• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Nossas apostas para o Nobel 2010- Parte I

Luciano R. M.

vira-latas
Mais uma vez eu e o Tiago discutimos a respeito do Prêmio Nobel de Literatura, que será entregue na próxima quinta-feira, dia 7 de Outubro. Tal qual no ano passado, será um post divido em três partes: nessa primeira discorremos a respeito de nossas expectativas sobre o tipo de autor e os motivos da Academia Sueca; num segundo momento listaremos os autores que achamos passíveis de serem escolhidos; por fim, após o resultado, discutiremos o laureado.

LEIA O RESTO DO POST NO BLOG DO MEIA PALAVRA
 
[align=justify]Eu me divirto com esses posts, acho eles maneiríssimos, e como um total leigo no assunto, procura ficar sabendo mais sobre o prêmio, os motivos da Academia etc. e tal. Acho que vocês deveriam escrever mais posts sobre o Nobel, explicando como funciona a escolha, seleção, premiação entre outros expediente da galardão.

Sobre o Prêmio Nobel ficaram várias dúvidas, uma delas:

Rudyard Kipling, que vocês citaram, fico pensando sobre os motivos que o levaram a ser escolhido. Lembro que ele é autor daquele poema que não lembro o título mas que fala sobre o "fardo do homem branco", isso na época do Imperialismo inglês, quando o Sol nunca se punha no Império Britânico, ou seja, ele estava aí criando uma noção de inferioridade para as populações dos territórios dominados (com populações não-brancas), legitimando a exploração imperialista, embora não em todos os seus aspectos, obviamente.

Isso não seria um posicionamento que pesaria negativamente na escolha dele para esse prêmio? É óbvio que isso não quer dizer que a obra dele inteira tenha essa visão, até mesmo porque não li a obra completa dele, mas fico pensando.

Espero não ter divagado muito.

Pergunto mais depois.[/align]
 
Báh eu adorei o artigo, confesso que sempre fico muito por fora do cenário do Nobel, e é muito bom poder acompanhar as opiniões de vocês sobre as apostas :)

estrelinhas coloridas...
 
Po, eu fico feliz de tu gostar... E bem, quanto ao resto que concerne o post... A gente tá se conversando por mp e tal, né ;)

Mas assim, quanto ao Kipling- ele também escreveu o 'Livro da Selva'. Segundo a Academia ele recebeu o prêmio "em consideração do poder de observação, originalidade da imaginação, virilidade das idáias e talento memorável para a narrativa que caracterizam as narrativas desse autor mundialmente famoso".
E ele soa um tanto quanto arrogante e preconceituoso mesmo- mas ainda assim eu acredito que ele era quem melhor retratou o modo como o Império Britânico era (Orwell, inclusive, o denominou de 'profeta do Império'.)e ainda o fazia de um ponto de vista singular- tanto ele quanto seus pais se consideravam 'anglo-indianos' o que lhes conferia uma posição singular: ele era um dos dominadores mas, em certo aspecto, carregava algo do povo que dominava.
E acaba por ser um tanto irônico que o primeiro autor de língua inglesa a receber o prêmio não se considerasse plenamente inglês e considerasse o período em que foi educado no centro do Império com certo horror- que dividia espaço com um amor um tanto quanto chauvinista. Essa contradição dentro de Kipling era, de certa modo, um retrato de seu tempo.

Claro, que tudo isso é o que eu penso.
 
Báh Luciano juro que um dia ainda chego nesta tua capacidade de análise XD
Adoro acompanhar o Nobel pelos teus olhos :sacou:
 
[align=justify]Valeu pela resposta Luciano. Devo dizer que isso que disseste realmente faz sentido, porque Kipling cresceu com criadas que o ensinaram a falar a língua hindu (essa era a língua falada lá naquela época, né? ou até hoje...enfim), lembro de ter lido isso em alguns dos livros dele que li.

Essa condição sui generis em que ele viveu proporcionou a ele uma experiência diversa do que outros escritores do período (aquele livro do Edward Said, Cultura e Imperialismo, é muito legal, traz uma porrada de escritores que versaram sobre as novas terras, os novos povos, as exoticidades etc., desde Conrad até Haggard, de Kipling até Defoe, recomendo). Essa posição em que ele se encontrava, com um pé em na colônia e outra na terra do colonizador, lhe possibilitou formar uma visão diferente, que chamou a atenção da Academia que o laureou. Os contos de Kipling, inclusive, são considerados por muitos como a melhor parte da sua obra e o que pode fazer frente a outras obras clássicas da Literatura Mundial (saiu recentemente naquela coleção da Editora Abril um livro com contos do Kipling: O Homem que Queria ser Rei e outras histórias).

O caso dele, embora você tenha mostrado aqui o que levou a escolha da Academia Sueca, é interessante, pois mesmo ele tendo essas facetas discrepantes, ainda assim conseguiu reconhecimento a esse ponto. Valeu pela elucidação Luciano.

Lanço outras perguntas então:

Tendo em vista o caso do Kipling, que mesmo tendo escrito coisas que supostamente o denegriram ("fardo do homem branco"), conseguiu o reconhecimento e os louros "nobélicos", pela sua criatividade, originalidade e talento narrativo, me pergunto duas coisas:

1. Quais são os critérios da Academia Sueca para escolher os vencedores? Você e o Tiago comentaram justamente os critérios que acreditam que serão levados em consideração esse ano, mas penso de maneira mais geral: qual o posicionamento da Academia frente aos grandes eventos mundiais? São levados em conta as posturas dos autores, atuação política-cultural-social? critérios "puramente literários"? Winston Churchill recebeu um Nobel de Literatura e Sartre, embora tendo recusado, foi reconhecido pela Academia. O que leva a Academia a elevar ao panteão literário figuras tão diversas?

2. Que pessoas formam a Academia Sueca? Quantos são? Quais os critérios de ingresso nesse seleto grupo? São consultadas outras pessoas? Qual a sua relação com órgãos, países, organizações, universidades, centros de estudos etc. etc. etc. ao redor do mundo?

Espero não estar sendo abelhudo demais.[/align]
 
Haha, obrigado pelos elogios, Mi!

E Lucas, vamos as suas perguntas (que eu não posso dizer que saiba a resposta exatamente, eu sei uma coisinha ou outra, pesquiso um pouco e imagino uma parte):

1- Os critérios são muito mais políticos do que literários- logo eles variam muito de acordo com a época. Claro, acredito que exige-se que o autor tenha aquela coisa do alcance universal: não se premiaria um autor que serve a um universo demasiado restrito (o mais próximo da excessão aqui é o Dario Fo, eu acho, pois as obras dele são bastante ligadas aos acontecimentos da época em que ele as escreve- é uma literatura quiçá um tanto fugaz)- o que não quer dizer que os autores devam ser mundialmente famosos ou coisa assim.
Um bom exemplo de como o prêmio é político é o caso do finlandês Frans Eemil Sillanpää. Era um excelente escritor e o livro que o levou a receber o prêmio, 'Santa Miséria', falava sobre sua terra natal, mas também falava sobre como as condições miseráveis e cruéis em que o homem é, por vezes, forçado a viver, moldam sua alma de modo rudimentar- mas sem que algumas coisas se percam, nunca.
Oficialmente recebeu o prêmio "por seu profundo entendimento dos camponeses de seu país e da forma artísticamente bela com que ele retratou o modo como vivem e sua relação com a Natureza".
O verdadeiro motivo, porém, foi que a Noruega havia sido tomada por Hitler e a Finlândia, inicialmente simpática ao Führer, decidiu abandoná-lo. A Rússia havia lhes virado as coisas e os únicos aliados da Finlândia eram os suecos- que, porém, não podiam ajudá-los sob ameaça de serem invadidos pelos nazistas. A solução foi laurear Sillanpäa, membro do Partido Comunista Finlandês. Com o dinheiro do prêmio, compraram-se armas e vermelhos e brancos uniram-se contra as ameaças externas.

2- A Academia Sueca foi fundada em 1786 pelo rei Gustavo III, seguindo os moldes da Academia Francesa. Desde 1901 ela é responsável por atribuir o prêmio Nobel de literatura. A Academia também é responsável pela regulação do idioma sueco, além de publicar dicionários e jornais. São 18 membros- que se candidatam e são eleitos pelos outros- mas nem todos são escritores: apenas a metade, atualmente. Mas sempre pessoas de 'notável conhecimento literário', sendo os não escritores professores, críticos, lingüistas. Eis a lista:

1. Lotta Lotass (nasc. 1964), escritora, eleita 2009
2. Bo Ralph (nasc. 1945), linguista, eleito 1999
3. Sture Allén (nasc. 1928), professor, eleito 1980, secretário permanente 1986–1999
4. Anders Olsson (nasc. 1948), professor, eleito 2008
5. Göran Malmqvist (nasc. 1924), professor, eleito 1985
6. Birgitta Trotzig (nasc. 1929), escritora, eleita 1993
7. Knut Ahnlund (nasc. 1923), professor, eleito 1983, não participa desde 2005
8. Jesper Svenbro (nasc. 1944), poeta/investigador, eleito 2006
9. Torgny Lindgren (nasc. 1938), escritor, eleito 1991
10. Peter Englund (nasc. 1957), professor, eleito 2002, secretário permanente 2009-
11. Ulf Linde (nasc. 1929), professor, eleito 1977
12. Per Wästberg (nasc. 1933), escritor, eleito 1997
13. Gunnel Vallquist (nasc. 1918), professora, eleita 1982
14. Kristina Lugn (nasc. 1948), escritora, eleita 2006
15. Kerstin Ekman (nasc. 1933), escritora, eleita 1978, não participa desde 1989
16. Kjell Espmark (nasc. 1930), professor, eleito 1981
17. Horace Engdahl (nasc. 1948), professor, eleito 1997, secretário permanente 1999–2009
18. Katarina Frostenson (nasc. 1953), escritora, eleita 1992
 
[align=justify]O dream team da crítica literária mundial, hehe!

Caraca, essa questão do finlandês premiado é sensacional mesmo, hein? As histórias que circundam a premiação do Nobel dariam ótimos livros. Uma coisa bem legal quando da atribuição do Nobel é a "justificativa" que a Academia dá: ao Steinbeck, por exemplo, a Academia disse que o laureou por conta da literatura de aguda percepção social e pela solidariedade com os despossuídos.

Isso só vem a confirmar o que tu disse, que se trata de um prêmio que leva muito em consideração o lado político da coisa, o que o escritor representa para o mundo, seja enquanto cidadão do mundo, seja enquanto artista e literato.

Outras perguntas:

Todos os membros da Academia são suecos? A questão da nacionalidade interfere nas decisões? Lembro que naquela coleção de livros Biblioteca do Prêmio Nobel (acho que é esse o nome) tem o discurso da cerimônia de premiação, onde são mostrados alguns parâmetros, critérios e aspectos do processo de escolha do premiado e a preocupação em não repetir escolhas de escritores de mesmos países seguidamente estava presente lá.[/align]
 
Muito bom o texto e os posts do tópico. Parabéns ao Luciano, ao Tiago (quem é? está no Meia?) e ao Lucas pelas suas contribuições.

Dando um pequeno palpite no "preconceito" do Kipling, é sempre bom ter em mente que não é tarefa simples julgar a visão de escritores que viveram em outras épocas, utilizando a nossa percepção atual do mundo e de seus valores.
 
Tatarana disse:
Muito bom o texto e os posts do tópico. Parabéns ao Luciano, ao Tiago (quem é? está no Meia?) e ao Lucas pelas suas contribuições.

Dando um pequeno palpite no "preconceito" do Kipling, é sempre bom ter em mente que não é tarefa simples julgar a visão de escritores que viveram em outras épocas, utilizando a nossa percepção atual do mundo e de seus valores.

[align=justify]Por esse motivo que tive minhas ressalvas e dúvidas. Não dá para dizer também que, por conta dos versos de um poema, a obra literária inteira dele não tem valor ou que reproduz as mesmas idéias, afinal, não só os leitores e leituras são diversos e mutantes mas também os escritores.

Depois de toda essa discussão só vejo que realmente vou ter que aprofundar minhas leituras de Kipling, hehe.[/align]
 
Sim, Lucas, todos suecos. Já houveram finlandeses e faroeses- mas que tinham sueco como idioma materno. Mas alguns não suecos fazem as indicações, via de regra os vencedores do prêmio em anos anteriores.
E a nacionalidade interfere sim: Selma Lagerloff foi a primeira autora sueca a receber o prêmio, justamente porque a Academia tinha receio em dá-lo a um sueco- com medo de parecer bairrista ou algo assim. O Pamuk ganhou em parte por ser Turco, pela entrada da Turquia na UE (meio que não declarado que isso influi, mas é na cara demais pra eles conseguirem negar).
 
[align=justify]A Academia tem uma voz mundial, ela é "meio que" uma porta-voz da Literatura Mundial. Espero não estar exagerando quando digo isso, mas acho que é o maior prêmio de Literatura, não?

Nos critérios políticos dela que comentamos aqui, ela assume um posicionamente um tanto diferente do Oscar, já que ela leva em consideração uma atuação política, percepção social, retratos humanitários, artísiticos etc. que vão muito mais fundo do que a premiação norte-americana.

Parece que a "sensibilidade" da atribuição do Nobel é maior, há muito mais fatores em jogo, há toda uma situação ideológica, de pesquisa e reconhecimento intelectual que ultrapassa as raias do artístico e literário, o autor, para ser laureado (essa é a minha visão, me corrija se estiver errado) deve estar engajado com mudanças, deve estar em sintonia com a condição humana, com a configuração mundial, seja política, social ou espiritual...tem que ser transcendental, original, completo...

Hehehe, divagações demais?[/align]
 
Tatarana disse:
Muito bom o texto e os posts do tópico. Parabéns ao Luciano, ao Tiago (quem é? está no Meia?) e ao Lucas pelas suas contribuições.

Eu sou um fantasma que ronda o Meia (-risos-)
Eu andei (ando) meio desaparecido, mas espero voltar aos poucos...

Qunado a Kipling... em 1900 e bolinha o imperialismo não era algo "criticável", mas era mesmo um estado de coisas... Isso só virou política depois da primeira, talvez da segunda guerra mundial...Antes, era política de contenção de massas...

Vcs sabem o primeiro lugar em que se ensinou literatura inglesa nas escolas? Foi na India... Eram "modelos para representar o bem viver" nas colonias... Na Inglaterra se estudavam os clássicos, i.e., "literatura de verdade"

Dar o prêmio para kipling não passa sem suspeita... os tempos mudam tbm...

Critérios da academia: não são muito claros, mas eu diria que são os mesmo do Le Monde Diplomatique (-risos-) - de esquerda, mas não comunistas (-risos-). Enfim: direitos humanos, democracia, liberdade de expressão, igualdade, etc estão mais ou menos implicitos, seja lá o que essas coisas querem de fato dizer...
 
Aliás, salvo engano, nós discutimos muitas dessas questões nas Apostas do ano passado... Pensei em voltar a isso, mas achei que seria repetitivo...

Por favor, deem uma olhada nos arquivos do meia...
 
A questão da nacionalidade infere, principalmente depois do presidente da academia dizer que eles não vão premiar norte-americanos e que o que interessa hoje tá na Europa...

Le Monde Diplomatique, de novo (-risos-)
 
Acho que o Tiago já falou, melhor do que poderia sequer imaginar em falar. haha
Mas sim, todos esse fatores influem Lucas... E eu não acho comparável ao Oscar- vejo os dois em um âmbito bastante, bastante diverso mesmo...
 
Lord_Ueifoul disse:
Aliás, salvo engano, nós discutimos muitas dessas questões nas Apostas do ano passado... Pensei em voltar a isso, mas achei que seria repetitivo...

Por favor, deem uma olhada nos arquivos do meia...

[align=justify]É que perguntei de modo mais geral mesmo. O que vocês comentaram no ano passado e nesse ano representa as expectativas e impressões do ano passado e desse. Obviamente que não muda tão drasticamente assim de um ano para o outro, mas certamente, por estar "antenada" com as mudanças mundiais, a Academia tem seus critérios historicamente construídos, ou seja, vai mudando conforme o tempo vai passando e as "grandes questões" da humanidade vão surgindo, sendo respondidas, se obscurecendo etc.

Gostei da sua definição resumida dos critérios Tiago: de esquerda mas não comunista, hehehe. É mais ou menos o que eu queria dizer desde o começo. Belo poder de síntese, XD[/align]
 
Isso é verdade Lucas, mas é um pouco complexo dizer quais são os critérios da Academia... Pelo menos antes que saia o resultado. Fazer isso de modo retrospectivo é um tanto quanto mais fácil... Até ia falar o que eu acho, mas vou guardar pro post- e manter o elemento surpresa (ou não).
 
Nossas apostas para o Nobel 2010- Parte II

Continuando com nossas conversas sobre o Nobel, cujo resultado sai amanhã, (quinta-feira, 7 de Outubro) temos agora nossas apostas. Um breve comentário de cada sobre o que espera e, em seguida, listas: as apostas do Tiago e as minhas, e a do Ladbrokes- uma casa de apostas bastante tradicional, na qual todo ano a imprensa busca os ‘favoritos’ do Nobel.
LEIA O RESTO DO POST NO BLOG DO MEIA-PALAVRA
 
Li sobre o Ngugi hoje num blog de literatura do Le Monde... um dos caras que aposta nele acertou ano passado...

taí o link: http://passouline.blog.lemonde.fr/2010/10/05/le-nobel-a-ngugi/
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo