Pesquisa gera retorno social sim, quantificado ou não, sob o ponto de vista capitalista ou não. Todo retorno econômico é, necessariamente, social, para alguma parte interessada.
Acontece que o Estado está preocupado em respaldar a economia e o bem-estar social. Mesmo nos Estados Unidos, tradicionalmente visto como economia laissez-faire, a ausência de controle, interferência ou fomento estatal sempre esteve longe de ser uma verdade. Uma civilização urbana sem forte controle do aparato estatal é algo que jamais existiu.
Afinal, mesmo o bem-estar dos poderosos fica afetado se a qualidade do mundo à volta deles não for suficientemente boa.
Pesquisadores e seus equivalentes civilizacionais sempre existiram, em toda a História e em todas as sociedades humanas. Eles são pessoas que colocam a curiosidade à frente do interesse, e muitas vezes pagam o pato por isso, diante de uma população impiedosamente pragmática. Talvez eles existam por instinto, por serem um tipo importante para a preservação e o avanço da espécie. Ou talvez sejam frutos socialmente requeridos da maleabilidade do comportamento humano e da cultura do meio.
Ocorre que estes pesquisadores também têm outros interesses além de satisfazer suas próprivas dúvidas, e por isso vendem sua força de trabalho ao Estado ou ao meio privado em troca de dinheiro, convenção social cujo valor é poder ser intercambiado com todos os desejos materiais do possuidor.
Quanto ao retorno social, é preciso entender que, e parece que a população tem uma compreensão cada vez maior disso, o volume investido e o pessoal envolvido não pode ser pequeno. É preciso uma alocação massiva de recursos, para a geração de, como muitos gostam de dizer, emprestando da Física Nuclear, massa crítica. É só a partir dessa massa crítica que pesquisas aparentemente desconexas da realidade local ou global começam a impactar umas sobre as outras e se construírem mutuamente, gerando valor social. Como uma nuvem de "ruído multicerebral" da qual é possível sair coisas geniais.
Pensando sob este ponto de vista, seria necessário que as pesquisas de interesse local fossem fomentadas massivamente pelo governo, e que aquelas em princípio de teoria "pura" fossem financiadas através de um consórcio mundial, como é a tendência com o ITER, o LCH ou como foi com o Projeto Genoma Humano.