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Morte e vida Severina

São Rasputin

Existo. Logo, penso!!!
"(...)
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida :
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta."
( Fragmentos de Morte e vida Severina - João Cabral de Melo Neto )

Sou fã incondicional dessa grande obra da literatura brasileira, acredito ser tal, ao lado do poema de Drumont, o melhor e mais polêmico de nosso cabedal literário.
 
Foi feita uma adptação da obra para a tv, pela rede Globo.
Pode ser assistido em fragmentos no You tube.
 
ótimo livro , ótimo mesmo.

sou muito fã de João Cabral de Melo Neto, para mim no top 5 de escritores brasileiros.

outro trecho muito bom da obra.

"E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida)."

A peregrinação do protagonista é épica e revela as diferentes facetas da morte para um nordestino que busca uma vida melhor.
 
Bem Fingolfin, esse trecho é sem dúvidas excelente, confesso que fiquei em dúvidas qual seria a minha citação, se a que vc colocou, ou se a que eu postei.
Realmente João Cabral consta no top 5, ou ao menos no top 10 -para os mais exigentes-.
 
é verdade.

top 5 ou top 10 , importante é ver pessoas que reconhecem os escritores nacionais.

algumas "porcarias" viram best seller e todo mundo sai lendo, enquanto obras nacionais de ótima qualidade estão esquecidas.

bom , mas isso é outro problema.

abraço
 
Um bom exemplo de febre literária é O código Davince, que é um bom livro, mas que não é uma obra-prima da literatura mundial, e que, perde de longe para obras como O cortiço, ou mesmo Memórias póstumas de Brás Cubas entre outros da coleção da literatura brasileira.
 
A descoberta do poeta
25 agosto 2016
por Inez Cabral

O poema “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto, foi publicado pela primeira vez em 1956, em Duas águas. Exatos dez anos depois, o espetáculo de mesmo nome recebia o grand prix do IV Festival Mundial de Teatro Universitário em Nancy, na França. A peça Morte e vida severina estreara no ano anterior no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com direção de Silnei Siqueira e música do jovem Chico Buarque de Holanda.

No texto a seguir, feito especialmente para o blog da Companhia, Inez Cabral conta como João Cabral reagiu ao pedido do grupo de teatro amador para montar e musicar seu poema.

Você encontrará outras histórias de João Cabral na coletânea A literatura como turismo, que será lançada juntamente com a edição especial de Morte e vida severina. Nela, entremeados aos poemas, breves memórias de Inez Cabral sobre sua convivência com o pai revelam a faceta mais íntima de um dos maiores poetas da literatura brasileira.

* * *
Genebra, uma noite qualquer do ano de 1964. O jantar está na mesa. Ao sair do escritório a caminho da sala de jantar, meu pai passa pelo termostato, confere a temperatura da calefação, confirma que as aspirinas estão no seu bolso e senta-se à mesa numa das cabeceiras. Na frente de seu prato, enfileirados em um batalhão, estão todos os comprimidos efervescentes ou não, cápsulas, pílulas e drágeas que costuma consumir, para que escolha quais vai tomar antes da refeição. Minha mãe lhe estende uma carta por cima da mesa. Ele deixa os remédios de lado e examina o envelope: Vem de São Paulo. Abre-o cuidadosamente com a faca e começa a ler a missiva. De repente se indigna:

— Querem botar música em Morte e vida severina!

— Para quê?

— Estão pedindo para montar a peça. É um grupo de teatro amador de São Paulo.

— Que ótimo! Pode deixar que eu redijo a autorização depois do jantar.

— Mas Stella, eles querem por música em meus versos!

— Você vai negar a autorização por causa disso?

— Eu detesto música, você está cansada de saber. Os versos vão mudar de ritmo e perder a força.

— Me deixa ler essa carta. Quem vai musicar é um rapaz novo, Francisco Buarque de Holanda. Será que é parente do Sérgio?

— Já sei! vou autorizar a montagem do texto, mas proibir de mudar a métrica dos versos. Se o rapaz conseguir…

E assim a autorização é enviada a Silney Siqueira, diretor do espetáculo que será montado pelo Tuca, grupo de teatro amador da PUC de São Paulo.

Alguns meses depois, já em 1966, recebo um telefonema de minha mãe no internato onde estudo e ela me diz:

— Já dei a autorização para você sair do colégio ainda hoje, você vai à França com seu pai e comigo.

— Que legal! Vamos fazer o que na França? E na França onde?

— Vamos a Nancy, assistir à montagem de Morte e vida severina por um pessoal de São Paulo. Seu pai quer que você venha conosco porque está preocupado, ele acha que você está europeia demais. Assim, vai entrar em contato com jovens brasileiros, você precisa disso.

— Então vou me arrumar, tem um trem que sai de Fribourg para Berna daqui a uma hora. Até já!

Na maior felicidade (nada melhor do que matar alguns dias de aula), em menos de meia hora estou pronta e na estação.

No dia seguinte, lá vamos nós de carro até Nancy, onde acontece o Festival Mundial de Teatro Universitário.

A peça será encenada daqui a dois dias. Durante esse tempo, assisto os ensaios, ouço falar português sem ser em casa, aprendo algumas gírias novas. O pessoal é absolutamente adorável e o compositor… enfim, o que dizer de Chico Buarque aos vinte e um anos, visto por uma garota de dezoito? Ainda tive a alegria e a honra de ouvi-lo cantar “Olê, Olá” só para mim.

No dia da apresentação, chegamos cedo ao teatro, que está lotado.

A peça começa. Legendas são projetadas no alto do palco. O silêncio na sala é total. Fico siderada, e reparo que meu pai, sentado a meu lado fica também. As músicas inseridas no texto são arrepiantes. Meu pai está pasmo, o rapaz não mexeu numa vírgula sequer, e comenta isso durante os aplausos. A peça é ovacionada em pé, o que não é uma reação muito normal para um público francês. Tudo o que ouço em volta de nós na plateia é:

— Quelle merveille!

— Incroyable!

— C’est d’une beauté!

Eu seria uma mentirosa se não confessasse o orgulho que senti do meu velho naquele momento. Nunca tinha lido o texto, apenas sabia que existia. Esse foi o dia em que descobri o poeta escondido dentro daquele que para mim era apenas o meu pai. O texto de Morte e vida severina precisou ficar dez anos dormindo, até ser despertado por um grupo de estudantes paulistas a quem serei eternamente grata por me apresentarem, há cinquenta anos atrás, o poeta João Cabral de Melo Neto.

* * * * *


Inez Cabral nasceu em Barcelona, na Espanha. Durante a infância estudou em vários países, acompanhando o pai diplomata. Cineasta, trabalhou na extinta TVE, participou da equipe de diversos filmes e dirigiu curtas-metragens como Romance policial brasileiro. É também tradutora e vive atualmente no Rio de Janeiro.

Fonte: http://www.blogdacompanhia.com.br/2016/08/a-descoberta-do-poeta/
 
"(...)
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida :
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta."
( Fragmentos de Morte e vida Severina - João Cabral de Melo Neto )

Sou fã incondicional dessa grande obra da literatura brasileira, acredito ser tal, ao lado do poema de Drumont, o melhor e mais polêmico de nosso cabedal literário.



É muito interessante, a gente vive buscando literatura fora e esquece o quão bela a nossa é! Pra mim esse é um dos melhores de João Cabral.
 

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