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MEC QUER ANALFABETIZAR BRASIL

MEC QUER ANALFABETIZAR BRASIL
COM LITERATURA EM QUADRINHOS


[align=justify]Devo confessar que boa parte de minha alfabetização passou pelas revistas em quadrinhos. Não que nelas tenha aprendido a ler. Aprendi em cartilhas. Revista em quadrinhos nunca fez parte de meu currículo escolar. Era nosso momento de prazer. E, obviamente, desenvolvia a capacidade de ler. Em meus dias de guri, fui cultor de Pato Donald, Superman, Batman, Cavaleiro Negro, Zorro, Mandrake e mais alguns “clássicos” que meus contemporâneos talvez já nem lembrem: Davi Crocket, Tim Holt, Hopalong Cassidy, Nyoka, Diana, a Rainha das Selvas, etc.

Sou de uma época em que havia cinemas nas cidades do interior. Aos sábados e domingos, havia matinés com seriados. Na última cena, o mocinho era deixado amarrado, entregue a víboras ou leões, ou atado a uma tábua que seria cortada por uma serra elétrica. Mas isto não nos angustiava. Sabíamos que no episódio ele encontraria uma forma de safar-se. Após a matiné, havia um mercado de gibis. Cada piá trazia parte de seu acervo de casa e fazia seus negócios. Trocava-se revistas, emprestava-se ou vendia-se.

Os quadrinhos fizeram parte de minha infância e de minha alfabetização. Cumpriram sua função. Me acompanharam até a adolescência e depois perderam a graça. Passei a preferir a narração escrita. Claro que não estou falando de Mafalda nem de Asterix, revistas que curto até hoje.

Leio no Estadão de ontem:

QUADRINHOS CONQUISTAM ESPAÇO NA LITERATURA ESCOLAR

Em 2007, 14 HQs entraram na lista e, desde então, número de vem aumentando

A adaptação de O Alienista, de Machado de Assis, vencedor do último Prêmio Jabuti de melhor livro didático e paradidático do ensino fundamental ou médio, é uma das 23 histórias em quadrinhos (HQs) que o Ministério da Educação (MEC) distribuirá neste ano para escolas públicas do País. Criado em 1997, o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) ignorou HQs por dez anos. Em 2007, 14 obras entraram na lista. Desde então, o número de HQs vem aumentando. Foram 16 em 2008 e, em 2009, a participação chega a 4,2% dos 540 títulos que deverão chegar às escolas até março.

Bom, aí a história muda de cariz. Quadrinhos para crianças e adolescentes, como lazer para horas vagas, entendo. Quadrinhos como adaptação de literatura para ensino fundamental ou médio, o Ministério da Educação que me desculpe. Isto não é alfabetização, mas analfabetização. Ler é interpretar sinais e palavras. Ver quadrinhos é ver desenhos. Há uma profunda distância intelectual entre ver quadrinhos e ler um livro. Ver qualquer um vê. Ler nem todos lêem.

Em meus dias de magistério, minhas aluninhas de Letras adoravam ler Graciliano Ramos e Clarice Lispector. Não que tivessem especial preferência por estes autores. O que neles gostavam era que seus livros eram fininhos. É óbvio que estas prefeririam ler versões em quadrinhos. Mais fácil de assimilar, para quem não adquiriu o gosto pela leitura. Ocorre que eu ensinava em um curso de Letras, não em um curso de Quadrinhos. E reprovei minhas pupilas em massa. Este terá sido um – entre outros motivos – para minha ejeção do Curso de Letras. Onde se viu um professor de Letras exigir leituras de estudantes de Letras?

Aqui em São Paulo, descobri certa vez uma ruela com um teatro que encenava ad aeternum romances adaptados de Machado. “Não é possível que aquele chato tenha público cativo nos dias de hoje”, pensei com meus botões. De fato, não era possível. As peças eram destinadas a essa massa informe de estudantes que se recusa a ler. Mas eram obrigados, pelos interesses da indústria editorial e das universidades, a ler o Machadinho. Assim, se tinham de prestar provas ou mesmo um vestibular, era só ir ao teatro. Em hora e meia matavam a questão.

Quem assim resolve o problema da leitura, assistindo recitais de autores, está definitivamente perdido para a grande literatura. Jamais será capaz de enfrentar um Cervantes, um Eça de Queirós, um Platão ou um Swift, um Orwell ou Arthur Kloester, um Edgar Allan Poe ou um Fernando Pessoa. Fora da leitura não há salvação. Quem não lê – e não estou falando de literatura técnica – é pessoa desinteressante, que nada entende do mundo e que, a meu ver, sequer deveria abrir a boca.

Mais importante do que a ampliação numérica foi a valorização da linguagem das HQs na última seleção oficial, avalia Waldomiro Vergueiro, coordenador do Núcleo de Pesquisa de Histórias em Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Ele também elogia a inclusão do ensino médio na relação das escolas que vão receber HQs. Este senhor, Waldomiro Vergueiro, merece a comenda de Analfabetizador Geral da Nação, o quanto antes. Não conheço país que tenha chegado a um estágio altamente desenvolvido sem a leitura. Se o Ministério da Cultura quer acelerar o afundamento da nação, está agindo no rumo certo.

São homens de visão, que sabem como chegar onde querem.[/align][align=right] Janer Cristaldo[/align]

http://cristaldo.blogspot.com/
 
É piada, não é?

O trecho abaixo, em especial pela ignorância demonstrada, me fez rir bastante:

Ler é interpretar sinais e palavras. Ver quadrinhos é ver desenhos. Há uma profunda distância intelectual entre ver quadrinhos e ler um livro. Ver qualquer um vê. Ler nem todos lêem.

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Para o caso de não ser piada, uma possibilidade remota, Neil Gaiman tem respostas interessantes (a primeira parte do trecho abaixo é uma pergunta feita por um leitor do blog, e a segunda parte a resposta):

Neil --
Tony Long of Wired news recently offered an editorial (http://www.tinyurl.com/yk8z89)in which he takes offense at the nomination of Gene Luen Yang for a National Book Award for "American Born Chinese", a graphic novel -- Long argues that no "comic book" (his words) should be nominated for an award intended for a "real novel". What is your opinion about graphic novels being nominated for (and poteintially winning) major literary prizes?

Shawn

Neil Gaiman disse:
I suppose if he builds a time machine he could do something about Maus's 1992 Pulitzer, or Sandman's 1991 World Fantasy Award for Best Short Story, or Chris Ware's Jimmy Corrigan winning the 2001 Guardian First Book Award, or even Watchmen's appearance on Time's Hundred Best Novels of the 20th Century list. Lacking a Time Machine, it seems a rather silly and antiquated argument, like hearing someone complain that women have the vote or that be-bop music and crooners are turning up in the pop charts.

I like the bit where he says that he hasn't read the comic in question, but he just knows what things like that are like. It's always best to be offended by things you haven't read. That way you keep your mind uncluttered by things that might change it.

[http://journal.neilgaiman.com/2006/10/from-audio-to-bats.html]
 
Como vão as coisas, Paulo?

Creio que autores como o Gaiman estão incluídos nessa parte do artigo:

Os quadrinhos fizeram parte de minha infância e de minha alfabetização. Cumpriram sua função. Me acompanharam até a adolescência e depois perderam a graça. Passei a preferir a narração escrita. Claro que não estou falando de Mafalda nem de Asterix, revistas que curto até hoje.

O autor crítica o abastardamento despropositado de algumas obras, caso do Alienista. Enfim, não é piada não. Discordar do texto é válido, o caso é que você tem uma certa tendência de comentar sem ler. Ainda assim, exatamente por eu ser bacana, estou sempre disposto a te ajudar a interpretar textos, como já fiz outras vezes.

Não se esqueça, estou à disposição.
 
Raphael disse:
Como vão as coisas, Paulo?

Creio que autores como o Gaiman estão incluídos nessa parte do artigo:

Os quadrinhos fizeram parte de minha infância e de minha alfabetização. Cumpriram sua função. Me acompanharam até a adolescência e depois perderam a graça. Passei a preferir a narração escrita. Claro que não estou falando de Mafalda nem de Asterix, revistas que curto até hoje.

O autor crítica o abastardamento despropositado de algumas obras, caso do Alienista. Enfim, não é piada não. Discordar do texto é válido, o caso é que você tem uma certa tendência de comentar sem ler. Ainda assim, exatamente por eu ser bacana, estou sempre disposto a te ajudar a interpretar textos, como já fiz outras vezes.

Não se esqueça, estou à disposição.

Ou seja: Sandman, vencedor do World Fantasy Award; Mauss, vencedor do Pulitzer; e Watchmen como um dos melhores romances do século XX são coisas razoáveis. São mais do que meras HQ's. O Alienista, vencedor do Jabuti, é uma mera HQ, não merece nem o prestígio nem o reconhecimento como literatura. O sr. Cristaldo poderia revelar os seus critérios secretos para definir as "meras HQ's" e aquelas que merecem sua admiração. É mais honesto e dá algum fundamento para a crítica.

Quanto ao tom geral da sua resposta, caro Raphael, penso que você não precisa se sentir tão ofendido sempre que discordarem das suas (por vezes bizarras) opiniões.
 
Quando li isso:
Há uma profunda distância intelectual entre ver quadrinhos e ler um livro

Pensei em parar de ler e ir terminar meu serviço, mas não é legal ler as coisas pela metade e ficar tirando opiniões.
O que posso dizer sobre o texto então? Bem... Acredito que o Cristoaldo tenha o total direito de achar que quadrinhos não sejam merecedores de estar entre as grandes obras, afinal de contas essa é a opinião dele e temos que respeitar. Mas fico me perguntando se ele sabe mesmo o tamanho da merda que está dizendo. Os quadrinhos que ele citou como os lidos em sua infância são de uma velha escola que já nascera fadada a destruição, por serem escritos para dar forma a ação que as crianças não encontravam nos livros na época. O Cristoaldo cometeu o erro de generalizar a coisa. Se houvesse lido só uma vez V de Vingança, Os 300 de Esparta ou Sin City (sim, só vou falar dos clássicos) teria percebido que não é apenas um exercício de "ver as imagens".
Como ele mesmo falou em seu artigo, as HQs demoraram muito tempo para tomar um lugar em meio os livros. E não vai ser um professor com um intelecto em inércia que vai fazer esse processo de crescimento frear.


