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"Memórias Póstumas de Brás Cubas" (Machado de Assis)

Agora, quero morrer tranquilamente, metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas folhas de tinhorão da chácara, e o som estrídulo de uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à porta de um correeiro.
 
Bem, como eu ainda não vi um tópico pra tratar deste livro, em especifico, resolvi abrir um.
O livro dispensa apresentações, pois ao lado de Quincas Borba, e Dom Casmurro, faz a trindade dourada do realismo machadiano.
Memórias é inovador desde a primeira página -dedicatoria ao verme que primeiro roeu a minha carne fria- até o fim, contando sempre com o conúbio entre a pena de galhofa e a tinta da melancolia.
Não é dificil sentir raiva do narrador em alguns momentos, como quando ele abandona a menina coxa, entretanto algumas vezes sentimos pena dele, principalmente no último cpítulo.
Enfim eu achei o livro escrito e narrado de uma forma magistral, e também muito engraçado.

O q vcs acharam?

Ps: antes que eu me esqueça tenho duas perguntas pro pessoal que estuda literatura com mais afinco:
1) O Machado errou de propósito o nome do fundador da Vila de São Vicente?
2) Existe alguma informação de que ele já estava preparando o Quincas Borba quando escreveu o Memórias?

Vlw.
Olá, lipecosta.
Memórias Póstumas de Braz Cubas é um ótimo livro. Seus comentários sobre a obra Machadiana são pertinentes e quero compartilhar. Machado de Assis foi um escritor que transcende. Nasceu de uma família pobre e viveu a infância numa casa simplória, no início da subida do Morro do Livramento, na Saúde. Menino negro, que viveu parte da época da escravidão, deve ter sentido na pele os preconceitos da pobreza e da cor da pele, muito embora suas obras não possuirem o viés do queixume próprio. Viveu no Brasil quando ainda era uma colônia portuguesa. Ainda vivo, presenciou a chegada da república e a expulsão do Imperador Dom Pedro II e sua esposa. Foi colunista de jornal, onde escrevia as suas crônicas e começou a escrever contos. Foi fundador e primeiro presidente da ABL - Associação Brasileira de Letras. Teve reconhecimento ainda em vida. Nos últimos tempos, o conjunto de suas obras ganhou notoriedade internacional. Seus romances nos transportam aos tempos idos da segunda metade do século XIX, quando a Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro ainda era um lugar distante, um tanto quanto intransponível, a ser explorado. A sua escrita é envolvente. Humor e tristeza guardam uma tênue distância em suas estórias. É uma das maiores personalidades brasileiras, que deveria ser lido por todos.
Um abraço!
 
O FB me mostrou esta lembrança, hoje, e eu até pensei em postá-la no tópico de Memes, mas em nome da galhofa, achei melhor postar no tópico do livro, mesmo:​

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Conversei brevemente com a Karla, assistente e hoje responsável pela obra da Nélida Piñon, essa semana, sobre o papel de Nélida na divulgação da obra do Machado, dentro e fora do país.

Ela me contou que foi a Nélida quem indicou a leitura do Machado para a Susan Sontag, que o leu e o adorou, tendo publicado um artigo de grande repercussão sobre o escritor brasileiro no início dos anos 1990, que muito teria contribuído para tornar o Machado mais conhecido.

Procurei o artigo na Internet e o encontrei, na New Yorker. Mas só consegui ler a prévia. Precisa ser assinante pra ler o texto na íntegra. Sontag fala ali precisamente do Memórias Póstumas. Entre outras coisas, aponta ali que mais surpreendente que a ausência de Machado na literatura mundial é o fato de que o maior autor que a América Latina já produziu* é pouquíssimo conhecido da própria América Latina, fora do Brasil. Se surpreende com o fato de que Machado era então ainda menos conhecido no mundo de língua espanhola que no mundo de língua inglesa.

Queria ler esse artigo na íntegra.

________
* Ela chama o Borges de o segundo maior.
 
Conversei brevemente com a Karla, assistente e hoje responsável pela obra da Nélida Piñon, essa semana, sobre o papel de Nélida na divulgação da obra do Machado, dentro e fora do país.

Ela me contou que foi a Nélida quem indicou a leitura do Machado para a Susan Sontag, que o leu e o adorou, tendo publicado um artigo de grande repercussão sobre o escritor brasileiro no início dos anos 1990, que muito teria contribuído para tornar o Machado mais conhecido.

Procurei o artigo na Internet e o encontrei, na New Yorker. Mas só consegui ler a prévia. Precisa ser assinante pra ler o texto na íntegra. Sontag fala ali precisamente do Memórias Póstumas. Entre outras coisas, aponta ali que mais surpreendente que a ausência de Machado na literatura mundial é o fato de que o maior autor que a América Latina já produziu* é pouquíssimo conhecido da própria América Latina, fora do Brasil. Se surpreende com o fato de que Machado era então ainda menos conhecido no mundo de língua espanhola que no mundo de língua inglesa.

Queria ler esse artigo na íntegra.

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* Ela chama o Borges de o segundo maior.

daí a importância da tradução, e de projetos que permitam o trabalho de tradutores, mas também projetos de divulgação no exterior. algo parecido com o que o moser fez com a clarice lispector, que em menos de dez anos virou referência para a gringaiada - não esqueço do susto que foi ver a carmen maria machado citando a clarice na casa dos sonhos, por exemplo.

a tradutora da nova edição do memórias póstumas (flora thomson-deveaux) estava dia desses comentando no twitter sobre a tradução nova de macunaíma para o inglês (da katrina dodson). no comentário falou que o o mario de andrade "praticamente não existe em língua inglesa". e esse verbo existir é a chave. sem tradução, o autor não existe fora do seu país.

ela comenta que a tradução de 1984 de macunaíma é "desastrosa", o que pode ter contribuído para o apagamento do autor. sem tradução, o autor não existe fora do país. com tradução ruim, é como abrir um restaurante e só servir comida ruim: os poucos que foram não voltam e não recomendam.

o machado é gigante e talvez por isso tenha vencido algumas barreiras (mas acho que ficava ali mais com a galera dos estudos brasileiros na academia do que qualquer coisa, se bem que lembro da minha surpresa ao ver o woody allen citando o memórias póstumas como um dos seus livros favoritos). mas foi com a tradução da flora que ele ganhou um espaço ali fora que permitiu inclusive a chegada de novas traduções (acabou de sair uma de dom casmurro). aquela coisa: se a gente deixa por conta só do mercado editorial, ele só vai querer o que dá retorno. a aposta em novas traduções é porque a tradução da flora vendeu super bem.

e daí a necessidade de projetos que não deixem para a sorte de ser o escolhido do mercado editorial de um outro país para um autor ser reconhecido. e aí é óbvio que entra também a questão financeira para possibilitar (acho que era o itaú que estava bancando a tradução nova de grande sertão?), mas vai um tanto além disso e principalmente, tem que ir para além da academia.

(e isso eu falando só do mercado anglófono, que é o que eu conheço. o potencial que a gente tem para dominação cultural é gigante.)
 

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