@
Pearl, o @
Bruce Torres e @
Grimnir postaram o que seria minha justificativa.
Parti do seguinte ponto: o professor, que se preocupa com uma educação que gere autonomia através do conhecimento e da posse da técnica, termina por negá-la ao crer em civilização e cultura superiores. Sim, pois ao defender tal ideia, concebe-se a oposta: a barbárie e inferioridade cultural. Assim os primeiros, aqueles que formam a elite ilustrada, justificam, pela hierarquia cultural, os destinos a serem seguidos pelos segundos, reforçando o domínio, não o combatendo. Os exemplos no decorrer do texto, a meu ver, só reforçam essa concepção. Que não é inédita, pois durante séculos - com seu grande expoente no pós- Revoluções Burguesas e Industriais - o Ocidente utilizou de semelhantes argumentos objetivos e subjetivos (estes de extrema importância, tanto para a justificativa opressora - que sempre se fez com palavreados de liberdade - quanto para movimentos de levante dos oprimidos. Edward Said, em Cultura e Imperialismo, logo nas primeiras páginas já dá o tom de como a literatura trabalhou tanto para um lado como para o outro) para salvar o mundo à si mesmo. A grosso modo, pelas palavras do professor, quem ouve Mozart e lê Shakespeare pode exercer seu imperialismo intelectual sobre nós, ouvintes de Zeca Pagodinho e leitores do jornal Agora.
O que já serve, em parte, como resposta às colocações do @
Haran Alkarin. Complemento: Quando disse que o professor prega um não-olhar para o passado, o fiz por suas colocações acerca do Golpe de 64 e sua opinião sobre a importância da comissão da verdade. Porém, também levei em consideração sua afirmação de cultura superior. Em ambos os casos há o mesmo princípio, não de um "não-olhar", mas o que é igualmente ruim, o de um olhar positivista e eurocentrista para o ontem. Por exemplo: a negação da leitura de nossa história recente pela voz de quem foi pro pau-de-arara, vestida como justificativa a capa ESCROTA e BOLSONARISTA que vê nos movimentos dos torturados e parentes de mortos e desaparecidos meros desejos revanchistas. É uma postura que reforça a concepção da História escrita pelos donos da vida. E da mesma fonte nasce a cegueira do professor em relação a historicidade existente em Gilberto Gil e Caetano Veloso - o que, consequentemente, termina por negar a presença dos inúmeros elementos culturais de assimilação, sincretismo e resistência empregados contra a bela cultura civilizatória que se quis empurrar goela abaixo. Dessa forma, e tendo em mente que a memória é um palco de disputa política, econômica e social, ao fazer a opção pela História do Poder, pelo olhar eurocêntrico, acaba-se por não considerar como sujeitos históricos os "vencidos". Por extensão, e voltando ao início, como não são sujeitos ativos, seus destinos podem muito bem ser comandado pelo leitor de Adam Smith, fã - fã, não, que essa palavra não é ilustrada - apreciador de Schubert.
E não há interesse na popularização - inclusive historicamente: por parte da elite intelectual, que vê no nivelamento cultural o término das relações verticais.
Mais: o que considero sensacional e me faz manter a fé na humanidade: nem há interesse na raia miúda: Mano Brown é muito mais poeta do que Shakespeare. (1).
Pra finalizar, a ordem vigente é composta pelos elementos que você bem citou, @
Haran Alkarin . Questioná-la é refletir diretamente sobre eles, não simplesmente aceitar eventos de cunho cultural como natural, como o
status quo geralmente propagandeia.
(1) Apenas para deixar claro algumas ponderações que fiz:
- não tenho nada contra Shakespeare, música clássica e mesmo leitores de Adam Smith - tudo foi dito para exemplificar minha visão contrária a hierarquia cultural;
- minha fé na humanidade não está no fato de que o povo prefira um em detrimento do outro, mas na insubmissão contida no ato.
- não sou contrário à ciência e à técnica - minha posição é contrária ao uso indiscriminado e irrefletido, que termina por mecanizar inclusive as relações.
É um filme antigo e creio que muitos viram, mas vou postá-lo. Levanta algumas questões sobre Ciência e Técnica que valem a pena: