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Nick Cave & The Bad Seeds

Phantom Lord

London Calling
Nick Cave & The Bad Seeds

BIOGRAFIA

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Com o fim do Birthday Party em 1983, seu vocalista e letrista, Nick Cave, criou o The Bad Seeds, um supergrupo pós-punk formado por Mick Harvey, ex-Birthday Party, na bateria, Barry Adamson, Magazine, no baixo, e Blixa Bargeld, Einstürzende Neubaten, na guitarra. Com o the Bad Seeds, Cave continuo explorando sua obsessão por temas religiosos, morte, amor, violência, sempre mesclando blues, música gospel, rock e punk em suas composições. Outra característica da música de Nick Cave é sua peculiar forma de cantar, recitando suas letras como se fossem poesias, influência direta de Leonard Cohen.

Seu primeiro disco com o The Bad Seeds foi From Her to Eternity, lançado em 1984, que trazia uma cover impressionante versão para In The Ghetto, música de Elvis Presley. Este primeiro disco já dava dicas do que viria a seguir, principalmente em The Firstborn is Dead, cada vez mais usando o blues e a country music, em suas viagens ´góticas´. Com Kicking Against the Pricks, um álbum apenas de covers, Cave consegue seu primeiro número um nas paradas inglesas com a canção The Singer. O disco também reforça a reputação de Cave como um interprete original e vocalista digno de nota.

No mesmo ano, 1986, sai o sucessor de Kicking Against the Pricks, o álbum Your Funeral... My Trial, disco mais conhecido de Nick Cave no Brasil - que chegou a morar por aqui no final dos anos 80, começo dos anos 90. Um ano depois, Cave participa de Wings of Desire, filme de Wim Wenders, mas só volta com sua banda em 1988, quando lança Tender Prey, que contou com a participação de Kid Congo Powers, guitarrista do Cramps. Em 1989 nova participação no cinema, agora para o filme australiano Ghosts... of the Civil Dead, no qual interpreta um prisioneiro e grava a trilha ao lado de Harvey e Bargeld.

Em 1990 sai The Good Son, considerado seu disco mais relaxando e calmo, apesar das letras mais pesadas e obscuras, mantendo-se ligado ao seu estilo próprio. Neste álbum, Cave mostra uma nova influência ao cantar em português e inglês a canção Foi Na Cruz. Mais dois anos se passam até que Henry´s Dream é lançado. No ano seguinte, Cave lança seu primeiro álbum ao vivo, Live Seeds. Mantendo a tradição de lançar um disco de estúdio a cada, aproximadamente, dois anos, Cave lança em 1994 o álbum Let Love In, considerado por muitos críticos como o melhor disco da carreira do músico. No mesmo ano, Cave é convidado para se apresentar no Lollapalooza.

Passam-se outros dois anos e chega às lojas Murder Ballads, uma coleção de canções que tratam de um mesmo tema: assassinato. Murder Balladas é o maior sucesso comercial que Nick Cave tem na carreira. Neste trabalho, Cave divide os vocais com Kylie Minogue, em Where the Wild Roses Grow, e P J Harvey, em Henry Lee. Paradoxalmente, Cave faz, no álbum seguinte, The Boatman´s Call, um trabalho muito mais introspectivo e pessoal, deixando um pouco de lados as perversões de Murder Ballad.

Secret Life of the Love Song, lançado em 1999, pode ser considerado o disco mais experimental de Cave, com apenas duas canções, The Secret Life of the Love Song, com mais de 28 minutos, e The Flesh Made Word, com quase 17 minutos, o disco nada mais é que um instrumento para que Cave recite duas poesias de sua autoria. Dois anos depois, quatro se levarmos em consideração que o último disco não contou com a participação dos Bad Seeds, o cantor lança No More Shall We Part. O disco mostra Nick Cave provando que sabe falar de amor, sem usar ironias, sarcasmos ou resoluções violentas.

Nocturama, disco de 2003, é considerado o mais fraco de toda a carreira de Cave, no álbum, o músico perde toda sua força e beleza. A explicação para isso, de acordo com muitos críticos, é que neste trabalho, Cave simplesmente gravou um disco por obrigação e não por pura vontade própria, por outro lado, Nocturama é o disco mais pop e acessível de Cave, lembrando, até, o trabalho de algumas bandas mais novas. Mas é no disco seguinte, o duplo Abbatoir Blues/The Lyre of Orpheus, que Cave resgata sua criatividade, coincidentemente ou tragicamente, este é o primeiro disco sem Blixa nas guitarras. O disco foi gravado em apenas 16 dias e contou com a produção de Nick Launay, que já havia trabalhado com Kate Bush, Midnight Oil, Girls Against Boys, Silverchair e INXS. Abbatoir Blues é um disco mais roqueiro, com mais guitarras, já The Lyre of Orpheus contrasta com Abbatoir Blues por ser um disco mais calmo, mais teatral e que não deve ser ouvido logo após Abbatoir Blues. Os discos são diferentes, apesar de terem sido lançados juntos, e não se complementam.

Em 2005, Nick Cave trabalha em outra trilha sonora, agora para o filme The Proposion. Dois anos depois, em 2007, outro disco ao vivo é lançado, The Abattoir Blues Live e Cave resolve que é hora dos Bad Seeds tirarem férias. No mesmo ano o vocalista começa um novo projeto, a banda Grinderman.

Em abril de 2008 foi lançado o décimo-quarto disco de estúdio, Dig, Lazarus, Dig!!!. Para variar, o álbum foi recebido sob a benção quase unânime de crítica e público. Baseado na história do personagem bíblico Lazarus, o álbum traz uma apuradíssima abordagem pop sobre os grandes temas de Nick Cave: religião, amor, morte.



(Biografia mais completa)
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DISCOGRAFIA

Nick Cave And The Bad Seeds

1984 - From Her to Eternity
1985 - The First Born Is Dead
1986 - Kicking Against the Pricks
1986 - Your Funeral... My Trial
1988 - Tender Prey
1990 - The Good Son
1992 - Henry's Dream
1993 - Live Seeds (ao vivo)
1994 - Let Love In
1996 - Murder Ballads
1997 - The Boatman's Call
1999 - The Best of Nick Cave and the Bad Seeds (coletânea)
2001 - No More Shall We Part
2003 - Nocturama
2004 - Abattoir Blues & The Lyre of Orpheus
2008 - Dig, Lazarus, Dig!!!

Grinderman

2007 - Grinderman
2010 - Grinderman 2

Trilhas Sonoras
Nick Cave and Warren Ellis

2005 - The Proposition
2007 - The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford
2009 - The Road


DISCOGRAFIA COMENTADA

Nick Cave costuma ser associado à canções depressivas, momentos lúgubres, narrativas macabras, etc. Se é verdade que muitas dessas ligações sejam procedentes, também é fato que essa é apenas uma das facetas desse muito comentado e pouco ouvido (no Brasil) compositor australiano. Em muitas ocasiões, ele apresenta um humor ácido e inusitado, alternando idéias musicais sempre dentro de um formato semi-acústico - as guitarras recebem o mínimo de efeitos, no máximo um wah-wah aqui, um chorus ali, um ou outro tremolo e olhe lá; baixo e bateria desempenham seus papéis sem "preparação" prévia ou alteração de timbres; as cordas e os teclados (órgão e piano, nada digital) são mais ousados nas harmonias que nos arranjos. Definitivamente, nada que permita o encaixe da banda em termos como "gótico", "pós-punk" ou clichês afins.

Comentar a discografia de Nick é tarefa capciosa, já que ele possui uma carreira extensa, iniciada em 1976 com a banda The Birthday Party e que se estende até os dias de hoje. Além da formação já citada, Cave também gravou álbuns, EPs e participações em discos com Lydia Lunch, Die Haut, Mick Harvey e outros. Aqui, será comentada sua discografia com os Bad Seeds, banda que o celebrizou e que também responde por sua maior e melhor produção musical. Sim, pois pelo que foi mostrado nas versões de Let It Be e Here Comes The Sun (você sabe de quem) presentes na trilha sonora do filme Uma Lição de Amor (I Am Sam, lançada no Brasil pela Sum Records), Cave desacompanhado não apresenta nada muito melhor que arranjos convencionais de churrascaria. Também está listada a formação que gravou cada disco, já que os Bad Seeds mudam de acordo com as necessidades musicais e relacionamentos pessoais de Nick, Mick Harvey e Blixa Bargeld (seus mais fiéis escudeiros).

Que o texto abaixo ajude neófitos e até mesmo supostos conhecedores a terem uma visão mais ampla da obra de uma das melhores bandas do século XX.

por Leonardo Vinhas

Fonte

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FROM HER TO ETERNITY (1984)

A estréia das "sementes más" não ajuda em nada a dirimir a fama de Cave como um artista sombrio. O disco é opressivo, pesado, sufocante. Musicalmente sombrio e obssessivo, com letras que passeiam por ambientes sórdidos em companhia de personagens não menos. O único refresco melódico é a cover de In The Ghetto, celebrizada por Elvis em sua fase crooner de Las Vegas - mesmo assim, ela versa sobre uma criança abandonada que se marginaliza e termina assassinada pela polícia. Não que não existam ótimos momentos: a claustrofóbica Cabin Fever, o épico sombrio Saint Huck e a aterrorizante recriação de Avalanche (Leonard Cohen) respondem pela qualidade do álbum, sem contudo facilitar sua audição. O CD traz como bônus a muito superior regravação da faixa-título feita em 1987 para o filme Asas do Desejo, de Wim Wenders.

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THE FIRST BORN IS DEAD (1985)

Longe do clima sinistro do anterior, mas ainda com toques mórbidos, esse é quase um álbum de blues, com fortes pitadas de rock'n'roll. Nunca a admiração de Cave pelos Stooges ficou tão clara em termos musicais, originando canções que se resumem a três ou quartos acordes atacados com fúrias e intensidades. Dessa receita, saem grandes faixas, como a violenta Train Long-Suffering e Tupelo (baseada na obssessão de Nick com a morte do irmão gêmeo de Elvis Presley logo no parto, relacionando o tema com tradições bíblicas). Nessas duas faixas debutam os vocais de apoio que mais tarde seriam marca registrada da banda. Dentre os blues quase ortodoxos, Black Crow King e Knockin' On Joe são boas amostras do que o álbum oferece. E ainda uma versão de Bob Dylan (Wanted Man) envolvida num crescendo pesado que nunca chega a explodir. Disco f*.

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KICKING AGAINST THE PRICKS (1986)

Primeiro álbum a ser lançado no Brasil e também o primeiro a trazer o baterista alemão Thomas Wydler (da banda instrumental Die Haut), que ao lado de Harvey e Bargeld mantém se fiel aos Bad Seeds até hoje. Um disco de covers, alterna muitíssimo bem os climas, indo do baladão deslavado (By The Time I Get To Phoenix, de Johnny Rivers, e Something's Gotten Hold of My Heart, de Gene Pitney) a canções tradicionais americanas (Long Black Veil e Sleeping Annaleah), incluindo ainda doo-wop magistral (Jesus Met The Woman At The Well, dos Alabama Singers, sobre o encontro de Jesus Cristo com uma samaritana em um poço), blues nervoso (Ï'm Gonna Kill That Woman, de John Lee Hooker, bem popular em São Paulo na época) e recriações inusitadas e perfeitas para All Tomorrow's Parties (Velvet Underground) e Hey Joe (aquela). A versão em CD acrescentou duas canções ao tracking list original do vinil: Black Betty (de Leadbelly) e Running Scared (Roy Orbison).

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YOUR FUNERAL... MY TRIAL (1986)

Um dos álbuns preferidos de Nick Cave, lançado originalmente como vinil duplo de 45 rpm. Aparentemente um disco muito sombrio, apesar do humor sarcástico e da melodia "pra cima" de Sad Waters. Procurando, percebe-se mais. Segue com o rock'n'roll furioso de The First Born Is Dead nas fortes Jack's Shadow, Scum e Hard On For Love, mas também investe em temas mais fúnebres e perversos - a contraposição de imagens de Santa Verônica e o Santo Sudário com uma prostituta dá uma idéia do que se apresenta lírica e musicalmente nessa obra. A faixa-título e Stranger Than Kindness são deleite para quem cultiva o baixo astral. Em resumo: as três facetas mais freqüentes de Nick Cave And The Bad Seeds - o rock furioso, o blues descarnado e as baladas funestas - separadas em nove fortes canções. É neste álbum que está o épico marcial The Carny, incensado por críticos (mas que não é tudo o que dizem).

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TENDER PREY (1988)

Disco perfeito. Aprendidas todas as lições de composição dos álbuns anteriores, Cave e os Bad Seeds fazem seu primeiro disco de banda, com participação de todos (principalmente de Harvey), erigindo uma identidade sólida e atingindo um padrão insuperável de qualidade, igualado apenas por eles mesmos. Os backing vocals fortes, os vocais de Cave desdobrando-se do menestrel canastrão ao narrador passional, a riqueza instrumental, a diversidade de idéias - ingredientes de uma concepção musical sem par (e olha que o Crime And The City Solution, banda liderada por Harvey, bem que tentou copiar). The Mercy Seat, que narra as impressões de um condenado à espera da morte numa densidade de assustar góticos lúgubres, tornou-se a obra-prima deles, secundada por outros clássicos como Deanna (favorita dos brasileiros, um r&b rapidinho com letra assassina inspirada em I Don't Want Your Money, de John Lee Hooker), City Of Refuge (blues-rock repetitivo e pesado sobre paranóia urbana), Slowly Goes The Night (balada de piano bar semi-jazzística, com piano cafajeste e vocais cafonas, linda!) e Watching Alice (depressão traduzida em música). New Morning passou a fechar todos os shows da banda, talvez para que os concertos terminem com a idéia que existe a esperança mesmo entre a mais desconcertante desgraça, e é outro geande momento. Aliás, o disco todo é.

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THE GOOD SON (1990)

Após uma bem-sucedida turnê brasileira em 1989, o artista ficou tão fascinado pelo Brasil (ele que já tinha grande interesse pelo país graças ao filme Pixote, de Hector Babenco) que resolveu gravar o álbum inteiro aqui (e casar com uma brasileira que conheceu durante a tour também deve ter pesado na decisão, claro). Gravado no estúdio Cardan, em São Paulo, e mixado por Flood (U2, Depeche Mode) em Berlim, The Good Son é o primeiro disco a se concentrar no lado "baladeiro" de Cave. Repleto de referências bíblicas, as faixas são plácidas, suaves, algumas até melodramáticas. A única exceção à "leveza" é a faixa título, que combina um refrão choroso com um riff grave e pesado, balizado por vocais de inspiração gospel (cantados pelos próprios Bad Seeds). Inclui ainda a transformação de um hino evangélico em refrão (Foi Na Cruz, cantado em bom português). Isoladamente, tem excelentes faixas; no conjunto, parece faltar algo - que mais futuramente se descobriria o que era: uma consistência maior em um formato (canções lentas entre esperança e melancolia) no qual a banda superaria seu ídolo Leonard Cohen.

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HENRY'S DREAM (1992)

Ciente que até os fãs se assustaram com o álbum anterior (alguns estrangeiros - alemães, principalmente - culparam a "má influência" do Brasil na suavização melódica e lírica), Cave retoma a fúria roqueira de The First Born Is Dead sem violentar tanto os ouvidos. O resultado é excepcional: as quatro primeiras faixas estão entre as melhores produções do combo. A abertura se dá às trovoadas de violão, guitarra e órgão (Papa Won't Leave You, Henry), seguindo-se uma canção furiosa (I Had A Dream, Joe), quase punk, distorcendo a tradição vocal dos spirituals no refrão (o canto das igrejas evangélicas negras dos EUA). Na seqüência, a faixa mais pop de sua carreira, Straight To You, uma balada dilacerante que poderia ser associada ao britpop (Morrissey, notadamente), não fosse a letra de amor incondicional à beira do Apocalipse ("E as carruagens de anjos estão colidindo / E os santos estão todos bêbados e uivando para lua / E a angústia vem à galope / Mas eu gritarei, amor, e virei correndo / Direto para você"). Fechando o bloco, Brother, My Cup Is Empty saracoteia guitarras acústicas numa canção sobre um bêbado de saco cheio com sua esposa, sua cidade e até com o garçom que o serve. Encerram o álbum outras três fortes canções repletas de álcool, desespero e assassinato, precedidas pela delicadeza de When I First Came To Town (com curioso dueto entre Cave e o pianista Conway Savage) e pela funesta Chrstina The Astonishing, que contém o verso "o fedor do pecado humano vai além do que consigo suportar".

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LIVE SEEDS (1993)

Disco ao vivo dificilmente é legal para quem não esteve na platéia no dia, e esse não é exceção. Sem exibir metade da vitalidade habitual, os Bad Seeds acabam deixando as cinco canções de Henry's Dream meio frouxas, sem peso - aliás, até The Mercy Seat perde impacto aqui. Pelo constato em vídeos e até pela apresentação (excelente) no Brasil, eles não estavam num dia muito bom. Claro que sempre é bacana ouvir New Morning, aqui ainda mais intensa na interpretação, condição que também vale para The Ship Song e The Good Son - talvez por serem canções que exigem mais soul que garra. A única inédita, Plain Gold Ring, é um cover modorrento de um baladão obscuro e antigo, sem o brilho da clássica Five Hundred Miles, que seria apresentada em terra brasilis numa versão emocionante. Na edição importada, o CD foi lançado em um pacote especial com um vídeo que trazia o show na íntegra. Tanto um como outro são recomendáveis apenas para completistas.

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LET LOVE IN (1994)

Se o problema era tesão, isso vem de sobra nesse belíssimo disco, marcado pelo desespero e desencantamento com o amor em si (Nick estava se separando de sua esposa, e alguns Bad Seeds também não estavam exatamente felizes). É o mais rico musicalmente na discografia da banda e só apresenta uma faixa mediana: Do You Love Me? (Part 2) - até porque a (Part 1), cujo clipe foi gravado num puteiro classe Z em São Paulo, é uma aterrorizante "chamada na chincha" para com a pessoa amada, com sinos e backing vocals ameaçadores. Thirsty Dog e Jangling Jock são rockões barulhentos, rápidos e furiosos. Loverman, gravada pelo Metallica no disco Garage Days Re-Revisited, é cínica, macabra e mistura o temor e o fascínio pelo cramulhão ao desejo por uma mulher. O tinhoso reaparece como O Corruptor em Red Right Hand, um micro-tratado sobre o demo (de deixar teólogo de queixo caído) em forma de canção pop, tanto que é o maior hit dos Bad Seeds em terras americanas, constando na trilha do primeiro Pânico e no disco Songs In The Key Of X "dedicado" à série Arquivo X. Ainda tem uma balada pop com discreta incursão bluesy (Nobody's Baby Now) e uma hilária predição da própria morte em Lay Me Low.

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MURDER BALLADS (1996)

O título revela tudo sobre as letras, todas narrativas sobre assassinatos mais ou menos passionais, mas não denota o lado musical. Nem tudo aqui é balada - tem um "quase-country" fantasmagórico e chato (Crow Jane), névoas harmônicas em tons muito graves (Song of Joy), minimalismo pesado e pervertido (Stagger Lee) e até tentativas frustradas (ainda que passáveis) de revisitar Tender Prey: Lovely Creature e O'Malley's Bar. Das baladas proprimanete ditas, foram extraídos dois hits maciços na Austrália que também se tornaram populares na Europa: os duetos Henry Lee (com PJ Harvey, na época esposa recém-casada com Cave) e Where The Wild Roses Grow (com Kylie Minogue, sobre uma garota inocente assassinada por um namorado perturbado que enlouquece com sua castidade). Os simples e ótimos clips dessas canções favoreceram bastante seu sucesso, talvez por exibirem belas mulheres (as cantoras que participam das faixas - até PJ está linda) em histórias envolventes e surpreendentes. As duas moças se juntam ao bebum Shane McGowan (ex-The Pogues) e à poetisa Anita Lane para dividir com Nick os vocais da irônica Death Is Not The End, que encerra o álbum legando uma sensação bizarra ao ouvinte, que não consegue decidir se gostou, se achou meio depressivo ou se ficou assustado. E isso porque nem falamos da suíte de choros The Kindness of Strangers... Lúgubre.

