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Nelson Rodrigues

Hugo

Hail to the Thief
Dentro de dez dias, a rotina da TV será quebrada com a inserção diária, em dose dupla, do horário político obrigatório. Isso quer dizer que, para entremear os intervalos entre um comício e outro, programas são suspensos - em princípio, temporariamente - e outros introduzidos no cardápio.

Paradoxalmente, são nessas ocasiões atípicas que o telespectador é premiado com algo diferente do ramerrão ao qual a TV brasileira se agarra nos últimos anos.

Por causa da futura desorganização da grade - imposta pela legislação eleitoral - e a pretexto do aniversário de 90 anos de Nelson Rodrigues, o público do fim de noite está tendo a oportunidade de conhecer a verdadeira potencialidade do veículo TV. Sob a chancela de Brava Gente, a Globo coloca no ar, em três episódios, Traição, produzido pela Conspiração Filmes e premiado em vários festivais. Em seguida, emenda com a reprise da minissérie Engraçadinha.

Inspirados em contos do dramaturgo mais polêmico do País, os episódios O Primeiro Pecado, Diabólica (exibidos nas últimas terças-feiras) e Cachorro (vai ao ar na próxima terça), da série Brava Gente, são primorosos no acabamento. Direção, interpretação, iluminação e caracterização dos personagens impactam por destoar do antes e do depois do programa. É assim que a TV deveria agir. Fugir da homogeneização é ser democrática em relação ao público, pois inclui um segmento exigente e disposto a digerir algo mais complexo, como é o caso da dramaturgia rodriguiana.

Os que decidem a programação da Globo bem sabem e por isso é que, de tempos em tempos, surgem programas inspirados na obra de Nelson Rodrigues. A Vida Como Ela É, exibida em 1996 e reprisada nas férias (outra ocasião atípica) do ano seguinte, mereceu tratamento cinematográfico como a série que está no ar e é lembrada até hoje como um dos grandes momentos da teleficção.

A minissérie Engraçadinha, dirigida pela premiada Denise Saraceni em 1995 e que lançou a atriz Alessandra Negrini ao estrelato, volta ao ar acompanhada do embate entre os candidatos.

Menos densa do que as propostas dos presidenciáveis, a trama de Engraçadinha também não é refresco. Retrata, como em todos os textos de Nelson Rodrigues, a falsa moral da classe média brasileira para provar - como ele adorava dizer - que "toda família tem um cadáver no armário".

Incesto, lesbianismo, o tédio amoroso da relação conjugal, o falso moralismo dos pervertidos, a traição e a morte, são elementos dos dois programas dessa grade. Temas indigestos, mas tratados com ironia e um certo humor (negro, claro!) que os produtores da versão para a TV souberam preservar.

Adaptaçoes:

- Asfalto Selvagem (1959)
- A Vida Como Ela É (1961)
- O homem proibido (1981)
- Engraçadinha

Novelas:

- A morta sem espelho (1963)
- Pouco amor não é amor (1963)
- O Desconhecido (1964)
- Sonho de amor (1964)

Frases do Autor:

Televisão é fabulosa

Acho que a televisão é um meio fabuloso de comunicação. E considero absolutamente válida a novela, pois é a autêntica área do mau gosto. Tanto “O Direito de Nascer”como Chacrinha são válidos, na faixa em que atuam.

Televisão afrodisíaca

Eu gosto muito de televisão, acho uma coisa válida, um estímulo. Acho a televisão uma coisa afrodisíaca. O fato de se estar em contato com oitocentas mil pessoas de uma vez é sério, é um fato muito transcendente.

As novelas

E as suas novelas na televisão?

Quando comecei, queria fazer folhetim. Mas folhetim no duro, bem cabeludo, com tesouros, etc... Nunca me deixaram fazer isso, pois eles pediam novelas de costumes. O pessoal querendo intelectualizar o negócio e eu todo a fim de fazer folhetim propriamente dito. Se você quiser elevar o folhetim fica ridículo, atroz. O bom folhetim é isso: fazer coisas tremendas, adúlteras fugindo em carruagens. O folhetim é um gênero imortal, mas como tal.

Você não acha que a novela deturpou o folhetim?

Não, eu gosto de novela. Eu me interesso por novela justamente porque ela atinge aquela zona de puerilidade que é eterna no ser humano. Você pega o Karl Marx, ou aquele outro alemão. . . o Kant: eles têm uma área de mau gosto. O espectador está lá, à espera da telenovela e se altera isso, é uma ignomínia. Isso do sujeito querer melhorar o nível da novela e como dizer ao palhaço: "que colarinho é este? Isto não é colarinho". Perdão posteridade, perdão!

Televisão X Leitura

E a televisão? Para alguém que vem de uma época em que nem se pensava que ela fosse existir, como é o seu caso, ela é um gênero, digamos definitivo, ou ainda está procurando a sua fórmula?

É possível que a televisão ainda não tenha encontrado a sua linguagem própria. Eu mesmo às vezes fico insatisfeito com ela.

Não lhe parece que o brasileiro está perdendo o hábito da leitura, se é que já o teve, e que a televisão desempenha um papel importante nisso?

A partir do momento em que uma imagem aparece e desaparece, ela perde para a linguagem escrita que perdura. Esse é um aspecto fundamental do problema, que deveria colaborar para tornar os dois gêneros coexistentes. Fazendo um jogo de palavras, diria que a leitura é sobretudo a releitura. Reli muitas vezes "Crime e Castigo", "Os irmãos Karamazov", "Ana Karerina", Machado de Assis, porque apenas a leitura não basta. É preciso a reeleitura, para que haja uma relação mais profunda entre o leitor e o que ele lê. Com a televisão, com a imagem, isso não é possível. A leitura é mais inteligente, porque estabelece não só uma relação mais profunda, como também uma intimidade maior entre o leitor e o livro.

O texto literário continuará existindo daqui a 1200 anos. Ele não morre, porque se ele morrer o mundo começará a morrer junto.

Bobagens célebres

- Não quero dizer nada de especial. Tenho muito medo dessas frases porque sempre me lembro do episódio de um célebre apresentador de televisão, muito sério e muito famoso, que ao ficar em frente ao microfone para dar uma mensagem à mulher brasileira, lembrou a todas elas a necessidade de usar desodorante - e eu tenho medo de sempre dizer uma burrice dessas. De sempre mandar alguma usar desodorante.
 
Engraçadinha foi ótimo!
eu tb assistia A Vida Como Ela É sempre que podia

ps: eu n era um garoto tarado não!
 

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