Pandatur
Usuário
A notícia a seguir, de autoria de Jerômimo Teixeira, foi retirada da Revista Veja - edição 1919 - ano 38 - nª 34 - 24 de agosto 2005.
O DRAGÃO, O FEITICEIRO E AS EDITORAS
Com seus mundos mágicos, a fantasia é um dos gêneros literários de maior sucesso hoje. Entre crianças e adultos.
Com seus mais de 270 milhões de livros vendidos no mundo todo, a escocesa J.K. Rowling lançou uma febre internacional de livros povoados por bruxos e outras criaturas mágicas. A moda foi consolidada com a adaptação cinematográfica de O Senhor dos Anéis, que fez aumentar o interesse pela saga sempre em voga do inglês J.R.R. Tolkien. O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, episódio de As Crônicas de Nárnia, de C.S. Lewis (não por acaso um grande amigo de Tolkien), outra obra clássica do gênero, deve seguir o mesmo caminho – o filme chega ao cinema em dezembro, com todo o elenco de centauros, faunos e monstros do livro. Os puristas torcem o nariz para quem alinha a "popularesca" J.K. Rowling aos eruditos Tolkien e Lewis, que foram colegas na tradicional Universidade Oxford. Mas a literatura dos três guarda um elemento em comum: a criação de um universo paralelo, no qual certas leis que regem o prosaico mundo do leitor são alteradas. Dois bem-sucedidos representantes dessa literatura de fantasia – um nicho de mercado bem estabelecido na Inglaterra e nos Estados Unidos – estão chegando às livrarias brasileiras nesta semana. Na linha "épica" de O Senhor dos Anéis, Eragon (tradução de Nelson Rodrigues Pereira Filho; Rocco; 480 páginas; 39,50 reais), do americano Christopher Paolini, cria um país encantado no qual um rapaz de 15 anos – acompanhado de seu dragão – luta contra a tirania de um império do mal. Jonathan Strange & Mr. Norrell (tradução de José Antonio Arantes; Companhia das Letras; 824 páginas; 55 reais), da inglesa Susanna Clarke, conta a história de dois magos que atuam na Inglaterra do início do século XIX – o livro já foi anunciado como um "Harry Potter para adultos".
"A fantasia, com suas aventuras heróicas por terras que nunca existiram, é talvez a forma mais antiga de narrativa. Aparece em todos os contos folclóricos", diz Paolini. No século XX, foi no Reino Unido de Tolkien e Lewis que o gênero criou uma tradição mais vigorosa – que continua aí: alguns dos autores contemporâneos mais incensados do gênero, como Philip Pullman e Terry Pratchett, são britânicos. Segundo a Book Marketing, empresa especializada em dados do mercado livreiro britânico, em 2004 a fantasia respondeu por 3% do faturamento do segmento de livros adultos e 12% do de infantis, com negócios da ordem de quase 400 milhões de reais (esses números devem crescer neste ano, com o lançamento do sexto volume da série Harry Potter). Alguns autores são objeto de cultos organizados. Na semana passada, a Universidade Aston, em Birmingham, Inglaterra, sediou um encontro de leitores de Tolkien, com direito a discussões acadêmicas e, para descontrair, danças típicas dos hobbits. Existe até rivalidade entre os diferentes fã-clubes: os participantes do encontro dedicado a Tolkien mostravam certo desdém por Terry Pratchett, criador de outro universo mágico na série Discworld (os livros de Pratchett são lançados no Brasil pela Editora Conrad).
