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Moby Dick (Herman Melville)

Vejo muita gente que fala que o livro é chato, isso e aquilo, mas eu li e adorei! Sei lá, adoro livros que se passam no mar, e achei a história muito bem contada. Quero ainda ter esse livro (não essa edição super cara, é claro).
 
Antes mesmo de chegar ao fim de Moby Dick já sabia que ele entraria para o meu top10. O livro não é um clássico à toa, tem motivos muito cabíveis para figurar no cânone ocidental e estar entre os mais mais de qualquer lista que se preze. Pretendo aqui além das minhas opiniões particulares da experiência de leitor, também explicitar os motivos pelos quais o romance é um clássico.

Entrar na pele de Ismael, o narrador da história e estar sob as ordens do capitão Ahab é uma experiência literária única. Não são muitos os romances que conseguem causar tamanho efeito no leitor e construir uma expectativa tão monstruosa ao redor de um personagem como Melville o faz com Moby Dick, a baleia branca.

O Capitão Ahab, cujo navio “Pequod” é o palco do romance, é um velho lobo do mar que dedicou sua vida a navegar os mares e caçar baleias. Porém teve infausto destino ao topar com Moby Dick, a branca e leviatânica baleia que lhe arrancou a perna e feriu o espírito para a eternidade. Desde que foi obrigado a apoiar-se em uma perna de marfim, Ahab remói a vingança inconclusa que deseja mover a Moby Dick.

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Alguém sabe se aquela edição da abril nova com capa de tecido tem tradução boa?
Porque eu tenho dela e daqui a algum tempinho pretendo ler se queria saber se ela é boa ou não...
 
De fato, muito bom o livro. Sinto falta, na edição da Cosac, de um mapa anatômico da baleia ou algo do tipo, além das ilustrações e do pequeno dicionário náutico no apêndice...

De toda forma, não sei se concordo com Carpeaux que Moby Dick é um bom guia para se caçar baleias... Os argumentos de Ishmael para com a caça de baleia e, ao desenrolar do livro, contra Moby Dick, são visivelmente contaminados da cólera e da vivacidade de Ahab. Ishmael vai deixando de ser Ishmael e vai se tornando Ahab...

"Call me Ishmael". Até quando?
 
[align=justify]Moby Dick captura o leitor pela diversidade de 'coisas' que agrega: é relato de viagem, manual de pesca de baleia, compêndio de cetologia, guia anatômico de baleias, é guia taxonômico cetáceo, literatura per se, pelo 'clima épico' que permeia a obra como um todo. A obstinação do Melville em chafurdar por cada mísero detalhe da viagem, de cada variação do espírito do Ahab, de cada circunvolução do enorme corpanzil da baleia branca fazem do livro uma obra de difícil classificação, de difícil discussão de maneira mais panorâmica. É difícil inclusive tecer breves linhas sobre ela...a experiência solitária de ler o livro é fundamental, mais do que qualquer comentário sobre ele feito, a meu ver (isso talvez seja óbvio, mas é mais premente ainda em Moby Dick).[/align]
 
Bem. Moby Dick é um romance simbólico, e o leitor que negar isso é mais cego que Milton. Não sei se Moby Dick é um livro de literatura. É uma espécie de livro cetológico com um argumento ou um prefácio estendido. É uma extensão da parábola de Jonas, aplicando-se ao próprio livro: as partes cetológicas devoraram a literatura e esta coexiste com a baleia literal que existe no texto. Esse clima de fagocitose ocorre inúmeras outras vezes ao longo do livro, como Queequeg englobando Ishmael em sua cama ou Ahab a tripulação com sua obstinação, ou o leitor... O leitor. Lembras-te (eita! Já posso morar em Nantuckett) que Ahab trouxe consigo uma tripulação clandestina? Pois é. Simbolizam os leitores. Nós entramos no Pequod clandestinamente, sorateiramente, e quando menos percebemos, fazemos parte do livro. Queremos traçar as curvas e os reflexos crepusculares na cabeça duma baleia, queremos amarrar a ostaxa ou subir num mastaréu e ver o horizonte. A diferença é que não caçamos baleias... Ou caçamos? Lemos Moby Dick incessantemente e ele sempre nos vence, ora aprofundando-se, ora destruindo nossos barquinhos retóricos.

