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O Cheiro do Ralo (idem, 2007)

Tisf

Delivery Boy
O Cheiro do Ralo

Direção: Heitor Dhalia

Eu vou colocar aqui o que eu escrevi sobre o filme no blog que eu escrevo com o Pips sobre o filme:

Há um cena, já quase no final de O Cheiro do Ralo, em que a personagem de Selton Mello, depois de conseguir aquilo que mais desejava, a deixa “na sala ao lado”, simplesmente para se ter por perto. Nada mais emblemático sobre a coisificação das pessoas, dando um valor à tudo aquilo que ele se interessava, e como dispunha de dinheiro, aquilo era como se ele tivesse poder sobre todas as coisas. Há um paralelo entre essas situações do filme e a teoria sobre o fetiche da mercadoria, feita por Marx, como uma espécie de atração passional pelo objeto de consumo na medida em que se atribui a ele propriedades que ultrapassam seu valor de uso.

Nenhum personagem do filme tem propriamente um nome (ou um que não se saiba), dando um sentido mais subjetivo aos propósitos do personagem central. Ele vê as coisas do seu ponto de vista, sem se preocupar muito com as pessoas que vai tomando contato, exceto quando algo o conecta à ela, uma característica bizarra, ou coisas sobre seu pai, por exemplo.

O Cheiro do Ralo nos traz questões que a princípio são extremamente dramáticas e sérias (a eterna busca por algo, sem saber muito bem o que é ou a sensação de prazer através do poder), mas que o roteiro cobre com uma camada de ironia e comédia. A brilhante atuação do Selton Mello é nessa linha, entre o neurótico, o sério, o desagradável, o cara que teve que se tornar frio para fazer o que fazia, o cara irônico, impagável. Em uma cena, pode-se rir e no segundo seguinte, ficar surpreso ou chocado com algo.

Outra situação que eu destacaria é com relação ao próprio ralo. Hilariante no princípio, onde a personagem tenta desesperadamente se livrar dele, mas que no fim é a própria conexão com o âmago da personagem, o prazer sujo, o cheiro fétido que se originava dela mesma, que a fazia lembrar da realidade após os devaneios de poder ao atender os clientes diariamente.

Não acho que o Cheiro do Ralo seja um filme fácil, mesmo fazendo concessões quando é preciso (com as cenas cômicas, por exemplo). Ele sabe dosar essas situações com momentos repulsivos, repugnantes, bizarros, ajudados por um elenco extremamente competente.

Enfim, eu gostei bastante do filme. Sei também que tem muita gente que não gostou dele aqui ("o ralo fede"), por isso achei interessante abrir tópico próprio pra ele!

Ah sim, a Tiazinha aparece no filme :lol:
 
Eu vi o filme numa premiere e após a exibição teve um debate com o Selton e a Paula Brum. :mrgreen:

Eu gostei do filme, ele parece bem diferente do que já foi feito em filme nacional. Inspirado num HQ, bem finalizado, atuações simples e bem realizadas,... E com pouco dinheiro.
Tá que o filme me pareceu muito mais interessante com os comentários dos atores depois. O Selton estava realmente apaixonado pelo filme, empolgado mesmo e dizendo ser o personagem da vida dele. E é isso mesmo que chama atenção no filme (juntamente com a bela produção): a atuação dele, central no filme.

O mais engraçado no debate foi quando a Paula estava caminhando em direção a mesa, a platéia inteira olhou para a bunda dela. :rofl:
 
Quando eu assisti Nina, eu imaginei que esse cara seria um bom negocio, tem gente q acha uma merda.. eu achei Nina bem bacana, ainda mais q, tanto no Cheiro do Ralo como em Nina.. ele trabalho com o Mutarelli, em Nina com os desenhos dele, e no Cheiro do Ralo com o texto.. e o Mutarelli aqui entre nós, é foda..
 
Passou num festival de cinema que teve aqui no comecinho do ano, mas tinha só umas 6 sessões e eu acabei não conseguindo arrumar tempo para ver. Btw, sou fã do Selton Mello.
 
O Mutarelli, que o Ugluk comentou, participa do filme fazendo o segurança da loja do Selton Melo.
 
Assisti o filme ontem e achei genial. Eu fiquei o filme todo tentando lembrar da onde eu conhecia o segurança...

O engraçado foi que ao sair do filme eu tinha a sensaçao que tudo fedia a ralo entupido...
 
Eu achei muito bom, mesmo. Tinha ficado com preguiça de comentar. E, como o Uglúk, eu achei Nina bem bacana também. Não sei por que criticam tanto o Nina - aliás, esteticamente eu acho Nina superior ao Cheiro do Ralo.

(Acabei de acordar, ainda não estou com fôlego para escrever muito)
 
A Tiazinha aparece? Em qual cena? Não lembro de ter visto ela.

Enfim, eu gostei do filme. Original. Nem parecia um filme brasileiro.
 
Tisf disse:
Há um cena, já quase no final de O Cheiro do Ralo, em que a personagem de Selton Mello, depois de conseguir aquilo que mais desejava etc etc
Obrigado pelo spoiler, agora vou esperar passar na TV mesmo.
 
Última edição:
Tenho q afirmar q o maior motivo pelo qual eu tava afim de ver esse filme é ver a tal bunda.

Aí eu me liguei nisso e nem fui lá ver.
 
Ela é a professora de ginástica da TV :lol:

Verdade! Mas está magrela demais :eek:

Mas sabe Tisf, eu discordo de você. Não acho um filme difícil. Pelo contrário, ele é fácil, porém pode se torná-lo complexo.

Eu vi numa sala lotada e aparentemente todo mundo gostou do filme. Mesmo que não tenha levado-o tão a sério.
 
Isso é para fazer algum sentido xará?
Claro. O filme pode ser apenas um entretenimento qualquer, uma comédia nonsense, mas ele dá margem para aprofundar várias questões. É o tipo de filme que daria para dissertar sobre um tempo razoável.
 
Não achei um filme tão difícil assim. Achei Nina bem mais difícil. Como o Jedan disse, acho que ele permite vários níveis seguros de interpretação - ou seja, você pode não entender tudo mais sair contente do filme.
 
Assisti hoje um comentário do filme na TVE do estado. Me pareceu interessante. Selton Mello é realmente perfeito pra personagens do tipo.

Mas acho que terei que ir até PoA pra assistir, não sei se chega ao cinema da cidade aqui ao lado :tsc:. Isso complica...

O mais engraçado no debate foi quando a Paula estava caminhando em direção a mesa, a platéia inteira olhou para a bunda dela. :rofl:

Não me admiro nada com essa reação :lol:. Caco de bunda...:clap:
 
Eu podia jurar que era a Kelly Key.
Eu também! Meu amigo aqui do trabalho que falou pra mim quem era depois :lol:

Mas eu não sei qual é a desse filme.
Você me lembrou a crítica do Arnaldo Jabor, que teve essa mesma impressão e no fim chamou o filme de obra-prima. Bom, ele pode ter exagerado, mas lê a crítica dele, vai:

Saio do cinema desamparado. Esta é a palavra: desamparado. Fui ver o filme “O Cheiro do Ralo” escrito por Lourenço Mutarelli, Marçal Aquino e dirigido por Heitor Dhalia, protagonizado pelo Selton Mello e fiquei assim.

Pareceu-me que houve uma conjunção rara entre os autores – entre os quais, Selton Mello – que talvez tenha ido além deles mesmos. O filme se fez também sozinho. A diversidade dos atores, o acúmulo de situações trágicas, cômicas e perversas geraram um algo que costumamos chamar de “obra-prima”. (“Veja” deu-lhe três estrelas e classifica-o como “drama de humor negro”).

Mas este filme é muito mais complexo. Cinco estrelas? Como explicá-lo “psicologicamente”? Ou “psiquiatricamente”? Saio do cinema sem saber. Que deseja este filme? Pensei em Kafka, em Pinter, em Bukowski, sei lá em quem, e fico com medo de julgar por baixo ou por cima. Enredo? Estorinha?

Bem, Selton é um comprador de relíquias e bugigangas que despreza e humilha os clientes miseráveis que tentam se salvar vendendo alguma coisa, e nutre duas obsessões: a bunda de uma garçonete de botequim e um olho de vidro que comprou.

Há um ralo no banheiro ao fundo que exala um cheiro horrendo que ele cultiva como uma fonte de vida. Tudo se passa em meio a uma cenografia baldia, entre muros pichados e paredes descascadas. Uma alegoria minimalista do nojo do que se passa no país.

A cara mais suja de São Paulo nos olha da tela.Terá algum sentido dizer que o filme é “importante”, útil para entender o Brasil, como dissemos diante de “Cidade de Deus”, por exemplo? Tem sentido buscar sentido numa obra que não pretende se explicar? O filme quer nos “conscientizar”? Claro que não.

O filme não “cabe”; é inclassificável ou desclassificado. Será um “retrato de nossa situação psíquica dentro da esquizofrenia do capitalismo?” Ora...Saio pela Avenida Paulista, louco para chegar em casa como para me proteger. Na rua, com milhares de pessoas passando de todos os lados, parecia-me que as via pela primeira vez. Senti, digamos, que há uma feiúra (não é a palavra), há talvez uma escrotidão urbana assumida nas roupas, nas caras, nos gestos, há uma poluição existencial incorporada para sempre, uma tragédia ignóbil, pobre, muda, que eu acabara de ver no filme.

Volto a me perguntar: que deseja esse filme? Provar alguma coisa? Ele é “crítica” ou “produto”? É um filme personagem de si mesmo? Talvez... Que queria Kafka denunciar na “Metamorfose”? Nada. Queria existir na sua realidade paralela.

Este filme aponta para o mistério inquietante que a verdadeira obra de arte tem de ter. Não parte de idéias, mas de traumas, de medos, de pesadelos. Encontrar as idéias será tarefa para ensaístas.

No entanto, algumas certezas o filme me trouxe, (todas do lado do “não”): a primeira é que o “cheiro do ralo” está definitivamente instalado no presente e no futuro que nos espera no país, que não há reforma social ou psíquica que tape mais esse buraco, que não há conserto para o rumo em que as coisas vão e quando digo “coisas” são as “coisas” mesmo, a fumaça, o lixo urbano, a falta de dinheiro, a impossibilidade de governar, a estupidez, o crime imbatível, o horror instalado.

Não é que o filme “condene” essas realidades como errôneas, ou “desvios”; não – o filme não denuncia, nem é melancólico ou “pessimista”.

O filme abdica de qualquer esperança “sensata”, mas não é desesperado; ele apenas ri e chora por uma vida inevitável, já instalada no dia a dia do país, que a elite bocal não quer ver e românticos e acadêmicos também não.

O cheiro do ralo é nosso oxigênio atual e talvez precisemos gostar desse odor, pois viveremos com ele para sempre.Nosso país vai se dividir entre os que conseguirão escapar dessa tragédia parda, suja que já está aí e ignorar o cheiro do ralo e os que terão de se adaptar a ele. E falo de um cheiro dentro de nós, não do lado de fora. E também não falo de miséria, não. Esta é eterna e apodrecerá para sempre, pois ninguém fará nada contra ela.

Estou falando dos homens comuns urbanos. Miséria existencial? Talvez, se comparada a nossos ideais iluministas do “bom” e do “sadio”.Penso também que, na ausência de um sentido “geral” do filme, há milhares de sub-sentidos nos gestos dos atores, nas roupas, nos comportamentos dos tipos e personagens que denotam uma nova moral, um novo sexo, um novo (a palavra “novo” se aplica?) amor, uma solidão assimilada.

“Madame Satã” tem um pouco disso, “Cidade Baixa” também. De qualquer forma, surgiu um novo cinema aí, melhor dizendo, alguns pontos luminosos apareceram recentemente. Este é um dos mais fortes.

Outra coisa espantosa (sem falar no baixo custo do filme) é que os atores agem como “autores” também. Cada ator traz um drama pessoal estampado na cara, traços biográficos que nos são ofertados cruamente.

Aliás, onde se escondem esses atores geniais, longe da TV e do teatro careta? Com exceção do próprio Mutarelli, de Alice Braga, Paula Braun, e Suzana Alves, há tribos de talentosíssimos anônimos na periferia artística de SP e Rio.Esse filme me fez lembrar de um filme fundamental de 68 (ano do AI-5 e nascimento da personagem de Selton) – o “Bandido da Luz Vermelha”, que adivinhou, profetizou a avacalhação em que vivemos hoje, quase quarenta anos depois. E Sganzerla sacou isso, desconfiado do heróico e ridículo suicídio da guerrilha urbana que se iniciava.

“O cheiro do ralo”, para além dos petismos, tucanismos e lulismos, também parece prenunciar o que seremos daqui a alguns anos. Os filmes do cinema novo continham uma esperança histórica. Agora, eu diria que há uma tragédia conformada.Apesar de nada mais ter importância (bons tempos em que “Terra em Transe” mexia na cultura brasileira...) este filme é muito importante sim; mostra que, daqui para frente, talvez precisemos aceitar o cheiro do ralo para respirar."
 
Legalzinho, mas ele sofre da síndrome da platéia-é-um-bando-de-idiotas-portanto-eu-vou-tratá-los-assim e basicamente explica todas as ambiguidades e metáforas na narrativa (cada explicação acompanhada por um barulhinho na minha cabeça que soa assim: TOINGOINGOING. Como uma mola soltando). Não que o autor esteja errado em sua insegurança, mas isso não leva à qualidade. E a trilha é 90% repugnante.

O filme também é episódico, não tem progressão. Ele bate na mesma tecla várias vezes em situações ligeiramente diferentes e nunca desenvolve o tema pra outra direção. Depois da décima vez, o Selton mencionar que o fedor vem do banheiro e não dele perde tanto a graça quanto o interesse. Até o Polanski - cujo o filme lembra bastante - tinha uma boa idéia de como escalar o drama. Daria um ótimo curta se cortasse toda a repetição e mantesse os melhores momentos (como a cena do Amarelão).
 
Não acho que o filme tenha se auto-explicado e também não vi problema com a trilha. Mas é fato que o filme peca pelo excesso. Na cena do você tá amarelo eu ri consideravelmente, mas nas outras 32 vezes em que essa piada foi resgatada eu não ri. O problema é esse mesmo, o nonsense no fim estava tão repetitivo que eu me ocupava melhor contando minutos pra ver os créditos subirem do que tentando refletir sobre o significado das... escatologias. O Arnaldo Jabor ilustra isso muito bem enchendo várias linhas sem dizer basicamente nada.
 

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