• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Morte em Veneza -- Thomas Mann.

Mavericco

I am fire and air.
Usuário Premium
Tópico para discussão da novela escrita em 1912 por Thomas Mann.

Para não deixar o tópico vazio, transcrevo aqui um excelente post sobre a novela escrito pelo Alfredo Monte:

Morte em Veneza disse:
FONTE: http://armonte.wordpress.com/tag/a-morte-em-veneza/

thomas_mann_literatur.jpg


(resenha publicada, de forma ligeiramente condensada, em A TRIBUNA de Santos, em 01 de fevereiro de 2011)

“Veneza: É um lugar esplêndido, mas para morrer…”

(Virginia Woolf)


Já era tempo de Morte em Veneza ser publicado isoladamente. As edições brasileiras quase sempre o colocavam junto a outros textos menores, principalmente Tonio Kröger (muito bonito, mas aquém do alcance do companheiro), e afinal se trata da maior novela (aquela forma intermediária e imprecisa entre o conto e o romance) do século XX, junto com A metamorfose, de Kafka, esta sim sempre valorizada enquanto peça individual (o incrível é que elas foram escritas no mesmo ano, 1912).

Durante toda sua vida de escritor, Thomas Mann foi obcecado pela idéia da posição duvidosa do artista na sociedade, e a proximidade da criação artística com a doença (não é à toa que o gênio de Adrian Leverkühn, em Doutor Fausto, vem junto com a sífilis): um de seus personagens sente-se um “burguês que se extraviou na arte, um boêmio com saudades do bom berço, um artista de consciência pesada”.

Morte em Veneza dramatiza de forma lapidar essa dicotomia estranha entre ser “respeitável” e ser um “aventureiro da arte” que tanto atormentava o genial alemão: o escritor cinqüentão (no lindíssimo filme de Visconti, transformado em compositor) Gustav Aschenbach, de Munique, apesar do afinco maníaco com que se entrega ao ofício, sente-se morto por dentro. Resolve, então, sair de sua rotina disciplinada e estafante, indo para algum balneário no sul da Europa. Depois de sentir-se insatisfeito em outros lugares, opta pela irresistível Veneza, onde vai impressionar-se com a beleza de um adolescente polonês de 14 anos, Tadzio.

Apaixonado (não se alarmem, leitores que se chocam com a pedofilia, Tadzio é de boa família, não é nenhum garoto árabe do gênero que fez a felicidade de um André Gide; tudo será platônico, cosa mentale), começa a segui-lo por toda a parte, não se decidindo as ir embora da cidade, mesmo ao tomar conhecimento de que uma peste mortal a assola. Após um passeio durante o qual perdeu de vista Tadzio, sentindo-se angustiado e esgotado fisicamente, come morangos (contaminados) para se refrescar e, pouco tempo depois, em plena praia, entra em agonia mortal…

Esqueça o pormenor (sim, é um pormenor) do homossexualismo, leitor, não é por aí, que se compreenderá Morte em Veneza, por mais que os departamentos gays da indústria cultural (com sua insistência nas “obras de gênero”) tentem hipertrofiar a questão, e mesmo que agora se trombeteie que Mann—um senhor casado e que teve seis filhos—sentia atração por jardineiros, ascensoristas e mensageiros. Mesmo assim, enquanto dono do seu imaginário artístico, para ele a beleza pessoal era mais importante do que a identidade de gênero. E depois, e sobretudo, Tadzio, com sua beleza, exerce mais do que uma banal sedução erótica: mais que um “lolito”, é o anjo da morte que conduz, no final da história, Aschenbach, aquele que trabalha incessantemente (e por isso não tem uma “vida”) para criar formas artísticas perfeitas e domesticar o caos, para o mar, o outro pólo poderoso da narrativa: “…amava o mar pela necessidade de repouso do artista exausto que, assediado pela multiformidade das aparências, anseia por abrigar-se no seio da simplicidade, da imensidão, e por um pendor proibido, diametralmente oposto à sua tarefa epor isso mesmo tentador, para o indiviso, o desmedido, o eterno, para o nada. Repousar na perfeição é o anseio nostálgico daquele que se esforça para alcançar a excelência; e o nada não é uma forma de perfeição?”

Assim, Aschenbach, que vagara por Veneza atordoado por Eros, não sabia que ele o estava conduzindo para o reino do nada. A beleza encarnada num corpo humano jovem serve como perverso portal para o reino onde não existem formas.

Derrota para Aschenbach, vitória absoluta para Thomas Mann, que, aos 37 anos, criou uma de suas obras-primas supremas, e a mais famosa hoje em dia. Mesmo quem não tem paciência de ler A montanha mágica ou Doutor Fausto se encanta com a precisão lapidar dessa dança da morte.

