A primeira vez que li O Apanhador no campo de centeio foi em 2007. Já cansado das leituras obrigatórias da faculdade, resolvi escolher algo por mim mesmo e conheci Holden Caulfield. Cheguei, em alguns momentos, a incorporá-lo.
Lembro de ter ido, junto com alguns amigos, ao Morumbi, dias após terminar o livro. Era a semifinal do Campeonato Paulista, entre São Paulo e São Caetano. Tarde chuvosa, parecia um ensaio geral para a segunda versão do dilúvio. Ingressos esgotados, fomos negociar com o cambista:
- Tem arquibancada azul? – perguntei.
- Tenho, mano. R$ 120,00.
- R$ 120,00? Cento e vinte reais!? Na bilheteria era R$ 30,00! Tá me vendendo um pelo preço de quatro,
seu cretino!
Seu cretino. Influência de Caulfield. Até chegar a turma do “deixa disso”, trocamos uns sopapos. Melhor, levei uns sopapos, pois o cambista devia lutar boxe ou coisa assim. O fato é que o “cretino” já estava lá dentro, em alguma sala do cérebro onde ficam nossas respostas imediatas, que fogem do padrão pensar-dizer. Foi uma resposta, uma expressão, vejamos, instintiva.
Sei que foi em 2007, pois esse jogo o São Paulo perdeu de 4 a 1 para o São Caetano e essas derrotas vexatórias sempre marcam um torcedor. Mais, até, que as porradas de um cambista.
Holden, como é saudável utilizar a droga do seu sarcasmo em algumas situações toscas que a gente acaba vivenciando. Uma terapia.
Hoje, terminei a releitura e li boa parte dos comentários e artigos aqui do Meia. Nessa releitura, o que me chamou a atenção foi a passagem com Sally. Talvez por ter assistido recentemente aos filmes
Beleza Americana e
Foi apenas um sonho, tenho comigo que Caulfield, mais do que deixar a infância, teme pela vida adulta, classe média e vazia que esses filmes retratam - lá, onde os sonhos de se aventurar e mudar o mundo dão lugar aos sorrisos falsos e prestações a pagar. O convite de fuga feito a Sally e o diálogo que se seguiu mostra o desejo de escapar do destino que parece ser de todos, que se mostra inevitável.
Um livro para se reler sempre.
" Bom mesmo é o livro que quando a gente acaba de ler fica querendo ser um grande amigo do autor, para se poder telefonar pra ele toda vez que der vontade."