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Músicas Literárias - Zé Ramalho

murilocontro

Usuário
Certas músicas contam histórias, algumas parecem que saltaram de um bom livro devido a verossimilhança que conseguem alcançar em suas letras. Isso faz que eu me sinta espectador da ação passando a viver o que é cantado. Assim como nos livros.

Muitas músicas do Zé Ramalho carregam isso, os detalhes, os arranjos, algumas rimas, aquela palavra usada de forma certeira que realmente faz jus a parecer música para os ouvidos, entre as entrelinhas que existem em suas letras com mensagens libertinas.

Músicas de Zé Ramalho, para ouvir e sentir:

[size=medium]Avohai - Zé Ramalho[/size]

A primeira estrofe já demonstra tamanha minuciosidade em descrever o personagem central. Seguindo, a canção continua traçando detalhes do personagem, agora sobre sua face: …Pares de olhos tão profundos Que amargam as pessoas que fitar…

Um velho cruza a soleira
De botas longas, de barbas longas
De ouro o brilho do seu colar
Na laje fria onde coarava
Sua camisa e seu alforje de caçador
Oh meu velho e invisível Avôhai
Oh meu velho e indivisível Avôhai
Neblina turva e brilhante em meu cérebro coágulos de sol
Amanita matutina e que transparente cortina ao meu redor
E se eu disser que é meio sabido você diz que é meio pior
E pior do que planeta quando perde o girassol
É o terço de brilhante nos dedos de minha avó
E nunca mais eu tive medo da porteira
Nem também da companheira que nunca dormia só
Avôhai… Avô e pai
Avôhai
O brejo cruza a poeira de fato existe
Um tom mais leve na palidez desse pessoal
Pares de olhos tão profundos
Que amargam as pessoas que fitar
Mas que bebem sua vida, sua alma na altura que mandar
São os olhos, são as asas
Cabelos de avôhai…
Na pedra de turmalina e no terreiro da usina eu me criei
Voava de madrugada e na cratera condenada eu me calei
Se eu calei foi de tristeza, você cala por calar
E calado vai ficando, só fala quando eu mandar
Rebuscando a consciência, com medo de viajar
Até o meio da cabeça do cometa, girando na carrapeta
No jogo de improvisar
Entrecortando eu sigo dentro a linha reta
Eu tenho a palavra certa
Pra doutor não reclamar
Avôhai… Avôhai
Avôhai… Avôhai

[size=medium]Vila do Sossego - Zé Ramalho[/size]

A rima aplicada de forma constante deixa a música harmoniosa como uma poesia. Veja: …Que normalmente, comumente, fatalmente, felizmente, displicentemente o nervo se contrai, oh, com precisão... e …Um compromisso submisso, rebuliço no cortiço chamo o Padre “Ciço” para me benzer, oh, com devoção…

Outro momento que faz eu imaginar uma leitura, é a forma de relatar certas ocasiões. Como falei no início deste artigo, letras que usando palavras certeiras deixam a leitura, ou melhor a canção ótima para os ouvidos. Fazendo analogias e deixando nossa imaginação fluir, esse momento floresce nesse trecho: …Nos aviões que vomitavam pára-quedas / Nas casamatas, caso vivas, caso morras / E nos delírios meus grilos temer…

Oh, eu não sei se eram os antigos que diziam
Em seus papiros Papillon já me dizia
Que nas torturas toda carne se trai
Que normalmente, comumente, fatalmente, felizmente,
Displicentemente o nervo se contrai, oh, com precisão
Nos aviões que vomitavam pára-quedas
Nas casamatas, caso vivas, caso morras
E nos delírios meus grilos temer
O casamento, o rompimento, o sacramento, o documento
Como um passatempo quero mais te ver, oh, com aflição
Meu treponema não é pálido nem viscoso
E os meus gametas se agrupam no meu som
E as querubinas meninas rever
Um compromisso submisso, rebuliço no cortiço
Chamo o Padre “Ciço” para me benzer, oh, com devoção

E vocês, conhecem alguma música que desperte esse sentimento?