E gostaria de deixar esse maravilhoso post do Ademir Luiz sobre a polêmica entre Thomas Mann e Otto Maria Carpeaux:

http://www.demostenestorres.com.br/posts/literatura/a-polemica-critica-entre-carpeaux-e-thomas-mann

Destaco estas passagens:

(...)

“Que e que a gente admiraem Thomas Mann? O pensador, o escritor, o alemão. Dizem-no um pensador profundo, um escritor de primeira ordem, e a encarnação de tudo o que foi honesto e admirável no homem alemão. Na verdade, Thomas Mann é um pensador confuso, é o maior dos escritores de segunda ordem, e a alemanidade não é a essência de ser, mas o amor infeliz dum bastante fraco herói de tragédia”. (Carpeaux, 1999. p. 252.)

Será possível? Carpeaux se refere mesmo a Thomas Mann? O Mann amado e conhecido por todos! Não será um Mann de menor estatura? Um Golo ou um Klaus? Afinal, trata-se de uma família numerosa. Muitos escritores! Não é possível que seja o Thomas, justo o Thomas!? O orgulho da família! Fala do Mann que com pouco mais de vinte anos, mostrando uma gigantesca maturidade em vista da pouca idade, escreveu a saga “Os Buddenbrooks”? Fala do Mann que escreveu “A Morte em Veneza”, simplesmente uma das mais perfeitas narrativas em língua alemã? Fala do Mann que produziu umas das mais ricas reflexões acerca do mundo entre as duas grandes guerras, em “A Montanha Mágica?” Fala do Mann que deu uma aula de egiptologia no monumental romance em quatro volumes “José e Seus Irmãos”? Fala do Nobel de Literatura de 1929? Se for dele que fala, Carpeaux só pode estar louco? Justo ele, um homem de tanta visão! Isto não pode mesmo estar certo!

(...)

Ainda mais porque neste mesmo livro Carpeaux observa que a obra artisticamente mais perfeita de Mann é “A Morte em Veneza”, de 1912, onde ele trata de seu tema preferido, presente tanto em “Buddenbrooks” quanto em “Tônio Krueger”: a relação entre a arte do artista e a doença do artista, em um contexto burguês que não o reconhece. Carpeaux insiste inclusive que “A Morte em Veneza”, “é perfeita, não só pelo estilo mas também pelo esgotamento do tema; de modo que o autor, depois disso, não teria de acrescentar mais nada”. Não foi o que aconteceu. É inegável que em cores mais trágicas e metafóricas “Doutor Fausto” retoma o assunto. Mas, em termos de estilo e tema, o longo romance não superou a curta novela.

(...)

Mann tornou-se uma espécie de personagem vivo, representante moral de muito do século XX. Não um personagem comum, mas um personagem trágico. Semelhante, mas muito superior ao escritor tarado Gustav Aschenbach, de “A Morte em Veneza”, fadado desde o início a um fim inglório, patético. Aproxima-se mais de um tipo da estirpe de Adrian Leverkuhn, o seu Fausto particular. Com a diferença de que não escondeu sua produção em uma vilazinha qualquer. Ao contrário, salvou-se através dela, dando-a de forma planejada ao mundo a ponto de se tornar um fetiche global.

E, por fim, gostaria de remeter para esse terceiro texto, uma maravilhosa resenha de Luiz Elias Sanches:

http://www.espacoacademico.com.br/022/22csanches.htm
 
Valeu Mavericco pelas informações acima citadas. Provavelmente irei começar a ler Morte em Veneza a semana que vem, aí poderemos, juntamente com os outros leitores do forum, a tecer e trocar informações a respeito da obra.
 
Assim que terminar Memórias Póstumas de Brás Cubas eu começo Morte em Veneza. Provavelmente, no sábado.

E obrigado pelas informações, Maverrico. Parece que o Mann é o autor favorito do Alfredo Monte.
 
Devo começar a ler essa segunda(pra dar tempo de terminar A viagem e uns outros :D )

Assim que terminar Memórias Póstumas de Brás Cubas eu começo Morte em Veneza. Provavelmente, no sábado.

E obrigado pelas informações, Maverrico. Parece que o Mann é o autor favorito do Alfredo Monte.

Parece que não sou só eu que ainda tem que terminar outro livro para começar Morte em Veneza; no meu caso estou terminando 1984 de George Orwell.
 
\o/ Bora! Já estou retirando ele da estante, começo tão logo der um intervalo nas correções da dissertação. Vamos que vamos. :uhu:
 
tb fiz uma resenhita sobre o livro aqui qdo o li. e p quem ainda ñ viu, recomendo o filme tb, que apesar d algumas pequenas diferenças com a história do livro, é bem adaptado.
 
