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[Novela] - Aliança de Fogo

[Capítulo 20: Nova Fase, Nova Descoberta]

[Abertura da Novela]


Dois meses se passam, e tudo parece trilhar uma nova fase, exceto para Clarisse que tinha parado no trem das mágoas e lembranças destruídas.

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-Dona Clarisse... – Dizia Bel tentando acordá-la – A senhora não vai pra inauguração do apartamento dos meninos?

-Hmmm? – Interroga com um ruído – Inauguração de quê?!

-Do apartamento de seus filhos, é hoje que eles recebem as chaves – Abrindo um prestimoso sorriso – Eles já ligaram tantas vezes pra ver se a senhora ia, eu acho que seria um grande presente para os dois.

-Eu não estou bem Bel, eu tô com... – Buscando palavras – Diz que eu estou com fadiga, com enxaqueca, invente alguma coisa.

-Mas também, de uns meses pra cá a senhora não dorme mais, não se alimenta. – Coloca a mão no rosto – Não acha que é hora de chamarmos um médico, ou talvez um clínico pra ver se... – É interrompida.

-Bel, por favor, chega de falação no meu ouvido! – Olha severamente – Quando eu estiver bem, eu levanto pra comer, orar, engatinhar e até mesmo alimentar bichos no zoológico, mas hoje não! – Sendo categórica.

-Me desculpe! – Mostrando respeito – Bom, se mudar de idéia eu deixei o endereço junto do calendário na geladeira. – Se despede e sai do quarto.

No apartamento dos irmãos, tudo parecia estar indo nos conformes para a simplória inauguração. O imóvel estava localizado no bairro da Vila Mariana, e estava sendo adquirido com uma porcentagem generosa dos bens obtidos pela herança, na qual fizeram questão também de doar para instituições e obras beneficiarias.

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-Quem quer champagne? – Bia oferecia uma garrafa aos convidados – Olha gente... – Provando um pouco – Tá espumante o bagulho! – Rindo.

-Eu quero! – Gritava Fábio da cozinha.
Aos poucos todos foram se adentrando e o som começou rolar. Cigarros, risadas e até mesmo Bel estava presente, mas precisou explicar o motivo da ausência de Clarisse.

-Ela não está bem Bia, acordou indisposta pela manhã e resolveu ficar o dia na cama – Fazendo cara de lamentação.

-A mamãe precisa de ajuda, e urgente ainda. – Mudando de assunto – E aí Bel, gostou do nosso cantinho?

-É lindo, é maravilhoso! – Olhando aos arredores – Olhe o tamanho dessa sala, da vista pra praça, eu sinceramente não esperava tanto – Se aproxima da menina para perguntar algo de caráter particular – O Gabriel, também vai morar aqui?

-Claro que sim! – Sendo direta – Esse apartamento é da alegria, é de todo mundo! – Muda a expressão – Eu dou muita força pro meu irmão e pra ele, pois você não faz idéia do quanto eles são felizes juntos.

Do outro lado da sala, outra conversa acontecia.

-Sua mãe não iria vir Fá? – Perguntava Gabriel – Achei que fosse finalmente conhecer a famosa Clarisse – Abrindo um sorriso.

-Parece que ela não estava bem... – Fica curioso e ri baixinho – Tu tá me olhando desse jeito por...? – Esperando uma resposta.

-Tô doidinho pra te agarrar aqui na frente de todo mundo, pra mostrar que não tenho vergonha de demonstrar o que eu sinto – Mostrando um sorriso belo e atrevido.

Sem respostas, os dois se invadem no meio da sala e começam a se beijar. A reação de todos? Ninguém deu a mínima, já que todos estavam dançando e comemorando. Incrivelmente, Clarisse havia conseguido subir até o andar, e insistentemente apertava seu dedo contra a companhia que não estava funcionando. Resolveu então girar a maçaneta e assim que pode avistar dentro da sala, viu a figura de seu filho beijando Gabriel. Ela foi vista, e tudo repentinamente parou, até a música quando alguém se propôs.

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-Alguém pode me explicar o quê está acontecendo aqui? – Com uma expressão de susto.
 
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[Capítulo 21: Barraco e Humilhações]

[Abertura da Novela]


Para tentar contornar a situação, a governanta agiu de imediato.

-É... – Passando a mão no rosto e tremendo – Dona Clarisse, que bom que a senhora veio! – Olhando fixamente – Não quer tomar algum refresco ou algum refrigerante?

-Filho... – Com lágrimas nos olhos partiu para um tom aveludado de voz – Como você tem a coragem de fazer isso com a sua mãe? – Eleva suas mãos para a cabeça e as esfrega no cabelo – Eu te criei com a palavra da bíblia, com a palavra do nosso Senhor Jesus Cristo, como pode se deixar influenciar por tamanho pecado e tamanha sujeira?

Ninguém respondeu nada, nem mesmo Fábio que estava congelado juntamente com o restante da sala.

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-Que desgosto... Que asco! – Se aproxima do menino – É triste demais uma mãe criar um filho com todo o carinho e toda a atenção, e um dia assistir ele roçando em outro homem, se esfregando na frente de todo mundo da maneira mais despudorada possível! – Fazendo uma expressão de nojo e erguendo o tom de voz – Você não sente vergonha disso tudo? – Criando uma face de ódio.

-Deixe ele ser feliz mãe! – Bia entra no meio – Ele se sente bem desse jeito, e também ninguém tem nada a ver com isso! – Faz uma pausa – A pessoa gostar do mesmo sexo não a torna um péssimo ser humano, pois o que conta é o caráter e a dignidade.

-Caráter e dignidade?! – Se surpreende de maneira brusca – Você está me dando um sermão sobre caráter e dignidade? – Aumenta a voz – E você por acaso sabe o que isso significa agora? – Arregala os olhos – Você é outra vergonha! Uma menina bêbada e desconjuntada que não faz nada que preste da vida! Sempre tirando as piores notas do colégio e dando desgosto pra todo mundo... – Olha para Fábio e devolve o olhar para ela – E eu tenho certeza que você o influenciou de alguma maneira, com suas bebidas e essas suas porcarias que você experimenta!

-Eu não faço nada disso mãe! – Se recoloca diante do assunto – E a senhora está muito enganada se acha que é desse jeito que alguém passa a gostar de... – É interrompida pelo descontrole de Clarisse.

-Vamos pra casa Fábio, isso tudo aqui está fazendo mal pra você – Puxando o braço do garoto.

-Eu não vou... – Se soltando – Eu amo o Gabriel mãe e vou morar aqui, com ele! – Sendo direto e franco.

-Que você ama garoto, você ama homem agora??? – Gritando – Você precisa se tratar menino, você não está com a cabeça no lugar, será que não percebe isso?

-Eu sempre gostei de homens mãe, só que nunca tive a coragem de assumir– Defendendo-se. -

-É isso aí maninho, vamos todos sair do armário... – Levanta o braço direito – Eu sou a próxima! – Ria Bia em tom de deboche – Eu tava inclusive pensando em namorar com um travesti, o quê acham? – Gargalhando.

-Cale essa sua boca menina vagabunda! – Gritando – Filho, preste atenção! – Se aproximando lentamente – Você tá perturbado, tá completamente fora de si, você não sabe o que você está fazendo... Mas Cristo sabe, e ele vai te tirar dessa, pois eu creio nisso! – Estufando o peito – Deus é mais forte que qualquer praga e maldição – Desvia lentamente o olhar para Bel – Você... – Aponta o dedo – Você é a única culpada disso tudo sua velha dos diabos!

-Eu?! – Colocando a mão no peito e se assustando com a reação de sua patroa – Mas senhora eu fiz o possível pra ajudá-lo da melhor forma possível, eu inclusive quando soube... – É atropelada por outras palavras.

-Você sabia disso tudo, e o quê fez? – Bate o pé – Ajudou a acobertar toda essa nojeira... – Fecha a expressão – Velha esclerosada! – A governanta estava pasma – Poderíamos ter feito alguma coisa enquanto era tempo... – É interrompida.

-Para com isso mãe! – Grita Fábio – Ela não tem culpa de nada, ninguém tem! – Arruma os óculos – Eu gosto de homens e acabou!

-Ah... Simples assim? – Ironizando – Você é o quê, a mulherzinha dele? – Fecha as mãos – Conta pra mamãe filhinho... Você gosta de cavalgar nele, de se sentir invadido durante a madrugada, ou de se agarrar nos lençóis beirando as cortinas?

Beatriz havia ficado congelada.

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-É... É disso mesmo que eu gosto! – Sendo atrevido – E quer saber o quê mais? – Provoca de imediato – Eu transo com ele todos os dias, e todos os dias eu gozo de prazer! – Quase todos nesse momento levam uma das mãos à boca.
Clarisse dá dois tapas na cara de Fábio e Gabriel o defende tirando de perto dela.

-Seu imundo! Eu tô com nojo de olhar pra essa sua cara lavada! – Se vira para a governanta e faz ameaças – E você pode ir começando a se despedir, pois é a última vez que você tem um emprego na vida! – A pega pelo braço e começa a chacoalhá-la – Você está escutando isso? Está de-mi-ti-da sua mulherzinha lazarenta!

-Não, por favor... – Se desespera – A senhora não pode fazer isso comigo, eu não tenho pra onde ir! – Se ajoelha e começa a implorar – Por tudo que é mais sagrado, eu tentei ajudar o Fabinho para que... – Clarisse a empurra, fazendo-a bater a cabeça no móvel da TV.

-Fecha essa boca! – Apontando o dedo em direção a ela – Eu devia meter a mão na sua cara, isso sim!

-Já chega disso mãe! – Ajudando Bel se levantar – Será que você não consegue ver a baixaria que está causando? – Ficando séria - Fora a vergonha na frente dos meus amigos, não se sente mal com o que está fazendo?

-E desde quando vadia de rua e drogado se sente ofendido com alguma coisa? – Ataca com todas as letras e percebendo algumas pessoas se retirando – Aliás, não tem nada que preste aqui dentro... Eu vou embora antes que eu vomite em cima de vocês, especialmente de você Bel – Constrói uma expressão sinistra – No que depender de mim, eu te atropelo no meio da rua! – Abrindo a porta e se dirigindo até o hall.

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-A senhora não pode falar uma coisa dessas, por favor! – Sai correndo – A senhora precisa me escutar, e entender que eu tentei ajudar o Fabinho da melhor maneira possível – Vendo a porta do elevador se abrir – Do-Dona Clarisse, por favor! Dona Clarisse! – A porta se fecha.

A idosa se senta no corredor e começa a chorar no colo de Bia.
 
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[Capítulo 22: A Casa Caiu!]

[Abertura da Novela]

O interfone tocava insistentemente na manhã do dia seguinte. Clarisse estava jogada mais uma vez sob sua cama, e não estava conseguindo pegar no sono novamente. Foi até a sacada de seu quarto e viu o carro de Denis estacionado do outro lado da rua, porém não o conseguiu ver. Desceu imediatamente, e assim que abriu a porta da garagem o advogado saltou pra dentro.

-O quê está acontecendo Clarisse? – Se preocupando – Não têm deixado o celular ligado, não tem aparecido mais... – Respirando – Eu vim pra te falar sobre uma coisa muito importante, e eu acho melhor você se preparar.

Os dois foram até uma mesa na área externa da piscina, e assim que algo foi esclarecido, imediatamente surgiu uma reação.

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-A minha casa está sendo leiloada?! – Parando o olhar no tempo – Mas isso não pode ser! Não têm lógica uma coisa dessas!

-Infelizmente têm sim, dona Clarisse. – Embala num ritmo lento – O Edgar quando a comprou, fez um consórcio com o banco para quitar o mais rapidamente possível, porém ele deixou de pagar isso há mais de seis anos. – Segura as mãos da mulher que parecia estar perdida – O banco agora tem direitos sobre o imóvel, e eu fui mais afundo nessa historia quando você me pediu pra que eu organizasse a papelada da venda, lembra?

-Sim... – Olhando pro chão – Isso quer dizer que eu vou ser colocada no meio da rua? – Denis tenta falar algo, mas ela prossegue – Parece que não tem mais fim, não tem mais fim o poço que ele me jogou. – Lágrimas corriam incessantemente de seu rosto – Não tem como tentar saudar essa dívida?

-Nesse momento a senhora tem que desocupar o imóvel, não há mais o que ser feito minha querida. – Sentindo pena daquela mulher e retomando o assunto – Não se lembra de ter recebido nenhuma carta com algum tipo de aviso do banco ou de algum juiz em decreto?

-Bom, eu não abro a caixa de correios há um tempão – Se levanta da cadeira e esfrega as mãos sob o rosto – Vamos lá ver.

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A casa também estava para cair no escritório da corretora após um veículo da polícia estacionar exatamente em frente ao edifício. O clima minava tensão, e lá nas alturas uma reunião estava acontecendo com os principais patrocinadores, quando uma presença surge na sala vestindo legítimas roupas da lei.

-Polícia Federal. – Anunciava um homem que havia se jogado pra dentro da sala juntamente com seus homens – Quem é Suzana Mendonça?

-Eu... Mas, o quê é isso? – Se assustando.

-A senhora nos acompanhe, por favor – Chamando-a – E quem é Alencar Amaral?

-Sou eu, mas não vai nos explicar o está acontecendo? – Se dirige pra perto do oficial.

-Recebemos uma denúncia anônima de fraude vinda desse lugar, e até que seja concluído o inquérito, e tudo esclarecido, esse escritório será lacrado pela justiça.

-Mas você não pode fazer uma coisa dessas! – Dizia Suzana – Eu não tenho nada a ver com isso, e também não pode sair fechando sem ter provas que... – É interrompida em pleno discurso.

-Quer dizer que a senhora confirma que existe algum tipo de esquema? – Fixa o olhar nela.

-Eu não disse isso. – Se engasga e olha para Alencar – Eu apenas... – É interrompida e pega de surpresa.

-Por favor, a hora de prestar esclarecimentos é na delegacia, não aqui. – Rebate o policial.

No Morumbi, Clarisse estava ajoelhada na calçada chorando com a carta de despejo em mãos. Aquilo estava cortando o coração de Denis, que não sabia o que fazer.

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-Por favor, não chore – Tentando reerguê-la – Olhe só para o seu rosto, para seus olhos! – Estavam inchados e aparentando estar doloridos.

-Eu não quero mais viver Denis, eu não quero... – Se rastejando perante as margaridas de seu jardim de entrada – Deus me abandonou!

-Não diga uma coisa dessas! – Segurando suas mãos – Enquanto eu estiver do seu lado, não vou permitir que nada de ruim te aconteça!

A mulher desaba, e na mesma seqüência alega estar precisando entrar para poder pensar um pouco, refletir. O homem não insiste, mas confessa ter achado estranho assistir o que parecia ser um humano contido emocionalmente, após todo aquele prato. A porta da garagem se tranca e a vontade do advogado de estar perto clama alto, mas se segurou e entrou em seu carro.
 
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[Capítulo 23: 19 de Janeiro de 2002]

Poucas horas faltavam para o grande momento daquela que sonhará com isso durante períodos variados da infância. Cresceu com o desejo de se tornar mãe, de ser uma esposa da qual toda a sua família e a sociedade pudesse se orgulhar. Estava vibrante, e mesmo de boca fechada estava sorrindo e se exaltando de alegria por dentro, pois finalmente iria realizar seu maior projeto de vida. Ambos resolveram alugar espaços diferentes dentro de um SPA de luxo na Zona Oeste de São Paulo. Numa das saletas, estava Clarisse, a lendária noiva atrasada.

-Olhe pra senhora, está linda! – Elogiava Bel que havia se permitido entrar – Eu estive dando os últimos retoques lá no salão, recebendo o pessoal do Buffet, e os últimos arranjos florais. Não faz idéia de como tudo está magnífico e exuberante! – Abrindo um grande o sorriso – A senhora merece tudo isso, merece aquele homem bom que a ama.

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-Eu finalmente vou me casar com ele, depois de tantos anos de noivado... Eu nem estou acreditando! – Se ajeitando no espelho e esperando a bordadeira para acertar o último detalhe do vestido – Sonhei com esse momento tão intensamente, e agora eu estou aqui prestes a colocar uma aliança no meu dedo!

-A senhora não sabe o quanto eu fico feliz com tudo isso, especialmente pelos meninos – Ri baixinho – Os dois ficaram uma gracinha vestidos daquele jeito.

-Você viu se o Ed tá bonito? – Faz um olhar enigmático.

-Olha... – Ri – Feio eu posso dizer que ele não está! – Gargalham as duas.

Tudo é mágico, encantador e a harmonia realmente acontece. No entregar da aliança, na música de entrada, não existia felicidade maior naquele momento do quê a de Clarisse. Eram sorrisos, agradecimentos que a banhavam de uma maneira inexplicável. Os dois chegam ao salão onde ia acontecer a comemoração, e uma canção se embala de maneira sutil.


“Make it trough the day without you...I, I can't resist”

-Eu vou te fazer muito feliz meu amor! – Dizia Edgar ressoando em seus olhos – Você nunca mais vai se esquecer de tudo que vamos viver, nunca mais! – Se aproximando no ritmo do que estava tocando.

-Tenho certeza que sim, pelos nossos filhos e pelo sentimento que temos um pelo outro – Colocando as mãos em seu rosto e olhando-o bobamente vestido daquele jeito – Eu te amo!

O salão se apaga e a música se ensurdece no silêncio. As pessoas somem e todos os pratos e talheres também. As velas não queimam e o ar se torna gélido. Um sorriso estava se fechando, e deixando amostra um olhar de medo.

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-Edgar... – Olhando para os lados – Bel? – A visão estava embaçada e turva.

Deu dois passos, cambaleando até uma das mesas, mas não conseguia sair do local. Começou a chorar baixinho e a tremer diante do que não conseguia entender. Até que num abrir e fechar de olhos se depara com o quarto de sua casa. Estava diante do espelho, com a maquiagem toda borrada numa total imparcialidade. Esfregou as mãos na face, e foi até o banheiro se lavar.

-Mais o quê eu estou fazendo, o quê é isso – Abrindo a torneira da pia e olhando a ilusão que acabará de vivenciar.

Em seguida tirou o vestido e o jogou em cima da cama. Não estava certa de que horas eram, e nem muito menos o que estava acontecendo, mas estava escutando passos no corredor. Decidiu abrir a porta e ir ver. Nada viu, e nada percebeu. Desceu então até a cozinha para beber algo e novamente escutou alguns ruídos, dessa vez na escada da sala de jantar.

-Pare Clarisse! – Dizendo a si mesma com o copo na mão – Não é nada!

Ao subir e entrar em seu quarto deu de cara com a imagem de Edgar Elian parado ao pés da cama de costas. Sua visão estava desfocada e a respiração sucumbiu diante daquela presença.

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-Quê isso?! – Com o horror estampado em seu rosto.

Um passo ele dá.

-Edgar... – Recua e pára diante da escada.

Outro passo. Dessa vez havia ficado imóvel perante ao batente da porta, mostrando um sorriso infernal e inquietante.

-Por favor, pare com isso. – Começa a chorar pelo medo que estava sentindo – Não... – Tomando coragem – Eu vou acabar com isso de uma vez por todas! – Limpando as lágrimas e criando sumariamente uma força interna.

Voltou até a cozinha, pegou todos os frascos de álcool que viu pela frente e começou a espalhar por todos os cantos e móveis que ainda estavam lá, inclusive sua cama de casal. Em poucos minutos a casa começou a arder e ser consumida pelas chamas de uma maneira assombrosa. Clarisse rodava pela sala vazia munida de uma gargalhada despojada e aberta.

-Eu tô livre de você, livre! – Jogou sua aliança no meio das chamas – Eu me sinto tão bem, tão bem meu glorioso Deus! – Gargalhando – Deus me salvará das garras da serpente maldita! A serpente que tentou os refugiados do paraíso, mas a mim não! – Bate no peito – Eu acredito na sua unção, no seu poder e... – Se dando conta de tudo o estava acontecendo.

A mulher desaparece dentro da casa e nada se escuta.
 
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[Capítulo 24: Desaparecida]

[Abertura da Novela]


Era tarde da noite, quando o celular de Bia tocava insistentemente em cima da mesa da cozinha.

-Alô? – Esperando uma resposta.

