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Novo Coronavírus (COVID-19)

Quanto tempo a pandemia ainda dura?

  • Dois meses, no máximo (até maio/2022)

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    Votos: 1 14,3%
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  • Não vai terminar nunca! (vira uma endemia, mas com número de vítimas similar ao de mar/2022)

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Tratamento da covid-19: cientista encontra 'ponto fraco' do coronavírus, que pode servir para neutralizá-lo
Darío BrooksBBC News Mundo


A física mexicana Mónica Olvera teve sua área de pesquisas profundamente alterada por causa da pandemia do coronavírus. Seu irmão ficou gravemente doente no México, o que levou a cientista a concentrar seus estudos na compreensão de como o vírus Sars-CoV-2, que causa a covid-19, interage com o corpo humano em um nível físico-biológico. "Não tenho nada a ver com medicina. Sou uma cientista focada em ciência dos materiais. Mas quando vimos esse problema tão forte, entramos em ação", disse ela à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC).

Sua equipe da Northwestern University, nos EUA, analisou as diferenças entre o coronavírus que causou a epidemia de Sars em 2003 e o que causa a covid-19. E encontrou um ponto fraco no qual o vírus pode ser atacado. "Estamos bloqueando o vírus", diz ela, explicando como seu experimento a nível molecular inicialmente reduziu a conexão do patógeno aos receptores humanos em 30%. "Antes do vírus entrar (nas moléculas do corpo), podemos atacá-lo para que ele não tenha mais tanta energia de atração, que não seja capaz de infectar. E, se entrar, que fique bloqueado ali", explica a cientista.

"É outra forma de cura. Não são anticorpos [como os das vacinas], aos quais os vírus podem ser tornar resistentes. São muitos os casos em que os vírus se tornam resistentes aos anticorpos", acrescenta. Em três meses, Olvera espera projetar um polímero — um composto químico — que triplicará a eficácia do bloqueio e se tornará uma forma de proteger o corpo do Sars-CoV-2. O desafio será testar se esse composto funciona após ser metabolizado pelo corpo — atualmente as pesquisas foram feitas apenas em laboratório.

Qual foi a descoberta?

O Sars-CoV-2 entra no corpo por meio de suas proteínas S, que entram em contato com a enzima conversora de angiotensina (AC2) das células humanas. As enzimas AC2 também estão presentes nas células do coração, do estômago, dos rins, "então, quando alguém está infectado (com o vírus Sars-CoV-2, ele) pode danificar essas células", explica Olvera.

Seu estudo, feito em colaboração com o pesquisador Baofu Qiao, detectou que o Sars-CoV-2 faz as conexões com células humanas a partir de cargas positivas na proteína das espículas (protuberâncias em sua superfície que se assemelham a pequenos espinhos e formam uma coroa) e que essas cargas podem ser bloqueadas. "A energia de atração entre aquele grupo que está nas espículas e as células epiteliais era mais fraca no primeiro coronavírus do que no Sars-CoV-2", explica Olvera. "Percebemos que se modificássemos as cargas do novo coronavírus, a atração com o receptor diminuía muito", acrescenta.

O trabalho de bloqueio ocorreu em um dos três grupos da proteína das espículas, o que reduziu em 30% a capacidade do vírus de se conectar com o receptor das células do corpo. Se os pesquisadores conseguirem obter um polímero que bloqueie os três grupos da proteína, o resultado pode triplicar e fazer com que o novo coronavírus tenha pouquíssimas oportunidades de atacar o corpo. "Quero fazer um projeto que ataque a todos. É muito complicado, é um projeto difícil. Mas a ideia é (ter) um projeto que funcione e seja testado em laboratório", diz a cientista.

Como isso pode ser usado na medicina?

O processo de criação de um polímero que atue contra as espículas do Sars-CoV-2 pode levar de dois a três meses. Uma vez criado, será preciso encontrar um meio adequado de administrá-lo. Olvera acredita que poderia funcionar por meio de um aerossol. Mas ela alerta que "os vírus são tremendos; podem usar os capsídeos [estruturas] de outros vírus e RNA, duplicar-se e sofrer mutação".

E um dos problemas enfrentados pelos vários países e equipes que correm contra o tempo para encontrar uma vacina é justamente com os anticorpos que elas geram e sua eficácia diante das mutações do Sars-CoV-2. "Queremos criar algo que não seja biológico, que não crie resistência. Evitar que o vírus encontre outras formas de progredir. Acreditamos que pode ser uma forma de enfraquecer o vírus, diferente do que está sendo feito", completa.

Se as mutações mantiverem os mesmos grupos de componentes para atrair células receptoras do corpo, o remédio seguiria funcionando. É curioso que uma abordagem feita por um outro ângulo científico — no caso de Olvera, o da física — possa oferecer uma solução promissoras para a pandemia. Mas para a pesquisadora, isso pouco importa neste momento.

"Estamos todos de alguma forma envolvidos com isso, é um problema global. E não existe melhor maneira de resolver do que todos os cientistas trabalharem juntos nisso", diz Olvera.

Fonte.

=*=*=*=*

Achei bem interessante a linha de pesquisa da física. Acho que as perspectivas são animadoras.
 
Estamos há 107 dias sem ministro da saúde. Ainda bem que não estamos enfrentando uma pandemia, que causou o óbito de mais de 120 mil brasileiros.
 
Com imagens como essa abaixo não adianta só botar toda a culpa no Bolsonaro. Se o povo fica desembestado igual gado quando abre a porteira do curral, o Brasil infelizmente merece os números de mortes que vem tendo...


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o Brasil infelizmente merece os números de mortes que vem tendo...
Olha, tenho que rir pra não chorar quando eu vejo um comentário como esse. Sendo uma pessoa que perdeu um familiar e uma pessoa que eu amava pra essa doença maldita, posso te dizer o seguinte: não, não merece. Ninguém merece morrer desse jeito. Ninguém merece perder alguém desse jeito.
A quantidade de pessoas que apareceram pra me perguntar se é verdade que o meu pai morreu de covid porque não acreditam que essa doença mata, eu ter um tio - irmão do meu pai - que veio escrever um monte de barbaridades pra minha irmã dizendo que isso tudo é uma mentira, é tudo reflexo do negacionismo que tomou conta do país desde o início dessa pandemia, de não termos quem direcione o povo no caminho certo. Se o isolamento tivesse sido feito corretamente - como vimos em muitos outros países - não precisaríamos estar nessa situação ainda. Se as pessoas que devem guiar e orientar o povo tivessem agido da maneira correta, a situação hoje seria muito diferente. Então não venha me dizer que estamos assim porque merecemos.
 
Nos EUA também está acontecendo algo parecido; gente indo para a praia, festas, shows, e por aí vai. Vi alguns médicos americanos dizendo que após receberem um diagnóstico positivo de Covid-19 alguns pacientes se recusam a acreditar que é verdade. Bizarramente se tornou comum pessoas acusarem médicos de mentir ao invés de aceitarem a dura realidade. Geralmente os que negam a gravidade do coronavírus são pessoas que estão dispostas a colocar em risco a própria vida e a vida dos outros pra defender cegamente algum político imbecil que eles apoiam (Trump, Bolsonaro, entre outros). Na Alemanha também teve manifestação contra vacinas e contra o uso das máscaras, então não é só no Brasil que tem gente que não liga pra nada. Eu morro de medo não só de ficar doente mas sim de pegar a doença e transmitir pra alguém que acabe morrendo, é disso que eu tenho pavor; infelizmente muita gente não parece ter pensado nessa possibilidade.
 
Se as pessoas que devem guiar e orientar o povo tivessem agido da maneira correta, a situação hoje seria muito diferente. Então não venha me dizer que estamos assim porque merecemos.

Olha eu comentei com raiva embutida pela tristeza de ver uma cena de tanto desdém popular. Quando vejo cenas de imenso desdém é porque boa parte da população lamentavelmente está assinando em baixo no mesmo desdém do nosso presidente.
 
Ainda que eu entenda que nós concentremos nosso olhar crítico na figura do presidente, acho que a situação que o Fúria traz nos lembra de que o Bolsonaro é um retrato de boa parte do povo brasileiro, especialmente do homem brasileiro, estúpido, cheio de opiniões rasas e desprovido da capacidade de ponderar, de refletir, de entender.
 
A maior parte das pessoas simplesmente estão vivendo como se o vírus não estivesse entre nós, se aglomeram e andam sem qualquer proteção, negam as perdas de outras pessoas, e riem de quem se protege, são tantos absurdos por segundo, que viver nessa idiocracia, está cada vez mais difícil.
 
Hoje li que os casos, pelo menos no estado de SP, estão diminuindo. Na avaliação do governo, os números indicam estabilidade... mas ainda assim, é importante ficar em casa o máximo possível e cuidar dos seus familiares do grupo de risco
 
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Total confirmed deaths per million of COVID-19 by country and territory
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Lembro que há alguns meses atrás era comum comparar o Brasil com países mais bem-sucedidos da África e da Ásia (Leste/Sul/Sudeste). Mas olhando os números e o mapa, me parece que a mortalidade da covid é naturalmente menor nesses continentes, seja lá qual for o motivo (genética, geografia?). Acho difícil que, por exemplo, os superpopulosos Bangladesh e Indonésia tenham sido mais competentes no combate à pandemia do que o Canadá, ou que os países africanos o tenham sido. Há o fator das subnotificações, mas não creio que sejam tantas a ponto de explicar esses números...

Pegando a América, já há um punhado de países com taxa maior do que a do Brasil (Peru, Bolívia, Chile, Equador) ou com taxa menor mas não tão distante (Estados Unidos, México, Panamá, Colômbia). Com números consideravelmente mais baixos estão Argentina e Canada, e números baixíssimos estão Paraguai, Uruguai e Venezuela. Curiosamente, Minas Gerais e os três estados do Sul têm taxas parecidas com a da Argentina (~30). O que explica esse relativo sucesso? Será que teria sido possível ter essas taxas em todo o Brasil?

Além disso, Matro Grosso do Sul (MS) e Bahia tem atualmente taxas apenas um pouco maiores (~40). Inclusive MS e MT têm uma diferença gigantesca (40 vs. 90).
 
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Vacia contra covid: 10 razões para sermos realistas sobre imunização e não esperarmos um milagre

Em uma corrida contra o tempo, vários países desenvolvem um tipo de vacina contra o coronavírus - Freepik

Em uma corrida contra o tempo, vários países desenvolvem um tipo de vacina contra o coronavírus Imagem: Freepik


Jose M Jimenez Guardeño e Ana María Ortega-Prieto - The Conversation*
07/10/2020 06h07


Apesar dos sinais que alimentam o otimismo, não há qualquer garantia de que no futuro próximo haverá uma vacina suficientemente boa para parar a pandemia.

"Vamos ver se surge uma vacina e tudo isso acaba" é uma das frases mais ouvidas durante a pandemia. Muitas pessoas estão cansadas de viver com medo e de não poderem sair de casa com tranquilidade. Por isso, a descoberta de uma vacina contra a covid-19 que acabe com essa crise é uma esperança para milhões de pessoas.

Atualmente, mais de 150 candidatas à vacina estão em desenvolvimento ao redor do mundo, e por isso é possível que em algum momento uma delas se mostre bastante efetiva para frear o número de contágios. Ainda que parcialmente.

No entanto, apesar dos sinais que alimentam o otimismo, não há qualquer garantia de que no futuro próximo haverá uma vacina suficientemente boa para parar a pandemia. Por esse motivo, analisar todos os cenários possíveis e ter em mente um plano B no qual não exista vacina é um exercício necessário de responsabilidade e transparência.

Lamentavelmente, se tem algo com que podemos estar seguros nesta pandemia é que o novo coronavírus veio para ficar.

Criar a falsa esperança de que vamos contar em breve com uma vacina ou um tratamento eficaz contra a covid-19 pode ser uma faca de dois gumes que poderia causar uma enorme decepção caso as expectativas não se realizem.

Anúncios que garantem que teremos uma vacina neste ano podem suscitar desconfiança na população caso os prazos prometidos não sejam alcançados.

Por outro lado, um excesso de otimismo pode criar uma falsa sensação de segurança e levar a um relaxamento das medidas de prevenção e controle do vírus que se mostraram eficazes na prevenção da disseminação.

Não há dúvida de que as vacinas são um dos grandes avanços da história da humanidade e a melhor forma de prevenir e reduzir as doenças infecciosas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que vacinas evitem de 2 a 3 milhões de mortes por ano.

Graças às vacinas, uma doença mortal como a varíola foi erradicada, e uma doença tão temida e contagiosa quanto a poliomielite está à beira da extinção. Portanto, não é surpreendente que, ao ouvirmos a palavra "vacina", pensemos que será a solução perfeita para a covid-19.

Processo complexo


Uma vacina pode ser definida como "qualquer preparo destinado a gerar imunidade contra uma doença, estimulando a produção de anticorpos".

No papel, desenvolver um candidato a vacina parece uma coisa simples, mas quando se trata de colocar isso em prática é um processo muito mais complexo.

O desenvolvimento de vacinas apresenta muitos desafios para torná-las seguras e eficazes, e este caso não é exceção. Portanto, é importante conhecer as limitações e problemas que podem ser encontrados para não incorrer em confiança excessiva acerca da eficácia e dos prazos de desenvolvimento.

Estas são dez das muitas razões pelas quais devemos ser realistas e não esperar pelo surgimento de uma vacina milagrosa que nos libertará imediatamente desta pandemia.

1. A pressa não é boa

O processo normal de desenvolvimento de uma vacina geralmente varia de 10 a 15 anos. Não se deve esperar que tenhamos uma vacina perfeita em menos de um ano e que ela nos permita voltar automaticamente à vida que tínhamos.

Por exemplo, o encurtamento que estamos vendo na fase de pesquisa pré-clínica em que a vacina é estudada em culturas de células e em animais é algo incomum e um reflexo da urgência de encontrar a vacina.

2. Tem que proteger os humanos


É fácil dizer, mas é onde a maioria das candidatas falha. Uma vacina pode ser muito bem projetada, segura, 100% protetora em estudos com animais e induzir uma forte resposta imune e o estímulo de anticorpos neutralizantes, mas pode acabar oferecendo um nível de proteção muito menor do que o esperado quando testada em humanos.

3. Querer nem sempre é poder


Em 1984, quando o vírus da imunodeficiência humana (HIV) foi identificado como responsável pela pandemia da Aids, o secretário de saúde e serviços humanos dos Estados Unidos declarou que uma vacina estaria disponível em dois anos. Hoje, 36 anos depois, ainda não há uma vacina contra o vírus.

O desenvolvimento de vacinas nem sempre compensa. Embora comparar o HIV com o novo coronavírus não seja o mais preciso porque eles são muito diferentes, há momentos em que, não importa o quanto você pesquise, não se consegue encontrar uma maneira de desenvolver uma vacina eficaz.

Na verdade, embora existam boas vacinas candidatas com resultados promissores em animais, até o momento não há vacina disponível para nenhum dos outros coronavírus que afetam humanos.

As razões são múltiplas, desde a falta de interesse comercial à observação de efeitos adversos nos diferentes estudos com as candidatas. A boa notícia é que existem vacinas disponíveis contra diferentes coronavírus que infectam animais.