OBS: Meu medo da internet é esse, ela abre espaço até para quem não devia.
 
Levei numa boa, Paulo. Basta olhar o tom da minha resposta. Não fui eu quem ficou chocado com o artigo.

Penso que o critério usado para criticar, como dito acima, foi a mutilação da integridade de uma obra já existente com o fim de incluí-la no currículo escolar. Quem sabe, para substituir a original. Seria mais ou menos algo parecido com as Cliffs Notes, só que ainda pior.

Em todo caso, você pode mandar um e-mail para o autor (janercr@terra.com.br)e questioná-lo sobre isso.
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Breno, no texto, o autor cita algumas HQs clássicas que ele ainda lê.
 
a gde questão é q os fãs adultos de hqs nunca irão concordar com o cristaldo q os chamou indiretamente de analfabetos. já os puritanos da literatura (como o cristaldo) nunca vão concordar q hq é educativa, nem mesmo literatura, qdo máximo seria uma diversão infantil. são dois pontos de vista diferentes com argumentos bons e ruins.

pra mim, q gosto tto de literatura escrita qdo de hqs, trata-se de uma briga boba. o importante é ler. seja hq, livros, jornais, paulo coelho, caras, papel de bala, tampinha de garrafa, bula de remédio... a valoração dq lemos em detrimento dq os outros leem é questão cultural.

mas há um aspecto intrinseco no ato de ler: somente lendo, mesmo algo q torçamos o nariz inicialmente, é q a pessoa poderá pegar gosto pela leitura. a prática conduz à perfeição. se o cristaldo acha q hq homeopatiza os clássicos, deveria antes ir nas escolas ver qtos guris estão lendo os clássicos. eu conheço poucos. quem sabe começando nos quadrinhos, se forem bem feitos, talvez até deixando alguma margem de curiosidade no jovem, a galera não tenha vontade de aprofundar-se cada vez mais?

meu ponto de vista é o mesmo do nelson rodrigues, "toda unanimidade é burra", mas rebaixar os q não concordam conosco é burrice maior ainda.
 
Acho que o que deve ser levado em consideração, é o incentivo ao hábito de ler, não por obrigação, mas por prazer, diversão. Acho que as HQ's são um bom começo para quem esta começando, e pode insentivar as pessoas a partirem para livros pequenos, e depois leituras mais elaboradas.
 
Raphael disse:
Penso que o critério usado para criticar, como dito acima, foi a mutilação da integridade de uma obra já existente com o fim de incluí-la no currículo escolar. Quem sabe, para substituir a original. Seria mais ou menos algo parecido com as Cliffs Notes, só que ainda pior.

A iniciativa do MEC não tem nenhuma relação com "quadrinhos como adaptação de literatura para ensino fundamental ou médio". Não é uma substituição do original (ou mutilação) porque, ao fim e ao cabo, são obras diferentes em mídias também diferentes.

Uma HQ chamada o Alienista e baseada (inspirada talvez seja uma palavra melhor) no conto homônimo do Machado e o conto original não são a mesma obra. A Odisseia, desde Homero, foi a origem de diversas outras obras, adaptações (ou inspiradas) do original, mas sempre diversas no resultado. A própria Odisseia é o resultado da tradição oral recontada inúmeras vezes.

A indignação do autor desse artigo é a substituição (sic) dos livros clássicos pelas HQ's no ensino médio e fundamental. Trata-se de um erro de interpretação e de julgamento.

No site do programa, consta o seguinte:

Incentivar nas crianças e nos professores o gosto pela leitura e pelo saber é o principal objetivo do Ministério da Educação ao propor ações que componham uma Política de Formação de Leitores que democratize o acesso de alunos e professores à cultura e à informação, contribuindo, dessa forma, para o fomento à prática da leitura e para a formação de professores e alunos leitores.

No mínimo, é uma iniciativa que merece aplausos.

Acerca das HQ's, no mesmo link:

Educação infantil e ensino fundamental receberão acervos compostos por textos em verso (poemas, quadras, parlendas, cantigas, travalínguas, adivinhas), em prosa (pequenas histórias, novelas, contos, crônicas, textos de dramaturgia, memórias, biografias), livros de imagens e de histórias em quadrinhos, entre os quais se incluem obras clássicas da literatura universal adaptadas ao público infantil.