Essa semana também eu irei começar a ler Morte em Veneza, talvez hoje mesmo, depois do trabalho.
 
Com um certo ar de pedofilia e homossexualismo, MORTE EM VENEZA é uma obra que exige um pouco do nosso casto vocabulário.

A trama não me envolveu, pois não apresentou uma sequência de ações que me prendesse na leitura.
 
O meu exemplar só foi enviado hoje pelo vendedor... Provavelmente vamos começar a todo vapor as discussões só na semana seguinte. Assim eu aproveito e termino o Proust, no que vou ficar por conta só de relê-lo esparsamente e ler o Mann. Mas quem quiser começar a ler primeiro, pode ficar a vontade. É sempre bom ter alguém que já passou pela obra pra dar um puxão de orelha se as discussões começarem a sair demais do campo de análise :D
 
O meu exemplar só foi enviado hoje pelo vendedor... Provavelmente vamos começar a todo vapor as discussões só na semana seguinte. Assim eu aproveito e termino o Proust, no que vou ficar por conta só de relê-lo esparsamente e ler o Mann. Mas quem quiser começar a ler primeiro, pode ficar a vontade. É sempre bom ter alguém que já passou pela obra pra dar um puxão de orelha se as discussões começarem a sair demais do campo de análise :D

Ótimo, sem pressa. Quanto a sua frase final, quem sou eu para puxar orelha de alguem?

Abraços.
 
Já estou relendo, mas como minha edição é da Abril Cultural, estou ainda na parte do Tônio Kroeger, que, aliás, acho que podíamos discutir um pouco, ainda que en passant.
 
Já estou relendo, mas como minha edição é da Abril Cultural, estou ainda na parte do Tônio Kroeger, que, aliás, acho que podíamos discutir um pouco, ainda que en passant.

Lucas, minha edição é a mesma, só que já fui direto para Morte em Veneza. :lendo:

E uma boa notícia, o livro Doutor Fausto está a caminho, deverá chegar entre hoje e amanhã aqui em casa. :joy:
 
E aí gente, algum de vocês já leu e pode falar algo sobre Morte em Veneza? Eu já terminei há um certo tempo e, se quiserem, poderemos conversar a respeito.
 
Então, estou para terminar o livro.

O Gustav Aschenbach tem muito do Kroeger, não? Meio atormentado sobre suas incumbências artísticas, mas em busca de um horizonte que seja capaz de lhe chacoalhar as bases existenciais. Veneza, o lirismo italiano, aparecem para a rigidez alemã de Von Aschenbach como uma possibilidade de encontrar essa experiência.

Gosto muito dos trechos em que Mann explora o peso da arte sobre o protagonista, ela parece ao mesmo tempo uma maldição e a mais elevada atividade a que um ser humano pode se entregar.
 
Para mim uma das situações que Mann explora é a antitese entre o belo (a beleza da juventude de Tadzio) e a decadência dessa beleza (o início da velhice do personagem principal). O livro tem várias passagens sobre a beleza, a arte, a poesia, o amor e seus respectivos contrapontos.
 
Para mim uma das situações que Mann explora é a antitese entre o belo (a beleza da juventude de Tadzio) e a decadência dessa beleza (o início da velhice do personagem principal). O livro tem várias passagens sobre a beleza, a arte, a poesia, o amor e seus respectivos contrapontos.

A relação entre a vida e a arte, a aridez da existência e a beleza da criação artística são de fato aspectos que chamam a atenção nesse livro. Quando o Gustav vai vendo sua deterioração física e existencial perante a constância e a suposta eternidade da beleza, com juventude e frescor renovados constantemente, ele vai colocando sua própria vida em termos comparativos a sua arte. Perante o que ele escreveu, a arte que pretensamente criou, a realidade parece sempre estar à frente, mais vívida, pondo em claro a natureza morta que parecem ser suas criações.

Entra a literatura e a realidade, Thomas Mann insere criações a um tempo líricas e que não colocam a arte como superior à vida, essa concepção é, a meu ver, essencial para não descambar para a alienação da arte pela arte. A arte aparece, portanto, como uma instância que pode revelar nuances da vida, mas que a reconhece como a raiz da existência e, consequentemente, da criação literária. Não sei dizer até que ponto isso se sustenta (essa é a tarefa de vocês, discordando, concordando, discutindo etc. hehe), mas acho isso de uma lucidez admirável.
 
Curto demais o livro,mas o trabalho que o Luchino Visconti fez adaptando para o cinema é genial,as tomadas finais do filme são de uma beleza que poucas vezes vi no cinema.
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo