Melian
Período composto por insubordinação.
Tava mexendo nuns trecos, procurando uns textos para preparar aula, e me deparei com este texto, que escrevi há algum tempo. Não é bom, mas também não é ruim.
Sinto sua falta. Eu não deveria dizer isso logo no início, isso é o que fica para o final, mas eu não acredito em finais, sejam eles felizes ou não.
Sinto sua falta. Era divertido quando lavávamos vasilhas juntos. Revezávamos. Num dia, eu ensaboava e você enxaguava. Noutro, invertíamos. Você preferia enxaguar, era mais fácil. Dizia que era muito frustrante quando tinha algo que ficava grudado no fundo da panela.
Sinto sua falta. Você me perguntava por que eu acreditava em Deus, mas não acreditava em homeopatia. Eu acredito em Deus, mas não deixo de me medicar por causa disso. Sou uma mulher de pouca fé. Eu respondia, você gargalhava e concluía: você é a teísta mais ateia que existe. Mas eu também amo isso em você.
Sinto sua falta. Eu estava quase terminando de ler A trama do casamento. Eu não queria que o livro acabasse. Mas eu precisava terminar. Tentei manter um ritmo de leitura saudável. Quando não funcionou, apelei para o café. Esbarrei na xícara, destruí o livro. Eu sentia que não era permitido que eu soubesse como o livro terminava, mas ficava angustiada por não saber.
Recebi uma notificação de mensagem no Whatsapp. Era um arquivo de áudio. O último capítulo do livro de Jeffrey Eugenides, narrado por você. Convenci um livreiro da Leitura a me deixar gravar o último capítulo do livro, disse-me naquela noite. Ele ficou apreensivo, poderia perder o emprego, mas disse que arriscaria porque adorava uma história de amor.
Você lhe disse que esperamos oito anos para ficarmos juntos? Contei a historia do Luke e da Lorelai, como se fosse nossa — pontuou. — Ele enxugou as lágrimas no colarinho da camisa e começou a passar as páginas do livro para que eu pudesse ler e gravar o capítulo.
Ouvimos o último capítulo do livro juntos, na cama. Ficamos em silêncio. Foi o ápice da nossa cumplicidade. Sinto sua falta. Do seu toque. Da sua voz. Do seu silêncio. Do seu sorriso. Do seu abraço. Da sua amizade. Da pipoca que ficava entre mim e você, na cama. Do vinho que ficava no fundo da taça. Do ar que foi interrompido quando a porta se fechou atrás de você. Sinto minha falta.
Sinto sua falta. Eu não deveria dizer isso logo no início, isso é o que fica para o final, mas eu não acredito em finais, sejam eles felizes ou não.
Sinto sua falta. Era divertido quando lavávamos vasilhas juntos. Revezávamos. Num dia, eu ensaboava e você enxaguava. Noutro, invertíamos. Você preferia enxaguar, era mais fácil. Dizia que era muito frustrante quando tinha algo que ficava grudado no fundo da panela.
Sinto sua falta. Você me perguntava por que eu acreditava em Deus, mas não acreditava em homeopatia. Eu acredito em Deus, mas não deixo de me medicar por causa disso. Sou uma mulher de pouca fé. Eu respondia, você gargalhava e concluía: você é a teísta mais ateia que existe. Mas eu também amo isso em você.
Sinto sua falta. Eu estava quase terminando de ler A trama do casamento. Eu não queria que o livro acabasse. Mas eu precisava terminar. Tentei manter um ritmo de leitura saudável. Quando não funcionou, apelei para o café. Esbarrei na xícara, destruí o livro. Eu sentia que não era permitido que eu soubesse como o livro terminava, mas ficava angustiada por não saber.
Recebi uma notificação de mensagem no Whatsapp. Era um arquivo de áudio. O último capítulo do livro de Jeffrey Eugenides, narrado por você. Convenci um livreiro da Leitura a me deixar gravar o último capítulo do livro, disse-me naquela noite. Ele ficou apreensivo, poderia perder o emprego, mas disse que arriscaria porque adorava uma história de amor.
Você lhe disse que esperamos oito anos para ficarmos juntos? Contei a historia do Luke e da Lorelai, como se fosse nossa — pontuou. — Ele enxugou as lágrimas no colarinho da camisa e começou a passar as páginas do livro para que eu pudesse ler e gravar o capítulo.
Ouvimos o último capítulo do livro juntos, na cama. Ficamos em silêncio. Foi o ápice da nossa cumplicidade. Sinto sua falta. Do seu toque. Da sua voz. Do seu silêncio. Do seu sorriso. Do seu abraço. Da sua amizade. Da pipoca que ficava entre mim e você, na cama. Do vinho que ficava no fundo da taça. Do ar que foi interrompido quando a porta se fechou atrás de você. Sinto minha falta.