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O gênero ensaio

Molly Bloom

Vadí? Nevadí.
Estou lendo os ensaios que compõem a obra de Walter Benjamin "Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura" e tenho pensado sobre esse gênero textual. Li outros poucos ensaios de diferentes escritores (Montaigne, Sérgio Buarque de Holanda, Llosa etc.) e gosto muito desses textos, pois não tratam os assuntos da forma impessoal como se costuma fazer em textos que se pretendem mais científicos.

No caso do Benjamin, até o momento, quanto ao aspecto literário, li o ensaio famoso sobre o narrador, mas gostei muito da sua análise sobre Proust e agora estou lendo sobre o teatro brechtiano. Penso que poderíamos usar este espaço para trocarmos informações sobre ensaios interessantes. Vocês têm lido textos desse gênero?
 
Eu próprio não o li, mas tenho vontade de ler o Carpeaux, que é meio que uma referência no gênero né.

Mas respondendo objetivamente à resposta ao fim do post: não tenho lido é nada, que dirá ensaios. Entretanto, fico aberto a recomendações também se alguém deixar aqui. :dente:
 
Gostei muito do ensaio A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica, do Walter Benjamin, no qual ele discute as transformações dos objetos artísticos em função das novas tecnologias do século XX: a fotografia e o cinema. Com base marxista, ele comenta as relações, os recursos e a materialidade no sentindo de compreender como a arte é produzida e reproduzida.

Destaco o trecho seguinte:

"O filme é uma forma cujo característico é em grande parte determinado por sua reprodutibilidade. Seria ocioso confrontar essa forma em todas as suas particularidades, com a arte grega. Mas num ponto preciso esse confronto é possível. Com o cinema, a obra de arte adquiriu um atributo decisivo, que os gregos ou não aceitariam considerariam o menos essencial de todos: a perfectibilidade. O filme acabado não é produzido de um só jato, e sim montado a partir de inúmeras imagens isoladas e de sequências imagens entre as quais o montador exerce seu direito de escolha - imagens, aliás, que poderiam, desde o início da filmagem, ter sido corrigidas, sem qualquer restrição. Para produzir A opinião pública, com uma duração de 3 000 metros, Chaplin filmou 125 000 metros. O filme é, pois, a mais perfectível das obras de arte. O fato de que essa perfectibilidade se relaciona com a renúncia radical aos valores eternos pode ser demonstrado por uma contraprova. Para os gregos, cuja arte visava a produção de valores eternos, a mais alta das artes era a menos perfectível, a escultura, cujas criações se fazem literalmente a partir de um só bloco. Daí o declínio inevitável da escultura, na era da obra de arte montável."
 
A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica é ótimo! Gosto muito da ideia de aura e de como ele compara os diferentes meios e as diferentes mediações entre eles, como o cinema-teatro, a fotografia-pintura etc. Todo o ensaio remete muito aos estudos críticos de Adorno e Horkheimer.
 
A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica é ótimo! Gosto muito da ideia de aura e de como ele compara os diferentes meios e as diferentes mediações entre eles, como o cinema-teatro, a fotografia-pintura etc. Todo o ensaio remete muito aos estudos críticos de Adorno e Horkheimer.
Sim. E essa ideia de perfectibilidade do cinema, achei muito boa. Em um trecho ele comenta que a arte cinematográfica, diferente do teatro, que se concentra na atuação, é a montagem, pois é nesse momento que são selecionadas as imagens e a sua sequência para construir o filme. Parece meio óbvio depois que é dito.
 
Minhas leituras são bem pobres em relação a ensaios, mas o W.G. Sebald (o senhor do meu avatar), que eu considero meu escritor preferido, costumava escrever sua prosa em formato ensaístico. Fora os livros abertamente de ensaios (no Brasil, temos o "Guerra aérea e literatura"; em português de Portugal há ainda "Pátria apátrida" e "O caminhante solitário"), os quatro livros de prosa dele são entremeados de pequenos ensaios sobre diversos temas que poderíamos enquadrar no termo "história natural".

O Coetzee também tem um livro em que ele mescla ensaios com uma história ficcional em dois pontos de vista (Diário de um ano ruim), e que produz um efeito bastante interessante no leitor.
 
Última edição:
Na gringa o ensaio é um gênero fodido de bem trabalhado. Tem muita coisa por lá, acho que desde o Emerson pelo menos.

Dos contemporâneos eu gosto demais da conta do John Jeremiah Sullivan, cujo Pulphead saiu tempos atrás pela Cia. Você acha tudo em inglês pra ler. Por exemplo o texto dele sobre o Axl Rose, aqui.

Mas tem muito amis. O David Foster Wallace já é super tarimbado; os textos dele sobre tênis são assustadoramente bons, em especial aquele sobre o Federer, que já é um clássico. Outra super conceituada também é a Joan Didion. Já li a obra todinha dela.

No Brasil eu tenho a impressão que esse gênero geralmente não é tratado sob esse rótulo. A gente fala muito de jornalismo literário por aqui. A linha divisória entre esses dois não é muito clara. Dependendo de como você definir, dá até pra incluir Os Sertões no meio.
 
Na gringa o ensaio é um gênero fodido de bem trabalhado. Tem muita coisa por lá, acho que desde o Emerson pelo menos.

Dos contemporâneos eu gosto demais da conta do John Jeremiah Sullivan, cujo Pulphead saiu tempos atrás pela Cia. Você acha tudo em inglês pra ler. Por exemplo o texto dele sobre o Axl Rose, aqui.

Mas tem muito amis. O David Foster Wallace já é super tarimbado; os textos dele sobre tênis são assustadoramente bons, em especial aquele sobre o Federer, que já é um clássico. Outra super conceituada também é a Joan Didion. Já li a obra todinha dela.

No Brasil eu tenho a impressão que esse gênero geralmente não é tratado sob esse rótulo. A gente fala muito de jornalismo literário por aqui. A linha divisória entre esses dois não é muito clara. Dependendo de como você definir, dá até pra incluir Os Sertões no meio.

Pois é. Estou pensando em investigar mais esse assunto. Sei que tem um ensaio do José de Alencar, "Como e por que sou um romancista", ou algo assim, e comprei um livro do Tezza sobre Bakhtin e os formalistas russos. Vamos ver qual será.
 
Um artiguinho do Estado da Arte sobre o gênero ensaio:

 
Li recentemente um ensaio bastante conhecido da Susan Sontag, Contra a interpretação, em que a autora discute a maneira como encaramos uma obra de arte. Segundo ela, ainda separamos forma de conteúdo e consideramos o último o principal da obra. Nas palavras dela, "ainda pressupomos que a obra de arte é seu conteúdo". O combate dela, nesse sentido, é justamente na atitude interpretativa que vai tentar explicar o que há na obra e asfixiá-la.

O texto é curtinho (6 páginas) e fácil de encontrar na internet.

Deixo um trecho dele aqui:

Na maioria dos casos atuais, a interpretação não passa de uma recusa grosseira a deixar a obra de arte em paz. A Arte verdadeira tem a capacidade de nos deixar nervosos. Quando reduzimos a obra de arte ao seu conteúdo e depois interpretamos isto, domamos a obra de arte. A interpretação torna a obra de arte maleável.
 
Li há muito tempo esse ensaio da Sontag... Ela foi uma crítica brilhante e provocadora. Faz muita falta hoje em dia.
 

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