Este artigo também pode ser encontrado no Clube da Leitura em http://www.clubedaleitura.org/2008/05/01/musicas-literarias-ze-ramalho/
 
:think: Que beleza! Tenho sim, creio que não é bem o ritmo que o pessoal admira, como esta. O Vital Farias e Elomar fazem trabalhos como o Zé Ramalho com textos preciosos. Cito assim que possível.
 
kuinzytao disse:
:think: Que beleza! Tenho sim, creio que não é bem o ritmo que o pessoal admira, como esta. O Vital Farias e Elomar fazem trabalhos como o Zé Ramalho com textos preciosos. Cito assim que possível.

Estou no aguardo Zuzu :sacou:

;)
 
Eu gosto muito das músicas do Zé Ramalho, especialmente de Chão de Giz... me trás tanta lembrança boa ..de uma época que não volta jamais e que eu poderia ter aproveitado mais....se não tivesse tido tanto medo de sofrer.....
Olha a letra, linda poesia.....

Chão de Giz
Zé Ramalho


Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre
Um Chão de Giz
Há meros devaneios tolos
A me torturar
Fotografias recortadas
Em jornais de folhas
Amiúde!
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes...

Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe
Um grão-vizir
Há tantas violetas velhas
Sem um colibri
Queria usar quem sabe
Uma camisa de força
Ou de vênus
Mas não vou gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom...

Agora pego
Um caminhão na lona
Vou a nocaute outra vez
Prá sempre fui acorrentada
No seu calcanhar
Meus vinte anos de "boy"
That's over, baby!
Freud explica...

Não vou me sujar
Fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular...

No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais!...
 
Saga de Severinin
Vital Farias

Peço a atenção dos senhores
Pra história que eu vou contar
Falo de Severinin lavrador tão popular
Que morava numa palhoça
E cultivava uma roça perto de Taperoá

E Severinin todo dia lavrava a terra macia
E terra lavrada é poesia

Mexe com mão na terra
Sobe esta serra corta esse chão
Planta que a planta ponte
Por esses montes lã d'algodão

Severinin vivia até feliz
Enchendo os olhos com bem d'rais
E mesmo a plantação tava bonita em flor
E ao seu lado a sua companheira
Tinha o seu amor

Mas como diz o ditado e haverá de se esperar
Depois de tudo plantado
Fazendeiro pede pra Severinin desocupar

Já tinha até fruta madura
Jirimum enrramando no terreiro
E tinha até um passarinho
Que além de ser seu vizinho
Ficou muito companheiro

Chega tanta incerteza
A alma presa quer se soltar
Luta, luta sozinho
Qual o caminho de libertar

Severinin ficou sozinho e só
Ingratidão não pôde suportar
Correu para o sul
Aí a construção se viu
De uma vez por todas
De uma vez por todas
Desabar
 
Gislene, essa música realmente é muito profunda. As formas em que as palavras são empregadas em cada momento na letra...

Há meros devaneios tolos
A me torturar
:)

Zuleica, o início da Saga de Severinim me lembrou um pouco João Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina.
Vou procurar essa música pois não conheço, a letra no final, fica bem melancólica não?

:lendo:
 
Essa aqui é em parceria do Zé Ramalho com o Alceu Valença, uma das que eu mais gosto:

A Dança das Borboletas

As borboletas estão voando
A dança louca das borboletas
Quem vai voar não quer dançar
só quer voar, avoar
Quem vai voar não quer dançar
só quer voar, avoar

E as borboletas estão girando
Estão virando a sua cabeça
Quem vai girar não quer cair
só quer girar, não caia!
Quem vai girar não quer cair
só quer girar, não caia!

