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O gato de Schrödinger

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Trazendo um video legal que demonstra o experimento do famoso gato de Schrödinger.

 
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Uma ponto que muitas vezes é mal divulgado é que na Mecânica Quântica há uma distinção bastante radical entre a teoria científica e as interpretações da teoria. Essa distinção também ocorre em outras partes da Física, mas é muito menos radical... Por exemplo, é comum dizer que o espaço newtoniano é absoluto e o espaço da Relatividade Geral é relativo, mas essas são apenas as interpretações majoritárias sobre o assunto, outras interpretações minoritárias também existem.[1]

Com respeito à Mecânica Quântica, porém, dezenas de interpretações existem. Isso é, há um acordo sobre como se efetuar cálculos e prever dados experimentais, mas um desacordo sobre como esses cálculos refletem a realidade. Um ponto de discordância, por exemplo, é quanto à realidade da função de onda: para alguns, a função de onda reflete uma onda real, e para outros, a função de onda é mero instrumento epistêmico, isso é, um objeto matemático útil para prever os dados experimentais, mas sem correlato com a realidade. E entre essas duas posturas (realistas e instrumentalistas) há gradações e extremos...

Daí que, em divulgação científica, esse tipo de sutiliza acaba passando batido. Por exemplo, no vídeo postado acima, Schrödinger seria um instrumentalista, a função de onda não teria um "sentido físico fundamental", e ele teria criado o experimento mental do gato apenas como "experimento didático". Essa linha de raciocínio reflete uma interpretação bastante corrente (a interpretação de Copenhagen), mas (pelo que sei) o pensamento Schrödinger era outro: ele teria criado o experimento do gato simplesmente para mostrar que a interpretação instrumentalista de então era insatisfatória, porque teria consequências bastante reais e bizarras, e acreditaria que o caminho para resolver a questão fosse um caminho patentemente realista. Essa corrente de pensamento nunca foi muito para frente e ele teria perdido protagonismo nas pesquisas sobre o assunto.

A interpretação da maioria dos pais da Mecânica Quântica é justamente a "interpretação de Copenhagen" e é tida ainda hoje como a interpretação mainstream. Porém, um olhar mais cuidadoso mostra que na verdade é um termo guarda-chuva, e abrange interpretações um tanto quanto diferentes. Por exemplo, Max Born e Heisenberg tenderam também a colocar um pé no realismo no que diz respeito à função de onda. Outra diferença é que os físicos atuais tendem a adotar uma posição "shut up and calculate": nada se pode dizer sobre a partícula antes da detecção, até porque a função de onda descreveria um coletivo de experimentos e não um único experimento. Já Bohr tendia a interpretar fenômenos como ondulatórios ou corpusculares, a depender de como a função de onda contribuia para a detecção em questão.

Outra interpretação realista é a interpretação dos muitos mundos. É uma interpretação completamente alternativa às interpretações acima. Sempre achei uma interpretação meio maluca, mas ultimamente tem ganhado minha simpatia, porque une duas coisas que não se unem em outras interpretações: realismo e localidade (= não existe ação à distância). Ainda que muitos físicos corram para o "shut up and calculate" quando colocados contra a parede com respeito à função de onda, quando se está pensando sobre física é difícil não ter uma imagem ondulatória bastante concreta. Assim, por exemplo, no experimento da dupla fenda aplicada à Mecânica Quântica, há uma interferência destrutiva em dado ponto do anteparo e a partícula, nesse ponto, jamais é detectada. Acho difícil acreditar que algum tipo de interferência não esteja acontecendo DE FATO, e sim que a interferência ondulatória seja mero instrumento matemático para chegar ao resultado correto de que, ali, a partícula jamais chega.... E isso é só um exemplo, quando se pensa sobre espalhamentos ou decaimentos, por exemplo, no fundo da alma ninguém está pensando sobre uma coletividade de coisa alguma, e sim sobre fenômenos particulares que seriam bem reais... Esse instrumentalismo todo parece-me apenas um jeito de se furtar de questões importantes....

Uma curiosidade é que Schrödinger era fanzaço de Arthur Schopenhauer, filósofo alemão, inclusive estudou hinduísmo e teorias das cores por influência dele, e há trechos de seu livro "O que é a vida?" parafraseados do filósofo. Há quem levante a hipótese de que o gato de Schrödinger é um gato (e não um outro animal qualquer) por influência de Schopenhauer, que também tem um experimento mental envolvendo gatos vivos e mortos. Mas no caso do filósofo, se tratava de defender a doutrina platônica aplicada às espécies: todos os gatos seriam, em essência, o mesmo gato, manifestação da Idéia de gato, assim como a Idéia de gravidade aparece em vários fenômenos gravitacionais, por exemplo. Daí que o gato que você vê na sua frente, é, em essência, o mesmo gato de 3 mil anos atrás e que hoje está morto.
 
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