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O Encontro Marcado (Fernando Sabino)

Béla van Tesma

Nhom nhom nhom
Colaborador

'O Encontro Marcado', de Fernando Sabino, chega à 100ª edição​

Para crítico, romance de 1956 é o primeiro grande exemplo de autoficção urbana


12.out.2018 às 14h54
Alvaro Costa e Silva


Desde sua publicação, em 1956, “O Encontro Marcado” não parou mais de circular e conquistar leitores. Uma tiragem estimulante para um único livro de autor nacional —mais de 500 mil exemplares—, chegando a ter duas reimpressões por ano em época de maior difusão no currículo básico de ensino.

Pois agora a obra está batendo uma marca histórica: a centésima edição, que a Record mandou para as livrarias no dia 12 de outubro, quando Fernando Sabino completaria 95 anos.

“É o primeiro grande exemplo de autoficção urbana. Sabino tem preocupação, escrita e temática de jovem. Tem lastro artístico e deixa o clássico ‘Menino de Engenho’, de José Lins do Rego, no chinelo”, afirma o escritor e crítico literário Silviano Santiago.

“Em suma, ele começa a escrever para o futuro e poderosíssimo grupo de leitores classificados como ‘young adults’ antes que a sigla de sucesso comercial tivesse sido inventada”, completa o crítico.

No livro de memórias “Tabuleiro de Damas”, publicado em 1988, Fernando Sabino confessa que o sucesso imediato o impressionou, e continuaria a surpreender ao longo do tempo: “A minha vida havia chegado a um impasse. Foi uma espécie de ‘apuração de haveres’ —este seria a princípio o título do livro”.

“Não teria condições de sobrevivência se não escrevesse sobre o que tinha vivido até aquele momento. Tinha um encontro marcado comigo mesmo”, revelou o escritor, que estava com 30 anos quando iniciou a obra.

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Ele havia se separado da primeira mulher, Helena, devolvido o cartório que ganhara como presente de casamento do sogro —o governador Benedito Valadares, velha raposa da política de Minas Gerais— e viajado em 1946 para uma longa temporada nos Estados Unidos.

“A fórmula do sucesso de ‘O Encontro Marcado’ se encontra nas crônicas que Sabino escreve logo depois da guerra, em Nova York, reunidas no livro ‘Cidade Vazia’. Numa literatura dominada pela temática regionalista, que culmina com a publicação de ‘Grandes Sertão: Veredas’, o escritor se apresenta como voz vitoriosa e livre de preconceitos, voz jovem e urbana, evidentemente norte-americanizada”, aponta Santiago, lembrando a semelhança do livro com “Este Lado do Paraíso”, o romance de estreia de F. Scott Fitzgerald.

Depois dos contos de “Os Grilos Não Cantam Mais” (1941) e das novelas de “A Vida Real” (1952), o autor trabalhou em duas obras de maior fôlego: o inacabado “O Ponto de Partida”, saga de uma família mineira, “roman fleuve” na linha de “Os Buddenbrook”, de Thomas Mann; e, mais ou menos de brincadeira, o esboço do que seria “O Grande Mentecapto”, mistura de “Dom Quixote” com “Gargântua e Pantagruel”, só concluído para valer em 1979.

“Sabino adota como modelo o romance de formação que vem de Goethe, passa por Flaubert e desemboca no Joyce de ‘Retrato do Artista Quando Jovem’”, resume Silviano Santiago.

“O Encontro Marcado” teve três versões e “1001 descaminhos”, segundo o autor, que gastou no original mais de 1.400 páginas para aproveitar 300 e poucas. A primeira edição saiu pela Civilização Brasileira —3.000 exemplares que se esgotaram em dois meses.

Mesmo com o livro publicado, Sabino continuou trabalhando nele. Autran Dourado, em seu ensaio “Uma Poética de Romance”, sugere que a segunda edição recebeu “um verdadeiro banho de soda cáustica no estilo”.

Entre os críticos e os colegas de ofício, a aprovação foi quase unânime. “O livro todo parece filmado em luz de rua, sem ‘maquillage’. Por isso dá às vezes a impressão de falta absoluta de ‘literatura’ —e então se sente que este é o modo sofisticado da literatura”, registrou Clarice Lispector.

“A sua frase, Fernando, é uma frase clássica, no sentido de que ninguém a diria melhor. Você é capaz de qualquer miséria com o túmulo do pensamento humano”, analisou Dalton Trevisan numa carta.

Ao acertar a mão no livro mais famoso, Fernando Sabino não escondeu as tintas autobiográficas (o vácuo político, o masoquismo cristão, a farra como fuga). Mas usou um artifício que evita a confusão entre autor e personagem. O romance é escrito numa falsa terceira pessoa, todo o enfoque é feito através do personagem principal. O leitor só sabe o que ele sabe.

Uma etiqueta ficou indissociável de “O Encontro Marcado”: o romance de uma geração. Na verdade, são gerações que se identificaram com a obra. Quando tinha nove anos, o escritor João Paulo Cuenca —hoje com 40— ficou fascinado com a história de Eduardo Marciano.

“Foi o arquiteto de minha infância e adolescência, o livro que mais reli na vida, importante demais para minha formação de escritor. O seu segredo é a transparência da prosa fina e direta que nos abre um mundo”, diz Cuenca.

O romancista Ignácio de Loyola Brandão, que tem 82 anos, lembra que leu o romance logo em seguida ao lançamento: “Tínhamos um grupo de amigos em Araraquara, éramos ratos de livraria e biblioteca. Compramos um exemplar, que foi passando de mão em mão. E ficamos paralisados. Somos nós, quase gritamos”.

“Havia gente que pensava como nós e vivia como nós. Gente que amava sem ser amado, que namorava e depois ia para a zona, porque não podíamos comer nossas namoradas. Éramos angustiados e sentíamos a náusea antes de termos lido Sartre. Sabino havia escrito ‘A Náusea’ brasileira”, acredita Loyola.

Um segundo romance só viria 23 anos depois, com “O Grande Mentecapto”. Nesse tempo Sabino se ocupou em se transformar em um dos maiores cronistas da literatura brasileira. Mas uma questão ficou pendente: teria o enorme sucesso de “O Encontro Marcado” bloqueado o romancista?

“Tenho na minha estante 29 livros dele. Fernando Sabino era cobrado para que escrevesse mais e melhores romances, e sofria com essa cobrança”, diz o escritor Luís Henrique Pellanda.

“Basta lembrar do telefonema de Guimarães Rosa. Fernando atende e diz que estava escrevendo uma crônica ou peça de teatro. Rosa lamenta, e o aconselha a construir pirâmides e parar de fazer biscoitos. É um conselho anedótico, divertido e, no fundo, desnecessário. Fernando escreveu o que tinha de escrever”, afirma Pellanda.

Paulo Mendes Campos notou que “O Encontro Marcado” é um romance que “corre”. E como! Cem edições.

Fonte: Folha




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Em comemoração ao centenário de Fernando Sabino, esta edição em capa dura e com novo projeto gráfico de "O encontro marcado" inclui textos inéditos de Michel Laub e Adauto Leva, além de uma carta de Clarice Lispector ao autor.

Publicado originalmente em 1956, "O encontro marcado", uma das obras mais importantes da carreira de Fernando Sabino, autor vencedor do Jabuti e do Prêmio Machado de Assis, ganha uma nova edição de luxo em comemoração ao centenário de seu nascimento, com textos inéditos: uma apresentação assinada pelo premiado escritor Michael Laub; uma história da recepção do livro por Adauto Leva, um estudioso da obra de Sabino, e a reprodução na íntegra de uma carta de Clarice Lispector sobre "O encontro marcado", escrita ao autor meses após o lançamento do livro. O romance, com traços autobiográficos, traça a procura desesperada do “eu” e da verdadeira razão da vida pelo olhar do jovem escritor Eduardo Marciano, que amadurece num mundo desorientado, vivendo dramas interiores e expondo os equívocos fundamentais que vinham frustrando sua existência e sufocando sua vocação. Os "quatro mineiros do Apocalipse" ― os escritores Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende e Fernando Sabino ―, cuja amizade marcou a literatura brasileira e a geração retratada em "O encontro marcado", inspiraram alguns dos personagens e episódios do livro. Ele é, portanto, um retrato da experiência de toda uma geração, carregado de dramaticidade e de questões existenciais.

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Ah isso é sempre um problema. Pior que na edição padrão do Sabino eles vinham usando folha branca à la L&PM, que já é melhor que aquele padrão Record de oxidação
 

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