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Mulheres Fortes na Literatura

Não é, mas ao menos foi "além" do que a Emma pôde suportar...

Como assim, Lindoriel? Explica direito isso.

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Eu li "A Hora da Estrela" e achei... sei lá... :lol: Estranho. Principalmente o final. Não entendi o objetivo dela em fazer uma personagem daquela forma e depois de uma previsão "positiva" matar. Talvez fosse uma espécie de "Lei de Murphy"... rs.

Porque Macabeia só existe a partir do momento em que a história dela é contada. Não há nada a ser dito sobre ela, só ganhando vida quando o Narrador decide pegar um ponto específico da vida e contar daí pra frente, meio que a contragosto - vide que o próprio Narrador não gosta da personagem. O final coloca um anti-clímax à vida de alguém tão comum cujo desfecho só poderia comum - a história termina mas o Universo continua. Não há nada que se extrair daí - apenas a morte de alguém que foi significativo enquanto esteve presente naquelas páginas.

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p quem diz q emma bovary é forte deveria lembrar d anna kariênina, q enfrentou bem + dificuldades q a 1ª.

mas acho q a gde questão do tópico fica na interpretação pessoal dq seria uma mulher forte na literatura.
  • seria uma personagem q toma atitudes q p época seriam fodonas, mas q p nós hj seriam banais?
  • seria uma personagem q os homens admirassem e as mulheres sentissem vontade d imitar (ou vice-versa)?
  • sua principal característica seria ser selvagem, indomada, sensível, recatada, ousada, submissa, independente, sagaz, manipuladora, humana ou algo +?
  • seria alguém q vence as dificuldades inerentes às mulheres (diferentes a kda época, lugar, cultura etc.) e q sai vitoriosa no final (aka jornada da heroína)?
  • seria uma personagem baseada na vida real?
gostaria d entender oq cada 1 q está participando aqui considera ser uma mulher forte na literatura.

Se tiver autonomia e tomar decisões moralmente/eticamente aceitáveis para mim, então a considero forte. É uma questão subjetiva, afinal. Eu não consigo ver força em Anna ou Emma, e mesmo Lisbeth Salander é uma negação pois eu a considero tudo, menos uma personagem feminina.
 
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meu caso

Se tiver autonomia e tomar decisões moralmente/eticamente aceitáveis para mim, então a considero forte. É uma questão subjetiva, afinal. Eu não consigo ver força em Anna ou Emma, e mesmo Lisbeth Salander é uma negação pois eu a considero tudo, menos uma personagem feminina.
eu meio q concordo contigo em relação a anna e emma, tb n as vejo como mulheres fortes, mas talvez pq ñ me atraíram como personagens.

pensando nestes dias nas indagações q eu mesmo fiz, percebi q oq me atrai em uma personagem feminina e q me faz considerá-la forte é o mesmo q me atrairia em 1 personagem masculino: eles precisam me surpreender. no livro da kariênina, uma q causou este efeito foi a kitty, pela sua evolução durante a trama. cheguei a torcer por ela em alguns momentos, eqto com a anna era só 1 sim, e dae, ela só tá colhendo oq plantou!

e pesquisando nos meus livros favoritos, notei uma certa carência d personagens fortes femininas. A exceção aconteceu com george r. r. martin, ond me vi apaixonado por várias mulheres dali. e ñ é q poderíamos dizer q daenerys, arya, sansa, cathy, cersei, melisandre, osha, ygritte, as serpentes da areia, entre outras, poderiam cada uma, do seu modo, serem consideradas mulheres fortes, independente se heroínas ou vilãs, d seus defeitos ou qualidades? e digo q só conseguiram isso pq elas surpreendem o leitor, em maior ou menor grau, mas surpreendem.

mas dae entro no papo subjetivo do bruce: oq me surpreende ñ é o mesmo q surpreende outros leitores. por isso uns admirariam + emma, ou anna, ou qq outra. e outros ñ.

e façam 1 teste engraçado: peguem alguns dos personagens masculinos q + te surpreenderam e troque o sexo deles, verão q continuarão tão bons qto. pelo menos eu aqui pensei em uma versão feminina do dexter e do pequeno príncipe e mesmo assim me continuaram bons na minha imaginaçãozinha.
 
Como assim, Lindoriel? Explica direito isso.

Ambas (Emma e Ana) se matam, mas Emma tinha "apenas" dívidas; se ela tivesse um pouco de paciência, pelo que lembro do livro (muita coisa eu não lembro UU), o marido a perdoaria e ela poderia voltar a viver em relativa paz ao menos.

Já Ana estava com todos contra ela, separada do marido e o amante já a ponto de se enjoar de si. Num tempo em que as mulheres dependiam de um homem para subsistir, convenhamos, ser abandonada por marido e amante era uma "barra" bem maior do que a das dívidas da Emma.
 
Ambas (Emma e Ana) se matam, mas Emma tinha "apenas" dívidas; se ela tivesse um pouco de paciência, pelo que lembro do livro (muita coisa eu não lembro UU), o marido a perdoaria e ela poderia voltar a viver em relativa paz ao menos.

Já Ana estava com todos contra ela, separada do marido e o amante já a ponto de se enjoar de si. Num tempo em que as mulheres dependiam de um homem para subsistir, convenhamos, ser abandonada por marido e amante era uma "barra" bem maior do que a das dívidas da Emma.

Entendi. Tanto é que o caso de Emma remete ao enredo d'"O Primo Basílio" - o marido iria perdoá-la, mas ela tem uma síncope de repente.

No caso de Ana, não sei porque mas acho que vai muito além do abandono - ela está deslocada da sociedade por suas atitudes, uma mancha indesejada. Não lembro se Vronsky a abandona ou se ela pensa assim, mas não dá pra confiar muito em Ana - ela é errática demais.
 
^Ele não a abandona - tanto que ao saber do suicídio dela ele fica muito mal - mas Ana tem essa impressão, e por isso começa a, digamos, enlouquecer.

Ela fica bem "louca" msm no final, praticamente irreconhecível. Rs.
 
E na poesia, hein? Tirando aqueles casos em que um autor masculino desenvolve uma personagem ou um eu-lírico feminino, como o Chico Buarque (a Teresinha, por exemplo), Ariosto (as personagens Angélica e Bradamante, o episódio da Ilha das Mulheres...), Tasso (a Clorinda ou, de certo modo, a Armida) ou Shakespeare (Lady Macbeth, o discurso da Bianca no final do ato IV, a Rosalinda, a Dark Lady dos Sonnets), pra citar alguns, eu particularmente acho que toda grande poetisa já é por si só uma mulher forte. Não precisa nem tanto ter uma poesia que demonstre isso... Por exemplo, a Cora Coralina, sem dúvidas a poetisa mais famosa de Goiás. Apesar dela ter versos assim:

(...)

Que pretendes, mulher?
Independência, igualdade de condições...
Empregos fora do lar?
És superior àqueles
que procuras imitar.
Tens o dom divino
de ser mãe
Em ti está presente a humanidade.

(...)

(Mas posso estar sendo um pouco injusto ao citá-los sem contexto). Mesmo com versos assim, ela perseverou e, mesmo que publicando seu primeiro livro aos 76 anos, mesmo numa cidade retrógrada até as quinas como era Goiás Velho, ela conseguiu vencer, conseguiu quebrar barreiras, como dizem, e logrou sucesso com sua poesia.

De todo modo, se fosse pra citar algumas poetisas cuja obra é indubitavelmente "forte", eu citaria Florbela Espanca, Ana Cristina César, Angélica de Freitas, Emily Dickinson, Christina Rossetti, Mariane Moore, Edna St. Vincent Millay, Sylvia Plath, Elizabeth Bishop, Safo... (infelizmente, não conheço muitos nomes)

A literatura oriental abunda de poetisas, ao que me consta. O Kenneth Rexoth tem inclusive uma antologia de poetisas japonesas... E outra de poetisas chinesas, e um livro com poesias da Li Ching-Chao, poetisa chinesa de grande importância.
 
Última edição:
(...)

Que pretendes, mulher?
Independência, igualdade de condições...
Empregos fora do lar?
És superior àqueles
que procuras imitar.
Tens o dom divino
de ser mãe
Em ti está presente a humanidade.

(...)

Já causei uma polêmica do carilho no outro tpc por causa de questões semelhantes a essa, mas... po... e se a mulher não pode ou não quer ser mãe? Cabou a superioridade dela? Po, que saco! :lol:

Além do que, metade da responsabilidade de gerar um filho está no pai, mesmo que ele não carregue a cça por nove meses... gerar sozinha ngm gera.

Acho essas coisas um saco, pois por muitos séculos o principal papel da mulher foi "ser mãe" justamente pq era a única coisa que os homens não conseguiam fazer sem as mulheres (gestar em seu próprio corpo). Daí vêm certos textos e transformam a mulher em quase um "útero ambulante"...
 
Entendo o que você quis dizer. Li um pouco da discussão no outro tópico, mas vou responder esse seu post em específico:

O poema completo da Cora é esse aqui:

MÃE.

Renovadora e reveladora do mundo
A humanidade se renova no teu ventre.
Cria teus filhos,
não os entregues à creche.
Creche é fria, impessoal.
Nunca será um lar
para teu filho.
Ele, pequenino, precisa de ti.
Não o desligues da tua força maternal.

Que pretendes, mulher?
Independência, igualdade de condições...
Empregos fora do lar?
És superior àqueles
que procuras imitar.
Tens o dom divino
de ser mãe
Em ti está presente a humanidade.

Mulher, não te deixes castrar.
Serás um animal somente de prazer
e às vezes nem mais isso.
Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar.
Tumultuada, fingindo ser o que não és.
Roendo o teu osso negro da amargura.

FONTE: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/06/30/mae-cora-coralina-453045.asp

Uma das perguntas que eu também faço ao ler esse poema é justamente essa: a mulher não pode ser reduzida apenas ao ato de gerar um filho. Se uma mulher porventura não quiser, beleza, é uma decisão dela, ela tem todo direito e não deve ser vista como um monstro ou um ser inferior. Ou mesmo um ser castrado, como a Cora parece implicar ("Mulher, não te deixes castrar."). Inclusive uma das "críticas" (entre aspas pois ela é bem absurda) que se faz contra o homossexualismo é essa: a de que o homossexualismo vai acabar com a espécie humana pois não vamos mais gerar filhos!!

Mas olha, pra ser sincero com você... Algo me diz que interpretei completamente errado esse poema da Cora. A terceira estrofe, agora que parei pra reler o poema, parece ter um tom antitético em relação às outras duas, como se fosse uma resposta, um contraponto. Quando ela diz: "Serás um animal somente de prazer / e às vezes nem mais isso.", acho que ela está dizendo pra mulher não se deixar reduzir apenas a "Renovadora e reveladora do mundo". Claro que, se ela quiser, ela pode ser isso, mas tem que ser e ao mesmo tempo tirar o peso de suas costas que a deixa "Frígida, bloqueada, (...) / Tumultuada (...)": ou seja, gerar um filho não apenas por gerar e renovar a humanidade em seu ventre, mas como um ato de amor que inclusive envolva o pai, para que a tarefa de gerar e criar o filho não se limite apenas a ela ou à sua força maternal.

Por exemplo, se você comparar o final das estrofes, vai perceber que a terceira é a única que implica a lógica da solidão, como se, numa áspera ironia, a mulher só pudesse se incluir na humanidade (ou, o que acentua mais a ironia, somente incluir a humanidade) quando mãe ou enquanto geradora de um filho, quando mantivesse sua força maternal. Outros exemplos são o adjetivo "Frígida" da terceira estrofe que se liga à creche, na primeira, que é "fria, impessoal"; a contraposição entre o dom divino da segunda estrofe com o osso negro da amargura na terceira; a mulher que, mesmo sendo superior, busca imitar a outrem, em contraposição com a mulher transformada em animal na terceira estrofe; ou o movimento entre o lar na primeira estrofe, relativo à criança, o lar na segunda, relativo ao emprego, e o lar ou a prisão que podemos deduzir na terceira (em especial pelo "bloqueada").
 
Última edição:
No caso de Ana, não sei porque mas acho que vai muito além do abandono - ela está deslocada da sociedade por suas atitudes, uma mancha indesejada. Não lembro se Vronsky a abandona ou se ela pensa assim, mas não dá pra confiar muito em Ana - ela é errática demais.

^Ele não a abandona - tanto que ao saber do suicídio dela ele fica muito mal - mas Ana tem essa impressão, e por isso começa a, digamos, enlouquecer.

Ela fica bem "louca" msm no final, praticamente irreconhecível. Rs.

eu acho q ela começa a pirar já qdo se descobre apaixonada por ele, tendo aquela paranoia do ele-vai-me-deixar q mtas mulheres q conheço têm. tto é q eu n acredito q o vronsky iria deixá-la, isso era algo q ela encasquetou e ficou remoendo até transformar a ideia em pensamento recorrente e depois em loucura. enfim, uma mulher problemática poderia ser uma mulher forte da literatura? sei q todos temos problemas, mas alguns personagens meio q exageram os seus talvez p destacar os aspectos daquele problema p os leitores o compreenderem (e se identificarem) melhor. isso eu acho válido. mas no aspecto dq anna seria um modelo a ser imitado pelas demais pessoas, talvez n concorde plenamente.
 
JLM, Ana foi forte pq ela encarou maus olhares nos teatros, abandonou o marido pra viver o seu verdadeiro amor - e isso numa época em que, convenhamos, isso era terrível pra uma mulher! Não é que nem hoje, onde o divórcio não é mais tão malvisto. Mas na época, até pro homem o divórcio era malvisto, que se dirá pra mulher!

Eu até que "relevo" a loucura da Ana Karênina pq ela estava, a partir de então, totalmente nas mãos do amante. Se ele a abandonasse, o marido jamais a aceitaria de volta e a sociedade viraria as costas pra ela. Não era que nem hoje, que ela poderia arrumar um emprego. Naquele tempo, mesmo as ricas não tinham especialização profissional; eram treinadas pra casar e gerar filhos.

Nesse livro msm, a cunhada da Ana (a que levava chifre do marido direto, não lembro do nome... mas a que tinha um filho por ano) perguntou pra Ana se ela não achava imoral parar de ter filhos! Sim, pq a Ana tem uma filha do Vronski e o médico diz a ela pra parar de ter filhos... ela já tinha um filho de 8/9 anos na época... ou seja, é como se ela fosse "imoral" por continuar fazendo sexo sem ter filhos!! :lol:

Era esse o pensamento da época. Considerando-se que a Ana, pelo q a narrativa diz, já não tinha mais pai nem mãe, estava literalmente sozinha no mundo. Foi corajosa ao abandonar o marido pra ficar com o amante, mas a loucura dela começa justamente quando ela cai em si: e se o Vronski não cumprisse com o compromisso e simplesmente a largasse?

Ele, como homem, sairia totalmente safo da história. E por nunca ter sido casado oficialmente com a Ana, poderia até casar com uma "novinha virgem" (que era o modelo perfeito de noiva praquela época) e não ia pegar nada.

Entende? Creio que tudo isso meio que "desculpa" a loucura da Ana. A gente enxergar divórcio e "ele-vai-me-largar" com a ótica dos dias de hoje, onde a mulher pode trabalhar e arrumar outro homem sem necessariamente depender dele pra sobreviver é uma coisa; a gente ver com os olhos daquela época é algo muito pior.

Assim como Luiza em "O Primo Basílio". Que é que aquela mulher ia fazer se o marido a repudiasse? Como era ainda nova e bonita, tvz caísse no mundo da prostituição mesmo! Mesma coisa a Ana, que tbm era tida como mulher muito bonita. Ia provavelmente cair na prostituição. Coisa que elas não desejavam - apenas queriam viver um "amor de verdade", e seus amantes meio que "tripudiaram" em cima dessa fraqueza delas. Vronski nem tanto, mas o Basilio... pqp, acho q tem poucos calhordas como ele na literatura. :lol:

Por isso esse tema do adultério feminino no século XIX dava tanto ibope: mostrava os "podres" da sociedade mas ao mesmo tempo um sistema que não propiciava à mulher viver uma história de amor de verdade, pois ela dependia do sujeito pra sobreviver e, caso fizesse uma má escolha na juventude (escolha essa que muitas vezes os pais faziam por ela), não poderia "voltar atrás": só lhe restava o adultério ou viver um casamento de fachada pro resto da vida.

E Ana Karênina ainda tem um ponto mais interessante: traça ambos os adultérios, o de Ana e do irmão, e como a sociedade reagia a ambos. Se formos pensar que o livro foi escrito por um homem, é um avanço e tanto em comparação a outros que, na época, se achavam no direito de "trair mesmo" e a mulher que ficasse quieta no canto dela.
 

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