Os acervos do ensino médio são compostos por obras de referência na área de Ciências da Natureza e Matemática (física, química, biologia e matemática), na área de Ciências Humanas (filosofia, sociologia, geografia e história), na área de Códigos e Linguagens (gramática da língua portuguesa, educação física e artes) e obras de literatura brasileira e portuguesa.

Como fica explícito, as HQ's são direcionadas prioritariamente para a educação infantil e ensino fundamental. Não substituem nada, mas integram-se numa miríade de outras mídias. A adaptação das obras clássicas para os quadrinhos (onde O Alienista parece ser o maior exemplo) não é uma mutilação, mas uma estratégia efetiva para fomentar primeiros contatos entre os alunos com essas obras.

Se o programa merece críticas, é porque não acrescenta as HQ's também ao acervo destinado ao ensino médio.

O erro de interpretação do Cristaldo é óbvio: leu uma breve notícia no jornal e avaliou uma programa in totum, sem nem se dar ao trabalho de abrir o site do mesmo.

O erro de julgamento é também explícito, porém mais interessante: HQ's não são uma mídia inferior se comparadas aos livros. Seria como dizer que a pintura é menor do que a música, o que é, evidentemente, absurdo. Por isso a minha reação tão espantada ao artigo, que é, não há dúvidas, uma grande besteira.

A síntese desse erro de julgamento está no trecho que eu já citei:

Ler é interpretar sinais e palavras. Ver quadrinhos é ver desenhos. Há uma profunda distância intelectual entre ver quadrinhos e ler um livro. Ver qualquer um vê. Ler nem todos lêem.

Ler, enquanto ato humano, não tem nenhuma correspondência mecânica com os sinais gráficos que chamamos de letras. Ler é interpretar e, da mesma forma que livros são lidos, também o são imagens. Ler imagens, vale dizer, por vezes é uma tarefa muito mais complicada do que ler uma sequência de letras.

Eu proponho uma inversão da sentença dele, me apropriando do Saramago: se hoje estamos todos cegos, ver se tornou uma tarefa mais complexa do que ler, ato banalizado pelos imperativos da assim chamada "educação formal".

Ainda que seja um ponto menor, o autor ignora também que HQ's são um todo indissociável entre palavras escritas e imagens. Assim, "ver quadrinhos" não é "ver desenhos", mas interpretar um conjunto indissociável de imagens e palavras.
 
JLM disse:
mas há um aspecto intrinseco no ato de ler: somente lendo, mesmo algo q torçamos o nariz inicialmente, é q a pessoa poderá pegar gosto pela leitura. a prática conduz à perfeição. se o cristaldo acha q hq homeopatiza os clássicos, deveria antes ir nas escolas ver qtos guris estão lendo os clássicos. eu conheço poucos. quem sabe começando nos quadrinhos, se forem bem feitos, talvez até deixando alguma margem de curiosidade no jovem, a galera não tenha vontade de aprofundar-se cada vez mais?

Acho que é justamente esse o ponto: incentivar a leitura e não substituir o tipo de leitura.
 
O Paulo tem a mania de escrever direitinho o que eu tinha pensado. Feio. Bobo.¬¬

Enfim, para acrescentar algo ao que foi dito, ler uma adaptação de uma obra muitas vezes estimula o leitor a ler o original, por que não? Ah, mas para que ler Machadinho, não é mesmo?

E convidaria o tal professor de Letras a fazer um curso de história da arte, se acha que ler imagens é algo fácil e imediato. :rolleyes:
 
A idéia de incentivar a leitura por HQs é bem-vinda. A questão é: irão os estudantes ler as HQs em detrimento dos originais, funcionando como uma espécie de Cliffs Notes? Alguém pode argumentar que nossos alunos já não lêem, logo, ler HQs adaptadas é melhor que nada. Pode ser, mas isso continuaria sendo uma solução medíocre, nivelada por baixo.

Aliás, tive a impressão que o pessoal se perdeu um pouco do foco. A crítica do texto não é às Hqs clássicas, mas as ditas adaptações e suas possíveis conseqüências.
 
Raphael disse:
A idéia de incentivar a leitura por HQs é bem-vinda. A questão é: irão os estudantes ler as HQs em detrimento dos originais, funcionando como uma espécie de Cliffs Notes? Alguém pode argumentar que nossos alunos já não lêem, logo, ler HQs adaptadas é melhor que nada. Pode ser, mas isso continuaria sendo uma solução medíocre, nivelada por baixo.

Raphael, o argumento não é e não pode ser a substituição das obras originais por obras adaptadas, inspiradas, derivadas etc. São sempre obras diferentes, e assim como o "original" é irredutível às suas "adaptações", o contrário também é verdadeiro. Se essa "adaptação" ocorre também através da transposição entre mídias diferentes (de livros para HQ's), a irredutibilidade só é mais explícita.

