Anica
Usuário
Sim e não. Sim, a intenção do autor não é sempre óbvia, aliás, boa parte dos livros não tem a intenção clara estampada na primeira página do livro, é algo que se apreende ao longo da leitura, ainda que, reitero, não em sua totalidde objetiva. E não, não acredito que seja mero achismo uma leitura de certo autor ou obra que leve em consideração não somente a obra em si, mas outras publicações do autor, entrevistas, as reflexões próprias dele, seu posicionamento filosófico/moral/político/ideológico/etc., as condições históricas nas quais a obra foi produzida e onde viveu o autor e assim por diante.
Anica, concordo quando você diz que a intenção do autor não será revelada tal e qual, objetivamente. Mas isso não é um erro ou uma distorção, porque é da própria natureza do conhecimento esse quinhão de subjetividade. Ele não deforma, ele condiciona, o detalhe é apontar a subjetividade e levá-la em consideração ao pesar os fatores, tanto da escrita do autor quanto da interpretação dessa escrita. Achismo é achar por mera conveniência ou acriticamente, fazer um levantamento profundo das condições que circundaram a produção, o autor e seu contexto histórico é mais do que isso.
Por achismo quero dizer sua opinião. e é sua opinião, mesmo que embasada em entrevistas, outras leituras e afins. é o que você pensa daquela obra, é o que você acha que é a intenção do autor. pode estar próximo da realidade? é evidente que sim. pode acertar na mosca? muitas vezes é possível. mas o que quero dizer é que nem sempre se acerta, e partindo disso o fato é que embora se fale em intenção do autor, você está fazendo uma leitura pessoal da obra, indenpendente de suas fontes. É o que falei inclusive sobre o Franzen, de que de repente faltou um universo x para que você lesse a obra tal como as pessoas que você tinha citado.
Não desmereço o processo de investigação da dita "intenção do autor", só acho que no final das contas o que se faz, mesmo que com esse nome, é uma leitura pessoal da obra. Eu posso dizer que a intenção do Machado em Dom Casmurro era deixar todo mundo com a pulga atrás da orelha sobre Capitu ter traído ou não o Bentinho, escolhendo assim o próprio Bentinho como narrador. Mas era essa de fato a intenção dele ou foi um efeito que ele conseguiu quando na realidade só queria mesmo era escrever o desabafo de um corno? Seguindo sua teoria das entrevistas e afins, tem lá a cara do Graça Aranha falando da grega que traiu o esposo - o que colocaria no chão as leituras da possibilidade de Capitu não ter traído: ela traiu e pronto, Bentinho é só um corno chorando pitangas.
Está entendendo como sua visão pessoal pode deformar a dita intenção do autor, mesmo que você se valha de entrevistas? Compreende por que esse não é terreno sólido em crítica?