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Moby Dick (Herman Melville)

[align=justify]Talvez essas considerações de Melville sejam indícios de que ao falar sobre as viagens marítimas propriamente ditas, o autor estaria não só as celebrando em seu valor material de obtenção de riquezas e de aventuras; mas que "fazer-se ao mar" era literalmente produzir-se enquanto indivíduo e enquanto ser de carne e com alma através das experiências que o mar proporcionava. Viajar era a forma de sentir-se vivo, de sentir-se humano, de manter-se vigilante sobre as armadilhas da modorrenta vida em terra, da monotonia protocolar e de mentalidade estreita do puritanismo que infestava as terras onde Melville pisava. A vida do autor está impregnada dessa necessidade de trabalho monótono para obtenção de renda que ameça seus planos de fuga marítima.

"Fazer-se ao mar" talvez pudesse ser modificado de leve na sua gramática mas profundamente na sua semântica por "Fazer-se no mar", ou seja, constituir-se por meio das experiências, privações, promissoras manhãs, ameaçadores noites, desafiadoras tempestades, pelo fazer-se contínuo da atividade baleeira. Romper com a terra não era simplesmente deixar de pisá-la, mas desligar-se de um mundo impregnado de valores, modos de vida, hábitos, regras, costumes, condutas, sistemas morais e de valores diversos que desagradava profundamente Melville, vide Bartleby. Viajar era resistir ao enquadramento monótono de tornar-se mais um em meio a multidão.

Engraçado é que, pensando desse modo, Ahab seria não um destino fatalista de condenção praticamente iminente, mas o arauto de um universo a parte, onde as regras são outras. Ahab seria um libertador!

Bá, cada vez que penetramos mais nas camadas e camadas de referências de Moby Dick, mais nos tornamos Ahab's em torno do propósito obssessivo de capturar a nossa Moby: a compreensão profunda do livro.[/align]
 
O capítulo 99 tem uma ideia que corrobora com sua análise, Lucas. Fazer-se ao mar como a quebra cíclica de um ciclo. Algo necessário para todo ser humano. Daí a obsessão pelo mar e pelas águas que desde cedo nos assola (vide Cap. 1).
 
[align=justify]Vamos retomar nossa discussão a partir desse ponto novamente:

Mavericco disse:
O terceiro, por fim, é a relação do livro com a religião. Ele não fala exatamente isto, mas pude perceber nitidamente que sua intenção era demonstrar a religião nítida de Moby Dick como sendo aquela da igreja em Nantuckett bem como a religião implícita de Moby Dick, que poderia ir desde a adoração de deuses de Queequeeg até à caçada em si de Baleias, o que continuaria dando em Queequeeg... Afinal de contas, a própria missa realizada em Nantuckett tem como finalidade e escopo a caça de baleias. Nantuckett é uma baleia de Jó que engole todos os baleeiros do mundo. O homem de Nantuckett é garfado de lá pra cá, simplesmente.

Vamos lá, não posso me alongar que tenho que sair, mas dá tempo para dar uma abstraída aqui. Essa missa em Nantuckett que ele cita é aquele em que Melville compara o altar em que o padre discursa a proa de um navio, como se o templo fosse um grande barco, o padre seu capitão e os 'fiéis' (ou pelo menos os que lá estavam) a tripulação. Esse trecho do livro em especial me causou efeito, porque as palavras do padre, para fazerem sentido para os que o ouviam, tinham que ser traduzidas em analogias a vida baleeira.

Por mais que tenha sido discutida aqui já, me parece que aqui a questão da subversão da religiosidade oficialesca ou insititucionalizada, de práticas estritas e expedientes marcados, ganha outros significados. Pensando a nível histórico: qual é o sentido e o significado de escrever um livro exortando a vida baleeira (por mais adversa que ela pudesse ser) e usar da religiosidade (algo tão sacro e tão passível de gerar polêmicas de toda a sorte) para fazer isso?

