Melian
Período composto por insubordinação.
Tópico inspirado no post Não é literatura. Valeu, Pips, por ter tuitado o trequinho.
A ideia é simples, é só vocês colocarem coisas que têm a pretensão de ser literatura mas não passam de rabugices, autopromoção, etc. Para compreenderem melhor a coisa, vejam a listinha retirada do blog "O palco e o mundo", cujo link está ali em cima:
Para começar: dizer que Ulysses caberia em um tuíte não é literatura.
A ideia é simples, é só vocês colocarem coisas que têm a pretensão de ser literatura mas não passam de rabugices, autopromoção, etc. Para compreenderem melhor a coisa, vejam a listinha retirada do blog "O palco e o mundo", cujo link está ali em cima:
Não é literatura
(por Pádua Fernandes)
Discutir quem ficou de fora da foto de lançamento de revista literária não é literatura.
Propor ação popular contra júri que não o premiou não é literatura (aliás, nem bom direito).
Jornadas de trabalho de 60 horas em editoras não são exemplos de amor à literatura.
A lista de mais vendidos não é um gênero literário.
Reclamar de não inclusão em antologia, quando até o primeiro cachorro que passou na rua o foi, não é literatura.
Escrever cartinha para o poeta morto (já falou algo semelhante Angélica Freitas) não é literatura.
Chamar um poeta de comercial só porque ele vende mais do que você não é literatura.
E por que seria literatura ensaiar para o eventual recebimento do Nobel, sem esquecer a sutil reprimenda à academia sueca pelo atraso na outorga do prêmio?
Abrir para nulidades espaço para escrita em troca de ataques a desafetos mantém trancados os mistérios das letras.
Pedir e/ou negar atestado de sanidade ao poeta não é literatura.
Propaganda de e-books não é um exemplo de vanguardismo literário.
Perguntar se a poeta é bonita não é literatura; decidir que ela não o é porque não iria para a cama com você, muito menos.
Culpa e/ou orgulho de classe não é literatura.
Cobrar pela exposição dos livros não torna a livraria um lugar literariamente valioso.
Vociferar que os críticos ignoram a literatura contemporânea porque não falam de você, mas de outros escritores vivos, é certamente mesquinho, mas não chega a ser literatura.
Assumir que sua poesia é ruim, mas que o guarda-roupas do crítico é pior, não é literatura.
O analfabetismo de doutorandos em letras não pode ser classificado como literatura transgressora.
Ignorar autores quando publicam por editoras pequenas não é literatura.
Usar como argumento o próprio currículo pleno de bem-sucedidos tráficos de influência literária não é literatura.
Reclamar que a literatura de hoje não presta deixa os queixosos mais velhos, e não mais escritores.
Confundir crítica a seu livro com ataque a sua pessoa não o torna escritor. O livro já não o tornava.
Reclamar da universidade porque ela não estuda os livros que você assinou não os torna literatura; louvar a universidade porque ela elogia esses mesmos livros não a torna universidade.
Pagar centavos a revisores não significa confiar nos escritores.
Cobrar do escritor para publicar não é exatamente igual a reconhecer o valor da literatura.
Roubar direitos autorais dos tradutores não torna os livros mais ricos.
Não é literatura vender pílulas e/ou selos e/ou banners e/ou mensagens de biscoito e/ou cursos tecnológicos e/ou até mesmo livros, enfim, todos de marketingliterário.
Reclamar que não entende os outros escritores não o torna mais inteligente. Nem mais escritor.
Decretar démodée a literatura engajada também representa um engajamento, mas antiliterário.
Não é literatura criar encontros com os colegas para explicarem para o eventualíssimo público o quanto vocês seriam geniais por não serem lembrados por mais ninguém.
Outros argumentos imprestáveis: ter a barriga de Oswald ou a magreza de Drummond, os olhos de Clarice ou os de Cecília, o partido de José de Alencar ou o de Jorge Amado, o sexo dos Mários ou os extraterrestres de Hilda, as superstições de Rosa ou o cientificismo de Augusto, o esquadro dos concretos ou as ervas de Piva. E vice-versa.
Argumentos que tornam a literatura imprestável: a agenda e/ou a cama cheia(s) de nomes de escritores, os e-mails que arrancaram o último patrocínio e a última resenha de vinte palavras, a caneta de ouro do político em noite de autógrafos sem os ghost-writers, a coleção de saquinhos de chá usados das academias de letras, o relatório de fiscalização das partes íntimas dos poetas.
Listas como esta não são literatura.
E paro, pois a não-literatura é muito mais extensa do que qualquer texto que eu possa escrever.
Não esquecer: evidentemente, tudo acima poderia ter sido literatura. Mas não havia talento.
Para começar: dizer que Ulysses caberia em um tuíte não é literatura.