De forma a exemplificar melhor, pense nos "Cliffs Notes". Eu, lamentavelmente, não conhecia o site. É genial, uma ideia fantástica! Para aqueles que também ignoram o que seja é, em poucas palavras e derivadas de uma visita rápida, uma base de dados acerca de livros clássicos (na verdade, muito mais do que isso) que disponibiliza alguns "produtos", todos bastante sintéticos: biografia do autor, contexto histórico do livro, lista de personagens, mapa de personagens (especialmente interessante), ensaios sobre a obra, resumos e análises de cada capítulo do livro etc. Um dos sites mais promissores que eu já encontrei na internet.

A sua mensagem parece sugerir que você acalenta uma certa preocupação com a atitude estudantil frente essa ferramenta. Como se os estudantes, confrontados com a escolha de ler "Orgulho e Preconceito" no "original" ou ler "apenas" as "Cliffs Notes", não tivessem dúvidas acerca da resposta e escolhessem o último, como se fosse um atalho. Ora, tal preocupação eu não consigo entender.

Uma vez que são,sempre, obras diferentes, isto é, as obras "originais" e o material referente dos "Cliffs Notes", não entendo qual é a relação automática de exclusão que lhe preocupa. O site se apresenta como um "guia de estudo" e, nesse sentido, é bastante interessante. Mas o material dos "Cliffs Notes", a despeito de ser referente à uma obra qualquer, é sempre outra obra. Da mesma forma que o "original" é irredutível aos "Cliffs Notes" (Orgulho e Preconceito da Austen não pode ser reduzido ao material disponível nos "Cliffs Notes" acerca do livro), o contrário também é verdadeiro (os "Cliffs Notes" também são irredutíveis à obra original). O mesmo acontece com a adaptação do Machado para HQ's, com o detalhe que a transposição de mídia torna essa diferença ainda mais explícita.

Mas eu não quero parecer excessivamente ingênuo. É razoável pensar que um estudante desinteressado na literatura e pressionado por uma prova ou semelhante pode apelar para adaptações da obra "original" como forma de escapar à leitura do livro. Se ele apela para os "Cliffs Notes", adaptações em HQ's, filmes, teatro, o avô carente de atenção etc, não faz nenhuma diferença, assim como não é nenhuma afronta.

Minha preocupação é diferente da sua e, vale dizer, mais improvável. Não me vejo nenhuma problema em que as pessoas recorram à uma história recontada como forma de se livrar de uma maçante obrigação escolar, meu problema é que tomem aquilo que foi recontado pelo original. Tal erro, contudo, parece improvável.

Se não é esse o caso, qual é o problema? Um prova que pode ser respondida através dos "Cliffs Notes" (ou da história recontada pelo idoso senil) não é uma prova que demanda a leitura da obra "original". Se o objetivo da prova é forçar o aluno à ler, então o problema é muito anterior ao recurso à outras mídias: o problema é o objetivo, não o resultado que, vale dizer, é bastante criativo.

Provas, tal como sabe qualquer um com reflexões acerca da educação, são instrumentos de avaliação do processo de aprendizagem. Com o perdão da má construção, todo processo é "processual", não se relaciona bem com provas avulsas ou isoladas. Se o recurso à literatura é uma ferramenta nesse processo, então as provas são apenas inúteis. Ninguém avalia o grau de reflexão provocado por uma leitura através de uma prova (nos moldes do ensino fundamental/médio e, em alguns locus, universitário.)

Você diz que pensar nas HQ's como um paliativo para ausência da literatura nas escolas é nivelar por baixo. Eu penso que empurrar a literatura goela abaixo dos alunos, como se fosse um remédio de gosto amargo, é o verdadeiro nivelamento por baixo.

A função da escola não é obrigar ninguém a ler os clássicos, mas apenas desenvolver a reflexão crítica. Se os clássicos podem (e são) um instrumento incrível para isso (e não só para isso), ótimo, devem ser usados. Se existem ferramentas melhores, mais adaptadas à certas situações, por exemplo, a literatura de cordel no nordeste do Brasil, ou as HQ's para alunos mais novos, não há porque torná-las indecentes frente à sacralidade do livro tradicional.

Dizia um conhecido, se contrapondo às campanhas de incentivo à leitura da época: "ler não deve ser um hábito, mas um prazer".

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Raphael disse:
Aliás, tive a impressão que o pessoal se perdeu um pouco do foco. A crítica do texto não é às HQ's clássicas, mas as ditas adaptações e suas possíveis consequências.

O problema do texto é que ele não apresenta nenhum argumento. Não revela porque as HQ's "clássicas" são diferentes da adaptação d'O Alienista. De fato, parece abusiva essa derivação que você vem empreendendo: o autor do "artigo" cita apenas Mafalda e Asterix, não estou certo que ele aprovaria a inclusão de HQ's como Sandman, Mauss e cia. no seleto grupo das "clássicas".

A Liga dos Cavalheiros Extraordinários é um tipo de adaptação de grandes clássicos da literatura. É, para o autor do artigo, uma "HQ clássica" ou uma "adaptação" com consequências funestas?