4. Efeitos adversos


As vacinas, como qualquer medicamento, podem provocar efeitos colaterais. Um dos principais problemas enfrentados pelos investigadores é a potencialização dependente de anticorpos, mais conhecida como ADE.

Trata-se de uma reação indesejada na qual a geração de anticorpos frente a um agente infeccioso, a exemplo do uso de uma vacina, pode dar lugar a sintomas muito piores. Ou seja, a doença acaba potencializada em caso de infecção pelo vírus.

Os mecanismos da ADE ainda são muito pouco conhecidos, e a boa notícia é que são bastante incomuns.
Esse efeito foi identificado em candidatas contra o vírus sincicial respiratório e o vírus da dengue. A má notícia é que também foi descrito em outros coronavírus, como o vírus da peritonite infecciosa felina, e coronavírus que infectam humanos, como os responsáveis pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers).

Portanto, a possibilidade de ocorrência de ADE é uma preocupação real e está sendo avaliada ativamente em vários estágios de desenvolvimento das candidatas contra a covid-19. Principalmente na fase 3, no qual participam dezenas de milhares de voluntários.

5. Produção em larga escala


Um dos principais desafios que enfrentaremos caso se obtenha uma vacina eficaz contra o coronavírus será a sua produção em larga escala para que chegue à maior parcela possível da população mundial.

Estamos falando em produzir bilhões de doses. Isso sem levar em conta que muitas das vacinas em estudo demandam duas doses por pessoa. Além disso, outro problema adicional seria a produção em massa de doses sem afetar a produção de outras vacinas importantes.

6. Distribuição da vacina


Vamos imaginar que uma vacina eficaz contra o Sars-CoV-2 seja desenvolvida e produzida em larga escala. O próximo problema seria sua entrega eficiente a bilhões de pessoas em todo o mundo. Não adianta ter vacina se ela não chega ao usuário final.

Obter uma distribuição global eficiente apresenta desafios logísticos significativos. As empresas fabricantes de vacinas, governos de diferentes países e empresas de transporte devem trabalhar juntos e em entrar em acordo.

Em geral, a maioria das vacinas deve ser mantida refrigerada entre 2°C e 8°C. Por isso, um dos principais desafios a serem vencidos seria não quebrar a cadeia de frio. Esse problema pode ser agravado, pois existem vacinas candidatas que requerem uma cadeia ultra-fria com temperaturas próximas a -70°C.

7. Imunidade natural parece durar pouco


Durante meses, anúncios de possíveis reinfecções circularam em diferentes partes do mundo. Hoje é um fato que pessoas que já tiveram a doença podem ser infectadas novamente. Isso é relativamente comum em doenças infecciosas. Na verdade, não há doença viral respiratória conhecida em que não ocorram reinfecções.

Uma possível explicação seria que, como ocorre com outros coronavírus que infectam humanos, a presença de anticorpos desaparece gradualmente ao longo de alguns meses após a infecção.

O principal problema com as reinfecções é que, apesar do fato de que as vacinas geralmente desenvolvem uma resposta imunológica mais forte do que a infecção natural, os resultados esperados não seriam os melhores se já que se sabe de antemão que a imunidade natural é de curta duração.

Embora o papel desempenhado pela resposta celular nas vacinações e sua relevância na proteção contra infecções ainda estejam para ser analisados e confirmados, tudo parece indicar que seria, muito provavelmente, necessário se revacinar de vez em quando.

8. A idade importa


Um desafio para esta vacina é que os idosos são mais suscetíveis à infecção e apresentam um risco particularmente alto contra doenças graves ou fatais.

Portanto, proteger adultos com mais de 60 anos de idade contra a covid-19 é um dos objetivos mais importantes dos pesquisadores. O principal problema é que, à medida que envelhecemos, nosso sistema imunológico se torna menos eficiente, e as vacinas ficam menos eficazes.

9. Tecnologia bastante recente


A maioria das vacinas que usamos envolve a injeção de um vírus enfraquecido e inativado, ou simplesmente componentes do vírus que são produzidos e purificados em laboratório.

No entanto, muitas das vacinas candidatas que agora estão sendo testadas em humanos são baseadas em tecnologias genéticas relativamente recentes. São conhecidas como "vacinas genéticas", que podem ser de DNA ou RNA.

Nesse caso, em vez de inocular vírus inteiros ou subunidades do vírus para induzir uma resposta imune como fazem as vacinas tradicionais, a ideia é que nosso próprio corpo produza a proteína do vírus.

Para fazer isso, eles nos injetariam diretamente a parte do código genético viral que contém as instruções para fazer a proteína-alvo. Finalmente, nossas células produziriam essa proteína alertando o sistema imunológico.

As vacinas genéticas têm muitas vantagens. Por exemplo, menor custo e necessidade de uma infraestrutura de produção muito menor. O principal problema é que até agora nenhuma vacina desse tipo foi comercializada para uso em humanos, e portanto sua eficácia ainda não foi verificada.

10. Proteção? Sim, mas parcial


Tudo parece indicar que, no caso de surgir uma candidata bem-sucedida, as primeiras vacinas devem proteger parcialmente contra a infecção, a imunidade teria vida curta e não funcionaria para todas as pessoas.