Acho que vale a pena pensarmos mais sobre isso. O que estaria pretendendo Melville? Depois dessa discussão sobre religiosidade, puritanismo e crítica ao modo de vida 'de terra', não consigo mais enxergar Moby Dick de outra forma. Apesar das aventuras e das outras várias dimensões da obra, das quais também gosto e devem ser levadas em consideração ao entender a obra, essas foram as que mais me agradaram e que mais me ajudaram a compreendê-la.[/align]
 
(sei como é. Aqui a coisa tá apertada também, hehe... E ainda preciso responder o tópico do "Carta ao Pai" [isto é; se for este mesmo])

Acho que está na verossimilhança que o discurso religioso consegue possuir. Consigo pensar em alguns exemplos, para ser mais exato: A Divina Comédia, que se calca inteira no Cristianismo, e da qual possui grande parte de seu caráter crível no fato de ser cristã e de nós sermos cristãos (ainda que a Divina Comédia inteira seja uma extensão do Canto VI da Eneida [da visita de Enéias ao submundo {que, por sua vez, possui traços da visita de Odisseu ao Hades}]; ainda que este mesmo Virgílio seja considerado um "autor cristão" [Estácio, no Purgatório Divina Comédia, é "purificado" para o cristianismo simplesmente lendo Virgílio]); o Paraíso Perdido do John Milton, onde as personagens bíblicas e todo o tema bíblico desfila de transfigurações e recriações (o Satã de Milton é mais humano e heróico que Cristo), mas que ainda assim possui seu cerne cristão-religioso.

É claro que existem vários outros exemplos, como, de leve, Os Lusíadas, ou o Jerusalém Libertada (que, como gosto de brincar, é Os Lusíadas escrito por um Camões italiano tonsurado e coroinha).

O fato é que o discurso religioso, por tocar em questões dogmáticas e fundamentais para várias civilizações (morte, vida, universo), acaba tendo uma carga, como dito, de dogma, de incontestável. Isto explica o porque de tantos pastores conseguirem tão facilmente arrecadar dinheiro de seus ouvintes; isso explica o domínio tão extenso e ainda presente da Igreja Católica.

Se Ishmael, ao longo do livro, tenta exaltar a pesca baleeira de todas as formas e de todos os jeitos, indo desde fontes clássicas até a interpretações simbólicas ou paródias teatrais; é apenas com o escopo religioso que ele consegue uma fundamentação mais concreta. Se Ishmael eleva a pesca baleeira ao nível de uma religião (na igreja de Nantuckett tem um arpão no fundo [ou uma ossada, algo assim]), ele consegue, quase que automaticamente, validar sua proposta. E consegue isso tanto de um ponto de vista cristão (ao se utilizar de uma igreja [presbiteriana? É isso?]) quanto dum ponto de vista mais generalizado, ao adicionar, por exemplo, tripulantes secretos à tripulação (a "quadrilha de Ahab", da qual, não me lembro ao certo, existe um chinês ou oriental no meio) ou o próprio Queequeeg (que, apesar de toda selvageria, possui um cânone cristão -- ou algo do tipo, na medida que Queequeeg, sem esforço, consegue "converter" Ahab para sua religião [tanto é que Ahab reza junto com Queequeeg]).
 
Uma outra coisa que me surgiu aqui: o que a caça à baleia representava para a economia estadunidense do século XIX, pelo menos até a metade daquele século?

Fiquei pensando sobre isso e quem sabe pode dar uma boa discussão. O principal produto que a baleia fornecia era o óleo para iluminação pública, estou certo? Havia uma porção de outras utilizações para o que a baleia fornecia, mas creio que essa era a principal, não?
 
Acho que esse foi o primeiro livro que comprei, quando eu estava na 5ª ou 6ª série (o dinheiro, logicamente, foi dado pelo meu pai).

Li duas vezes e há alguns anos vendi para um sebo =P

Eu gostaria de poder lê-lo novamente, pois quando o fiz eu era criança e não captei muito bem a história!!!
 