As histórias do Homem Aranha, em geral, não são "adaptações" explícitas de nenhum grande clássico da literatura. Podem então servir como ferramentas didáticas, já que não carregam em si as funestas consequências das outras adaptações?

O problema do artigo que você postou é duplo: o preconceito velado e a completa falta de argumentos.
 
Já cheguei quase no ponto final da discussão..mas acho que os quadrinhos tiveram uma importância tão grande na minha vida e de milhares de pessoas, que começaram o hábito da leitura pelos HQs. Ler imagens tbm é ler, pq não!? A pessoa só é considerada leitora se ler um "Machadão" por exemplo!? Creio que de forma alguma.
 
Eu aplaudiria a inclusão de autores como Hergé, Gaiman ou Rene Goscinny no currículo escolar. Essas são obras originais. Feitas como graphic novels, devem ser lidas como graphic novels. Não é o caso do Alienista.

Livros como os Cliffs Notes e esse Alienista adaptado são compêndios, essencialmente resumos limitados, meros vislumbres do original (são, de fato, reduções, mas isso não é recíproco). Até aí, nada de errado. Os indivíduos são livres para não terem ambições. Se o sujeito quer um meio de falar de livros sem tê-los lido, que assim faça. Na verdade, se a intenção é só enganar e economizar tempo, seria melhor que lesse apenas um único livro: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=5067684&sid=020626162111273614953832&k5=1D34361D&uid=

A questão aqui é outra. São verbas públicas financiando esse tradicional “jeito” brasileiro. O MEC não decidiu comprar, digamos, HQs do Sandman ou do Tintin. Ele comprou, ab initio, um caminho mais “acessível” ao Machado ( ou Machadinho, mas esse seria outro assunto). Ora, por que não aumentar os estoques dos originais do Alienista, então? Por que não usar esse dinheiro para comprar mais Poe, Camus e outros bons autores? Deste modo, aqueles que querem realmente ler, lerão. Aqueles que querem apenas passar em provas, procurarão resumos na internet. Basicamente é como se o Ministério da Educação resolvesse comprar várias edições das Cliffs Notes para substituir as, no entender de alguns alunos, maçantes obras integrais. A justificativa seria algo como “não é sadio impor esses senhores prolixos aos jovens. É nossa tarefa enxugar seus textos” Em outras palavras, abastardamento institucionalizado.

Toda a argumentação do artigo está implícita no texto. As HQs adaptadas servirão como busca pelo easy way. Enfim, que estudantes tentem trapacear, é apenas natural. Que o MEC os ajude, é outra história.
 
Meu último post foi bastante claro, mas vou tentar mais uma vez.

Raphael disse:
Eu aplaudiria a inclusão de autores como Hergé, Gaiman ou Rene Goscinny no currículo escolar. Essas são obras originais. Feitas como graphic novels, devem ser lidas como graphic novels. Não é o caso do Alienista.

A HQ de O Alienista é uma obra tão diferente do conto homônimo quanto O Brother, Where Art Thou? de A Odisseia. E A Odisseia é tão original (ou adaptada) quanto a HQ de O Alienista.

Na coletânea Fumaça e Espelhos, Neil Gaiman publicou dois contos, O Preço e A Filha das Corujas. Anos depois esses contos foram vertidos para HQ's com ilustrações de Michael Zulli. São obras diferentes, o contrário não seria possível.

São diferentes não apenas porque, como acontece no caso de O Alienista, as mídias são diferentes, mas porque a obra "recontada" nunca é igual a obra "original". Pouco importa se o grau de fidelidade da adaptação é maior ou menor, o resultado é sempre uma nova obra e, como tal, é irredutível ao original.

O Alienista é, originalmente um conto, e agora é, tão originalmente quanto, uma HQ. A adaptação merece ser apreciada como uma HQ, não tem nenhuma relação automática com o conto.

Se a sua lógica fizesse sentido, qualquer adaptação cinematográfica cujo roteiro não fosse original, seria menor do que uma que respeitasse esse critério. Grandes filmes são adaptações de livros, alguns até mesmo de HQ's. Grandes HQ's são adaptações de livros ou filmes. Não há nenhum problema nisso.

Raphael disse:
Livros como os Cliffs Notes e esse Alienista adaptado são compêndios, essencialmente resumos limitados, meros vislumbres do original (são, de fato, reduções, mas isso não é recíproco). Até aí, nada de errado. Os indivíduos são livres para não terem ambições. Se o sujeito quer um meio de falar de livros sem tê-los lido, que assim faça. Na verdade, se a intenção é só enganar e economizar tempo, seria melhor que lesse apenas um único livro: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=5067684&sid=020626162111273614953832&k5=1D34361D&uid=

Esse foi o único qualificativo que fiz, contra a ideia de que ler a "adaptação" equivale a ler o "original". Hipótese absurda, uma vez que as pessoas tem discernimento suficiente para entender que uma HQ, resumo ou filme nunca é o livro (e o contrário também é verdadeiro).

Raphael disse:
A questão aqui é outra. São verbas públicas financiando esse tradicional “jeito” brasileiro. O MEC não decidiu comprar, digamos, HQs do Sandman ou do Tintin. Ele comprou, ab initio, um caminho mais “acessível” ao Machado ( ou Machadinho, mas esse seria outro assunto). Ora, por que não aumentar os estoques dos originais do Alienista, então? Por que não usar esse dinheiro para comprar mais Poe, Camus e outros bons autores? Deste modo, aqueles que querem realmente ler, lerão. Aqueles que querem apenas passar em provas, procurarão resumos na internet. Basicamente é como se o Ministério da Educação resolvesse comprar várias edições das Cliffs Notes para substituir as, no entender de alguns alunos, maçantes obras integrais. A justificativa seria algo como “não é sadio impor esses senhores prolixos aos jovens. É nossa tarefa enxugar seus textos” Em outras palavras, abastardamento institucionalizado.

Toda a argumentação do artigo está implícita no texto. As HQs adaptadas servirão como busca pelo easy way. Enfim, que estudantes tentem trapacear, é apenas natural. Que o MEC os ajude, é outra história.

Vou insistir que você entre no site do programa (o link está em algum post anterior) e leia os objetivos do mesmo, já que parece impossível acreditar nas minhas palavras.

Não consta lá que o objetivo do programa é substituir os livros "originais" ou mesmo fornecer obras mais "simples". Como eu já disse, é inocência e desconhecimento imaginar que uma HQ é mais "fácil" que um livro. O programa busca complementar a literatura tradicional com outras mídias, outros títulos etc, nada absurdo, muito pelo contrário, é merecedor de aplausos.

Ainda que constasse do programa a compra de toda a coleção dos Cliffs Notes que, insisto, parecem bastante interessantes, isso não seria nenhum absurdo. O material desses livros, resumos e breves análises é interessante e válido. Não substituem a leitura da obra "original", apenas a complementam. Se dão margem à "trapaças", segundo os seus termos, o fazem apenas porque o sistema de avaliação é tão deficitário e imbecil que praticamente implora pela tal "trapaça". Também falei sobre isso no post anterior.
 
Olá Raphael,

Raphael disse:
Não fui eu quem ficou chocado com o artigo.

Eu fiquei. É impressionante até onde vai a ignorância e o preconceito das pessoas, não é? Realmente chocante.

Raphael disse:
Penso que o critério usado para criticar, como dito acima, foi a mutilação da integridade de uma obra já existente com o fim de incluí-la no currículo escolar.

Só por curiosidade: você já leu essa HQ?

Raphael disse:
Quem sabe, para substituir a original. Seria mais ou menos algo parecido com as Cliffs Notes, só que ainda pior.

Obrigada pela indicação desse site. Fui dar uma checada e adorei! Tem um mapa de personagens do meu livro preferido, Orgulho e Preconceito, que é muito bom!

Raphael disse:
A questão é: irão os estudantes ler as HQs em detrimento dos originais, funcionando como uma espécie de Cliffs Notes?

Isso não acontece. Quem toma gosto pela leitura acaba lendo até bula de remédio na falta de outro material.

Raphael disse:
Alguém pode argumentar que nossos alunos já não lêem, logo, ler HQs adaptadas é melhor que nada. Pode ser, mas isso continuaria sendo uma solução medíocre, nivelada por baixo.

Nivelar por baixo é ler Paulo Coelho, Danielle Steel, "livros" como Bianca, Sabrina e afins. Ler uma HQ que recebeu um dos prêmios literários de maior prestígio nacional não é "nivelar por baixo".

Raphael disse:
Aliás, tive a impressão que o pessoal se perdeu um pouco do foco. A crítica do texto não é às Hqs clássicas, mas as ditas adaptações e suas possíveis conseqüências.

Eu acho que você não entendeu o que as pessoas disseram por aqui. O que todos estão dizendo é que as conseqüências dessas adaptações não são "funestas" como o autor do artigo quer fazer crer. Pelo contrário, essas conseqüências são promissoras.

De nada.

Raphael disse:
Livros como os Cliffs Notes e esse Alienista adaptado são compêndios, essencialmente resumos limitados, meros vislumbres do original (são, de fato, reduções, mas isso não é recíproco).

Eu acho que você não entendeu o que as pessoas disseram por aqui. O que todos estão dizendo é que as conseqüências dessas adaptações não são "funestas" como o autor do artigo quer fazer crer. Pelo contrário, essas conseqüências são promissoras.

De nada.

Raphael disse:
Os indivíduos são livres para não terem ambições. Se o sujeito quer um meio de falar de livros sem tê-los lido, que assim faça. Na verdade, se a intenção é só enganar e economizar tempo, seria melhor que lesse apenas um único livro: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=5067684&sid=020626162111273614953832&k5=1D34361D&uid=


Eu acho que você não entendeu o que as pessoas disseram por aqui. O que todos estão dizendo é que as conseqüências dessas adaptações não são "funestas" como o autor do artigo quer fazer crer. Pelo contrário, essas conseqüências são promissoras.

