Ah, eu vi o filme, mas, surpreendentemente, foi uma decepção.

O ponto alto tá mesmo na atuação da Charlize, que realmente incorpora o papel. Acredito que isso foi fundamental para o filme ter funcionado para muitas pessoas porque ele roda bem em torno da prostituta Lee (Charlize Theron), então o fato da atriz ter trazido toda a angústia da personagem foi muito importante. Ainda assim, observando todas essas críticas reverenciando sua atuação, chego à conclusão que elas estão superestimando um bocado. Eu sei que muita gente vai discordar de mim, mas a maquiagem do filme tirou um pouco do mérito da sua performance, pois ajudou bastante para a retratação da protagonista e, portanto, para dar realismo à interpretação de Theron. É inegável que essa mulher tem um talento imenso (destaque para a sua expressão corporal no longa), mas ficou a impressão de que aquilo não foi trabalho dela somente. Anyway, se dependesse de mim, o Oscar teria ido para Naomi Watts, por "21 Gramas".
Pois bem, como eu disse, o foco é a personagem Lee. Aí tem o lado mais intessante do filme, que tenta explicar as razões pelas quais ela se tornou o 'monstro'. A princípio era uma criança que alimentava sua imaginação, sonhando em se tornar uma estrela de cinema quando crescesse. O problema é que isso não aconteceu; na verdade sua vida foi resumida a séries de catástrofes, o que a levou a se tornar uma prostituta precoce para ganhar a vida. Por causa disso, ela nunca teve a oportunidade de expor o amor que tinha a oferecer, até encontrar Selby, personagem de Cristina Ricci. Esse encontro se deu quando Lee estava prestes a cometer suicídio, e encontrou nessa amizade inédita uma descoberta que até então era impossível para ela. Enfim, elas se apaixonam e as coisas começam pra valer.
O romance serve de incentivo para Lee lutar pela vida, mas a delicadeza da relação é meio que ignorada a partir daí. A sensibilidade da cena da patinação - linda, aliás -, por exemplo, é perdida.
A mulher, então, começa a matar seus clientes como forma de 'vingança' por tudo o que ela sofreu no passado, e então as coisas começam a ficar repetitivas demais. Entre os vários conflitos entre o casal e a protagonista e ela mesma, a monotonia começa a crescer, e, embora no meio disso o filme não impede que a simpatia que sentimos pela protagonista se desfaça (o que faz de seus atos algo até compreensível, e podemos até mesmo enxergar muito bem o ser humano 'bom' por trás da monstruosidade), o exagero em enfatizar as situações de conflitos internos da mulher acabou por tornar o andamento desinteressante. Isso porque essas situações, ainda que reforcem o lado psicológico de Lee, tornam-se, como mencionado, repetitivas e às vezes previsíveis, e o que poderia dar em resultados impactantes dão origem ao cansaço. Enquanto alguns vão considerar esse ponto justamente a melhor característica do filme (pois, reconheçamos, a personagem Lee é muito bem desenvolvida), eu digo que, pra mim, não valeu a pena trocar vários bocejos por uma moral que sequer me afetou.
Aliás, a única parte que eu considerei realmente comovente foi o final. Mas, em geral, foi um filme que não me agradou, mas que merece receber uma conferida graças à Charlize Theron, embora eu ainda ache que sua atuação não foi nada de atemporal etc.
2/5