No entanto, é sempre melhor ter uma vacina parcialmente eficaz do que nenhuma. Seria muito útil proteger parte da população e reduzir o aumento da taxa de infecções. Além disso, tendo tantas candidatas diferentes em desenvolvimento, é possível que objetivos diferentes sejam alcançados.

Por outro lado, é possível que em um futuro mais distante sejam desenvolvidas vacinas mais complexas e com melhores resultados.

Respeitemos as medidas de proteção


Em resumo, embora o esforço sem precedentes e os resultados preliminares possam convidar ao otimismo, a realidade pode ser muito diferente. Portanto, é preciso evitar o excesso de otimismo e contemplar todos os cenários possíveis.

Por fim, é importante lembrar que até que a pandemia desapareça, é de vital importância respeitar as medidas básicas de proteção à saúde que realmente funcionam para prevenir infecções:
  • Uso correto da máscara.
  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabão.
  • Manter o distanciamento social

* Jose M Jimenez Guardeño e Ana María Ortega-Prieto são pesquisadores do King's College de Londres. O artigo original foi publicado no site The Conversation, que você pode ler aqui.

 

Boa entrevista com o Mandetta. O cara está claramente preparando terreno pra 2022. Muita coisa interessante... citando de passagem:

(1) Por duas ou três vezes tentaram colocar o Mandetta contra a parede no que diz repeito à homeopatia e ao uso da (sempre ela) cloroquina. Supostamente, Mandetta, em certas ocasiões, teria sido excessivamente conivente com esses práticas pouco embasadas cientificamente. Pois bem, Mandetta deixou claro que, enquanto gestor, se paltava em uma estrutura social médica complexa que previa sim o uso da (entre outras coisas) cloroquina, e que o erro do governo não foi a mera conivência com o uso da cloroquina, mas o incentivo, para fins políticos, do uso domiciliar do remédio. Nesse sentido, se a cloroquina é de pouca eficácia, cabe a essa estrutura identificar esse fato, e não ao Mandetta enquanto indivíduo gestor. E isso também ocorre com a homeopatia, cuja ineficácia é ainda mais óbvia, mas ainda assim é suportada por aquela estrutura. Mandetta não teve pudores em dizer que inclusive abriu concursos públicos para homeopatas. Pois de fato, não cabe ao ministro da saúde determinar pessoalmente o que é e o que não é científico, e sim à academia da área médica e a outros agrupamentos sociais da área, como o Conselho Federal de Medicina, que ainda suportam a homeopatia. Fica clara a diferença entre quem vive globalmente a medicina, profissionalmente e socialmente, na clínica ou na gestão, e "nerds de esquerda", representados na bancada, que se prestam a ler sobre questões ultra-específicas da medicina, e a partir daí militar.

(2) Tentaram por duas vezes super-vilanizar o Bolsonaro: primeiramente sugerindo que ele deveria ser condenado judicialmente por genocídio ou algo análogo, e depois sugerindo que ele deveria ser condenado como um médico que realiza má prática. Mandetta, mesmo antagonizando Bolsonaro e criticando-o por suas escolhas excessivamente políticas, é mais realista e menos militante, comparando-o como um presidente que, numa guerra bélica tradicional, toma uma escolha errada ainda que tenha sido aconselhado do contrário, escolha que resulte em mortes: o julgamento do presidente incompetente se daria meramente no âmbito histórico e no âmbito das escolhas políticas e governamentais futuras. E de fato, esse desejo de querer levar a oposição ao Bolsonaro para o campo jurídico não é de hoje: já nas eleições queriam condená-lo por uso de fake news, e Haddad chegou a sugerir, ridiculamente, que o segundo turno fosse entre ele e Ciro Gomes.

(3) Átila em uma pergunta quis traçar comparações entre medidas tomadas no Brasil e em países como a Coréia do Sul, Vietnã e Islândia, e em outra pergunta se pôs a criticar os EUA particularmente e longamente, país que teria sofrido influências políticas demasiadas na condução da crise de saúde. Mandetta implicitamente fez pouco caso de ambas colocações, discorrendo e concluindo, em suma, que não cabe comparação entre aqueles países e Brasil, e (na segunda pergunta) se pôs a estender as críticas também à China, Rússia e Inglaterra - quer dizer, não caberia favoritismos: "em algum grau, todos esses sistemas de saúde tiveram interferências políticas".

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Gazeta do Povo[12/10/2020] [15:08]"​
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"Medidas extremas de confinamento e lockdowns não vão vencer a guerra contra o coronavírus, que deve se estender por um período ainda razoável de tempo. O alerta foi dado pelo diretor da Organização Mundial de Saúde para a Covid-19, David Nabarro, em entrevista recente à revista britânica The Spectator. “Apelo para os líderes mundiais: parem de utilizar lockdowns como ferramenta principal, desenvolvam sistemas melhores, trabalhem juntos e aprendam juntos. E lembrem, os lockdowns têm uma consequência que jamais deve ser subestimada, que é fazer os pobres terrivelmente mais pobres ainda”.​
Na entrevista, Nabarro disse que o único momento em que um lockdown se justifica é quando se precisa ganhar tempo para reorganizar, reagrupar, reequilibrar os recursos e proteger profissionais de saúde exaustos. “Mas, em larga escala, é melhor não fazer. Veja o que aconteceu com a indústria do turismo no Caribe, ou no Pacífico, por que as pessoas não estão saindo em férias. Veja o que está acontecendo com os pequenos agricultores em todo o mundo por que seus mercados foram prejudicados. Veja o que tem acontecido com os níveis de pobreza. É possível que o nível de pobreza no mundo dobre no ano que vem. Podemos acabar tendo pelo menos o dobro de desnutrição, porque as crianças não estão recebendo merenda escolar e seus pais, de famílias pobres, não conseguem comprar. É algo terrível, uma catástrofe global na verdade”."​
Ver também em:​
By Dr David Nabarro, a Special Envoy of the World Health Organization Director-General on COVID-19​
Temos aqui uma postura muito mais equilibrada do que a que tem imperado recentemente na discussão pública, em que o "fique em casa" virou artigo de fé e meramente indagar (sem se opor!) sobre a eficácia e o custo-benefício dos lockdown era motivo para excomunhão e exaltação. Já agora o próprio David Nabarro clama por um "caminho do meio", e o lockdown é só uma arma que pode ser mais ou menos conveniente, a depender da situação, e não é a principal arma para combater o vírus.

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Ver anexo 87855


Total confirmed deaths per million of COVID-19 by country and territory
Ver anexo 87856


Lembro que há alguns meses atrás era comum comparar o Brasil com países mais bem-sucedidos da África e da Ásia (Leste/Sul/Sudeste). Mas olhando os números e o mapa, me parece que a mortalidade da covid é naturalmente menor nesses continentes, seja lá qual for o motivo (genética, geografia?). Acho difícil que, por exemplo, os superpopulosos Bangladesh e Indonésia tenham sido mais competentes no combate à pandemia do que o Canadá, ou que os países africanos o tenham sido. Há o fator das subnotificações, mas não creio que sejam tantas a ponto de explicar esses números...

Pegando a América, já há um punhado de países com taxa maior do que a do Brasil (Peru, Bolívia, Chile, Equador) ou com taxa menor mas não tão distante (Estados Unidos, México, Panamá, Colômbia). Com números consideravelmente mais baixos estão Argentina e Canada, e números baixíssimos estão Paraguai, Uruguai e Venezuela. Curiosamente, Minas Gerais e os três estados do Sul têm taxas parecidas com a da Argentina (~30). O que explica esse relativo sucesso? Será que teria sido possível ter essas taxas em todo o Brasil?

Além disso, Matro Grosso do Sul (MS) e Bahia tem atualmente taxas apenas um pouco maiores (~40). Inclusive MS e MT têm uma diferença gigantesca (40 vs. 90).

Quando esse post fizer um mês, vou editar aqui com novos prints... Mas já está claro que, tendo se passado sequer um mês, a situação mudou radicalmente em relação à Argentina, que saiu de 28 (mortes/100.000 habitantes) para o patamar sul-americano de 56 (dobrou!), e com tendência a crescer ainda mais. Isto é, mesmo um país que realizou um lockdown severo e era tido como um exemplo de política pública com respeito à covid, por motivos X ou Y (escolhas equivocadas do governo? dificuldades inevitáveis?) já atinge um patamar de mortes próximo ao patamar dos vizinhos. Quer dizer, as dificuldades são muito mais complexas do que o binômio "fique em casa"/"não fique".
 
Última edição:
Minhas impressões sobre a entrevista do Mandetta no Roda Viva:

Achei uma boa entrevista, inclusive pela atitude incisiva da bancada de entrevistadores. O Mandetta tem a pretensão de se projetar como figura nacional, buscando talvez preparar caminho para a sua candidatura à presidência da República. O cara deixou o Ministério da Saúde com uma avaliação positiva de mais de 70% - avaliação muito superior à do governo que ele integrava - com direito a uma longuíssima entrevista no Fantástico, mostrando a família do cara e tudo, dando a ele ares de herói, quase. Ele que era um quadro mediano, de espectro conservador, pouco representativo na cena nacional, de repente se viu projetado como figura nacional, justamente em razão do contraste da sua atitude com a do presidente da República. Fez Mandetta aparecer quase como um grande estadista, uma figura excepcional, fora da curva - coisa que eu não acho que ele seja, embora reconheça - sem que eu tenha qualquer identificação política com ele - que ele acabou sendo uma das melhores figuras daquele ministério de lunáticos, incompetentes e generais de pijama. O lançamento do livro do Mandetta no momento em que o Brasil passa dos 150 mil mortos em razão da Pandemia (e contando) tem o condão de mantê-lo relevante, de manter presença ativa no debate público.

O Roda Viva podia simplesmente armar uma bancada fácil, pra incensar o Mandetta. Mas trouxe gente com questionamentos capazes de tirar o político da sua zona de conforto e colocá-lo em posições incômodas. E eu digo desde já, que de maneira geral, acho mesmo que o Mandetta se saiu bem na entrevista - muito bem, aliás. Se conduziu com habilidade, mas não teve vida fácil.

Por exemplo, uma das primeiras perguntas, da Natália Pasternak, questionando o Mandetta sobre a não utilização da rede de atenção primária, dos agentes comunitários, para o enfrentamento da pandemia, acho que ele se saiu bem na resposta, apontando o que ocorria no contexto internacional, a briga de foice entre os países para a compra de EPI's - aliás, não deixou de ressaltar, em resposta ao jornalista Luiz Megale, que mais adiante o perguntava sobre a sua relação com o Paulo Guedes, que enquanto nós dependíamos de acertos com os chineses, o governo brasileiro [e, embora ele não tenha dito, os filhos presidenciais] adotava ridículas atitudes de hostilização à China.

Em resposta ao Átila Iamarino, que perguntou novamente sobre a atenção primária, o Mandetta diz que o plano do Ministério da Saúde, resolvida a crise dos EPI's, era o de ir para um modelo de rastreio sistemático de contatos, exatamente como foi feito nos países citados pelo biólogo (Vietnam e Islândia). Portanto veja que aqui o Mandetta não fez pouco caso da pergunta, embora de fato ele tenha marcado as diferenças com relação aos países da península asiática, que têm um preparo melhor para lidar com pandemias, porque tiveram experiências bastante duras nesse sentido. Também diz a certa altura que o plano era adotar medidas diferentes para regiões com quadros epidemiológicos diferentes. E o Átila pergunta: "Como acabou sendo, né?". E o Mandetta diz: como acabou sendo, só que sem a participação do Ministério da Saúde, sem um esforço de coordenação do Poder Executivo federal, sem guide lines que trouxessem alguma sinergia entre as unidades federativas no combate à pandemia.

E aí cabe perguntar: a falta de coordenação nacional é responsabilidade de quem? Bolsonaro buscou sabotar ativamente as políticas adotadas por estados e municípios. Citando in litteris o que ele disse lá em meados de abril: "A história lá na frente vai nos julgar [ele e Mandetta]. Eu peço a Deus para que nós estejamos certos lá na frente. Então, essa briga de começar a abrir para o comércio é um risco que eu corro, porque, se agravar, vem para o meu colo". Foi esse tipo de atitude, aliás, que motivou o recurso ao Supremo, que hoje o Bolsonaro e sua trupe usam para lavar as mãos, deturpando o conteúdo das decisões exaradas, ao dizer que o próprio STF teria dito que cuidar da pandemia era assunto dos estados, quando as decisões versavam sobre competência concorrente, não excluindo a responsabilidade da União. E vale lembrar que essa atitude do presidente da República não se dava apenas no plano do discurso: quem não se lembra dos Decretos e atos normativos outros que saíam a cada semana, incrementando o rol de "atividades essenciais", para incluir, por exemplo, salões de beleza e academias?

Em outro momento, o Átila Iamarino diz que existem gravações do Donald Trump que demonstram que ele reconhecia a gravidade da pandemia, que tinha informações sobre os números e projeções, etc, mas que ele iria "dar um play", agir como se não fosse grande coisa. Portanto, ao minimizar a Pandemia, Donald Trump não estaria no papel de alienado, mas sim no de mentiroso. O biólogo então pergunta se o Bolsonaro tinha dimensão da gravidade do cenário. Mandetta diz explicitamente que Bolsonaro tinha todas as informações. Megale pergunta: ele tinha as informações e optou por não acreditar nelas ou por ignorá-las? E Mandetta responde - e cito textualmente e negritado: "Não, eu acho que foi uma decisão política!" E continua mais adiante: "Não acho que seja despreparo! Eu acho que foi uma decisão consciente sim, sabendo dos números sim, apostando num ponto futuro! [...] Eu acho que ele se abraçou na tese da economia já para ter uma vacina, pra ele falar: olha, a economia foi eu que recuperei. Ele fez uma decisão política consciente que colocava em risco a vida das pessoas. Eu acho que foi consciente da parte dele, não tenha dúvida!"

Sobre o comentário do Haran Alkarin, que viu uma tentativa de "super-vilanizar" o Bolsonaro por parte da bancada, é bom dizer que a questão do "genocídio" foi suscitada num questionamento da jornalista Cláudia Colucci, mas atribuindo essa leitura à esquerda. A pergunta era, aliás, natural. O ministro tinha acabado de dizer que Bolsonaro tinha todas as informações e, mesmo assim, tomou a decisão consciente de sabotar as medidas de contenção à pandemia (embora o entrevistado não tenha colocado a coisa nesses termos), com base em um cálculo eleitoral que assumia, deliberadamente, o risco de provocar, de maneira agravada, uma catástrofe humana, enquanto buscava, no plano do discurso, arquitetar uma narrativa obscurantista, negacionista, com vistas à sua reeleição. Nesse sentido, Mandetta sugere que a tática de Bolsonaro foi a mesma do Trump. No mais, sinceramente, com o histórico do Bolsonaro - inclusive, no que toca especificamente à pandemia - não é preciso muita força para "super-vilanizá-lo". Difícil é a essa altura pintá-lo como herói, mas tem gente - por aqui, inclusive - que consegue. No que me diz respeito, não trato a coisa como uma história de mocinhos e bandidos... mas espero sim que Bolsonaro venha a ser responsabilizado, inclusive judicialmente, pela conduta omissiva e comissiva relativamente à pandemia.