A obstinação do Melville em chafurdar por cada mísero detalhe da viagem, de cada variação do espírito do Ahab, de cada circunvolução do enorme corpanzil da baleia branca fazem do livro uma obra de difícil classificação, de difícil discussão de maneira mais panorâmica.

Melville é Ahab. Fica difícil classificar a obra pois a obra é a baleia... E... Bem. Acho que pudemos perceber a dificuldade de se classificar um leviatã como a baleia referida no livro... A dificuldade de se panoramizar um monstrengo desses (engraçado... A Lula é um animal de dimensões maiores que a baleia e Ishmael pouco sobre ela diz: e continua inclusive a classificar a baleia como o maior dos animais... Não é um tanto quanto estranho? Talvez a Lula represente o livro com suas interpretações, cheia de tentáculos ramificados e desconhecidos, abissais)
 
[align=justify]Mavericco, se Moby Dick consegue congregar tantas múltiplas linguagens, tantos múltiplos status (manual de caça a baleias, tratado de anatomia cetácea, literatura etc.) de que forma podemos quebrar sua blindagem aparentemente ininterpretativa e penetrar nos obscuros meandros da obsessão 'ahábica' de Melville em dedicar tamanho esforço, tempo e nervos escrevendo um calhamaço de tão faraônica magnitude?

Quando olho para a largura da lombada do Moby Dick na estante e lembro a quantidade de páginas dedicadas a detalhes sem conexão tão direta com a história da perseguição, não me abandona uma tal imagem de Melville como um obsessivo, como você bem observou, análogo ao capitão do Pequod. Como explicar a produção desse livro? Que tipo de ímpeto impelia a escrita? Que sorte de inquietações assolavam o espírito de Melville a ponto de fazê-lo produzir tamanha obra com tais características?

Estou 'ahabicamente' obcecado por entender de onde veio esse elán que moveu o Melville?

Concordo contigo a respeito de que colocar o Ismael (ou Ishmael) como narrador e personagem, é um recurso de nos fazer viver a história a partir do ponto de vista dele, como um tripulante do Pequod e sujeito às intempestivas mudanças de ânimo do capitão. Somos reféns da loucura obssessiva de Ahab bem como de Melville.[/align]
 
Bem... Melville era um lobo do mar. Ele fez e teve experiências maritmas. Se não me engano, acho que ele inclusive chegou a caçar baleias... Provavelmente tudo o que quis fazer foi uma espécie de relato quase-autobiográfico (como o de H.H. viajando pelos EUA com sua Lolita em decadência)...

Agora que tipo de coisa atormentava Melville, isso de fato eu não sei. Não faço a mínima ideia! Provavelmente jamais poderemos saber o que faz com que um autor realmente se interesse em escrever um livro; mesmo porque, no final das contas, são poucos livros que tomam esse "pré-processo" como algo de fato necessário. O Retrato do Joyce é um desses livros, onde você precisa conhecer a vida de Joyce e seus motivos artísticos para compreender seu pequeno Dédalo...

A primeira coisa que devemos fazer para analisar Moby Dick é analisar Shakespeare. Li em algum lugar que praticamente nenhuma página de Moby Dick está isenta de paráfrases de Shakespeare. A linguagem de Melville é trágica em sua essência tal qual a Shakesperiana. É cheia de ações, de adjetivos, de comparações... Isso sem contar na montagem dos personagens. Das peças shakesperianas, posso citar Lear tal qual Ahab ou Hamlet (e como citamos Lear, ressuscito minha teoria conspiratória de que Lear "planejou sua decadência", o que cai como uma luva no nosso texto!)... Que coisa mais estranha, afinal! Moby Dick seria ou um Claudius ou o pai de Hamlet, pois a brancura também simboliza a fantasmagoria... Gosto também de pensar na tripulação do Pequod como sendo um misto de gregos e troianos em Troílo e Cressida; especialmente quando outros navios baleeiros fazem suas paradas e conversam, dialogam com o Pequod.

O próprio final de Moby Dick é sanguinolento tal qual as peças shakesperianas ou o teatro grego antigo... Acho que a diferença está na cor, ou melhor, na simbologia do sangue. Entramos tanto na mente de Ishmael (na de Ahab, eu digo, pois Ishmael é uma sombra de Ahab) e nos acostumamos a ver caçadores de baleia estripando, decapitando, degolando uma baleia na maior sanguinolência possível (tem um camaradinha que entra na cabeça de uma baleia e quase morre nela!); e quando lemos o final... Estranhamos o sangue!

Sendo assim, adiciono um novo capítulo para Moby Dick: "Da cor vermelha", onde discuto a realeza, nobreza, e a horripilância da citada cor.

(Gabriel, eu não sei se sua tradução é de fato boa... A que tenho é a da saudosa Irene Hirsch pela Cosac que é de bom grado, pelo que li a respeito. Procure no Não Gosto de Plágio pela procedência dela...)
 
Tenho a impressão de que irei gostar muito desse livro... não sei porque, mas sempre o vi achei que ia gostar... gosto desse imprego metalinguistico, como por exemplo quando o autor expoe aspectos sobre como caçar baleias etc..
E também por parecer ser um texto bastante exaltado e grandioso...
Porém tudo isso conclui apenas pela sinopse do livro... Porque por enquanto esperando eu estar com bastante tempo de sobra e não ter que a todo hora interromper a leitura...:sim:
 
[align=justify]Será que Moby Dick pode ser considerado uma ode a vida marítima e os mistérios que o oceano encerra em suas profundezas?

Mavericco, acho que você não entendeu muito bem o que eu quis dizer: quando disse que gostaria de saber o que "atormentava" Melville, estava querendo saber que motivos o moveram para que ele escrevesse Moby Dick, e porque ele resolveu fazê-lo desse modo, entende?

Exemplo (só para ilustrar): ele escreveu esse livro porque ele pensou que seria uma boa leitura para os marinheiros de Nantucket em suas estadias nos navios, ou ele escreveu esse livro porque acho que seria um bom guia para baleeiros em sua lida diária de rastrear e abater leviatãs...

O que me intriga é porque tamanho afinco em chafurdar em cada detalhe, em categorias taxonômicas, em circunvoluções de barbatana, em comportamento na época da reprodução, em hábitos alimentares etc. Não que eu os condene, pelo contrário, acho o máximo!, mas o que não quero pensar é que eles estão ali por acaso, eles devem ter um sentido, ainda que inconscientemente incrustado na obra. A ode que citei no início desse post é uma hipótese.[/align]
 
É provável que ele estivesse querendo transformar sua narrativa num relato mais verossímil ou simplesmente justificar sua caçada obstinada pelo Moby Dick... Como Humbert Humbert tentando justificar a pedofilia citando o amor de Dante por Beatriz; quando na verdade isso é falso, visto que antigamente o conceito de criança não existia.

Ou talvez ele estivesse querendo "reconstruir" a baleia. A caça às baleias é uma tarefa de desconstrução, por natureza, mas Ishmael quis criar algo inverso, construindo a baleia (a baleia de Ishmael, é importante lembrar) diante do leitor, tentando alcançar uma verossimilhança... É como se, ao construir uma baleia textual cercada de partes não-ficcionais, a narrativa, a literatura, o leitor se portassem como Jonas dentro duma baleia -- só que aqui no caso é dentro de uma baleia literalmente.

