempre.Gostei da narrativa do texto,fluiu bem.
 
Wilson disse:
Talvez para expor o individualismo como tema faltou uma exposição mais verborrágica, acho que foi isso que o JLM quis dizer. Isso é um conto, não é um curta, mas a primeira citação vale, porque passou bem o marasmo da situação.

Engraçado, a sensação de ler este conto foi te estar visualizando um curta. Sei q a Diva curte cinema. Acho que esta é uma referência dela. Ou estou enganada?
 
Eu gostei! As descrições são bem diferentes do que eu imaginei quando li o título... Me deixou meio angustiado logo no começo...
Foi bem interessante ler seu texto... Legal!
 
Maura Corrêa disse:
Wilson disse:
Talvez para expor o individualismo como tema faltou uma exposição mais verborrágica, acho que foi isso que o JLM quis dizer. Isso é um conto, não é um curta, mas a primeira citação vale, porque passou bem o marasmo da situação.

Engraçado, a sensação de ler este conto foi te estar visualizando um curta. Sei q a Diva curte cinema. Acho que esta é uma referência dela. Ou estou enganada?

É verdade, Maura. :sim:

Acho que por mais que alguém conheça sua própria língua, jamais terá domínio do que escreve. É impossível perceber tudo o que você disse.

Quando se trata de autores consagrados, sempre existirão leituras e releituras de seus textos. E, na minha humilde opinião, isso é o que enriquece a literatura e a arte em geral. Pelo menos pra mim não tem graça nenhuma ler um texto que não me permite divagar em seus sentidos, que não me faz pensar e imaginar. E neste ponto, não tem mais nada a ver com O Escritor. Eu acho uma perda de tempo justificar: "a intenção do Machado de Assis foi essa ao escrever Dom Casmurro." ou "não foi intenção de C. S. Lewis soar machista em As Crônicas de Nárnia". Isso é besteira. Os textos já estão escritos, imortalizados e não pertencem mais a eles, ou melhor, não pertencem apenas a eles. Eu diria que pertencem mais a quem lê que é quem de fato atribui sentido aos textos.
 

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