Aliás, não foi só a esquerda que chamou Bolsonaro de genocida. O ministro Gilmar Mendes, o jornalista Reinaldo Azevedo, nenhum dos dois comunista (a despeito de, em meio aos desvarios de alguns grupos, dizer-se o contrário). Pode até ser que Bolsonaro não seja condenado pelo TPI - eu mesmo acho isso pouco provável, as denúncias inclusive foram arquivadas por ora - mas ainda vai ter que se haver com a pecha de genocida no campo da política e da História. Nesse ponto, o Mandetta tem razão: o tempo dirá.

Também é bom dizer que o próprio Bolsonaro forçou a judicialização da política em diversos momentos. Evidência disso foi exatamente a necessidade do Supremo Tribunal Federal ter precisado ser provocado para, basicamente, explicar o que é competência concorrente, como citado acima - já que Bolsonaro queria passar por cima de estados e municípios e liberar geral na pandemia, dizendo que ELE assumiria o risco de agravar o cenário epidemiológico.

Da mesma maneira, a questão sobre a homeopatia e a cloroquina era inafastável, considerando que o próprio Mandetta se vendeu como um ministro que procurou agir em estrito diálogo com a ciência e com as orientações da comunicadade científica internacional, da OMS, etc. Os entrevistadores levantaram a contradição, para que ele se posicionasse. Mandetta diz, a certa altura, em resposta a Vera Magalhães, que eles autorizavam o uso compassivo da Cloroquina, nunca o uso como atenção primária, e disse, em seguida, que a utilização da Cloroquina em ambiente hospitalar fazia parte dos protocolos mundiais. Nisso ele foi contestado pela Natália Pasternak, que disse que a Nota Técnica sobre o uso da Cloroquina - que não previa apenas o uso compassivo, mas também o uso para casos graves - não ecoava o protocolo internacional, ao contrário do que afirmou o ministro, e que o Brasil foi o único país a adotar esse uso, com base em protocolo definido pelo Ministério da Saúde e por seu ministro. Ela disse que outros países podiam até fazer uso da cloroquina, mas que isso não era uma política oficial desses mesmos países e trouxe uma fala do Diretor Geral da OMS a respeito, reprovando a medida adotada pelo governo brasileiro. Nesse momento, Mandetta retifica, dizendo que isso foi decidido numa reunião com especialistas e representantes do Conselho Federal de Medicina (ou seja, não se tratava de protocolo internacional).

Com relação à questão da homeopatia, eu até acho que ele se saiu bem na resposta. Fazer política envolve, de fato, acomodar interesses, eventualmente enfrentar contradições. Aliás, é esse o tom da resposta do Mandetta quando perguntam se ele foi mais técnico ou político. A resposta é: ambos! Você precisa criar uma costura política que permita a implementação das soluções técnicas. Aliás, a crise entre Bolsonaro e Mandetta, se deu exatamente com o primeiro se recusando a oferecer sustentação política ao aporte técnico que o segundo defendia - isso, é claro, para além da vaidade do presidente, que não lida bem com qualquer subordinado que lhe faça sombra.

Também fica claro que o Mandetta tenta justificar a sua adesão ao Bolsonaro, sugerindo que era uma escolha ingrata: ou Bolsonaro ou o PT. É compreensível. Quer se descolar do Bolsonaro para se vender como uma alternativa mais ao centro. Foi devidamente lembrado de que ele apoiou Bolsonaro desde o primeiro turno, quando haviam outras opções, e então se viu obrigado a dizer que o Alckmin não gerava empatia, que estava já habituado aos rompantes do Ciro, que a campanha do Lula preso era uma coisa à qual ele não se dispunha, e que achava mesmo que ali era o momento da ruptura, de ir pra algo novo (?). Ou seja, a princípio tentou posar como se a sua adesão a Bolsonaro tivesse sido quase que uma fatalidade, para impedir o perigo do PT voltar a ser governo, mas acabou tendo que admitir que aderiu a Bolsonaro desde o primeiro momento, fazendo uma escolha consciente, dentre outras possíveis - e isso depois de dizer que ele mesmo subiu na tribuna da Câmara dos Deputados para discursar contra um Projeto de Lei do então Deputado Jair Bolsonaro que queria obrigar a USP a fornecer a "pílula do câncer", dizendo que aquilo era um absurdo, porque não se fazia ciência daquela maneira. Ou seja, ele sabia quem era o Bolsonaro - quem não sabia? - e aderiu a ele, apesar de tudo. Faz lembrar o Moro, no Twitter, a dizer que não sabia quem Bolsonaro era, como se fosse uma espécie de santa do altar.

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Um detalhe interessante e pontual da entrevista: o Mandetta disse, a certa altura, que eles aproveitaram as fabriquetas quebradas "da época que o Brasil ainda produzia alguma coisa industrial" para produzir respiradores internamente. Só um parêntese mesmo: esse comentário dá o tom da catástrofe da desindustrialização brasileira e da perda de diversidade quanto à nossa pauta de exportações. Triste quadro.
 

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