-Beatriz... – Interferência de chamada – A casa de sua mãe está pegando fogo! Você tem que... – o homem aflito é interrompido

-Espera um pouco, mais quem está falando? – Se desesperando junto.

-É o Denis! – Ouviam se ruídos – Pegue seu irmão e venham pra cá o mais rápido possível, pelo amor de Deus! – Desliga o telefone.

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A menina começa a chorar e a gritar, acordando Bel e Fábio que saíram em disparate de suas camas recém posicionadas na sala por conta das obras de pintura nos quartos.

-O quê é isso menina, o quê aconteceu? – A governanta estava pálida.

-O Denis ligou e disse que a casa da mamãe tá pegando fogo! – Suas mãos ficam trêmulas – A gente precisa ir correndo pra lá!

-Minha Santa Imaculada! – Faz uma expressão de horror – Eu sabia, eu tinha certeza que era uma desgraça anunciada deixar a sua mãe naquela casa sozinha, e ainda mais no estado em que ela está! – Une suas mãos – Ô meu santíssimo Deus, proteja a dona Clarisse!

-Eu vou ligar pro Gabriel e dizer que vamos deixar a chave na portaria – Dizia Fábio pegando seu celular e tentando ficar calmo completa: – Ele esqueceu a dele antes de sair.

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Na Zona Oeste de São Paulo, Suzana parecia estar aliviada do peso que havia removido de suas costas. Acusou Alencar Amaral com todas as letras perante as autoridades presentes na delegacia, e logo mais foi liberada. Porém, assegurou estar disposta a ajudar no caso com qualquer que fosse o detalhe. Sua única preocupação naquele momento era recuperar e limpar a imagem da corretora por conta de todos esses desfalques consecutivos, a começar pela ausência de Beatriz e Fábio, que fez com que promovesse uma insegurança por parte dos investidores.

Um táxi estacionava na rua onde os meninos moravam, e naquele momento todos saltam do veículo em direção a casa, mas são barrados.

-A minha mãe está lá dentro!!! – Gritava Bia – Onde é que ela está?

-Calma menina! – Dizia um oficial que a estava segurando – Não tem ninguém lá dentro. Eu e minha equipe fizemos uma varredura e... – Bel entra no meio.

-Como não tem ninguém? – Se surpreendendo.

-Não tem. – Olha pra casa – Por sorte o fogo não se espalhou a ponto de incendiar o carro que está na garagem, e também a única parte pra qual ele se alastrou foi... – Se corrige – Quer dizer, colocaram fogo, pois da pra notar que foi algo premeditado, não acidente.

-A nossa mãe tentou se matar Bel? – Dizia Fábio que estava se aproximando.

-Não... – Perde as palavras – Sua mãe nunca que iria tentar se matar, jamais uma coisa dessas!

Bia avista Denis saindo da casa de sua vizinha e de imediato o homem corre para acudi-lá.

-Ô minha filha! – Dando-lhe um abraço – Eu sabia que eu não devia ter deixado ela sozinha, eu sabia! – Se desabafa.

-Alencar, nós precisamos saber o quê está acontecendo! – Infiltrava-se Bel – Nós não podemos ficar aqui de braços cruzados esperando alguma notícia!

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-Eu estive conversando com a dona Hélia que mora aqui do lado, na verdade falei com vários vizinhos desde que os bombeiros haviam me confirmado que não tinha ninguém na casa. – Molha os lábios – Ela viu a Clarisse poucos minutos antes de perceber o incêndio, e a viu saindo sem nada.

-Consigo respirar até mais aliviado... – Falava Fábio que estava se sentando no meio fio – Eu não sei o que eu faria se a minha mãe morresse, acho que sentiria remorso pelo resto de minha vida.

-Não diga uma coisa dessas menino! – Bel tentava reconfortá-lo – Você não tem culpa de nada disso!

-Tenho sim, eu é que causei tudo isso. – Lágrimas persistiam – Ela sente vergonha de mim, sente nojo de ter um filho gay, ou doente como ela mesmo disse.

-Mas não pode achar... – Denis a interrompe.

-Por favor, vamos nesse momento nos focar em achar a mãe de vocês! – Pegando as chaves de seu carro – Venham, é possível que a encontremos pelas redondezas, não pode ter ido tão longe. – Olha carecidamente – Nós precisamos encontrá-la!

Os quatro começam uma busca pelas ruas locais.
 
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[Capítulo 25: Histeria Coletiva]

[Abertura da Novela]


Até que dessem as 48 horas do sumiço de Clarisse, os quatro ainda faziam rotas e mais rotas pelas ruas à fim de procurar informações. Numa dessas empreitadas, Bia notou que estavam passando perto dos arredores da corretora. Maquinou, pensou e anunciou firmemente para todos no carro.

-Eu já sei quem é a responsável por tudo isso. – Todos se orientam de maneira confusa – É aquela Suzana, foi ela que colocou fogo na casa e foi ela que desapareceu com a minha mãe! – Abrindo a porta do carro e saltando pra fora – Agora ela vai ver!

-Ô Bia, volte aqui! – Gritava Bel – Meu Deus do céu, ela está transtornada!

-Eu vejo a Clarisse no jeito dela – Desabafava Denis ao volante.

-Faz alguma coisa Denis, ela não pode sair dessa maneira no meio dos carros!

-E você quer que eu faça o quê? – Fábio saia pela outra porta atrás da irmã – Eu não posso largar o carro aqui no meio do trânsito!

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-Fábio, menino! – Bel solta o cinto e começa a correr atrás dos garotos – Minha Santa Virgem!

No escritório, Suzana estava se pronunciando ao telefone com relação a tudo que estava acontecendo dentro daquele ambiente de trabalho, que antes parecia ser calmo e harmônico.

-Pois bem, é aquela velha máxima que você sabe, onde uma fruta podre contamina as outras. – Olha pra janela – Alguns elementos que trabalhavam aqui, graças a Deus não fazem parte dessa equipe pelos motivos que eu já citei. – Molha os lábios – Temos que trabalhar pra recuperar a imagem da... – Bia entra na sala e fala em voz alta:

-Cadê a minha mãe Suzana? – Dá dois passos – O quê você fez com ela?

-Espere só um minutinho na linha, ok? – Deixa a ligação em modo de espera e rapidamente embala nas palavras – Eu posso saber o quê é isso? – Cruza os braços – Como eu vou saber onde é que está a sua mãe?

-Não seja fingida! – Acusando – Todo mundo aqui escutou muito bem no dia que você disse que ela iria te pagar caro! – Encara – Anda, o que você fez com ela?

-Ai meu senhor! – Falando baixo, em seguida se levanta da cadeira – Mas era só o que me faltava mesmo! Como se não bastasse os escândalos que estão acontecendo aqui dentro desse escritório, tem a sua mãe, e agora você também resolveu vir dar showzinho? – Ironiza na seqüência – Eu acho que eu vou montar um palanque aqui pra que... – Fica sem palavras ao ver Bel entrando correndo – Não posso acreditar!