Paolini e Susanna, os dois autores que chegam agora ao Brasil, ainda não contam com essa tietagem. Mas já alcançaram um sucesso considerável: lançado nos Estados Unidos em 2003, Eragon vendeu 4 milhões de exemplares em 38 países, enquanto Jonathan Strange, lançado no ano passado, chegou a 700.000 só nos Estados Unidos e na Inglaterra. Paolini é um autor precoce: hoje com 21 anos, começou a escrever sua história de amizade entre um dragão e um guerreiro adolescente aos 15. Com a ajuda da família, fez uma edição caseira da obra, que acabou captando a atenção de uma grande editora – e de um grande estúdio de cinema: a Fox deve lançar o filme em 2006. "Sempre sonhei em ver meu livro transportado para a tela", diz o autor. Susanna, 46 anos, levou dez anos escrevendo seu livro – cujo sucesso já permitiu que ela largasse o emprego de editora de publicações de culinária. Com notas de rodapé que remetem a livros falsos, referências históricas às guerras napoleônicas e uma ironia muito inglesa, Jonathan Strange é um tanto mais refinado do que a maioria dos lançamentos do gênero. A autora já anda pensando em uma continuação para a história dos dois magos ingleses. Paolini, aliás, está lançando nos Estados Unidos o segundo livro do que promete ser uma trilogia sobre o personagem Eragon. Ao lado dos sortilégios em línguas estranhas e das criaturas sobrenaturais, essa é uma das mais consagradas – e lucrativas – convenções da literatura de fantasia: todo livro tem sua continuação.
Obrigado ao Smaug pela dica, e à Lasgalen, por conseguir a reportagem pra gente!
O DRAGÃO, O FEITICEIRO E AS EDITORAS
Com seus mundos mágicos, a fantasia é um dos gêneros literários de maior sucesso hoje. Entre crianças e adultos.
"A fantasia, com suas aventuras heróicas por terras que nunca existiram, é talvez a forma mais antiga de narrativa. Aparece em todos os contos folclóricos", diz Paolini. No século XX, foi no Reino Unido de Tolkien e Lewis que o gênero criou uma tradição mais vigorosa – que continua aí: alguns dos autores contemporâneos mais incensados do gênero, como Philip Pullman e Terry Pratchett, são britânicos. Segundo a Book Marketing, empresa especializada em dados do mercado livreiro britânico, em 2004 a fantasia respondeu por 3% do faturamento do segmento de livros adultos e 12% do de infantis, com negócios da ordem de quase 400 milhões de reais (esses números devem crescer neste ano, com o lançamento do sexto volume da série Harry Potter). Alguns autores são objeto de cultos organizados. Na semana passada, a Universidade Aston, em Birmingham, Inglaterra, sediou um encontro de leitores de Tolkien, com direito a discussões acadêmicas e, para descontrair, danças típicas dos hobbits. Existe até rivalidade entre os diferentes fã-clubes: os participantes do encontro dedicado a Tolkien mostravam certo desdém por Terry Pratchett, criador de outro universo mágico na série Discworld (os livros de Pratchett são lançados no Brasil pela Editora Conrad).
Paolini e Susanna, os dois autores que chegam agora ao Brasil, ainda não contam com essa tietagem. Mas já alcançaram um sucesso considerável: lançado nos Estados Unidos em 2003, Eragon vendeu 4 milhões de exemplares em 38 países, enquanto Jonathan Strange, lançado no ano passado, chegou a 700.000 só nos Estados Unidos e na Inglaterra. Paolini é um autor precoce: hoje com 21 anos, começou a escrever sua história de amizade entre um dragão e um guerreiro adolescente aos 15. Com a ajuda da família, fez uma edição caseira da obra, que acabou captando a atenção de uma grande editora – e de um grande estúdio de cinema: a Fox deve lançar o filme em 2006. "Sempre sonhei em ver meu livro transportado para a tela", diz o autor. Susanna, 46 anos, levou dez anos escrevendo seu livro – cujo sucesso já permitiu que ela largasse o emprego de editora de publicações de culinária. Com notas de rodapé que remetem a livros falsos, referências históricas às guerras napoleônicas e uma ironia muito inglesa, Jonathan Strange é um tanto mais refinado do que a maioria dos lançamentos do gênero. A autora já anda pensando em uma continuação para a história dos dois magos ingleses. Paolini, aliás, está lançando nos Estados Unidos o segundo livro do que promete ser uma trilogia sobre o personagem Eragon. Ao lado dos sortilégios em línguas estranhas e das criaturas sobrenaturais, essa é uma das mais consagradas – e lucrativas – convenções da literatura de fantasia: todo livro tem sua continuação.
Obrigado ao Smaug pela dica, e à Lasgalen, por conseguir a reportagem pra gente!
Última edição: