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Nossas Apostas para o Nobel - Parte III

[align=justify]Não sabia das tendências neoliberais do Llosa, isso certamente muda as coisas.

Acho que nesse trecho vocês resumem tudo o que é o problema:

"Certamente, Llosa não foi um mau escritor: livros como Os filhotes e Conversas na Catedral tem seu lugar… Mas isso deveria ser feito há uns 30 anos… Ainda mais tendo em vista a mudança tanto em sua obra quanto em suas posições políticas…"

Esse prêmio ficou deslocado na época em que foi atribuído. Isso me lembra de uma passagem de Hobsbawn no Era dos Extremos: "(...) o júri do Prêmio Nobel de literatura, um corpo cujo senso político em geral é mais interessante que seus julgamentos literários" (HOBSBAWN, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. 2ª ed. São Paulo: Cia. das Letras, 2005. p. 485), ou seja, há muito o que pensar sobre o significado da atribuição desse prêmio quanto a postura da Academia.

Quero ler mais livros do Llosa para ver as temáticas, os prismas, a técnica, a visão, o posicionamento etc.

Vale citar um trechinho também de uma notícia que vi:

"Durante o período em que foi candidato a presidente, disse ter recebido ameaças de morte e, por isso, horas depois de saber que havia perdido para Fujimori, deixou o Peru e foi morar na Espanha. Hoje, é cidadão espanhol. “Na América Latina, preferimos promessas à realidade”, disse na época."

Fonte: Último Segundo

Pode ter sido só uma amargura pós-derrota eleitoral, mas não deixa de ser uma declaração significativa.

Vamos continuar essa discussão que está boa...XD
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Lucas_Deschain disse:
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Esse prêmio ficou deslocado na época em que foi atribuído. Isso me lembra de uma passagem de Hobsbawn no Era dos Extremos: "(...) o júri do Prêmio Nobel de literatura, um corpo cujo senso político em geral é mais interessante que seus julgamentos literários" (HOBSBAWN, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. 2ª ed. São Paulo: Cia. das Letras, 2005. p. 485), ou seja, há muito o que pensar sobre o significado da atribuição desse prêmio quanto a postura da Academia.

Vamos continuar essa discussão que está boa...XD
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Como eu disse no texto o problema é que o prêmio legitima tudo o que ele disse: agora nos jornais tá um tal de "Llosa disse isso", "Llosa disse aquilo"...

Só para confirmar os temores de Llosa, sobre a literatura deixar de ser coisa do chazinho da tarde dele:
http://www.google.com/hostednews/epa/article/ALeqM5hZHlbitvwza8gogv_8J4ntcKKi5g?docId=1385104

Nessas horas a gente pensa o quanto a "democracia" é justa... Principalmente quando seus defensores sempre estão com medo de que algumas coisas de banalizem... Percam sua "aura" intelectual...
 
[align=justify]É, justamente isso que pensei quando vi o artigo de vocês, que com a premiação a Academia Sueca está endossando a postura política dele, não a que ele tinha anos atrás, mas a que tem agora, frente a própria configuração geopolítica e ideológica de agora.

Estava lendo uns capítulos de uma biografia do Gabriel García Márquez (Gabriel García Márquez - Uma Vida, de Gerald Martin, que, aliás, saiu esse ano pela Ediouro) em que é mostrada a relação de GGM com Llosa durante também a estada dos dois (e de outros representantes do boom latino-americano) em Barcelona e suas passagens por Paris, em maio de 68 e até mesmo lá pela República Tcheca, para ver se conseguiriam falar com Kundera, e dá para ver como Llosa era figura ativa desse grupo de militantes, que estava presenciando esses eventos, embora não participando necessariamente.

A postura de Llosa de lá para cá mudou bastante, e embora eu não esteja tão indignado com a concepção de literatura dele como o Tiago e o Luciano (hehehe), há de se reconhecer que o posicionamento político dele frente ao mundo atual, pós-moderno e neoliberal (se quisermos resumi-lo grosseiramente) está bem mais amena do que outrora, quando a questão das ditaduras, do imperialismo norte-americano na América Latina e da Guerra Fria eram bem mais pujantes.[/align]

Qual o significado da atribuição desse prêmio a um latino-americano em 2010? Digo perante a situação política e econômica do continente, assim, pode ter a ver com o Hugo Chávez ou o Evo Morales; ou essa é uma escolha cômoda para não tocar em questão "mais traumáticas" da atualidade?

P.S.: Estou com Pantaleão e as Visitadoras, semana que vem pego Quem Matou Palomino Molero?, e já encomendei Conversa na Catedral e Guerra no Fim do Mundo. Quero entender essa parada toda. XD
 
Algo que deveria ser absolutamente estudado com relação a posicionamento político dos escritore latino-americanos dos anos 1950,60,70 é como a ditadura militar consegiu tornar a "esquerda" algo absolutamente caquetico...
A "esquerda" ou se tornou um bando de tiozinhos do antigo comunismo ou se tornaram um bando de reacionários, como é o caso de Llosa e de Ferreira Gullar (que foi um dos fundadores do PC e hoje é um dos maiores defensores do FHC - aliás, lembrem que o proprio FHC fazia parte dos famosos seminários Marx da USP)...
Na verdade, se pensarmos nos rumos do plano Condor (o financiamento que a CIA fez aos governos militares dos paises latino-americanos), o objetivo das ditaduras eram as atuais democracias "maduras"... Muito do discurso militar envolvia uma certa "falta de maturidade" do povo latino-americano em escolher seus líderes (vide Allende), que seria corrigida, por um "governo de transição"...
No fundo, as ditaduras cumpriram seu objetivo: criaram democracias mediocres em toda a América Latina...

Temos que por em questão os "valores literários" de Llosa justamente por isso: porque "analfabetos" ou povos sem literatura pensam ou amam pior que os outros? Ou "a banalização da literatura" é prejudicial? Não me parece que esse discurso esteja tão longe assim de uma "falta de maturidade" dos povos que necessita de uma intervenção de cima, da "intelectualidade" latino-americana...

Não estou defendendo Hugo Chavez (Evo Moralez talvez seja uma outra história...), mas não acho que "o lá ou cá" que se faz aqui seja muito mais que uma manutenção das coisas, para aqueles que tem as coisas...

Mas acho que os livros de Llosa devem ser lidos... até por causa de fenomeno que estamos discutindo, e que vc apontou na biografia do GG Marquez...

Muitos canalhas, canalhas muito maiores que Llosa, escreveram grandes livros como Céline ou Pound ou Hamsun... Porém, o fato de que os livros deles sejam interessantes, produtivos, mesmo fundamentais, não deveria redimi-los (isso não tornaria a literatura uma atividade ingenua ou mesmo cínica?)... Também não deveríamos simplesmente como um bando de facistas (como Antonio Cicero faz: "olha lá como o Heiddeger nasceu fascista e como todos os seus livros são fascistas")... Como ler então? Com ler livros que jogam toda uma resposabilidade nas costas da humanidade, no conforto de seu lar, com uma xícara de chá na mão? Acho que é um pouco esse tipo de desafio que deveria ser colocado quando pensamos nesse tipo de questão (por isso, falamos tanto de Bolaño...)
 
Lord_Ueifoul disse:
[align=justify]Algo que deveria ser absolutamente estudado com relação a posicionamento político dos escritores latino-americanos dos anos 1950,60,70 é como a ditadura militar consegiu tornar a "esquerda" algo absolutamente caquetico...[/align]

[align=justify]O fato das esquerdas latino-americanas não terem conseguido implantar uma revolução como a soviética é motivo de debates até hoje, e as justificativas que surgem nesse ínterim são as mais discrepantes, vão desde discursos conservadores até análises da experiência como lição para outras vindouras.

Como você mesmo disse, as esquerdas sofrerem uma desmoralização tremenda durante as ditaduras militares, e isso se deu justamente por campanhas e mais campanhas que buscavam desprestigiar a atuação dos militantes. Atentados, assassinatos, embargos comerciais, boicotes econômicos (dentro e fora dos países, como o Chile por exemplo, que sofreu uma crise de abastecimento por não ter nacionalizado o setor de bens correntes) etc. conseguiram desestabilizar as esquerdas e gestar juntamente com grupos dos próprios países golpes e ditaduras militares.[/align]

Lord_Ueifoul disse:
[align=justify]Temos que por em questão os "valores literários" de Llosa justamente por isso: porque "analfabetos" ou povos sem literatura pensam ou amam pior que os outros? Ou "a banalização da literatura" é prejudicial? Não me parece que esse discurso esteja tão longe assim de uma "falta de maturidade" dos povos que necessita de uma intervenção de cima, da "intelectualidade" latino-americana...[/align]

[align=justify]Não entendi direito o que tu quis dizer ao escrever isso Tiago. Penso que quando o Llosa disse isso, ele estava se referindo mais a uma possível massificação da Literatura não socialmente, mas sim que ela se tornasse um produto como outro qualquer. Embora o cunho neoliberal que ele tem pareça negar essa hipótese. Não sei... :think:

Enfim, não sei se dá para afirmar que ele se posiciona tão "iluminado" assim frente às massas, como se a banalização pudesse o fazer perder seu status de intelectual ou o faça perder seu papel social de intelectual.

Os apontamentos de Llosa sobre a Literatura que o Tiago coletou são bem incômodos, quase pedantes.
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Lord_Ueifoul disse:
[align=justify]Como ler livros que jogam toda uma resposabilidade nas costas da humanidade, no conforto de seu lar, com uma xícara de chá na mão? Acho que é um pouco esse tipo de desafio que deveria ser colocado quando pensamos nesse tipo de questão (por isso, falamos tanto de Bolaño...)[/align]

Você está querendo dizer que o Llosa está mais criticando do que está buscando intervir mais efetivamente na realidade, seja através de luta, seja através da proposição de soluções?

Se for isso acho que entra bem naquela coisa do prêmio estar deslocado no tempo, né?

Aquela pergunta que fiz sobre a pretensa comodidade da escolha de Llosa e o comentário que vocês fizeram sobre a Academia Sueca não ter tido colhões para outra escolha, o que acham? Que questões mais espinhosas poderiam ter entrado na pauta para a escolha de outro laureado?
 
Lucas_Deschain disse:
[align=justify]O fato das esquerdas latino-americanas não terem conseguido implantar uma revolução como a soviética é motivo de debates até hoje, e as justificativas que surgem nesse ínterim são as mais discrepantes, vão desde discursos conservadores até análises da experiência como lição para outras vindouras.

Como você mesmo disse, as esquerdas sofrerem uma desmoralização tremenda durante as ditaduras militares, e isso se deu justamente por campanhas e mais campanhas que buscavam desprestigiar a atuação dos militantes. Atentados, assassinatos, embargos comerciais, boicotes econômicos (dentro e fora dos países, como o Chile por exemplo, que sofreu uma crise de abastecimento por não ter nacionalizado o setor de bens correntes) etc. conseguiram desestabilizar as esquerdas e gestar juntamente com grupos dos próprios países golpes e ditaduras militares.[/align]

Acho que a questão passa não só pela desarticulação e pela perseguição da esquerda durante a ditadura, mas o que acontece com a esquerda depois dela. Se o objetivo da ditadura era instalar uma democracia segura, ou seja, era manter a ordem e tirar do horizonte toda outra forma de pensar nossa sociedade (lembrem-se que a democracia sempre foi a justificativa da ditadura), bem, então a nossa democracia pode ser vista como triunfo desse periodo "de transição"...

Não sei... a banalização dos livros para mim é desculpa... além disso, a justificativa da existencia de um "intelectual" já é suficiente para que alguem jungue que "é preciso ensinar as massas".... Criticar o livro eletronico não é um ato eletista per si, mas pensando naqueles trechos que citei, e se lermos com cuidado o discurso dessa critica que ele faz... bem, acho que o mesmo ainda está lá...

Acho que o chazinho com chá como politica é justamente isso: é dizer que ler Guerra e Paz na poltrona de casa é suficiente como ato político e mesmo como ato de leitura, e que isso justifica tudo... é de se pensar...

A Academia tem que cuidar da sua reputação, que tinha caido... e caiu pq em alguns momentos ela foi corajosa... a coragem não é popular...
 
[align=justify]Sei que esse não é o mote da discussão, mas não creio que o objetivo das ditaduras militares era a democracia, mas antes disso era uma preocupação com a articulação das esquerdas, ainda mais levando em consideração o período em que elas foram instauradas aqui na América Latina: Guerra Fria. Para corroborar isso (e obviamente que esse não é o único fator a ser levado em conta) temos a Revolução Cubana, em 59; a ascensão de um governo socialista por eleição, com Allende, no Chile; e posteriormente a própria Nicarágua, com a Revolução Sandinista, em 79.

Se pegarmos o caso do Brasil (se bem que não é a melhor opção de país para falarmos sobre América Latina), o golpe é dado após um governo acusado de comunista (Jango) onde houve grande mobilização popular e conscientização política (embora não absoluta), mas é certo que há muito mais variáveis a serem consideradas, como a configuração econômica mundial, a organização interna das elites e as próprias especificidades de cada país.

Enfim, é fato que a ordem e a estabilidade político-social-econômica mundial e em âmbito nacional foram justificativas das ditaduras sim, como tu disse, mas havia muito mais interesses por trás desses discursos.

A visão que ele tinha das esquerdas mudou bastante conforme os autoritarismos foram se colocando de ambos os lados, tanto nas ditaduras da América Latina quanto na invasão soviética da Tchecoslováquia, por exemplo. Llosa pareceu estar oscilando entre os dois "hemisférios ideológicos", mas pendendo mais para a direita, ou pelo menos assumindo uma postura muito mais crítica em relação a esquerda (ao menos suas manifestações e desdobramentos latino-americanos). Após a queda da União Soviética a transição se mostrou de vez.

A trajetória de Mario Vargas Llosa está ligada a trajetória das esquerdas na América Latina, não porque ele delas participou, mas sim por conta da visão que delas tinha. A participação dele nas comissões de investigação do Sendero Luminoso são a prova cabal disso, e as críticas que lhe foram dirigidas na época também.

O que me parece é que ele foi reticente na "tomada de partido", ele parecia querer uma terceira via, que não fosse nem direita nem esquerda, coisa bem complicada no contexto da Guerra Fria, acabou pendendo para a direita.[/align]
 
Lucas, acho que o que o Tiago quis dizer quando falou que as ditaduras conseguiram seus objetivos foi que, depois das ditaduras, temos as democracias que temos: um povo que não sabe escolher seus governantes- vota em fulano porque tem medo que beltrano vá fazer colocar sem-teto morando em suas casas (ainda hoje eu escuto esse tipo de absurdo, de gente com ensino superior)- e uma esquerda que é apenas uma direita espelhada- acho que não preciso nem comentar a respeito do nosso país...
A coisa do Llosa procurar uma terceira via. Bem. Concordo. Mas não acho que isso era tão difícil em tempos de Guerra Fria: o alemão Günter Grass fez justamente isso, ele se posicionava como firme adversário das direitas mas, ao mesmo tempo, apoiava o Solidarnosc e apoiava alternativas; do mesmo modo temos o dramaturgo francês Valère Novarrina e mesmo o Gerald Thomas.
Eu não simpatizo com o Llosa e talvez eu seja tendencioso em minhas críticas, mas acho que o que faltou a ele foi justamente a coragem de assumir-se de direita antes: ele preza tanto a intelectualidade- e todo mundo sabe que 'intelectual é de esquerda', uma visão um pouco ingênua mas que pode muito bem ser real, a própria idéia dele de literatura é dotada de certa ingenuidade (uma ingenuidade nociva e cômoda, no entanto).
 
acho q o Luciano falou bem...
para complementar, é preciso lembrar, e eu já falei isso, de que as ditaduras militares latino-americanas foram de fato governo de transição para "democracias estáveis"... assim como é fácil ver pelas datas que todas as ditaduras latino-americanas foram articuladas por um poder exterior (projeto Condor, vcs sabem), também é fácil perceber que o fato de todas elas terminarem quase juntas também indica alguma coisa... ainda mais que todas elas terminam no período de decadencia da URSS... Se o começo das ditaduras tem um contexto, o da Guerra Fria, o começo das democracias tbm tem um contexto, que é o final da Guerra Fria...

É bom lembrar que, pelo que eu lembre, nenhuma das democracias aqui do sul começou por uma assembleia popular, mas por uma comissão oficial instaurada pelos próprios ditadores... Ou seja... bom... é só lembrar do Tancredo/Sarney...

É importante pensar que o pensamento de "esquerda" do Brasil passou depois das ditaduras a ser uma revendicação pela democracia (ou ao menos é vendido assim, como tbm é vendido que os escritores dissedentes da URSS eram anti-comunistas, o que não é uma verdade absoluta)... E agora que temos a democracia... bem... parece que essa era a única opção possivel que nos restou e agora temos que lidar com ela...

A gente tem uma visão muito pouco articulada das ditaduras militares... ainda mais se compararmos com Chile ou Argentina... mas o fato é que os golpes não foram um mero "anti-comunismo", senão um planejamento total de como os nossos governos funcionariam dai para frente...

Ora, é só pensar que o primeiro país a instalar um regime neo-liberal foi o Chile de Pinochet (junto com a famosa equipe dos Chicago boys). A America Latina foi o laboratório desse novo tipo de economia e política, e desde o começo já sabiamos para onde íriamos...

Não estou colocando a democracia como algo demoniaco, mas a nossa (os mesmo uma boa parte das atuais) é bastante perversa, pouco democratica... poder escolher entre o ruim e o pior através de uma urna não me parece algo democrático...
 
[align=justify]Não me entenda mal Tiago, também não quero colocar a democracia de hoje como um regime altruísta e justo, coisa que ele não é (como o Luciano fez lembrar com o exemplo do sem-teto, uma realidade infelizmente presente e forte), embora não possamos esquecer que ele é bem diferente das ditaduras que tínhamos na América Latina.

O regime neo-liberal foi executado dentro dos quadros da ditadura bem como depois que ela (ou elas) foram vencidas, e em nenhum desses casos ele foi bom (embora, como você bem lembrou, Milton Friedman e seus Chicago boys quisessem mostrar o contrário). Essa é uma face camaleônica dessa política econômica, como ela conseguiu adequar-se a ambos os casos, apesar das perversas e dramáticas consequências dela para a economia e a situação social dos países do "Terceiro Mundo".

Isso é o que mais me incomoda no Llosa (até porque na questão do papel da intelectualidade e da literatura estou anos-luz aquém de vocês), porque se ele assume tendências neoliberais e as promulga como sendo sua posição política, sendo latino-americano como é (ou foi, ele tem cidadania espanhola) e a Academia Sueca endossa isso, temos um problema. [/align]
 
Acho que estamos de acordo então. É claro que a democracia é melhor para alguns (se pensarmos nos sem-tetos, como o Luciano e vc falaram, e em uma parte significativa deste país, isso talvez nem tenha feito diferença - a pobreza é implacável com ou sem ditadura).
O que eu quero dizer é que a atitude celebrativa da democracia tal como ela é hoje feita por Llosa e por outros também é fruto e triunfo da ditadura militar e do projeto neoliberal ligado a ela (agora tá mais claro né? debate em forum é meio complicado...). Ao achar que a democracia como ela é hoje é a melhor coisa do mundo e a única posição política viável, não se estaria incorrendo justamente naquela "democracia segura" que a ditadura prometia implantar, depois de um governo de transição? O que estou tentando lembrar é que a ditadura não foi apenas um bando de militares que tomaram o poder: foi uma construção ideologica bem planejada que estrutura nossa forma de pensar política até hoje. Ela não começa com militares, nem termina com militares... Temos que ter cuidado para não nos atermos as divisões cronológicas puras... Boa parte dos previlégios aos políticos, de certas instituições do nosso país e mesmo da nossa legislação é a mesma desse período...
Só agora nós estamos tentando abrir os arquivos da ditadura!!! Nós sequer começamos a pensar nisso... E como diz uma velha máxima da psicanálise: "O que não é pensado, insiste".
 
Lord_Ueifoul disse:
Muitos canalhas, canalhas muito maiores que Llosa, escreveram grandes livros como Céline ou Pound ou Hamsun.

Vargas LLosa um canalha? Por quê? Apenas por pensar diferentemente?

Desculpem-me mas as análises de vocês estavam indo muito bem, até a escolha do Nobel. Mas, agora.. Até o apoio ao regime democrático de governo virou razão para críticas.
 
Tatarana disse:
Vargas LLosa um canalha? Por quê? Apenas por pensar diferentemente?

Desculpem-me mas as análises de vocês estavam indo muito bem, até a escolha do Nobel. Mas, agora.. Até o apoio ao regime democrático de governo virou razão para críticas.


O problema de Llosa é que ele não pensa muito diferente, na verdade... Defender regimes democráticos meia boca não me parece muito diferente do que os colunistas da Folha, do Estadao (alias, o Llosa é colunista desse), da Veja e uma boa parte dos veículos de comunicação (só citei do Brasil, mas podemos continua: El Clarín, ....) faz todos os dias, todas as semanas, todos os anos...

Defender a democracia não é algo ruim... mas existem jeitos de defende-la e mesmo de defende-la até o fim... Quando Llosa endossa a dos atuais regimes (tirando, é claro, os filhos malditos), me parece, que no fundo, isso é um valor anti-democrático, se pegarmos um sentido mais interessante de democracia...

O Tiririca está ai para provar que escolher um cara numa telinha não é suficiente para uma "democracia"
 
[align=justify]Uma professora me mandou um artigo bem interessante sobre a premiação do Llosa, que analisa várias obras e o posicionamento político desse, buscando compreender as implicações da premiação dele com o Nobel (embora o autor não acredita nas escolhas da Academia Sueca). O autor é Luis Martín-Cabrera, professor assistente do Departamento de Literatura da Universidade de California, San Diego.
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O texto é em espanhol, mas é fácil de ler e vale a pena.
 

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