-Menina, como pôde sair daquele jeito no meio do trânsito? – Estava afobada e cansada – Venha, vamos embora daqui pra... – É interrompida.

-Eu não saio daqui enquanto essa cínica não me falar o que fez com ela! – Bate o pé.

-Será que você não está percebendo o quê está acontecendo? – Rivaliza olhares – Sua mãe fugiu, escapou pra não ter que prestar contas na delegacia, aliás... – Faz uma generosa pausa – Já foi procurá-la em algum presídio feminino?

-Minha mãe não fez nada disso! – Defendendo – Já você, deve ter lama até nos cabelos diante disso tudo.

-Você não quer acreditar, o problema é seu! – Avança – Agora, que a policia está atrás dela, isso não tenha dúvidas! E é bom se preparar pra ter que ir visitá-la na penitenciaria assim que... – É interrompida.

-A dona Clarisse é uma mulher digna, uma mulher de respeito e de família que... – Suzana começa a gargalhar e ofende moralmente as duas – Do quê está rindo?

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-Da sua pretensão em achar isso! – Faz cara de boba – Tenha piedade né vovózinha? Vá tricotar uma calcinha pra ela então, vai! – Rindo ainda mais.

-Vamos embora Bel, não vale a pena ficar discutindo com ela.

-É isso mesmo, saiam daqui! Saiam da minha sala, saiam da minha vida! – Pega o telefone novamente – Me desculpe! Onde é que nós estávamos?

Ao saírem no saguão do edifício, se dão conta de que Fábio não estava presente e se assustam. Correm para a rua, e encontram várias pessoas reunidas em um circulo que parecia esconder o pior.

-Meu Deus do céu! – Corria Bel em meio aos carros parados – Fábio! Fabinho!

-Dá licença, sai, sai da minha frente! – Abrindo espaço – É o meu irmão!!! – Se ajoelhando no asfalto – Maninho o quê aconteceu? – Vendo o garoto jogado – Alguém chame uma ambulância, um médico!!! – Olhando para os arredores.

-Ele foi atropelado por um cara de moto, eu vi quando estava na banca! – O senhor estava tão assustado quanto ela – Fique tranqüila menina, já chamamos uma ambulância!

-Eu vou levá-lo! – Bel tentava se aproximar do corpo – A gente precisa fazer algo e rápido!

-A senhora pode complicar mais as coisas, não faça isso! – Dizia um homem que a segurava.

-Me largue, me solte! – Chorando – A gente precisa fazer alguma coisa, pelo amor de Deus! – Sentando no meio da rua e caindo em lágrimas.

Ele estava desacordado, e assim que chegaram os paramédicos o enfiaram na ambulância e saíram cortando caminho por ruas e avenidas. Bia foi junto, e Bel estava tentando localizar Denis através do celular para avisá-lo.

Ao final de mais um dia, Suzana caminhava pelo estacionamento e com seus pensamentos em voz alta resmungava enquanto tentava localizar seu carro.

-Calma que você já vai livrar a corretora de toda essa gente, muita calma! – Avistando seu veículo e tentando achar a chave na bolsa.

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-Não é ótimo o que um bom advogado não consegue fazer? – Surgia Alencar Amaral que estava escondido – Você está assustada? – Olhando pra aquele rosto que parecia ter perdido a cor – Entra nesse carro pra gente dar uma voltinha – Abrindo a porta – Entra agora! – Fechando-se numa expressão tempestuosa.
 
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[Capítulo 26: A Casa de Prostituição]

[Abertura da Novela]


De imediato ela não conseguiu ter nenhuma reação. Pensou em correr, em gritar, ou até mesmo inventar alguma coisa. Tarde demais! Alencar havia perdido completamente o controle, e estava bem ali, grudado em seu braço direito apertando firmemente.

-Eu mandei você entrar no carro! – Serrando os dentes.

-Para com isso Alencar! – Encarando-o – Você não pode chegar aqui e simplesmente... – Leva um tapa.

-Quem veio aqui pra falar coisas, fui eu! – Batendo a mão no peito – Portanto, entra nesse carro agora antes que seja pior pra você.

A mulher se resguarda e entra no veiculo cheia de receios e medo. Aquele homem estava fora de si, e dizia isso corporalmente. Pisou no acelerador e se atirou com tudo na via expressa. Passou por semáforos em alta velocidade, cruzando tudo e todos.

-Vai devagar, por favor. – Dizia Suzana se agarrando ao banco.

-Você é mesmo muito ordinária, não é? – Olhando ao retrovisor e fazendo uma curva extremamente aberta – Teve a ousadia de entregar o esquema, depois de tudo o que eu disse.

-Eu agi por impulso! – Se defendendo enquanto via as coisas lá fora ficando para trás – Pra onde estamos indo?

-Mas sabe, eu admiro a sua coragem em peitar as pessoas. – Dá uma olhadinha para ela – Só que você se meteu com a pessoa errada, e eu te avisei o quê ia acontecer se tentasse fazer alguma gracinha, não avisei?

Alencar começa a rir ao perceber que Suzana havia ficado apavorada.

-Nós vamos agora pra um lugar cheio de gente especial, e eu aposto que você vai adorar! – Rindo enquanto se localizava perante as ruas do centro da cidade.

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O carro encosta próximo a um beco escuro e bem ali algumas pessoas já estavam aguardando do lado de fora do que parecia ser um bar decadente. Os dois descem, e se dirigem para uma estranha recepção.

-Alencar, mas que surpresa! – Dando-lhe um beijo generoso no rosto – E você meu amor, como se chama? – Esfregando a mão em seu ombro.

-Vai pro meio do inferno! – Sendo direta e rude.

-Ô Alencar, eu já não te disse pra não trazer putas mal educadas pra cá? – Debochando e mascando um chiclete descaradamente – Sabe como é né, os clientes podem ficar incomodados com essas atitudes.

-Não se preocupe, ela logo abaixa a crista dela.

-Vamos embora Alencar! – Se aproximando dele – Eu já entendi o recado, não precisa tentar me dar lições.

-Você não vai pra lugar algum, pelo menos não agora. – Olha pelos arredores – Ou então sai por aí. Estamos próximos da Cracolância, se você tiver a fim de ser assaltada até o útero, vá em frente! – Se despede de Bianca e cruza a porta de entrada.

-Alencar, volta aqui! – A cafetina entra na frente – Não me deixa aqui!!! – Se desesperando.

-Venha, eu vou te apresentar pras residentes. – Tentando segurar sua mão.

-Você me larga! – Se virando como se fosse atacar – Você tá achando o quê? Eu não vou pra lugar nenhum!

-Ah é? – Cruza os braços e arqueia as sobrancelhas – E você tem escolhas por acaso?

-Da minha vida eu... – Abrindo um discurso em tom diplomático.