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THE BOATMAN'S CALL (1997)

Outro relacionamento encerrado (com PJ dessa vez), outro grande disco como exercício de terapia e exorcismo interno. Porém, se em Let Love In o desespero dava o tom, aqui a esperança é fundamental, e o endeusamento da mulher, superior a Deus e o Diabo ("Nenhum Deus no mais alto dos Céus / Nem demônio algum sob o mar / Poderia fazer o tento que você fez / De me colocar de joelhos", canta Cave em Brompton Oratory) chega a ponto de menosprezar o ser masculino (em Idiot Prayer). Musicalmente, o álbum é composto por canções conduzidas ao piano (às vezes, com o baixo preciso de Casey acompanhando com maestria), recebendo intervenções discretas e certeiras dos outros instrumentos, que sutilmente fazem a canção acontecer e revelar-se de rara beleza. Assim acontece a guitarra em Brompton Oratory, com o violino em Far From Me e com o órgão em (Are You) The One That I've Been Waiting For? e Lime Tree Arbour. Wydler surpreende por saber quando não inventar na bateria e prova que nem todo bom baterista precisa ser uma máquina de viradas (coisa que ele também faz bem). Completamente composto por Cave (letra e música), esse discão se define a partir da faixa inicial, Into My Arms, que ganhou o clipe mais angustiante da história (apenas closes p&b em faces aos prantos). A letra? Fé e amor sendo distinguidos para logo ser provado que eles são todos parte de um único todo, deixando a esperança de reconciliação. Ouça e tente ficar alheio - mesmo que não entenda a letra, o baixo, o piano e a voz de Nick se encarregarão de deixá-lo sem palavras.

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NO MORE SHALL WE PART (2001)

Outra obra-prima, quase da mesma cepa de Tender Prey (um tiquinho inferior). Já foi comentado faixa-a-faixa e também resenhado por Nick Hornby neste mesmo site, mas tentemos sumarizar: nas letras, Cave está mais religioso que nunca, e na música, os Bad Seeds estão 100% Bad Seeds, ou seja, bateria fazendo harmonia, piano fazendo percussão, violino descendo às saraivadas guitarras econômicos numa força bruta que parece ser contida para não pesar mais que os poderosos vocais (de Cave e das irmãs Anna e Kate McGarringle, essa última mãe do ícone pop-gay Rufus Wainright). Da delicadeza quase pop de Love Letter (que letra!) à surpreendente Fifteen Feet Of Pure White Snow ("Levante suas mãos ao mais alto dos céus / É de se duvidar? / Oh, meu Deus!", brada um Cave irado em meio ao caos de uma cidade soterrada pela neve), uma obra que atesta a singularidade e excelência da proposta musical da banda. Se acabassem hoje, não teriam deixado nenhum fã com a sensação de que ainda haveria algo a se cumprir.

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NOCTURAMA (2003)

Já na faixa que abre Nocturama, seu décimo terceiro álbum, o bardo australiano Nick Cave tenta nos arrancar uma confissão: "Come on, admit it, babe, It’s a wonderful life". Nos dias complicados que vivemos é meio difícil acreditar, mas a boa música é sempre um caminho a seguir. E é com boa música que Cave nos presenteia. Da balada inspirada que abre (Wonderful Life) até a incendiária faixa que encerra (Babe, I'm On Fire), Nocturama transpira rock and roll. E religião. E poesia. "Hide your eyes, hide your tears / Hide your face, my love / Hide your ribbons, hide your bows / Hide your coloured cotton gloves / Hide your trinkets, hide your treasures / Hide your neatly scissored locks / Hide your memories, hide them all / Stuff them in a cardboard box / Or throw them into the street below / Leave them to the wind and the rain and the snow / For you might think I’m crazy / But I’m still in love with you", canta o bardo na apropriada Still In Love. É uma outro disco de baladas, cuja melodia é assassinada apenas na barulheira da birthdaypartyana Dead Man In My Bed e da longa última faixa, Babe, I'm On Fire. Nocturama foi gravado apenas em uma semana e já circulava nas importadoras em uma versão especial trazendo de bonús um DVD e, a demora na edição nacional do álbum se deve a uma mudança de gravadora. Após anos trabalhando com a gravadora Mute (representada no Brasil pela Sum), Cave lançou Nocturama pelo pequeno selo Anti, por isso o motivo da demora no lançamento nacional.

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DIG!!!,LAZARUS DIG!!!(2008)

Nick Cave é artista consagrado. Quase tudo já foi dito ao seu respeito e dentro dessa amálgama de declarações e metáforas já publicadas, suas composições, hoje, são muito mais um mantra a ser entoado pelos fãs do que música propriamente dita. É sobre essa pecha que Nick Cave and The Bad Seeds, banda que o acompanha há duas décadas, lança o 14º álbum intitulado Dig!!! Lazarus Dig!!!, através do selo Mute Records.

O trabalho repete a parceria de Cave com o produtor Nick Launay, com quem eles trabalharam no álbum mais recente, Abattoir Blues/The Lyre of Orpheus, disco duplo lançado em 2004, e a arte do encarte (por que todas as minúcias do CD merecem ser detalhadas) está ao cargo dos artistas Tim Noble e Sue Webster.

A narratividade do disco parte de um antigo fascínio do artista pela figura bíblica de Lázaro readaptando-o ao contexto Nova Iorquino de hoje e ao mesmo tempo refletindo sobre o próprio ceticismo da personagem. No disco ele volta à sua forma monotemática de contar histórias como se fosse um policial cínico e mafioso com o braço recostado à sua viatura, empostando um cigarro com a mão direita. E nessa mis-én-scene, o australiano Cave (que já morou em São Paulo na década de 1980) mais uma vez levanta a bandeira do sexo, da culpa e da religião como principais nortes de cada compilação. São vários personagens estranhos, escuros e muitas vezes surrealistas que são montados ao longo do disco.

O Bad Seeds é uma banda pomposa, com sonoridade inclinada para o gospel e mesmo baladas pesadas, bem diferente de seu último projeto, o Grinderman. E Dig!!! Lazarus, Dig!!! lança mão dessa sofisticação em uma sonoridade (contraditoriamente!) baseada em guitarras sujas com sua tradicional culpa cristã. E aí cabe sua sempre presente influência pós-punk, marca deixada pela Birthday Party, banda que montou nos anos 1970, só que hoje muito mais lapidado, com muito menos heroína (afinal todo mundo envelhece) e pronto para sempre angariar fãs.

Ele continua mal-humorado, culpado, mal agradecido e frustrado. Tudo representado por um rock pesado, burro e gestado em bares de quinta categoria que relembra os clássicos dos Stooges. São onze faixas, todas de longa duração, e na primeira, com nome homônimo ao CD, é um nítido regresso aos dias vividos entre From Her To Eternity (1984) e Henry’s Dream (1992). Numa espécie de escavação ao clássico The Velvet Underground & Nico.

E cavar parece ser mesmo necessário para compreender todos os meandros de Dig!!! Lazarus, Dig!!! que se mostra completamente diferente à cada audição. Tal como outros clássicos de sua carreira e outras notáveis obras como Let Love In (1994) e Murder Ballads (1996). Quanto à imagem, vídeos e clips, o sarcasmo parece ter aumentado em Nick Cave, que ressuscita o bigode. E é possível descobri-los sem muita arqueologia no YouTube ou numa loja da AkiDiscos.

Uma dica: se você está prestes a se matar não ouça, por exemplo, “Jesus Of The Moon” ou “Midnight Man”. Além das guitarras extremamente soturnas e sem concessões , o ritmo mais lembra um filme de Tim Burton e a voz do cantor mais se assemelha à de um algoz prestes a decepar, recheado de muita culpa, a cabeça de outrem. É pro sujeito pular varanda abaixo.


VIDEOS











Assisti recentemente o Asas do Desejo,do Wim Wenders e motivado pela arrebatadora participação do Nick Cave em uma cena resolvi vir aqui e criar um tópico para ele.

Sua obra não é de fácil assimilação,mas quem conseguir penetrar no seu universo será plenamente gratificado.Ando meio viciado pelos seus álbuns nos últimos dias.
 
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