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Nossas Apostas para o Nobel 2011 – Parte I

Acho que é mais ou menos como a Anica falou. Precisa-se dessa revolução: uma coisa só pode ser considerada obra de arte - e, portanto, universal e atemporal - quando ela extrapola aquilo que as pessoas conhecem. Se é uma obra que só lida com o que podemos identificar, vai ser mais fácil gostar dela - e, com certeza, foi mais fácil escrevê-la. A partir do momento que a obra toca em algo que não se sabe dar um nome exato, a coisa muda. Aí a experiência é nova, e traz algo de novo para o leitor, como indivíduo. É a coisa que eu gosto de falar sobre liberdade de impressão ser muito, mas muito mais importante que liberdade de expressão...

E, de qualquer modo, não acho que esteja errado o que você falou sobre a coisa de escrever pra ficar rico e famoso. Sobram exemplos disso aqui no Brasil... E no mundo inteiro, na verdade. Mas não acho que é um fenômeno contemporâneo, só que - com a tal decadência da literatura (e de tudo mais) - hoje existem mais gente escrevendo por isso do que por outros motivos - até porque essa necessidade de ser rico e famoso é uma coisa bem 'pós-moderna'.

Quanto à falta de perspectiva... Não vejo uma solução. Não imediata. Até porque eu acho que existe muita coisa pendente - eu sou da escola do Kertész e do Zizek, acho que 'Auschwitz não acabou ainda', por assim dizer - e sem resolvermos os problemas antigos, não poderemos resolver os novos.
 
se não tem algo de revolucionário, o que diferencia um livro de outras obras? a literatura precisa dessa "revolução" para vencer o teste do tempo, acho. o harold bloom usa um termo que eu gosto para isso, que é "agitar as águas" da literatura. se o sujeito não move essas águas, como ele atrai a atenção para si entre outros tantos, incluindo aí os que movem a água? até porque sem os revolucionários nada de novo seria feito, e literatura seria apenas contação de história.

Concordo contigo Anica (com pequenas diferenças), mas vou continuar meu contraponto aqui: só é bom o que é, por assim dizer, 'revolucionário'? Não é justamente o contrário do que o Xerxenesky falava esses tempos no blog dele sobre o 'luxo da literatura menor'? Quer dizer, só há legitimidade para o que é ultra-novo-e-revolucionário?

Acho que o que estamos considerando aqui é justamente os parâmetros e critérios que levamos em consideração ao emitir nossa opinião/julgamento/parecer/comentário/estatuto/etc. sobre alguma obra literária.

edit: em tempo, não li liberdade nem nada, mas as vezes acho que se procura a tal da "revolução" no lugar errado. você falou em novo james joyce e aí dá a sensação de que a revolução tem qualquer relação com um livro hermético que alopre na linguagem, quando não é só isso que pode ser inovado. há livros que são claramente um desenvolvimento de personagem, que o forte dele (e o que faz com que seja lembrado anos após anos) seja o desenvolvimento da personagem, o tratamento dado pelo escritor; por exemplo.

É justamente isso a que me referi acima. Usei o 'Ulisses' meramente como exemplo, não espero que alguém faça um 'Ulisses' tal e qual, até porque isso seria digno de Menard ( XD ), mas usei ele como exemplo pelo papel que ele ocupa na literatura universal, como um marco, o peso de seu impacto sobre a literatura.

É justamente com esse seu argumento que ouso me questionar sobre o Franzen. Reitero: minha opinião não é definitiva sobre ele, acho que ainda preciso de pelo menos 'As Correções' para ter algo mais sólido a respeito dele. Mas será que não se está 'procurando a revolução no lugar errado'?
 
É justamente isso a que me referi acima. Usei o 'Ulisses' meramente como exemplo, não espero que alguém faça um 'Ulisses' tal e qual, até porque isso seria digno de Menard ( XD ), mas usei ele como exemplo pelo papel que ele ocupa na literatura universal, como um marco, o peso de seu impacto sobre a literatura.

É justamente com esse seu argumento que ouso me questionar sobre o Franzen. Reitero: minha opinião não é definitiva sobre ele, acho que ainda preciso de pelo menos 'As Correções' para ter algo mais sólido a respeito dele. Mas será que não se está 'procurando a revolução no lugar errado'?

Eu não li o Franzen. Ou melhor: li alguns ensaios, algumas entrevistas e o primeiro capítulo do Liberdade, que recebi não me lembro quando.

Mas essa coisa do Ulisses: não vai ter outro, em sentido nenhum. Não existe mais lugar para algo assim - ao mesmo tempo que o mundo se globalizou, ele se fragmentou e individualizou demais para que possa existir um único autor ou obra que mude tudo (mesmo que 'tudo' se refira à literatura de um só país ou de um só idioma). E, na verdade, eu acho isso muito bom.
E existe lugar para o que não é ultra-revolucionário. Coetzee, antes do 'Diário de um ano ruim', não fez nada de tão especial. A mesma coisa com Nooteboom, com Bolaño, com Grass, com Kertész, Amós Oz e Jon Fosse. No entanto, cada um desses autores é um revolucionário em pequena medida (medida que se torna maior quanto maior a celebração feita em cima do nome do autor pela mídia/academia).
 
Concordo contigo Anica (com pequenas diferenças), mas vou continuar meu contraponto aqui: só é bom o que é, por assim dizer, 'revolucionário'? Não é justamente o contrário do que o Xerxenesky falava esses tempos no blog dele sobre o 'luxo da literatura menor'? Quer dizer, só há legitimidade para o que é ultra-novo-e-revolucionário?

Depende do que você está avaliando ou buscando. Busca uma boa história/enredo interessante? Aí não há necessidade de ser revolucionário para ser bom. Procura um uso impecável de técnicas de narrativa? Idem. A questão do "revolucionário" tem peso (na minha opinião) quando se fala em vencer o tempo. Por que tantos e tantos escritores do século XIX são hoje em dia desconhecidos? Porque contavam apenas boas histórias. Por outro lado, aqueles que ousaram em tema e estrutura, são lidos até hoje em dia.

É justamente com esse seu argumento que ouso me questionar sobre o Franzen. Reitero: minha opinião não é definitiva sobre ele, acho que ainda preciso de pelo menos 'As Correções' para ter algo mais sólido a respeito dele. Mas será que não se está 'procurando a revolução no lugar errado'?

eu sinceramente não entendi sua pira com o franzen. vc leu e "não viu tudo isso"?
 
mas eu não acho que o mccarthy se concentre só nos estados unidos. o que ele faz com the road, por exemplo, é um exercício de reflexão sobre aquela linha tênue entre o que nos diferencia dos animais.

Como eu disse, é o que há de melhor e de pior: há os que sabem tirar disso algo de mais produtivo e há os que se preocupam em lastimar. Roth e McCarthy estão no primeiro grupo...
Eu estava pensando em Meridiano Sangrento ou Onde os velhos não tem vez, mas On the road pode muito bem ser colocado nesse esquema: ninguém preve um futuro ruim quando o presente é brilhante (ainda que o brilhantismo dependa de quem vê o que)...

Além disso, vc sabe minha opinão né anica: o forte mesmo do McCarthy são os livros anteriores... (-risos-)
 
Depende do que você está avaliando ou buscando. Busca uma boa história/enredo interessante? Aí não há necessidade de ser revolucionário para ser bom. Procura um uso impecável de técnicas de narrativa? Idem. A questão do "revolucionário" tem peso (na minha opinião) quando se fala em vencer o tempo. Por que tantos e tantos escritores do século XIX são hoje em dia desconhecidos? Porque contavam apenas boas histórias. Por outro lado, aqueles que ousaram em tema e estrutura, são lidos até hoje em dia.

mas o problema é saber por que o nosso presente seria o "melhor dos tempos possíves"... Tem um montão de escretores do século XIX que ninguém lembra... mas quem disse que eles não pode se tornar relevantes daqui um ano ou 100?

Além disso, se nosso presente fosse o século XVII ou o XVIII, bem... Shakespeare não seria grandes coisa, não é?

Sobre o Bloom: basta olhar a lista depois do Cânone Ocidental para saber que ela é disparatada... Aposto que os leitores od Vietnã não concordam com ela... aliás, nem os brasileiros...

acho que o teste do tempo não tem que ser de um teste de duração, mas de esforço daqueles que pertecem ao presente em questão... Não de resguardar, mas de levantar fazer a ponte entre o aquilo que pode interessar com aquilo que o faz interessante para o presente...

Por isso mesmo, quando falamos de revolução, não podemos garantir que o resto irá sobreviver... Supondo que ela aconteça (que ela seja de fato feita), não poderemos dizer se depois disso ler Shakespeare, Dostoievski, etc continue a ser relevante...

revolução não é um a mais... é justamente a mudança de toda a estrutura daquilo que chamamos literatura (ou sociedade, ou...)

é só ver o que acontece, por exemplo, na literatura argentina depois de Borges: uma série de escritores "irrelevantes" entram em cena - Sarmiento, Hernandéz, etc - e caem fora o grande cânone - Lugones e outros...

ou Oswald de Andrade que antes dos anos 1970 tinha sido jogado no lixo da literatura brasileira...

enfim... para uma revolução temos que estar dispostos a perder tbm... e para isso não dá para trocar a durabilidade como sinal de que algo deva ser preservado...

além disso, uma obra só não faz revolução... nem um conjunto de obra... mas uma série de fatores e de diposições muito maior...

bom.... o Nobel é outra coisa (-risos-)
 
Depende do que você está avaliando ou buscando. Busca uma boa história/enredo interessante? Aí não há necessidade de ser revolucionário para ser bom. Procura um uso impecável de técnicas de narrativa? Idem. A questão do "revolucionário" tem peso (na minha opinião) quando se fala em vencer o tempo. Por que tantos e tantos escritores do século XIX são hoje em dia desconhecidos? Porque contavam apenas boas histórias. Por outro lado, aqueles que ousaram em tema e estrutura, são lidos até hoje em dia.

É justamente aí que quero incidir, Anica. Acho que o ponto é exatamente esse. Existem, digamos assim, caracteres "objetivos" que permitem avaliar uma obra em relação às demais e hierarquizá-las de alguma forma (embora essas atribuições de status, posições e hierarquias jamais serão estanques ou universais), mas eles sempre estarão em alguma medida condicionados a leituras subjetivas, isso faz parte de qualquer coisa que qualquer ser humano venha a fazer.

Essa constatação que alguns acharão bastante óbvia tem corolários importantes a serem considerados e que, se parecem óbvios pensando no âmbito geral, não se mostram tão claros assim quando vistos em casos específicos. Qualquer um que diga que uma obra é 'revolucionária' está partindo de uma concepção do que é revolucionário e que tipo de coisas são revolucionárias. O contrário segue a mesma idéia.

Daí que advém meu questionamento: o ideal de revolucionário de que está se partindo para 'julgar' obras contemporâneas não está condicionando a determinadas leituras ou critérios que talvez não abarquem certos nuances das obras-alvo de análise?

(Desculpem o tom meio professoral, mas não encontrei uma forma mais fácil de me fazer entender.)

eu sinceramente não entendi sua pira com o franzen. vc leu e "não viu tudo isso"?

Hehe, é justamente isso: eu ainda não estou com idéia formada sobre o Franzen. Não me sinto a vontade nem para defendê-lo nem criticá-lo. Acho que ainda falta aprofundar mais a leitura sobre ele e as obras com as quais a sua própria tem sido 'medida'. A fonte de meus questionamentos são as resenhas do Xerxenesky e do Sérgio Rodrigues.

Não posso deixar de concordar com os dois em uma porção de argumentos que eles apontaram e se olho a obra no geral então, aí concordo quase 100%, mas quando começo a pensar em âmbito mais específico, em certos nuances da obra, certos personagens, certos posicionamentos, certos aspectos com que ele constrói sua narrativa...bem...aí tenho que discordar em outros aspectos também.

Enfim, é algo que ainda precisa ser lapidado.

P.S.: Por isso é que eu gosto do Meia Palavra, dá para ter uma discussão com idéis conflitantes, visões distintas, pontos de vista antagônicos e ainda assim manter a cordialidade e tudo o mais. É difícil alguém tomar algum post como ofensa pessoal, como às vezes acontece em algumas discussões. Legal! lol
 
revolução não é um a mais... é justamente a mudança de toda a estrutura daquilo que chamamos literatura (ou sociedade, ou...(...)
enfim... para uma revolução temos que estar dispostos a perder tbm... e para isso não dá para trocar a durabilidade como sinal de que algo deva ser preservado...além disso, uma obra só não faz revolução... nem um conjunto de obra... mas uma série de fatores e de diposições muito maior...

Ufa, ainda bem que coloquei aspas quando usei 'revolucionário' pela primeira vez! XD O que o Tiago falou é vero, até porque 'revolucionário' (em termos literários, se é que essa separação é absolutamente possível) envolve tanto 'forma' quanto 'conteúdo'. Não basta fazer uma 'revolução puramente estética' ou 'abordar revolucionariamente um tema ou uma questão', é da junção sui generis dessas duas dimensões que faz uma obra ser 'memorável' ou, para abusar do termo, 'revolucionária'.

bom.... o Nobel é outra coisa (-risos-)

Bem lembrado Tiago. Ou não. Nobel supostamente não deveria identificar e laurear o autor dessa tal 'obra revolucionária'? hehe, ou pelo menos supostamente...
 
Daí que advém meu questionamento: o ideal de revolucionário de que está se partindo para 'julgar' obras contemporâneas não está condicionando a determinadas leituras ou critérios que talvez não abarquem certos nuances das obras-alvo de análise?

Honestamente, eu acho que o problema aí é do escritor - que tem como meta escrever algo assim. Até pelo que já disse anteriormente, não acredito que a crítica (ou seja lá qual outra opinião que seja válida nesse contexto) considere unicamente o fator de ter feito algo novo. Pensando até no ponto de vista acadêmico, não existiram as inúmeres pesquisas anuais sobre Machado de Assis se só o novo fosse relevante, não acha?

Só que aí vai lá o rapaz que deseja ser escritor, e ele coloca na cabeça um modelo do que considera ideal - e para ele contar uma boa história só não basta, ele quer ser o cara que todo mundo discutirá e analisará. Fica a questão: para quem eles escrevem? Eu fico feliz que ainda tenha escritor aqui no Brasil que não queira só ser o fodão que papará todos os prêmios existentes nesse mundo, mas alguém que queira me contar uma boa história (como o pessoal da Não Editora com o Ficção de Polpa, por exemplo). Por outro lado, fico igualmente feliz que existam aí escritores que reflitam o ato da escrita buscando algo além de me contar uma história (que é o que vejo no que o Xerxenesky faz, por exemplo).

Em outras notícias, eu acho que vc deveria deixar o Franzen para lá. Se não sentiu o pans ao ler o livro, não é porque algumas pessoas que você admira sentiram esse pans que você tem que sentir, se é que você me entende.
 
Até pelo que já disse anteriormente, não acredito que a crítica (ou seja lá qual outra opinião que seja válida nesse contexto) considere unicamente o fator de ter feito algo novo. Pensando até no ponto de vista acadêmico, não existiram as inúmeres pesquisas anuais sobre Machado de Assis se só o novo fosse relevante, não acha?

Uhum, esse é o ponto Anica. Estou falando isso não porque eu parta desse ponto de vista, mas que, às vezes, como entusiastas de inovações e sedentos de algo 'revolucionário', acaba-se imputando um ônus que o autor talvez não tenha tido a intenção de abarcar. Por isso é que, a meu ver, 'cercar' o autor buscando suas referências, suas intenções, as condições nas quais escreveu a obra etc. nos ajudam a perceber os nuances, as coisas que com uma 'arcabouço analítico mal polido' não seriam visíveis.

Em outras notícias, eu acho que vc deveria deixar o Franzen para lá. Se não sentiu o pans ao ler o livro, não é porque algumas pessoas que você admira sentiram esse pans que você tem que sentir, se é que você me entende.

Pans é bom ou ruim? hehe O detalhe é que gostei do livro, com as ressalvas que o Anthony Xerxenesky e o Sérgio 'TodoProsa' Rodrigues apontaram, mas não consigo ser tão cáustico quanto eles foram porque discordo deles em alguns pontos. O que quero é abrir a possibilidade de uma nova abordagem acerca da obra, nada 'revolucionária' ela, mas uma opinião partindo de outro prisma, que enxergue outros pontos. Ainda não li as resenhas do Pips e do Tuca para ver o que eles acharam, mas as lerei amanhã de manhã que estou com sono.
 
Uhum, esse é o ponto Anica. Estou falando isso não porque eu parta desse ponto de vista, mas que, às vezes, como entusiastas de inovações e sedentos de algo 'revolucionário', acaba-se imputando um ônus que o autor talvez não tenha tido a intenção de abarcar. Por isso é que, a meu ver, 'cercar' o autor buscando suas referências, suas intenções, as condições nas quais escreveu a obra etc. nos ajudam a perceber os nuances, as coisas que com uma 'arcabouço analítico mal polido' não seriam visíveis.

a questão é que inovação não é um critério subjetivo (como "fulano é bom", por exemplo). se nunca ninguém fez determinada coisa com um narrador, ninguém nunca fez aquilo e pronto. não depende de juízo de valor de um grupo de acadêmicos, como dependeria a definição do que é bom, por exemplo. e na boa, intenção de autor é uma roubada. se o autor é vivo ele pode simplesmente mentir sobre suas inteções. se morreu, é mero achismo. de qualquer forma, não é a intenção do autor que fará uma obra ganhar espaço, ser reconhecida. até porque se você for pensar, a intenção de shakespeare era fazer um teatro que agradasse ao público de diferentes classes sociais, que ficariam satisfeitos com suas peças e assim ele receberia dinheiro. ele não escreveu hamlet com outra intenção senão essa (no máximo a de facilitar a memorização dos atores, e aí o fato de usar rimas). e isso faz de hamlet uma obra menor? ela não foi reconhecida?

no mais, é aquilo que já falei: eu acho que o problema é do escritor, não da crítica. não acho que todos os críticos busquem apenas apenas a inovação. acho, pelo contrário, e isso já falei anteriormente, que o problema é de quem escreve - que busca justamente alimentar essa ilusão de que só livros com alguma inovação chamarão a atenção e passarão a ser considerados bons.


Pans é bom ou ruim? hehe O detalhe é que gostei do livro, com as ressalvas que o Anthony Xerxenesky e o Sérgio 'TodoProsa' Rodrigues apontaram, mas não consigo ser tão cáustico quanto eles foram porque discordo deles em alguns pontos. O que quero é abrir a possibilidade de uma nova abordagem acerca da obra, nada 'revolucionária' ela, mas uma opinião partindo de outro prisma, que enxergue outros pontos. Ainda não li as resenhas do Pips e do Tuca para ver o que eles acharam, mas as lerei amanhã de manhã que estou com sono.

Pans bom. De qualquer forma, é aquela coisa, Lucas: você tem que achar o que você achou. Não adianta usar resenhas para ver o que "você deveria achar" de um livro, porque isso não existe, a experiência de leitura é singular e depende unicamente do conhecimento de mundo do leitor. O livro pode ter despertado reação x no xerxenesky porque ele leu lá uns quatro outros caras que você não leu. Ou pq ele tem experiências de vida pessoais que se refletiram na leitura. Não dá para ficar forçando a barra e tentar enxergar o que terceiros viram, o importante é o que VOCÊ viu enquanto leitor.
 
Anica, gostaria de poder apresentar uns dez argumentos aqui que pudessem sustentar minha opinião a respeito da 'intenção do autor', mas não acho que ela se sustentará. A intenção do autor, a meu ver (incompleto e ainda não sólido como gostaria que estivesse), não é algo assim tão intangível como você diz. Penso que se livro 'x' é assim e não assado é porque o autor quis que assim fosse. Isso praticamente nunca estará claro, explícito, mas é 'atingível', ainda que não na sua totalidade objetiva, digamos assim.

Não sei se estou me fazendo compreender.

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Sobre aquele negócio da cobrança de originalidade e a condição da produção de obras 'revolucionárias', achei interessante o que a Dindii escreveu na coluna dela:

Dindii disse:
O que eu quero dizer é que todo mundo quer fugir do igual e querem vender essa imagem eterna de originalidade e novidade. Essa é a demanda da nossa era. Precisamos ser desesperadamente diferentes dos outros e, no entanto, nunca fomos tão iguais, tão próximos.

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Só para aproximar um pouco mais do Nobel (hehe, esse semi-off-topic tá ótimo), Tiago, sei que a chance de historiadores e filósofos serem laureados é bastante remota, mas levando em conta esse ínterim, quem teria chances? Carlo Ginzburg, Hobsbawm, Zizek?
 
Anica, gostaria de poder apresentar uns dez argumentos aqui que pudessem sustentar minha opinião a respeito da 'intenção do autor', mas não acho que ela se sustentará. A intenção do autor, a meu ver (incompleto e ainda não sólido como gostaria que estivesse), não é algo assim tão intangível como você diz. Penso que se livro 'x' é assim e não assado é porque o autor quis que assim fosse. Isso praticamente nunca estará claro, explícito, mas é 'atingível', ainda que não na sua totalidade objetiva, digamos assim.

pois é, não em sua totalidade objetiva como você diz. achismo. não gosto disso. prefiro me debruçar sobre o texto e procurar o que ele tem a me oferecer, já que tudo dependerá das diferentes leituras que se faz de uma obra.

Sobre aquele negócio da cobrança de originalidade e a condição da produção de obras 'revolucionárias', achei interessante o que a Dindii escreveu na coluna dela

e eu volto a insistir em um ponto que você continua ignorando, o de que a culpa é do autor que busca essa originalidade, e não a crítica. é o autor que quer ser diferente, e na maioria das vezes se estrepa com isso. não são todos, ainda bem, mas não dá para dizer que é a crítica que os condicionou a querer escrever assim, porque a crítica não se sustenta só nesse critério (como o tiago explicou muito melhor do que eu, aliás).
 
Só para aproximar um pouco mais do Nobel (hehe, esse semi-off-topic tá ótimo), Tiago, sei que a chance de historiadores e filósofos serem laureados é bastante remota, mas levando em conta esse ínterim, quem teria chances? Carlo Ginzburg, Hobsbawm, Zizek?

Acho que sim, tem possibilidade, ainda que esses nomes que vc citou estejam distantes, como exceção talvez do Hobsbawn, que já apareceu nas listas anteriormente. Ginzburg é até uma pedida, mas fica em aberto...

Penso em filósofos como Peter Sloterdijk, por exemplo, que mexeu várias vezes com a questão "europa". Ele, me parece, é um nome bastante plausível.
Alguns nomes extra-literários que eram bastante plausíveis morreram nos últimos anos: Levi-Strauss, por exemplo.

Acho que já está mais do que na hora de a Academia sair do roteiro "romancista", e mesmo "literatura"... mas...
 
Só para provocar um pouco (-risos-). Não é um pouco estranho falar do problema do autor (a necessidade de fazer algo novo), sem falar de intensão do autor? Afinal, noções como "originalidade" são bem recentes, e ela mesma é bem "historicizada" (o que não quer dizer que é relativista ou subjetiva), assim como a noção de "literatura", que só passa a existir com essa função que utilizamos (mais ou menos) até hoje a partir do fim do XVIII. Havia mais modelos a serem atingidos que superados (e era essa a ideia de qualidade que circulava por grandes autores - de Virgilio a Camões, de Esquilo a Molière, etc).
E é bom lembrar que a leitura tbm é uma atividade "criativa". Certamente não se lia Machado como se lê hoje... Portanto, acho difícil dizer que a crítica não se interessa por coisas "novas"...
 
E é bom lembrar que a leitura tbm é uma atividade "criativa". Certamente não se lia Machado como se lê hoje... Portanto, acho difícil dizer que a crítica não se interessa por coisas "novas"...

Não disse que a crítica não se interessa por coisas novas, mas que não é só isso que norteia a crítica.
 
Só para provocar um pouco (-risos-). Não é um pouco estranho falar do problema do autor (a necessidade de fazer algo novo), sem falar de intensão do autor?

Pois é, só se pode 'julgar' ou 'avaliar' algo baseado em parâmetros, em critérios ou em perspectivas teóricas. Tanto que um dos pontos-chave é justamente por em questão justamente esses critérios, pois é perante a eles que se irá chegar a uma opinião 'boa' ou 'ruim' da obra (estou simplificando aqui, estou ciente de que a coisa não é, definitivamente, tão simples assim).

Acho que não pensar a forma com que se procura ler ou 'avaliar' a obra pode levar a leituras que desconsideram a própria intenção do autor. Por exemplo, não se pode 'cobrar' do autor o que ele não se propõe a fazer. Não se pode querer 'avaliar' As Vinhas da Ira, por exemplo, levando em conta que ela é literatura fantástica, justamente porque o autor NÃO quis que ela fosse literatura fantástica.
 
Acho que não pensar a forma com que se procura ler ou 'avaliar' a obra pode levar a leituras que desconsideram a própria intenção do autor.

como eu já disse, nem sempre a ideia de intenção do autor é óbvia, ou objetiva. se você avalia a partir do que você ACHA ser a intenção do autor, você já está desconsiderando a real intenção do autor.
 
como eu já disse, nem sempre a ideia de intenção do autor é óbvia, ou objetiva. se você avalia a partir do que você ACHA ser a intenção do autor, você já está desconsiderando a real intenção do autor.

Sim e não. Sim, a intenção do autor não é sempre óbvia, aliás, boa parte dos livros não tem a intenção clara estampada na primeira página do livro, é algo que se apreende ao longo da leitura, ainda que, reitero, não em sua totalidde objetiva. E não, não acredito que seja mero achismo uma leitura de certo autor ou obra que leve em consideração não somente a obra em si, mas outras publicações do autor, entrevistas, as reflexões próprias dele, seu posicionamento filosófico/moral/político/ideológico/etc., as condições históricas nas quais a obra foi produzida e onde viveu o autor e assim por diante.

Anica, concordo quando você diz que a intenção do autor não será revelada tal e qual, objetivamente. Mas isso não é um erro ou uma distorção, porque é da própria natureza do conhecimento esse quinhão de subjetividade. Ele não deforma, ele condiciona, o detalhe é apontar a subjetividade e levá-la em consideração ao pesar os fatores, tanto da escrita do autor quanto da interpretação dessa escrita. Achismo é achar por mera conveniência ou acriticamente, fazer um levantamento profundo das condições que circundaram a produção, o autor e seu contexto histórico é mais do que isso.

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Tiago, além do Mommsen, quais outros historiadores foram premiados? O que o Mommsen tinha de sui generis que lhe valeu a láurea?
 
como eu já disse, nem sempre a ideia de intenção do autor é óbvia, ou objetiva. se você avalia a partir do que você ACHA ser a intenção do autor, você já está desconsiderando a real intenção do autor.

Sim e não. Sim, a intenção do autor não é sempre óbvia, aliás, boa parte dos livros não tem a intenção clara estampada na primeira página do livro, é algo que se apreende ao longo da leitura, ainda que, reitero, não em sua totalidde objetiva. E não, não acredito que seja mero achismo uma leitura de certo autor ou obra que leve em consideração não somente a obra em si, mas outras publicações do autor, entrevistas, as reflexões próprias dele, seu posicionamento filosófico/moral/político/ideológico/etc., as condições históricas nas quais a obra foi produzida e onde viveu o autor e assim por diante.

Anica, concordo quando você diz que a intenção do autor não será revelada tal e qual, objetivamente. Mas isso não é um erro ou uma distorção, porque é da própria natureza do conhecimento esse quinhão de subjetividade. Ele não deforma, ele condiciona, o detalhe é apontar a subjetividade e levá-la em consideração ao pesar os fatores, tanto da escrita do autor quanto da interpretação dessa escrita. Achismo é achar por mera conveniência ou acriticamente, fazer um levantamento profundo das condições que circundaram a produção, o autor e seu contexto histórico é mais do que isso.

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Tiago, além do Mommsen, quais outros historiadores foram premiados? O que o Mommsen tinha de sui generis que lhe valeu a láurea?
 

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