Confesso que esta questão Maturidade VS Imortalidade tem permeado meus pensamentos desde que comecei a reler Senhor dos Anéis, e só não havia criado um tópico antes pela maravilhosa arte da procrastinação.
Apesar de o tópico ter como questionamento-base a maturidade física, o que mais me aflige é a questão da maturidade
psicológica dos imortais, relacionando-a entre eles e entre outras raças.
Mesmo que o corpo de um elfo demore mais que o de um humano (tomando os homens como raça de referência) para amadurecer plenamente, em torno de 100 anos, teoricamente eles passam pelos mesmos estímulos ambientais, os elfos talvez até mais e maiores qualitativamente, que seriam responsáveis pela aquisição de conhecimentos. Tendo isso como premissa, por que, então, por todo o caminho da Comitiva, Aragorn e seus 87 anos pareceram muito mais sapientes que Legolas com seus pelo menos 500? Legolas não deu grandes sinais de sabedoria centenária ao longo de todo o trajeto da Comitiva, enquanto coube ao Aragorn lidera-la na ausência de Gandalf, com as melhores decisões possíveis, inclusive quando comparadas às do Verdefolha.
Na relação entre elfos essa discrepância entre idade e maturidade parece permanecer também. Um exemplo disso seria Elrond e Celeborn, sendo este
pelo menos 600 anos mais antigo que aquele, e aparentemente menos sábio*.
*Não sei se tinha, em algum lugar, a idade de Celeborn, então calculei-a eu mesma para dar mais propriedade ao post. Perdoem qualquer possível erro:
Celeborn partiu para o Oeste no começo da Quarta Era, com aproximadamente 7100 anos; fazendo a conta em retrocesso, ele nasceu entre os últimos 50 anos dos Anos das Árvores (mais ou menos no ano 1452).
Já Elrond nasceu no ano 532 da Primeira Era, então ele tinha 6520 anos quando partiu para o Oeste
Sei que não é muito, 600 anos não são quase nada pra quem tem mais de 6 mil anos, mas vê-se uma clara diferença de ponderação entre eles, e entre Celeborn e Galadriel, que tem menos de 100 anos de diferença. Segue o trecho:
— De fato, eu vi sobre a ponte aquele que assombra nossos piores sonhos. Eu vi a Ruína de Durin — disse Gimli em voz baixa, com os olhos cheios de terror.
— Isso é muito triste! — disse Celeborn. — Há muito tempo já temíamos que existisse um terror adormecido sob Caradhras. Mas se eu soubesse que os anões tinham acordado esse mal em Moria outra vez, teria proibido que você passasse pela fronteira do Norte, você e todos os que o acompanham. E se isso fosse possível, talvez se pudesse dizer que Gandalf, no último momento da sabedoria caiu na loucura, entrando sem necessidade nas entranhas de Moria.
— Dizer isso seria realmente precipitado — disse Galadriel gravemente. — Nenhum dos feitos de Gandalf foi desnecessário em toda sua vida. Aqueles que o seguiam não sabiam o que passava pela sua cabeça e não podem prestar contas de seus propósitos. Mas o que quer que tenha acontecido com o guia, seus seguidores não têm culpa. Não se arrependa de ter dado boas-vindas ao anão. Se nosso povo estivesse exilado longe de Lothlórien há muito tempo, quem dos Galadhrim, até mesmo Celeborn o Sábio, passando perto daqui, não desejaria rever seu antigo lar, mesmo que este tivesse se tornado um covil de dragões?
(...)
Fez-se silêncio. Finalmente Celeborn falou de novo.
— Eu não sabia que sua situação era tão delicada — disse ele. — Que Gimli esqueça as palavras precipitadas: falei com o coração confuso.
(A Sociedade do Anel – Cap. VII O Espelho de Galadriel)
Este trecho mostra a impulsividade e superficialismo do Elfo, jeitosamente chamado de Sábio por Galadriel, que claramente era a mais sapiente do casal. Outro trecho que mostra alguma leviandade nas palavras de Celeborn é:
— Por favor, Barbárvore — disse ele (Pippin)—, posso lhe perguntar uma coisa? Por que Celeborn nos advertiu sobre sua floresta? Ele nos disse que não nos arriscássemos a nos embrenhar nela.
— Hum, ele disse, é? — ribombou Barbárvore. — E eu poderia ter dito o mesmo, se vocês estivessem indo daqui para lá. Não se arrisquem a se embrenhar na floresta de Laurelindórenan! É assim que os elfos costumavam chamá-la, mas agora eles encurtaram o nome: Lothlórien, é como a chamam.
(As Duas Torres – Cap. II Os Cavaleiros de Rohan)
O último fragmento que me decepcionou no Celeborn, e me fez desassociar idade de erudição foi este:
Então Barbárvore disse adeus a cada um deles, e curvou-se três vezes, devagar e com grande reverência, diante de Galadriel e Celeborn.
— Faz muito, muito tempo que não nos encontramos junto a árvore ou pedra, A vanimar, vanimálion nostari! — disse ele. — É triste que nos encontremos só agora, no final. Pois o mundo está mudando: sinto isso na água, sinto isso na terra, e farejo no ar. Não acho que nos encontraremos de novo.
E Celeborn disse:
— Eu não sei, Mais velho. — Mas Galadriel falou:
— Não na Terra-média, não até que as terras que jazem sob as ondas se ergam de novo. Então, nos prados de salgueiros de Tasarinan podemos nos encontrar na primavera. Adeus!
(Retorno do Rei – Cap. VI Muitas Despedidas)
Poxa, o cara tem 7 mil anos, não encontra Barbárvore há tempos incontáveis e tudo o que tem a dizer-lhe é “Eu não sei.” EU NÃO SEI? Até EU, Pim, diria alguma frase melhor, Celeborn, e nem tenho 7 mil anos... Muito, muito frustrante.
Enfim, dei essa volta toda para levantar a dúvida: será que com os elfos acontece como funciona conosco, ou seja, cada qual tem seu potencial, e uma vez chegado no seu máximo ele deixa de “crescer” e mantém-se num platô, independente de idade? Porque vejam bem, Elrond era mais novo e bem mais feliz com as palavras que Celeborn, Galadriel era pouca coisa mais velha e muito acima do nível do Celeborn... Sendo assim, todos estariam
mais ou menos nivelados em idade, mas não em sabedoria/maturidade psicológica.
Num gráfico porcamente feito seria mais ou menos assim:
O que vocês acham?