E as borboletas estão invadindo
os apartamentos, cinemas e bares
Esgotos e rios e lagos e mares
Em um rodopio de arrepiar
Derrubam janelas e portas de vidro
Escadas rolantes e nas chaminés
Se sentam e pousam em meio à fumaça
De um arco-íris, se sabe o que é

Se sabe o que é... Se sabe o que é...
Se sabe o que é... Se sabe o que é...

E as borboletas estão invadindo
os apartamentos, cinemas e bares
Esgotos e rios e lagos e mares
Em um rodopio de arrepiar
Derrubam janelas e portas de vidro
Escadas rolantes e nas chaminés
Se sentam e pousam em meio à fumaça
De um arco-íris, se sabe o que é

Se sabe o que é... Se sabe o que é...
Se sabe o que é... Se sabe o que é...
 
murilocontro disse:
Zuleica, o início da Saga de Severinim me lembrou um pouco João Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina.
Vou procurar essa música pois não conheço, a letra no final, fica bem melancólica não?

:lendo:

Sabes, que eu falei e depois fiquei na dúvida do que tinha mais impacto para mim, letra ou música. Como Rosa, do Pixinguinha + Otávio de Souza. :think: Vital Farias é muito culto e comprometido com a cultura popular brasileira, imagino que tenha a ver mesmo com a obra de João Cabral.
 
....Inexplicável e imortal........ amo muito assim como Caetano e Gil........

.....A que mais amoooooo.....acho linda e diz muito do nosso povo.....a realidade camulfada pelo socialismo.....

*****************************************************************
Admirável Gado Novo

Oooooooooh! Oooi!
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber...

E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer...

Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado
Êh!
Povo feliz!...(2x)

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal...

E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou...

Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado
Êh!
Povo feliz!...(2x)

Oooooooooh! Oh! Oh!
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela...

Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A Arca de Noé, o dirigível
Não voam nem se pode flutuar
Não voam nem se pode flutuar
Não voam nem se pode flutuar...

Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado
Êh!
Povo feliz!...(2x)

Ooooooooooooooooh!
 
E vejam só, até tinha me esquecido...

Admirável Gado Novo é uma ponte para Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley :sim:

E pesquisando um pouquinho sobre o livro, na wikipédia diz:

O título do livro Admirável Mundo Novo, é inspirado em uma fala da personagem Miranda, do livro A Tempestade, de William Shakespeare.
:hanhan:
 
Gente, a Legião Urbana tambem tem músicas assim. Uma das que mais gosto e tem mais de 9min é Faroeste Caboclo que dá até para roteiro de filme. Segue a letra:

Faroeste Caboclo
Legião Urbana
Composição: Renato Russo


Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu

Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da sertania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu

Ia pra igreja só prá roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar

Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão

Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze era professor.
Aos quinze, foi mandado pro o reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.

Não entendia como a vida funcionava
Discriminação por causa da sua classe e sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.

E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar

Dizia ele: "Estou indo pra Brasília
Neste país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar"

E João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal

"Meu Deus, mas que cidade linda,
No Ano-Novo eu começo a trabalhar"
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga

Na sexta-feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô

Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar

E o Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar

Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que, como Pablo, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado, a plantação foi começar.

Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade:
"Tem bagulho bom ai!"
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali.

Fez amigos, freqüentava a Asa Norte
E ia pra festa de rock, pra se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar.

Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
"Vocês vão ver, eu vou pegar vocês"

Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general

Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu

Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
"Maria Lúcia pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter"

O tempo passa e um dia vem na porta
Um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta do João

"Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cú na mão

E é melhor senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião"
Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse:
"Você perdeu sua vida, meu irmão"

"Você perdeu a sua vida meu irmão
Você perdeu a sua vida meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
Eu vou sofrer as conseqüências como um cão"

Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar

Falou com Pablo que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Planaltina

Mas acontece que um tal de Jeremias,
Traficante de renome, apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que, com João ele ia acabar

Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar

Jeremias, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Se dizia que era crente mas não sabia rezar

E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
"Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já tá em tempo de a gente se casar"

Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez

Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
Amanhã às duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou

E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

E o Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora e o local e a razão

No sábado então, às duas horas,
Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo, começou a sorrir

Sentindo o sangue na garganta,
João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
A gente da TV que filmava tudo ali

E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
"Se a via-crucis virou circo, estou aqui"

E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester-22
A arma que seu primo Pablo lhe deu

"Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é
E não atiro pelas costas não
Olha pra cá filha-da-puta, sem-vergonha
Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão"

E Santo Cristo com a Winchester-22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor

E o povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade
Não acreditou na história que eles viram na TV

E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz...