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-Ô bagulho aqui é o seguinte queridinha, ou você se comporta de maneira aceitável ou a situação vai fica sinistra pro teu lado, tu tá entendendo a parada como é que é? – Suzana nada disse – Ótimo! Agora me acompanhe.

-Nós podemos negociar isso de uma maneira justa pra ambas as partes, não é melhor? – Sugerindo cautelosamente.

-Você quer apanhar nessa sua cara vagabunda? – Ergue o tom de voz – A única que propõe alguma coisa aqui, sou eu! – Suzana se retém – Então pode começar a ficar pianinho, antes que eu desça o sarrafo em você sua vaca!

No hospital, Fábio permanecia inconsciente e de maneira sedada evitava maiores dores. Bia e Gabriel estavam próximos naquele instante, e não haviam se desgrudado um minuto se quer do rapaz. Permaneceram ali, aflitos naquelas poltronas próximas a cama. Denis e Bel estavam na lanchonete tomando um café e criando um campo e desabafos.

-Eu não posso acreditar que isso tudo esteja acontecendo. – Dizia Bel dando um gole amargo.

-Parece um pesadelo, um sonho ruim que não tem mais fim. – Completa – Provavelmente teremos informações essa semana sobre a perícia do acidente de Edgar, e também precisamos tirar o que restou da casa da Clarisse antes que o banco finalmente ponha as mãos em tudo.

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-Eu vou depois falar com a Bia sobre isso, mas acredito que ela vá querer levar o carro e os pertences pro apartamento deles. – Percebe algo no que acabará de falar – Quem me vê falando assim, até pensa que ela faleceu. – Batendo na boca.

O celular do advogado toca, e não hesita em atendê-lo. Os olhos se perdem num vagar assombroso, e nada, nada em volta parecia existir mais. As vozes do local ficaram distantes, juntamente com a imagem.
 
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[Capítulo 27: A Virada da Maré]

[Abertura da Novela]


O que parecia ser começo ou final de uma derradeira situação, não passará de um equivoco por parte dos policiais que confundiram informações desencontradas. Na verdade, isso não trazia alívio, mas sim ainda mais angustia por parte de seus familiares e entes envolvidos que não tinham se quer uma noticia sobre o paradeiro de Clarisse. Era uma manhã de segunda, e no Hospital Fábio dava seus primeiros sinais de que estava retomando a consciência.

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-Mãe? – Tentando se virar para os lados.

-Ô meu querido, graças a Deus! – Dizia Bel se levantando de sua poltrona e segurando sua mão firmemente – Deus seja louvado!

-O quê, o quê aconteceu? – O garoto parecia estar um tanto quanto confuso.

-Você foi atropelado, não se lembra? – Insistindo um olhar – É melhor não falarmos sobre isso agora, pois você precisa repousar – O cobrindo com um lençol – Eu vou ver se consigo achar algum médico, ou plantonista pra avisar.

-Ah... Bel, eu preciso te falar uma coisa.

-Diga. O que é? – Não se contendo em curiosidade.

-Eu te inscrevi naquele programa de culinária, o “Prato Brasileiro” – Tentando abrir um sorriso.

-Ai, mas Fabinho! – Fica desconcertada – Eu não sei nem o que dizer!

Na casa de prostituição, a ironia estava beirando o inaceitável. Suzana havia sido informada de que Alencar passaria para buscá-la e o aguardava sentada de cabeça baixa na recepção. Estava com uma expressão triste e também muito ressentida, pois ficou a noite toda recebendo os clientes da casa trancada em um dos quartos, onde ela nunca mais esqueceria as cenas de violência que sofrera em seu corpo.

-Eu espero que a sua estadia tenha sido confortável, e também muito proveitosa – Falava Bianca que estava se aproximando da mulher.

Nenhuma palavra, apenas um respirar em tom de desabafo foi ouvido.

-O seu amante vivia aqui, sabia? – Sentando-se – Algumas vezes ele pegava várias das minhas garotas pra realizar orgias no escritório, eu mesma fui várias vezes. – Mira o teto – Que homem bruto e também que ferramenta que ele... – É interrompida aos berros.

-Para de falar dele!!! – Se levantando – Como é que você não sente nojo de levar essa vida e de usar essa imagem tão vulgar, hein?

-Se sabe qual é a nossa diferença? – Inclina a cabeça – Eu admito ser quem sou, e tenho muito orgulho disso! – Muda o tom – Agora você... Viveu como amante durante anos por debaixo dos panos e agora fica aí, bancando a moralista.

A porta se abre e surge Alencar com um sorriso de puro contentamento.

-Mas olha, eu jurava que você fosse fugir? – Dá de ombros - Ou pelo menos tentar.

-Me tira desse lugar, vamos embora daqui. – Caminhando em direção a porta.

-Ela fez o serviço direitinho Bianca? – Começa a dar risada.

-É... Eu diria que é uma vagabunda de valor, encarou cada desafio né amor? – Mandando beijos – Pena que precisou apanhar um pouco pra ficar esperta, mas, ninguém é perfeito.

Os dois entram no carro e o silêncio fez brotar tudo o que ela havia passado nas últimas horas naquele local. Começou a chorar e não sabia como parar mais.

-Você está emocionada, não é? – Dizia ele ao cruzar uma avenida – Se você quiser eu dou meia volta pra... – É cortado.

-Eu vou embora de São Paulo. – Limpando e esfregando as mãos no rosto – Eu vou preparar a papelada e lhe deixar a diretoria da corretora... Não quero mais nada daquilo ali, não quero mais olhar pra você nem presenciar nada do que vivi esses últimos meses.

-Eu sinceramente lamento que as coisas tenham caminhado pra esse lado, pois você poderia ser uma parceira importante pra mim lá dentro – Parando num farol.

-Você num lamenta nada, nada te faz ser um pouco mais humano. – Procura um lenço na bolsa – Não faz pelo simples fato de quê você é um monstro!

-Nossa, mas você vai me ofender agora depois de tudo o quê eu lhe fiz? – Fazendo uma cara cínica e debochada de um desgosto falso – Mas quanta ingratidão!

-Pare esse carro aqui mesmo, não precisa me levar até minha casa – Soltando o cinto.

-E quem disse que eu ia te levar? – Ri – Eu tenho cara de taxista agora?

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A mulher desce no bairro do Pari e some dentre as ruas. Uma semana se passa e finalmente Fábio sai do Hospital e volta ao lar com muito entusiasmo.

-Mana, como o apê ficou bonito! – Olhando tudo o que tinha sido feito na sua ausência.

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-Deu um trabalhão viu? – Ajudando-o a se sentar no sofá novo – A gente foi revezando durante a semana, tipo, cada um corria atrás de alguma coisa.

-Eu que escolhi a cor das paredes meu amor, tu gostou? – Dizia Gabriel.

-Ficou show demais! – Com os olhos brilhando.

-Só está faltando a nossa mãe aqui, não é? – Se emocionando – Eu trouxe alguns pertences dela, e também o carro está aqui no estacionamento do prédio, tu sabe que o banco pôs as mãos na nossa casa né?

-O Denis me contou... Ninguém tem nenhuma notícia, nada? – Buscando ser expressivo.

-Eu acho que nesse momento o que nos resta é orar, meu menino. – Completava Bel.
 
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[Capítulo 28: Tensão Total]

[Abertura da Novela]


Organizou toda a papelada e jogou sobre a mesa de Alencar. O homem olhou rapidamente, e não estava crendo que agora conseguiria tomar as rédeas daquele local da mesma maneira como seu parceiro Edgar fazia. Sua admiração era tamanha, que prometeu a si mesmo jamais desviar os rumos da corretora. Era devoto daquele falecido, e se ele era uma pessoa influente hoje em dia, se deve ao fato do total apoio de seu amigo.

-Foi ótimo fazer negócios com você, Suzaninha! – Debochado enquanto lia algumas folhas.

-Você tá feliz agora? – Mostrando ironia – Era isso o quê você queria? Pois então tá aí.

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-Eu não queria isso não minha querida, muito pelo contrário! Eu adoraria que você tivesse se enquadrado no nosso esqueminha por aqui. – Mantendo um olhar sério e se levantando da cadeira – Mas você se acha superior a todo mundo, não é? Se acha uma mulher acima de qualquer verdade, com esses seus princípios antiquados.

-Antiquados uma ova! – Levantando uma das mãos – Nem todo mundo Alencar, é sujo como você!

-Você tem certeza que é a melhor pessoa pra falar sobre isso? – Apoiando os braços em cima da mesa – Você não vê o papelzinho ridículo que você representou nesse tempo todo? – Suzana se fecha em raiva – Agora sai daqui, vai.

-Se tá achando que eu vou lhe entregar assim de mãos beijadas tudo isso aqui? – Se dirige a porta e a tranca – Eu ainda tenho um assunto pra resolver contigo, e vai ser agora! – Tira uma faca da bolsa e aponta pro individuo.

-O quê você acha que vai fazer? – Se mostra apreensivo – Larga essa faca Suzana!

-Você transformou a minha vida nesses últimos meses num verdadeiro inferno! Eu fui violentada de todas as formas possíveis... – Suas mãos estavam trêmulas – Mas agora acabou seu desgraçado!

No parque do Ibirapuera uma caçada estava acontecendo. Policiais haviam recebido a informação de uma mulher com as mesmas características de Clarisse que estaria vagando pelos arredores do parque há alguns dias. Lá estavam Beatriz, Denis e Bel na forma mais aflita que um ser humano poderia estar.

-Mandamos uma equipe vasculhar os perímetros do local, e ruas senhor Denis. – Dizia um oficial – Seria importante que quando ela fosse localizada, um de vocês se aproximasse dela de maneira bem solene, pois não sabemos qual será sua reação.

-A minha mãe ela não é louca não, tá? – Bia intervém na conversa.

-Sabemos disso dona Beatriz. Mas desaparecer dessa maneira e se esconder como ela vêm fazendo, tem que concordar que isso não é coisa de alguém que está em seu pleno juízo. – Argumentando.

-Não importa o estado dela minha gente, o importante é trazer a Clarisse pra perto de nós! – Falava Bel em tom expressivo e emotivo.

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Vasculharam todos os cantos possíveis, até que ao longe avistaram um semblante próximo ao lago. Sim, era ela. Estava sentada próxima a borda e parecia estar refletindo sobre alguma coisa. Denis resolveu se aproximar calmamente, e num tom suave chamou por sua Clarisse.

-Clarisse? – Seu corpo estava dando sinais elétricos.

A mulher dá uma espiadela e começa a correr desgovernada, cruzando pessoas e animais pelo parque. Conseguiu desviar dos olhares, e subitamente atravessou a avenida correndo em direção ao túnel local. Num lance rápido estavam na seqüência policiais que tomaram outro caminho, e Bia juntamente com Bel e Denis que estavam correndo o máximo que podiam.

-Pare Clarisse! – Gritava o advogado – Nós estamos aqui pra te ajudar!

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Todos entram no túnel pela passagem lateral de pedestres e percebem Clarisse apertar o passo e olhar pelos lados. A viúva pára repentinamente e em um alto tom de voz disse aos que estavam ali presentes:

-Se vocês derem um passo a mais, eu me jogo na via! – Colocando uma das mãos na grade.

No escritório os nervos se afloravam entre Alencar Amaral e Suzana.

-Faz isso! – Anunciava o homem – Faz isso que você vai destruir não somente a minha vida, mas a sua também! – Aponta o dedo pra ela.

-Eu não tenho nada a perder! – Se posicionando de maneira agressiva.

-Ah não tem?! – Balançando a cabeça para os lados – Imagine a cara de horror da mãezinha lá em Campinas quando ela... – É interrompido aos gritos:

-Não fala da minha mãe!!! – Aproximando a faca de seu rosto.

-Aliás ela deve estar morrendo de desgosto desde já, pois não deve ser fácil ter uma filha vadia como você! – Fecha a expressão – Uma vadia que esta prestes a se tornar uma assassina!

Nesse instante Suzana parte pra cima do homem.
 
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[Capítulo 29: Eterna Aliança]

[Abertura da Novela]


No túnel, os olhos apreensivos olhavam para ela e para a via.

-Vocês vieram conferir de perto a minha derrocada pessoal, não é isso? – Mira em Bel – Ria de mim, pode rir!

-Ninguém veio aqui rir de ninguém Clarisse. – Faz uma expressão cuidadosa – Viemos aqui pra te ajudar, pra te tirar dessa situação. – Diz Denis.

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-Quem é que pode me ajudar em alguma coisa Denis? – Mostra uma face triste – Ninguém pode.

-As pessoas que gostam de você, que te amam de verdade, elas sim podem. – Oferecendo-lhe a mão – Vêm comigo, por favor.

-Deus me abandonou no momento em que eu mais precisava. – Devia a conversa – Começando pelo meu filho... Aliás, cadê ele? – Ri debochando – Claro, deve estar debochando de mim, debochando de... – É interrompida:

-Seu filho sofreu um acidente, dona Clarisse – Falava Bel.

-O quê?! – Se assusta – O meu filho sofreu um acidente?! – Eleva suas mãos à boca.

-É... Sei que é complicado senhora, inclusive... – A viúva começa a gritar:

-Aonde que ele tá??? – Dando dois passos em direção as pessoas – Pra qual hospital levaram ele???

-Ele já está em casa, fique tranqüila! – Completava Denis.

-Como que eu vou ficar tranqüila??? – Dispara – Eu preciso ver meu filho, preciso vê-lo agora!

Aquele fato havia terminado de maneira muito estranha. Clarisse havia ficado tão impressionada com o que acabará de ouvir que não estava se dando conta de quê sairá dali acompanhada de todos. Permaneceu apreensiva até mesmo dentro do carro, e durante todo o trajeto não parava um minuto de orar.

