Paulo Andrade narrou sem ver imagem de jogo na ESPN Brasil
Principal narrador de futebol da ESPN Brasil, Paulo Andrade ancorou inúmeras grandes transmissões na emissora, mas já passou um baita sufoco certa vez, quando precisou narrar o início de uma partida cujas imagens não podia ver. Confira, a seguir, essa história marcante da carreira do profissional:
“Copa América de 2011 na Argentina. Fizemos em “tubo” (do estúdio) Uruguai e Peru e eu, como sempre, tinha uma pancada de informações para poder passar durante a transmissão. O jogo estava para começar, hinos nacionais e tudo e faltando uns dois minutinhos para a bola começar a rolar, aconteceu uma pane geral no estúdio onde a gente estava e o que aconteceu? Apagou a imagem das televisões que tínhamos lá para narrar e comentar.”
“Apagou tudo, as luzes e a gente ficou basicamente no breu. Só que quem estava em casa tinha tudo normal, imagem do jogo, o nosso áudio. Naquele momento, não poderia dizer: ‘Ó, estamos aqui com uma pane no nosso estúdio, eu não estou vendo nada, não sei o que está acontecendo, eu não sei de nada’. Quem estava na coordenação dizia no meu fone: ‘Pessoal está correndo, vai resolver’. Mas esse ‘vai resolver’ demorou quase dez minutos. ”
“Até foi cogitada uma mudança de estúdio, mas aí acarretaria bem mais trabalho, uma mudança muito drástica. O que eu poderia fazer naquele momento, sem imagem, narrando um jogo de abertura, com a bola rolando? Podia recorrer às minhas informações. Então, o cara que estava coordenando o jogo no meu ouvido falava assim: ‘Peru com a bola’.”
“E eu falava no ar: ‘Seleção peruana trabalhando aí’. E pegava uma das minhas informações e lia: ‘Essa é a 14ª Copa América da seleção peruana, a melhor campanha foi tal, tal, tal’. Aí o cara: ‘Ó, escanteio para o Uruguai’. Eu ouvia o som da torcida. ‘E agora vai o Uruguai, primeiro escanteio do jogo’, dizia, tentando disfarçar o máximo que podia e torcendo para não acontecer um gol, porque ia ser uma coisa catastrófica narrar um gol sem ver o gol.”
“Só com mais ou menos oito minutos de jogo é que a imagem voltou para a gente. Lembro que eu suava. Foram os oito minutos mais tensos da minha história narrando uma partida de futebol, até que a imagem voltou e pude narrar normalmente, após os engenheiros resolverem, mas foi muito louco, porque narrei sem ver, sem ter a imagem do jogo, e o cara que estava na coordenação falava o básico do básico para mim: ‘Uma falta para a seleção peruana, ficou caído o número 10’. E eu olhava na minha relação e falava, suponhamos: ‘O Cueva caiu, falta para a seleção do Peru, que na temporada passada fez tantos jogos, venceu tantos, perdeu tantos’.”
Eu ia preenchendo o vazio, não com o que o cara estava olhando, não com a narração do jogo em si, mas pontuando a narração, conforme o que ouvia do coordenador e com as informações que tinha. No final das contas, deu certo, não houve gol. Lógico, foi uma catástrofe. O telespectador em casa deve ter falado: ‘Esse cara não está a fim de narrar o jogo, só tá a fim de conversa, só de resenha, de informação. Lógico que não acionei nenhuma vez o comentarista, mas foi muito engraçado narrar por oito minutos um jogo que não estava vendo.”