De nada.

Raphael disse:
A questão aqui é outra. São verbas públicas financiando esse tradicional “jeito” brasileiro.

Eu acho que você não entendeu a intenção do MEC. A idéia é estimular o gosto pela leitura e o primeiro contato com os clássicos, no ensino fundamental, usando para isso uma mídia que é mais atraente para as crianças (eu disse mais atraente, não mais fácil ou inferior). A intenção não é estimular o "jeito" brasileiro.

De nada.

Raphael disse:
O MEC não decidiu comprar, digamos, HQs do Sandman ou do Tintin.

Acho isso louvável. Sou grande fã do Sandman, mas acho louvável da parte do MEC privilegiar autores nacionais, para incutir desde cedo nas crianças a valorização do que é bom em nossa cultura.

Raphael disse:
Ele comprou, ab initio, um caminho mais “acessível” ao Machado ( ou Machadinho, mas esse seria outro assunto). Ora, por que não aumentar os estoques dos originais do Alienista, então? Por que não usar esse dinheiro para comprar mais Poe, Camus e outros bons autores? Deste modo, aqueles que querem realmente ler, lerão. Aqueles que querem apenas passar em provas, procurarão resumos na internet. Basicamente é como se o Ministério da Educação resolvesse comprar várias edições das Cliffs Notes para substituir as, no entender de alguns alunos, maçantes obras integrais. A justificativa seria algo como “não é sadio impor esses senhores prolixos aos jovens. É nossa tarefa enxugar seus textos” Em outras palavras, abastardamento institucionalizado.

Toda a argumentação do artigo está implícita no texto. As HQs adaptadas servirão como busca pelo easy way. Enfim, que estudantes tentem trapacear, é apenas natural. Que o MEC os ajude, é outra história.

Isso parece muito blá blá blá especulativo.

Adoro a Ilíada e a primeira versão que li da Ilíada foi uma adaptação infantil. Depois que cresci, me interessei em procurar o texto integral para ler. Isso aconteceu com outros livros que li na infância quando AINDA não possuía maturidade para ler o livro completo. Ler o texto adaptado não foi uma "trapaça" foi o meu primeiro contato, que gerou o gosto e a curiosidade para buscar mais.

Entendo que essa é a intenção do MEC e acho que é válida e será efetiva.
 
Creio que meus pontos também já foram feitos. De resto, comparar filmes adaptados com HQs adaptadas e distribuídas em escolas é não saber diferenciar estudo de lazer (não que a leitura não seja lazer, antes que alguém comece a se revoltar). Dito isso, só recomendo interpretação mais atenta. Completa, de preferência.
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Olá, Anigel. De fato, na sua resposta você pareceu bastante chocada.
 
Raphael disse:
De resto, comparar filmes adaptados com HQs adaptadas e distribuídas em escolas é não saber diferenciar estudo de lazer (não que a leitura não seja lazer, antes que alguém comece a se revoltar).

A diferença reside precisamente no que?

É evidente que tal distinção entre estudo e lazer reside não no objeto (filmes adaptados, HQ's adaptadas, livros "originais"), mas no sujeito que se relaciona com esses objetos.

O mais trivial e simplório dos objetos (desde que sejam objetos cognoscíveis) permite tanto uma relação calcada no lazer (no sentido que você dá, descompromissada) quanto científica (uma investigação profunda e sistemática).

Acerca da questão que nos interessa aqui, devo dizer ainda mais uma vez: as HQ's, adaptadas ou não, enquanto gênero tem tanto potencial didático quanto os livros ou filmes. Dizer o contrário é apenas preconceito e ignorância.

De qualquer forma, essa separação que você empreende entre lazer e estudo é artificial e nebulosa. Tal contradição é explícita na sua própria mensagem, quando você é forçado à admitir que a leitura é estudo e também lazer. O problema, que você não consegue enxergar, reside nessa separação.

Lazer e estudo, poderíamos dizer, prazer e ciência, não são termos excludentes, mas relacionam-se de forma indelével. O que é óbvio na prática científica torna-se apenas mais claro no processo pedagógico: o aprendizado sem prazer é estéril e limitado.

Espero que a sua resposta contemple, além da ironia, alguma consideração acerca da minha pergunta no início desse post.
 
Não terei paciência para prolongar uma troca de argumentos repetidos e tediosos, como foi feito em outros tópicos. Vou tentar não abordar novamente o que já foi dito.

Filmes adaptados podem ser objeto de estudo em determinadas áreas científicas, mas não são no ensino fundamental e médio. De modo genérico, buscamos filmes por lazer. Livros também podemos buscar para nos entreter (com ou sem fins acadêmicos), porém esse não é o único objetivo no âmbito escolar.O falacioso raciocínio do MEC consiste nisso, não saber diferenciar contextos. Mas isso já foi dito aí acima. Mais uma vez, espero que pela última, sou forçado a me parafrasear.
 

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