Bem longe de tudo e todos, Suzana dirigia em alta velocidade rumo à Campinas. Estava tão nervosa que suas mãos tremiam junto ao volante. Chegou até a cidade e de imediato foi traçando ruas e avenidas. Encostou o veículo em uma ruazinha pacata e na seqüência e foi em direção à campainha de uma casa bem humilde.

-Já vai! – Dizia uma voz lá de dentro – Pois não... – A pobre idosa tinha ficado sem ar.

-Mãe... – Com lágrimas nos olhos – Eu voltei.

-Suzana, minha filha! – Dando-lhe um abraço longo e demorado.

-Ah mãe, se eu tivesse escutado a senhora durante todos esses anos! – Olhando em seu rosto.

-Do quê está falando? – Não entendendo do que se tratava.

-Nada não. – Limpa pequenas gotículas de lágrimas no canto de seus olhos e em seguida entra na residência – Eu tenho uma novidade que você vai amar, vai adorar!

-Uma novidade? – Fechando a porta – Qual?

-Nós vamos viajar! – Tenta fazer uma expressão feliz – A senhora sempre não quis morar no Sul e ter uma pequena fazenda cheia de animais? – Molha os lábios – Pois agora nós vamos fazer isso, não é mágico? – Se segurando pra não chorar.

-É... – Ficando sem palavras – Mas minha filha, você aparece aqui depois de anos e... – É cortada repentinamente.

-Depois nós falamos sobre isso mãe, vá lá arrumar suas coisas. – Com um sorriso amarelo.

Resolve sentar-se ao sofá e de imediato foca na TV que estava ligada. Um plantão de notícias entra no ar.

“E hoje de manhã um homem foi encontrado morto num escritório no centro de São Paulo. A polícia acredita que...” – Suzana desliga.

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-Se sabe que eu estava me lembrando que eu sempre fui contra o relacionamento seu com aquele tal de Edgar... Mas hoje me arrependo tanto, sabia? – A mulher era muito inocente, e bastante influenciável – Eu nunca tive condições de te dar uma vida decente, mas ele sim teve... Cadê ele? – Fazendo uma expressão carinhosa.

-Ele... – Engolindo seco – Foi viajar e... Mãe, no caminho eu te conto a história, pode ser? – Pegando-a pela mão – A gente vende essa casa horrível depois, mas agora nós temos que ir, tudo bem?

Em São Paulo, no bairro da Vila Mariana, Clarisse entrava correndo pela porta em busca de Fábio. O avistou sentado no sofá e o deu um abraço emocionadamente.

-Meu filho! – Passando a mão em seu rosto e em seus cabelos – A mamãe nunca mais vai sair do seu lado, tá?

-Você não vai mais nos deixar, não é? – Dizia quase sussurrando.

-Não, nunca mais! – Olha pra todo mundo que estava próximo a porta de entrada - Nem você, nem a sua irmã, e nem ninguém! – Sendo convicta.

Por volta da hora do jantar, todos estavam reunidos na mesa. Estranhamente não se escutava nada, apenas o barulho dos talheres batendo contra as louças. Clarisse resolve tomar a palavra:

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-Eu quero pedir... – Lágrimas desciam – Perdão de uma maneira muito sincera, pois eu... – Respira funda – Eu destratei todo mundo aqui, de todas as formas possíveis.

Visivelmente a emoção havia pairado no local, e para quebrar o clima de tensão, Bia resolve fazer uma ironia divertida:

-Destratar? – Largando os talheres no prato – Imagine mãe! – Fazendo uma voz engraçada – Você só me expulsou de casa, me chamou de bêbada desajustada, e ah... Vagabunda. Disse também que o Fábio era um imundo e o estapeou na frente de todo mundo e hmm... – Pensando – Ah, você disse que a Bel era uma velha dos diabos e que se dependesse de você iria atropelar ela no meio da rua. – Começa a gargalhar juntamente com todos.

-Ai, mas Beatriz! – Dizia Clarisse rindo – Bom, mas o que eu quero dizer, é que vendo todos aqui reunidos, me faz crer que essa é a verdadeira aliança de que um ser humano tem de se apoiar, e também se orgulhar. – Levantando a taça – Um brinde!

A mulher dá um gole e prossegue:

-E vocês dois... – Olha para Gabriel e Fábio – Só peço pra que não se beijem na minha frente, pelo menos não por hora, está bem? Eu ainda preciso me acostumar com isso, vocês entendem?

-Tranqüilo sogrita! – Risos são distribuídos.

Semanas depois, lá estava Bel Faria num sábado no programa de TV “Prato Brasileiro”. Estava bastante nervosa, praticamente roendo as unhas.

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-E a senhora, dona Bel Faria, o quê vai fazer com o prêmio maravilhoso se ganhar? – Dizia Cleide Bastos, a apresentadora.

-Eu pretendo... – Começa a pensar – Olha, eu acho... – É interrompida:

-Nós estamos com o tempo contado! – Tira o microfone da mulher – E agora o resultado mais aguardado! – Abre a ficha – O vencedor desse ano é... – Faz suspense – Bel Maria! – O auditório aplaude.

-É Faria meu sobrenome. – Dá um risinho antes de receber um peteleco do microfone de Cleide:

-Que emoção, não? – Ri bem alto – Você quer agradecer algum parente, ou algum amigo?

-Sim, eu gostaria de agradecer... – Novamente é cortada.

-Agradecemos a sua participação! – Se aproxima das câmeras e se despede do telespectador.

Meses se passariam, e Clarisse teria que depor e enfrentar longos julgamentos à fim de esclarecer a policia a sua inocência no possível envolvimento nos esquemas da corretora. Seria absolvida de tudo, até mesmo do processo aplicado pelo banco quando a casa pegou fogo, já que naquele momento a propriedade não era mais dela. Ao final de toda essa etapa, ela e Denis pareciam estar se entendendo, romanticamente falando.

Num dia qualquer, no apartamento de Denis, Bel e Clarisse organizavam aquela zona e conversavam entre si enquanto davam uma cara nova a sala.

-Seu futuro marido é muito bagunceiro, não acha? – Ria a governanta.

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-Nem me fale! – Rindo – E você ainda paga o pato com dois apartamentos pra limpar. – Empurrando o sofá – Vamos ver se acabamos isso tudo antes dele chegar de Boituva, ele saiu tão apressado hoje.

-Ah, mas eu estou acostumada senhora! – Deixando um vaso no lugar – Limpar a bagunça do Fábio e da Beatriz me dá aval até pra limpar um prédio comercial inteiro.

As duas riem e se distraem com uma notícia urgente na televisão.

“Estamos sobrevoando a rodovia Castello Branco, na altura de Alphaville, e um carro se envolveu num acidente com um caminhão. Uma mulher que estava no banco do carona foi levada para um hospital local, e o homem, identificado como Denis Pedroso do Santos, não resistiu aos ferimentos.”

FIM.
 
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