Ou simplesmente uma forma de se construir a progressão da obstinação de Ishmael/Ahab por meio das descrições fisiológicas. Nós, leitores, pouco sabemos sobre baleia, e eu poderia morrer sem saber o que era uma ostaxa ou que a cabeça da baleia tinha gordura dada como preciosa; sendo assim, ele nos guia pelo escuro, como Joyce guiando um leitor que nunca visitou Dublin em seu Ulysses, e é justamente desta forma que vamos, pouco a pouco, aprendendo a aceitar tudo o que ele diz como sendo verdade... É como se ele nos desse uma espécie de "mata-leão" ou "boa-noite-cinderela" que nos desse tonturas, cansaço, fadiga... Como se não bastasse estarmos caçando uma baleia, estarmos dissecando uma baleia (nós, marinheiros de primeira viagem tal qual Ishmael; pois que o Ishmael que narra não é o mesmo Ishmael do tempo da narração em si, ou seja, o Ishmael que não sabia droga nenhuma de como caçar uma baleia -- esse papel é nosso), ainda temos que lidar o cansaço que o livro nos proporciona...

É por isso que muitos leitores de Moby Dick são cachalotes comuns, que vão sendo perfurados pela lança textual de Melville até, por fim, esguicharem sangue (reclamações, súplicas, etc) até a morte; enquanto poucos são de fato um Moby Dick, que consegue ultrapassar todas essas barreiras e, porque não pensar?, chega até mesmo a afundar alguns botes baleeiros...
 
Daqui à pouco vão querer colocar livros no mesmo preço de automóveis....
Mas será que vai vender muitos exemplares?
Nem todo brasileiro fã de literatura tem condições de comprar um livro desses O.O
 
Mas são edições especiais, de luxo, com conteúdo extra como estudos e mapas, esquemas... Não visa o público inteiro; apenas um público seleto.

No caso da edição da Cosac, por exemplo, você tem um glossário náutico e um "esqueleto" dum navio indicando o nome das velas, das partes do bote baleeiro e etc -- coisas que você não acha numa edição comum e que são fundamentais pra se entender o texto.

Isso sem contar o projeto gráfico da Cosac, que é primoroso, onde até mesmo os mínimos detalhes, como os asteriscos pra separar partes dum capítulo são tratados de forma diferenciada; sem contar a capa, onde até mesmo a escolha da fonte tem um porque.

Não acho também que sejam edições de todo inúteis. São coisas pra colecionadores e para leitores que desejam entender o texto de forma completa e mais abrangente... Conheço leitores de Moby Dick que, por exemplo, se assustam quando eu digo que o Pequod deu uma volta ao mundo pra encontrar a Moby Dick!
 
é tão diferente assim o texto e a edição da cosac?
E a edição é tão "fundamental pra se entender o texto"?
 
Eu só li a edição da Irene; mas pelo grande estudo que ela fez antes de partir pra tradução, creio ser de fato primorosa.

E eu digo que entender termos náuticos é sim essencial em Moby Dick. Se você não souber exatamente o que é uma ostaxa e onde ela se localiza, você vai entrar no piloto automático enquanto ler... Ishmael narra seu livro não para nós, leitores que nunca foram marinheiros: ele narra suas aventuras para outros marinheiros, para outros caçadores. Ele não visa o leitor comum. Se visasse, iria falar "corda".

É claro que um bom dicionário resolve esse problema de forma bem efetiva, visto que o dicionário náutico da Cosac é quase que um Ctrl+C Ctrl+V dum dicionário qualquer...
 
atah...
vou ver então se dou um jeitinho de comprar essa edição, já que estou doido p/ lê-lo...
só estou esperando acabar de ler o idiota!
 
também não é pra tanto. Basta que você tenha um bom dicionário e pesquise na internet / imprima as imagens que você consegue material inclusive melhor que o da Cosac, que não é completo, diga-se de passagem. Tem muitas ilustrações que eles omitiram e que seriam bem interessantes de serem colocadas, como por exemplo ilustrações de quando se retira o óleo da cabeça da baleia: a ideia que eu tive é a de um teatro malabarista; mas vai lá saber se é mesmo assim!
 
Estou confuso...
Acha que a tradução de berenice xavier(contida na edição recente da coleção clássicos abril) é boa?
 
Você pode comparar aqui as traduções:

http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11738
 

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