A Cosac fez um post bem legal no blog dela sobre o processo de produção do e-book do Moby Dick:
http://editora.cosacnaify.com.br/blog/?p=14524

É bem legal pra você ver que e-book não é tudo igual... Além, é claro, de poder entender algumas preocupações que as editoras possuem na hora de fazê-los.

E é bacana que, na comparação, ele também fala da versão impressa, de como foi feita a diagramação e tal:

attachment.php

“O que você vê aqui?” “Me passa uma ideia de horizonte…”

Como transpor essa sensação de horizonte para o digital, que não conta com folhas duplas?

Eu tenho essa versão impressa (da Cosac) e confesso que, quando a recebi, por um momento me arrependi de ter comprado, por causa do tamanho dela.

Moby Dick é um livro grande e robusto, por dentro e por fora. Sua identidade visual é tão forte que me sinto desajeitado segurando-o.
Ele aparenta ter mesmo o peso de uma baleia e, por isso, o mantenho na estante, por trás de um vidro, como que em um aquário. Ele é, para mim, o tipo de livro para ser lido em casa, em segurança, e não para ser carregado para cima e para baixo ao longo do dia. Afinal, seria no mínimo curioso observar um sujeito, na linha azul do metrô, com uma baleia entre as mãos…

:lol:

Não cheguei a colocar num "aquário", mas com certeza é um livro que lerei em casa (quando? em breve... :gotinha: ) e é uma coisa pra se fazer com paciência e tempo, prestando atenção à diagramação e às ilustrações.





3.jpg
 
Muito boa. Quem sabe se bombardearmos os japoneses com a música do capixaba, eles parem de matar baleias, toninhas, golfinhos...
E já que querem censurar o Lobato, censuramos o Melville também. Só que aí, não sobraria nada do livro. Mas ele poderia se tornar mais suave, se o Pequod fosse um barco de pesquisa que procura Moby Dick, não para matá-la, mas para capturá-la e proporcionar tratamento médico. Ahab, que não guardaria qualquer rancor do cachalote branco que arrancou sua perna, estaria é obcecado em trocar o emissor de rádio (em pleno século XIX!) que quebrou e não indicaria mais onde Moby Dick está. No final ele morreria, mas como um mártir na preservação das espécies ameaçadas.
Sobre a questão do falo cetáceo e o capitão perneta... não é preciso seguir esse caminho. A relação entre Ismael e Queequeg supre qualquer possível necessidade de representatividade.
 
A Biblioteca Alta Cultura (rs) está lançando uma nova tradução, prometendo uma edição toda bonitona também, para o Moby Dick. Fizeram até uma espécie de booktrailer:

E uma breve dramatização (achei bem inusitada haha):

Eu já tenho uma edição aqui comigo, da Nova Fronteira, e não planejo trocar.
(Já até vendi minha Cosac quando surgiu a oportunidade rs).
Mas fica aí a sugestão, se alguém estiver à cata de uma edição pra adquirir.
 
Eu adoro o Moby Dick! Mas super entendo que o Mercúcio tenha achado parado. O bagulho é parado mesmo, e no final das contas a aventura ocorre muito a nível linguístico: joga para uma linguagem mais poética, para outra mais prosaica, insere uma cena teatral aqui, descrições minuciosas e técnicas ali... Se você juntar uma coisa a outra, terá algo como: uma narrativa parada fustigada por ondas de uma linguagem, digamos, instável. O que muito provavelmente é como os marinheiros daquele tempo se sentiam em viagens que levavam anos, tinham poucas aventuras mas muita instabilidade marítima.
 
Eu li isso aí como leitura obrigatória na escola e na época achei literalmente viagem de marinheiro mesmo. :lol: Foi uma daquelas leituras que mesmo tendo prazo pra cumprir eu não conseguia avançar muito por dia porque dava sono. :zzz:

Esse é um dos poucos casos que prefiro mais o filme do que o livro.
 
Eu bem que queria ler um resumo só pra acertar o suficiente na prova, mas entrei nesse oceano aí.
Mas sendo sincero jamais julgaria o livro como ruim. Longe disso, foi mais cansativo e paradão pro meu gosto. Só isso.
 
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