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O diário DAQUELA garota. PARTE FINAL

LucasCF

Usuário
Oi diário, vou continuar o que comecei ontem...

Pensando que o gol tinha sido dedicado a mim, fiquei as férias inteiras imaginando-me agarrando aquele garoto. Sonhei com ele, acordei com ele, e comi trufas (de minha mãe, claro) pensando nele.
Desejei por muito tempo a chegada do novo ano letivo para que eu pudesse conhecê-lo melhor. Mas por que motivo infantil eu pensei que aquele gol tivesse sido para mim?
Eu não era nada bonita (sem querer louvar a mim mesma, o completo oposto do que sou hoje), ele não me conhecia. Mesmo que conhecesse, não iria se interessar, já que além de feinha, eu era uma garota que só estudava e não era muito sociável.
Ele nunca, nunca mesmo, iria querer algo comigo. Ah sim. Iria querer algo comigo, agora, se não estivesse morto. Não diário, não estou nada feliz por isso, nem vou comemorar sua morte. Apesar de tudo, eu continuo uma pessoa quixotesca, já que ainda não esqueci aquele dedo que supostamente estava apontando para mim (suposição das mais panacas). Enfim, ele iria querer algo comigo, agora que já não sou mais feia. Já ele... Se estivesse vivo, precisaria fazer um regiminho.
Logo que as aulas recomeçaram, a idiota da cíntia (eu mesma) começou a não ter o mesmo desempenho que tinha antes. Por incrível que pareça, eu levei a sério aquele gol, e aquele dedo, a ponta do dedo apontada para alguém que coincidentemente estava alguns milímetros a minha direita. Eu cheguei a realmente pensar que ele tivesse me achado interessante. Passava as aulas lendo o quadro negro sem enxergar as letras. Olhando para o quadro negro sem realmente estár vendo algo. Sim, eu via algo. O dedo.
Aquele dedo que vinha em minha direção (ou quase), e que partía de alguém como Raul. Alguém bonito, forte (fisicamente, ao menos), popular... Mas ele era um tremendo de um burro. E um grosso. E ele era... Ah, ele era encantador. Mas ainda assim, ele era um bruto.
Depois daquela final de campeonato, nada mais foi igual. Minha mãe não entendia minhas notas ruins, nem nada que ela ouvia nas reuniões sobre mim. Ela tinha medo de que eu me tornasse um nada, como ela se via.
Nos intervalos ficava as escondidas observando-o. E quando ele me viu atrás da divisória entre nossos pavilhões (Ele estava no primeiro ano do ensino médio), e me chamou, perguntou por que o observava. Eu fiquei sem graça, e não dei resposta nenhuma. Ele foi simpático. Mas só por alguns segundos. Disse algumas coisas que não recordo direito. Mas logo me expulsou de seu pavilhão. Disse que estavam discutindo futebol, e eu não iria gostar. É claro que era mentira.
Comecei a cada vez mais admirá-lo. O jeito que ele falava bem, era impressionante. Ele era muito sociável. Ele tinha lábia. Aquele jeito dele. Tudo que ele fazia. Eu o apreciava cada vez mais. E ele nem me conhecia. Eu já o conhecia muito bem. Ou era o que eu pensava. Eu só sabia que ele era perfeito (ou parecia). Acho que eu sempre tive essa mania de enxergar o que eu quero. Era só ele passar as mãos no cabelo para arrumar o topete, e eu me arrepiava.
Foi então, um dia depois de ele completar 15 anos que eu tomei coragem. Eu nunca havia namorado. Eu era uma criança comparada às pessoas de minha classe. Ingênua, eu nem sequer pensei na muito provável chance de que para eu namorar alguém, tinhamos que ter conversado bastante (não estamos falando de ficar, nas baladas, e tal).
Eu fui lá. Dizer algo a ele. Queria falar que o amava.

Oh diário. Corri. Fiquei atrás dele. Cutuquei o ombro dele.

Eu nem sabia o que dizer. O "eu te amo" não saiu.
A única coisa que saiu.
Foi uma frase idiota.
MUITO IDIOTA.

"Quer namorar comigo, Raul?"
"Você é muito feia, garota, sai fora."

"Você é muito feia, garota, sai fora". "Você é muito feia, garota, sai fora". Aquilo ficou se repetindo em minha cabeça. Eu saí correndo. Aquela frase não saia de minha cabeça.
Eu sofri. MUITO. É diário, e foi assim que comecei a escrever diários. Tive que ir na psicóloga. Parei de estudar. Tranquei-me no quarto para chorar.

E foi ontem no meio da tarde, quando estava voltando para o hotel com o André, que reencontrei Raul. Barrigudo e barbado. Vi uma latinha de Coca-Cola em cima do painel do táxi.
André foi muito mal-educado com Raul. André sabe de quanto sofri. Mas ele não precisava ter falado alto aquelas coisas.
Saímos do táxi, e quando estava entrando no OnlyForRich Palace, olhei para trás. O trem estava arrastando um táxi. O mesmo táxi que havia me trazido até alí. O mesmo táxi cujo motorista era Raul. O mesmo táxi em que morreu quem me fez sofrer.
E que continuou me fazendo sofrer por ter morrido.
A minha sorte é que meu amoroso marido me consolou. Ele compreendeu. Ele me ajudou. Ele me reergueu.
E agora eu digo, diário. Não sofro mais por homem nenhum. E não sofro mais pelo que Raul me fez. Raul foi quem fez sofrer a antiga Cíntia. Não eu.
E assim encerro os escritos de hoje. E de sempre. Infelizmente, não preciso de você, diário, se não sofro mais.
E que se dane Raul. Bem feito para ele. Aquele canalha...

Assinado: A nova Cíntia.



Espero que tenha ficado bom, pessoal. JLM falou que tenho que praticar bastante. :D
 
Hahahahaha! O final foi muito cômico! (posso rir?) :rofl:

Lucas, seu conto é exatamente a cabeça confusa de algumas mulheres apaixonadas! O pior é que é assim mesmo, uma coisa boba que nos falam pode acabar em anos em um terapeuta.

O Raul teve mais participação na vida da Cíntia do que ela na vida dele.
 
hueheuheueheue
claro que pode rir. eu acho que quem lê, pode expressar do jeito que quiser o que lê. sei lá
:D

Cê tá falando sério que toda mulher é assim? Eu pensei que estava escrevendo os pensamentos de uma mulher diferente, maluca. uheheuheuheuehue

Mas e aí? tá bom?
 
LucasCF disse:
Cê tá falando sério que toda mulher é assim? Eu pensei que estava escrevendo os pensamentos de uma mulher diferente, maluca. uheheuheuheuehue

Mas e aí? tá bom?

Não! Eu disse "algumas" mulheres, não todas. Eu não sei o que se passa na cabeça de todas as mulheres não! :hahano:

Sim, tá legal. Achei o começo meio confuso, não não sei se foi a sua intenção, para mostrar "confusão mental" da doida. hehe
 
Que parte? Na verdade, acho que é por isso sim, pois ficou tanto na minha cabeça que a personagem era doida, que saiu doido. hueheuheuheueh
 
Muito legal, cara. Continue assim, mesmo.
Essa idéia de desenvolver a personagem mais profundamente é um ótimo exercício! No texto original, vc conseguiu intercalar os discursos direto e indireto para tornar o relato mais "crível" e contar efetivamente o fato. Era um conto focado numa "ocorrência". Esse aí já é mais o desenvolvimento da personagem mesmo, gostei do uso da própria disposição do texto na hora em que ela se declara ao Raul, o uso da caixa-alta. Deu uma cara de diário.
Só uma pergunta: porque comentários como esse: sem querer louvar a mim mesma, o completo oposto do que sou hoje? Ela está escrevendo um diário, não? Esse tipo de comentário soa como uma explicação, uma retratação a alguém, algo dito por alguém inseguro que quer se convencer de que é bonita, ou então alguém que tem medo de parecer metido, que quer agradar às pessoas. Porque ela diria isso para o diário?

Enfim, acho que esse é o caminho mesmo! Escrever, escrever, escrever!
Quando vc estiver cansado de escrever, leia =). Uma indicação pra vc ver como a mestre brasileira em conflitos na alma feminina trata um assunto similar: leia o conto Preciosidade, de Clarice Lispector (está no livro Laços de Família). É simplesmente embasbacante.
 

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