Meia Palavra
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Se eu já vi o filme, por que eu deveria ler o livro – O escafandro e a borboleta, de Jean-Dominique Bauby
Entrevistas com escritores, biografias de autores célebres e a metaliteratura (como as narrativas em que acompanhamos um personagem escritor, em seu processo de criação literária, que, muitas vezes, desemboca justamente no livro que estamos lendo): nos três veículos, a possibilidade de encontrarmos uma confissão de angústia pela dificuldade da escrita é grande. Achar um assunto ou tema (a falta destes corresponde ao mote de metade da produção de alguns cronistas), escolher o que será transcrito, achar as palavras mais significativas e sonoras, cortar impiedosamente aquilo que “não funciona”, revisar, revisar e revisar.
O escafandro e a borboleta leva essa angústia a outro nível. Isso porque o protagonista (e narrador e autor) sofre de locked-in syndrome. Um AVC fez com que ele, após um período em coma, só conseguisse mexer o olho esquerdo. Vá lá, ele consegue balançar desajeitadamente a cabeça (uma raridade em pacientes com esse quadro). Mas isso você já sabe, pois já viu o filme: todas aquelas cenas belíssimas, incluindo o longo plano em que o olho direito – inerte e com risco de infecção, mas ainda “vendo”, por assim dizer – é obstruído pela costura das pálpebras que o envolvem. O “outro nível” a que me refiro não é exatamente uma dificuldade mental, psicológica. É um impedimento e tanto. Ele não pode pegar uma caneta, não pode digitar, não pode ditar para um escriba (ou um taquígrafo, caso se expressasse com a pressa característica de seriados como Gilmore Girls).
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Entrevistas com escritores, biografias de autores célebres e a metaliteratura (como as narrativas em que acompanhamos um personagem escritor, em seu processo de criação literária, que, muitas vezes, desemboca justamente no livro que estamos lendo): nos três veículos, a possibilidade de encontrarmos uma confissão de angústia pela dificuldade da escrita é grande. Achar um assunto ou tema (a falta destes corresponde ao mote de metade da produção de alguns cronistas), escolher o que será transcrito, achar as palavras mais significativas e sonoras, cortar impiedosamente aquilo que “não funciona”, revisar, revisar e revisar.
O escafandro e a borboleta leva essa angústia a outro nível. Isso porque o protagonista (e narrador e autor) sofre de locked-in syndrome. Um AVC fez com que ele, após um período em coma, só conseguisse mexer o olho esquerdo. Vá lá, ele consegue balançar desajeitadamente a cabeça (uma raridade em pacientes com esse quadro). Mas isso você já sabe, pois já viu o filme: todas aquelas cenas belíssimas, incluindo o longo plano em que o olho direito – inerte e com risco de infecção, mas ainda “vendo”, por assim dizer – é obstruído pela costura das pálpebras que o envolvem. O “outro nível” a que me refiro não é exatamente uma dificuldade mental, psicológica. É um impedimento e tanto. Ele não pode pegar uma caneta, não pode digitar, não pode ditar para um escriba (ou um taquígrafo, caso se expressasse com a pressa característica de seriados como Gilmore Girls).
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