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Mulheres e Orfandade em Tolkien...

Daewen

Elener
Bom....esse post veio de muita coincidência junta. Faz um tempo que to tentando traduzir a Cronologia da Terceira Era da Terra Média, e já consegui uma parte...até postei no blog, pra quem se interessar dar um olhada e fazer suas críticas. E o que me chamou bastante atenção é que o Professor em sua obra é altamente patriarcal. Sempre se refere 'nascimendo fulano filho de sicrano'..e mantém o grau de parentesco entre pai e filho. Diversas mães nem siquer são citadas na obra dele, como a de Legolas ou Gimli.

Hoje eu vi o tópico sobre o Salão de Fogo, para dar sugestão e então sugeri esse tema, a ausência das mulheres na obra do Professor. Meio que querendo debater com o pessoal o porque disso, já que não tenho uma leitura de todaassss as obras dele e quem tem deve poder ter um visão maior.

Daí por acaso fui fuçar em outro site relacionado ao Tolkien e sua obra e encontrei um texto muito interessante..que chama

Tolkien e seus heróis sem mãe...de Douglas Charles Rapler.

E o mesmo me fez pensar muito. Eu sempre me perguntei se tirar a mulher de sua obra era uma postura conservadora de Tolkien,(parte do lado católico dele, sei lá) ou se um apenas um reflexo da ausência que ele sentiu da própria mãe. Mas Rapler me fez lembrar dos estudos de Joseph Campbell, e sua 'jornada do herói'.
Para esse autor o herói quando é convocado para sua aventura, tem que está completamente livre de um compromisso social que o prenda. Dai Harry Potter ser órfã, Frodo tb...e assim sucessivamente...
Para Campbell..os pais e suas normas são amarras que impediriam o herói de se desenvolver plenamente e cumprir seu papel na trama.

E eu qria saber o que vcs acham sobre isso...Pq o Professor excluiu tantos as mulheres em sua obra e fez de tantos heróis seus órfãos?

Ps: Relembrando a Jornada do Herói...
Td mundo sabe que a intenção inicial de Tolkien era criar uma espécie de mitologia inglesa...e a partir disso acho q podemos levar em consideração que ele se inspirou em muitas obras primas da literatura de seu país. Acredito que a história de Artur o influenciou bastante...embora não podemos ter certeza absoluta disso..
Mas o que eu acho que o que vemos de mais comum nessas historias épicas é o que o estudioso Joseph Campbell chama de a jornada do herói
Essa JORNADA DO HERÓI é composta de três partes:A partida, a Iniciação e o Retorno..
Na primeira parte o suposto canditato a herói vive tranquilamente em seu mundo até que algo aparece para tirá-lo de sua vida pacada..normalmente um acontecimento extraórdinario...Vemos isso em HP, com Frodo no SdA, com os três irmãos de Lewis em Nárnia e até com Artur...
Durante essa parte o herói tem todos os motivos pra desistir de sua jornada, mas encontra protetores que lhe oferecem apoio em forma de amuletos..armas..o que for...
Na segunda parte a INICIAÇÂO..o herói é constantemente posto a prova...os perigos saum tremendos...e no fim..depois de todas as dificuldades ele conquista seu objetivo final...mais uma vez as semelhanças com Sda..Artur e HP
Na terceira parte o RETORNO ..o herói volta pra seu antigo mundo e apesar de vitorioso..sente dificuldade de se adaptar a sua realidade antiga..depois da aventura...
Acho q é essa espécia de organização de história de aventura que os grandes autores tem em comum e por isso encontramos bastante semelhanças entre suas obras...

Mais detalhes sobre ela no livro de David Colbert - 'O mundo mágico de Harry Potter'. Ou no documentário O Poder do Mito - Joseph Campbel.
 
A questão da jornada do herói tem fundamento, sim, é algo recorrente em qualquer mitologia do mundo, de modo que Tolkien, ao criar sua própria mitologia (inspirada em várias outras), fez uso dos mesmos arquétipos, inconscientemente ou não.

A questão patriarcal também está relacionada, claro, com a própria época e sociedade nas quais Tolkien nasceu: é algo do qual seria muito difícil escapar, de ele não pensar patriarcalmente, principalmente com a educação fundamentalmente católica que teve. Mas essa questão relaciona-se também com a influência literária de Tolkien. As principais mitologias que influenciaram sua obra, a germânica e variação nórdica desta, são totalmente patriarcais também. O herói é sempre o homem, a mulher é a dama a ser protegida/conquistada, o objeto de adoração do herói. Claro que sempre há uma ou outra exceção e aí há personagens femininas mais proeminentes, mas essas geralmente são seres com poderes maiores que os de um herói comum: na obra de Tolkien, os exemplos mais óbvios são Melian, Lúthien e Galadriel. Nas mitologias tradicionais do nosso mundo, essas mulheres geralmente são feiticeiras, deusas ou semideusas (ex: Circe na Odisséia e a Mórrígan na mitologia celta).

Mas pelo menos nessa última questão Tolkien mostrou que não era tão ortodoxo assim, pois temos o exemplo de Haleth no Silmarillion e, principalmente, de Éowyn, no SdA. Éowyn em particular passa por uma "transição", pois quando ela aparece ela ainda é de fato a donzela arquetípica, mas com o desenrolar da trama suas verdadeiras intenções se mostram (ela não tinha nem um pouco de vontade de ficar esperando pelo príncipe encantado dela, bordando algo eternamente) e ela releva ter um espírito guerreiro. Claro que ela tem que colocar esse espírito em ação de forma velada, pois a própria sociedade em que ela vive por sua vez também é patriarcal, mas permanece o fato de que ele consegue realizar o que quer e se torna uma guerreira na prática. É um dos raros exemplos da obra do Professor, mas pelo menos é algum exemplo - coisa que simplesmente era ausente na maioria das literaturas que o inspiraram.
 
Última edição:
O caso da Éowyn não acaba sendo, na realidade, um mau-exemplo? Pois, apesar de realizar grandes feitos, o seu grande amor a Rohan e seu espírito guerreiro levaram-na a amar a Aragorn e ser infeliz. Isso é redimido quando ela de certa forma abandona seu país, indo a Gondor, e seu espírito guerreiro, casando-se com Faramir, um pacifista, retomando seu lugar como mulher naquela sociedade.
 
Foi justamente o que eu disse: no início ela ainda era uma "donzela", mas depois deixou isso de lado pois seu desejo maior não era ter Aragorn, mas ajudar o próprio reino.

E ela seria um mau exemplo se justamente tivesse continuado em Rohan chorando no "alto de sua torre" pelo amor perdido. Coisa que ela não fez. Aliás, ainda se apaixonou por outro depois, de modo que o "amor" dela por Aragorn é melhor visto como uma paixonite mesmo, pelo o que Aragorn representava e era, o que certamente foi de grande influência para ela mesma, já que em parte ela queria justamente ser como ele: poder vagar por aí realizando atos de valor.
 
Mas esse amor falho foi justamente por ela amar a guerra, os grandes feitos, etc, justamente por ela ter essas posturas ditas masculinas. É nesse sentido que não vejo um espírito tão moderno na criação da personagem Éowyn: ela só alcança a felicidade quando aceita e assume seu papel de donzela.
 
A questão aqui é que o que ela queria fazer era diferente do papel tradicional que se esperaria de uma mulher na socidade dela (e por extensão em qualquer outra sociedade patriarcal) - e ela fez.

Se no final ela arranja outro amor, isso não muda o fato de que ela já era uma guerreira ali. O fato de ela ainda querer amar não a coloca em uma posição subserviente: não é uma atitude vista como "feminina" mesmo na obra de Tolkien, já que vários dos personagens masculinos têm justamente o amor como uma de suas principais motivações (Beren e Aragorn, por exemplo).
 
Também gostaria de ler mais sobre elas.
Eu gosto muito de alguns personagens femininos. Não recordo bem mas acho que Indis, ao educar seus filhos mostra porque os vanyar eram elfos amados dos Valar e eu queria conhecer mais das razões de porque os Vanyar eram como eram. O choro de Luthien para Mandos é de estraçalhar o coração, um sentimento encontrado em guerreiros profundamente marcados pela guerra. Dizia-se entre os elfos que uma mulher tinha feito o que os filhos de Feanor não conseguiram fazer. Pra arrematar ela escolheu ficar junto da família dos homens, algo que os homens elfos não eram machos pra fazer com as humanas.
 
Olha pessoal, pra quem quer ver uma boa discussão sobre as mulheres em Tolkien tem esse tópico aqui da Valinor mesmo que tem uma discussão curta e interessante, mostra pontos de vista e dá uma justificativa, pra essa atitude de Tolkien, bem plausível.
 
Tolkien não fugiu à regra e mostrou como era uma sociedade medievel. Em decorrência de inúmeras guerras, mulheres e órfãos formariam a grande maioria de um povoado. Mesmo nos livros de história ou de literatura, são raros os exemplos femininos de guerreira capaz de liderar um exército contra os invasores, que, obviamente, além de pilhar e destruir, também violentavam mulheres e donzelas.

Um exemplo foi a guerreira celta Boudicca da tribo Iceni que enfrentou a invasão romana. Habilidosa no manejo de espada, arco e carro de combate. Fez um belo estrago na moral dos homens de Roma.
 
Pra mim isso não tem nenhuma importância, sério...
Porque só o fato de colocar três lindas e delicadas mulheres marcantes em "O Senhor dos Anéis" já basta...
E Lúthien, heim?
Que me dizem dela?A coisa mais linda de ser vista em forma feminina que fez Morgoth adormecer com sua voz?
Creio que o fato de Tolkien descrever seus personagens como órfãos, especialmente de mães, condiz e muito com alguns padrões de época que são plausíveis, como morte em parto, doenças, assassinatos...
 

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