Shakhbûrz
sculptor of reality

Resenha ~ O Gigante Enterrado
Livro: O Gigante Enterrado
Título Original: The Buried Giant
Autor: Kazuo Ishiguro
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 853592597X
Ano: 2015
Páginas: 396
Tradutora: Sonia Moreira
Seria bom se pudéssemos simplesmente apagar todas as nossas memórias ruins, ou não? Será que elas são tão importantes assim? Será que o conhecimento do passado é necessário para construirmos um melhor futuro? “O Gigante Enterrado” não vai te fornecer essas respostas, mas com certeza fará essas perguntas.
Ambientado em uma Inglaterra pós rei Arthur, o livro conta a história do casal de idosos Axl e Beatrice, que partem de sua pequena aldeia em busca da aldeia onde seu filho mora. O problema começa quando o casal nem ao menos se lembra de possuir realmente um filho e não sabe onde ele vive (se é que ele existe mesmo). Para piorar as coisas, parece que nenhuma outra pessoa que eles encontram possui lembranças antigas, apenas memórias recentes. No meio do caminho eles conhecem Edwin, um menino que foi mordido por um ogro (e que, por isso é hostilizado pelos aldeões de onde mora); e Wistan, um guerreiro saxão que adota Edwin como seu protegido. Axl, Beatrice, Edwin e Wistan seguem juntos, cada um com um objetivo em mente, até conhecerem Sir Gawain, o último cavaleiro de Artur que ainda vive. Sir Gawain, já idoso, continua tentando cumprir sua última missão dada por Artur: matar a dragoa Querig – que de alguma forma está relacionada com o esquecimento generalizado que as pessoas tem sofrido. Juntos, os cinco agora se empenham em matar a dragoa, o que resolveria todos os problemas de Axl e Beatrice.
Ishiguro tem uma escrita simples que nenhuma pessoa (independente da intimidade de leitura que tenha) vai achar difícil. Existe, entretanto, um “porém” em seu estilo: ele costuma misturar em um mesmo capítulo (muitas vezes no mesmo parágrafo) memórias, pensamentos e falas das personagens. Muitas vezes isso é interessante e acrescenta profundida à cena, outras vezes isso é complicado de identificar e pode ser confuso para o leitor. Apesar disso, a leitura é prazerosa. O autor tem uma facilidade de passar de uma escrita juvenil para uma escrita extremamente adulta de uma frase para a outra. A impressão é que vemos o confronto entre a mente iludida das personagens e a realidade cruel do mundo.
O livro tem um final aberto, o que pode desagradar alguns. Além disso, ele levanta questões filosóficas e não dá as respostas… deixando assunto pendentes entre os personagens. Apesar disso, é um livro interessante e que traz uma abordagem diferente para o gênero da fantasia.