Sofrer...
 
Avohai é provavelmente minha música nacional favorita de todos os tempos. Aliás, Zé Ramalho é o cara!

Outra que gosto muito dele, A Peleja do Diabo com o Dono do Céu:

Com tanto dinheiro girando no mundo
Quem tem pede muito quem não tem pede mais
Cobiçam a terra e toda a riqueza
Do reino dos homens e dos animais
Cobiçam até a planície dos sonhos
Lugares eternos para descansar
A terra do verde que foi prometido
Até que se canse de tanto esperar
Que eu não vim de longe para me enganar
Que eu não vim de longe para me enganar

O tempo do homem, a mulher, o filho
O gado novilho urra no curral
Vaqueiros que tangem a humanidade
Em cada cidade e em cada capital
Em cada pessoa de procedimento
Em cada lamento palavras de sal
A nau que flutua no leito do rio
Conduz à velhice, conduz à moral
Assim como deus, parabéns o mal
Assim como deus, parabéns o mal

Já que tudo depende da boa vontade
É de caridade que eu quero falar
Daquela esmola da cuia tremendo
Ou mato ou me rendo é lei natural
Num muro de cal espirrado de sangue
De lama, de mangue, de rouge e batom
O tom da conversa que ouço me criva
De setas e facas e favos de mel
É a peleja do diabo com o dono do céu
É a peleja do diabo com o dono do céu
 
Tauil disse:
Joselle Torres disse:
a realidade camulfada pelo socialismo.....

Hã!? :S

:rofl:

Só!
O povo enquanto gente, a nivel de ser humano, nos leva a essa coisa social-afro-tupinambá, essa coisa comuna-morte-e-vida-severina enquanto raiz do inconsciente coletivo... :dente:



murilocontro disse:
Certas músicas contam histórias, algumas parecem que saltaram de um bom livro devido a verossimilhança que conseguem alcançar em suas letras.
(...)

E vocês, conhecem alguma música que desperte esse sentimento?

Conheço algumas músicas com letra do Vinicius de Moraes e outras do Tom Jobim que me fazem "ver" essas histórias:

VALSINHA (de Vinícius de Moraes – Chico Buarque)

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se ousava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz


(É praticamente um pequeno conto)


"Chovendo na roseira" do Tom Jobim é uma canção que eu ouvia quando criança e eu podia sentir o ar limpo e úmido que a chuva traz, a imaginar um passarinho pulando de contente porque chegou a primavera. E o final, quando a Elis Regina (sim eu ouvia a gravação com ela) repete: "você é de ninguém" fazia, e ainda faz, eu me sentir estranhamente bem comigo mesma.


CHOVENDO NA ROSEIRA

Olha
Está chovendo na roseira
Que só dá rosa mas não cheira
A frescura das gotas úmidas
Que é de Betinho, que é de Paulinho, que é de João
Que é de ninguém!

Pétalas de rosa carregadas pelo vento
Um amor tão puro carregou meu pensamento
Olha, um tico-tico mora ao lado
E passeando no molhado
Adivinhou a primavera

Olha, que chuva boa, prazenteira
Que vem molhar minha roseira
Chuva boa, criadeira

Que molha a terra, que enche o rio, que lava o céu
Que traz o azul!

Olha, o jasmineiro está florido
E o riachinho de água esperta
Se lança embaixo do rio de águas calmas

Ahh, você é de ninguém!
 

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