Melian, se manifeste!
FDP!
Evitei fazer isto (me manifestar) durante o dia inteiro, porque minha opinião sobre o assunto diverge da opinião de todos. E eu sou grossa, impulsiva demais para conseguir fazer um post que não vai ofender a ninguém. E eu não tenho a intenção de ofender a maioria das pessoas que postou no tópico, porque são pessoas muito bem quistas por mim.
Como diria o Jack, vamos por partes (e, não, não estou citando o Jack, um psicopata, serial killer, aleatoriamente. Citá-lo faz parte de algo que quero dizer):
Eriadan até brincou, DEBOCHOU, dizendo para eu me manifestar, mas acho que ele não é o único que estava esperando o meu post. Afinal, em um tópico no qual fala-se sobre feministas, espera-se que a feminista declarada do fórum dê a sua opinião.
Bem, uma coisa é fato: todos que me conhecem, minimamente, sabem que eu abomino piadinhas de gênero. Sabem que a minha posição em relação a essas coisas chega a ser muito radical. E sabe, também, que posturas machistas estão inclusas no pacote restrito de coisas que me fazem ficar irritada a ponto de desfazer amizades, perder a vontade de postar em fóruns, whatever. E, não, não estou mandando indireta para o Paganus. Odeio indiretas. Eu o excluí do facebook e o bloqueei no twitter, porque cheguei no meu limite. Esse assunto, para mim, não é uma brincadeira boba de "eu prefiro marvel" e "eu prefiro DC" ou alguma provocação envolvendo futebol ou coisa do gênero. Para mim, o assunto é sério. E me irrita, absurdamente, quando estou em uma discussão e alguém me vem com piadinhas do tipo "vou pegar a pipoca" ou quando alguém começa a dizer coisas como "não vejo esse machismo todo que você vê, não vejo toda essa violência contra a mulher que você vê". Por que esse tipo de coisa me irrita? Porque o que vocês não veem, eu vejo por vocês. O que vocês não veem, eu vivi. E, sinceramente, não é nada agradável. Voltarei nesse assunto em outra parte do post.
Respeitosamente (já que eu acho que nunca li tanto o uso da palavra "respeito" aqui no fórum como neste tópico), eu discordo, VEEMENTEMENTE (adoro advérbios!) que seja normal que uma pessoa seja chamada de 'vadia' por ela gostar de usar roupas curtas. Quando você diz que uma pessoa está com cara de defunto, você está sugerindo que ela está pálida. Defuntos, sem maquiagem, são pálidos. FATO. Defuntos SÃO pálidos. O mesmo serve para mulheres de roupa curta? Toda mulher que usa roupa curta é puta? Para, gente. PARA. Acho retrógrado dizer que quem usa roupa curta NÃO SE DÁ AO RESPEITO. Então é super original dizer que se as pessoas SE COMPORTAREM, elas não serão taxadas. Se comportarem com base em que, mesmo? Qual é o referencial? Se comportar conforme os preceitos religiosos? Se a pessoa for religiosa, sim, ela vai seguir esse padrão. Se for evangélica, de uma igreja pentecostal, vai usar roupas longas, batendo lá no pé. Isso garante que ela seja MUITO ÍNTEGRA, né? Antes que encham o saco, não tô falando sobre o que não sei, tá? Já fui católica e já fui assembleiana. E já vi muita gente esconder falta de caráter embaixo de saia. Por causa disso, eu vou dizer que TODA MULHER QUE USA SAIA BATENDO NO PÉ ESCONDE A SUA IMORALIDADE (palavrinha que eu sei que vocês adoram usar!) NO MEIO DE UM TANTO DE PANO?
Em Brasília, no congresso, há 2834274937482 mil mulheres que se vestem com roupas sociais, roupas que as cobrem até o pescoço. Isso é garantia de que elas estão SE DANDO AO RESPEITO OU É UM INDÍCIO DE QUE NÃO ESTÃO? Não, não é. Que estão SE COMPORTANDO? Tudo bem em roubar dos brasileiros, mas faça isso bem vestido, tá? A roupa não faz o monge, o monge faz a roupa e o guarda-roupa inteiro.
Roupa define caráter, princípios e coisa do tipo? Não, não define. E se vocês acham normal que as pessoas sejam chamadas de putas pela roupa que elas usam é porque a mentalidade de vocês está impregnada da concepção preconceituosa e mesquinha que vem sendo perpetuada, ao longo de muito tempo, pela sociedade. É difícil se desvencilhar disso, eu sei que é, mas não é impossível. Uma marcha apelativa como a das Vadias serve para chamar a atenção para isso. Tão púdicos, vocês, questionando o nome da marcha. Sério que o nome de uma marcha é mais importante para vocês do que o que a marcha propriamente dita representa? É por darem importância demais a coisas secundárias que vocês não conseguem perceber as coisas que são realmente importantes. É necessário um nome que choque, um nome que chame a atenção, um nome sarcástico, um nome que faça com que a marcha não seja lembrada por ser só mais uma manifestação que fez com que o trânsito ficasse congestionado.
E, vejam só, o nome incomoda, né? A imagem da mulher angelical, quase uma santa, dos romances românticos (não é pleonasmo. o primeiro romance diz respeito ao gênero literário, e o segundo, ao estilo literário, estilo de época, como vocês preferirem chamar) não choca, né? A imagem das princesas disney, assexuadas, não choca, né? Eu admiro mulheres que são como QUEREM ser, que TÊM o direito de escolha. Se quer ser casta, beleza. Se não quer ser casta, beleza também. Agora, ser casta porque te disseram que é assim que uma mulher tem que ser, eu não acho ok. Ser não casta porque essa é uma maneira de ser cool e ser aceita por uma parcela da sociedade, eu não acho ok. Eu sei que é impossível fugirmos, 100%, de condicionamentos. Mas se tivermos 1% de escolha, não deixemos que os outros façam as nossas escolhas por nós. No caso da Disney, as personagens femininas são assexuadas. "Ah! mas são desenhos para crianças!". Suponho que seja pensando na instrução dessas crianças que se coloca sensualidade nas vilãs, e ensina que sensualidade, SEXUALIDADE, para ser mais exata, é uma coisa RUIM, ao invés de dizer que é algo inerente ao ser humano.
Eu não uso roupas curtas, não uso porque não me agradam, não porque roupa curta é coisa de puta. Que concepção idiota, mesquinha, preconceituosa, simplista. Tire os seus rótulos do caminho, que eu quero passar com a minha liberdade!
Eu acho muito conveniente vocês se esquecerem do foco do movimento por que algumas das mulheres que estavam na marcha (ou vão me dizer que mais de mil mulheres invadiram a igreja?) exageraram, erraram a mão. Sim, eu acho que a igreja (não só a católica, a evangélica é mais forte nisso) perpetua, sim, o machismo. A posição da mulher na igreja ainda é muito desconfortável. Há 15 dias, presenciei o casamento de uma prima, que foi celebrado por uma pastora. oh! um avanço, uma mulher celebrando um casamento! Não, ela funcionou como uma reprodutora do discurso vigente. E, olhe, sabem aquilo de vocês dizerem "não é que a gente queira que a mulher seja submissa ao homem, é que o homem será tão bom para a mulher que ela nem vai conseguir discordar dos seus pedidos". Parem, ok? Não quero vomitar no meu laptop. O ponto aqui, é o seguinte: não é entrando na igreja durante a marcha que se resolve a questão, porque a igreja também reproduz o modelo herdado pela sociedade patriarcal. Então, não, não é COLOCANDO FOGO em uma comunidade local que se resolve as coisas, não. Mas eu queria, mais uma vez, chamar a atenção de vocês para uma coisa: a marcha não se resume a esse episódio lamentável.
Outra coisa. Eu estava olhando um vídeo divulgando a marcha, antes que ela acontecesse, no youtube. Achei a ideia central legal, atacando pontos importantes, mesmo, da coisa. Mas aí vi, no texto de descrição, algo que achei muito errado. Era uma fala que dizia que homens que estupravam mulheres não eram doentes, eram machistas. OI, PERAÍ, MINHA GENTE. Há casos e casos. Psicopatas existem, sim, e não há "cura" para isso. É um problema real. Por isso comecei citando o Jack ali em cima. Serial Killer, muito conhecido, prova de que, sim, há os casos de estupros que são medicamente explicados.
Perceberam que eu estou citando pontos que acho questionáveis na marcha? Não vejo problemas em citá-los. Vejo problemas em, por causa deles, reduzir a marcha a algo estúpido, a algo sem foco, dispensável.
As mulheres presentes na marcha se vestirem com poucas roupas para defenderem UM PONTO, não quer dizer que elas ignorem todos os demais pontos. Elas estão defendendo o direito de se vestirem como quiserem sem serem taxadas por isso, ou sem que os homens achem que elas estão se oferecendo para serem estupradas. PONTO. A luta feminista é SÓ ISSO? Se resume a isso? NÃO.
Elas pegaram UM PONTO para representar O TODO. É como uma metonímia. Quando você pede A MÃO de uma mulher em casamento, você não está pedindo A MÃO, está pedindo TODA A MULHER, mas a mão representa o todo, é uma metonímia. As mulheres que organizaram e participaram da marcha pegaram UM DOS PONTOS para representar os demais.
Por causa dessa concepção de que 'veste roupa curta é vadia, não se dá ao respeito, não merece respeito', acontece de maridos espancarem esposas porque se acham no direito de monitorar o tipo de roupa que a mulher deve usar, porque MULHER DE FAMÍLIA não usa roupa curta. Estou falando hipoteticamente? Não, eu não estou. Quando eu disse que vivi a coisa é porque eu sou a quarta filha de um casamento complicado. Não existe violência contra a mulher? Vocês não veem? Tudo bem, eu era uma criança quando vi, e posso relatar, com riqueza de detalhes das noites que passei acordada com medo de dormir e meu pai matar a minha mãe (foi aí que conheci a 'amiga' insônia). Já vi minha mãe com o olho roxo, porque meu pai se achava no direito de bater nela porque ela gostava de se arrumar. Já entrei na frente do meu pai porque ele estava com uma faca para matar a minha mãe. Eu não gosto de festas, mas tinha de escolher ir a alguma festa com a minha mãe ou ficar em casa ouvindo meu pai chamá-la de vagabunda, puta, etc.
Já falei que sou militante desde os seis anos de idade, né? Na noite em que, com seis anos de idade, cantei o jingle de um candidato a vereador, minha mãe e eu dormimos na casa de um dos meus tios. Meu pai não abriu a porta da casa para nós entrarmos. Ter passado por tudo isso fez com que eu saísse por aí dizendo que todo homem é vagabundo, machista e não presta? Procurem, em todos os meus posts no fórum, e vejam se eu falei isso. Não falei. A experiência que eu tive em casa me fez saber o tipo de homem que eu não queria para mim. Essa experiência conturbada que tive me faz ser mais cautelosa, sim, me faz ficar receosa, sim, em relação a relacionamentos, mas não saio dizendo que TODOS os homens são assim. Não aceito e não admito que FDP nenhum encoste um dedo em mim. Minha mãe aguentou por 25 anos. Eu não aguentaria a primeira vez. É uma escolha que eu fiz. Vou julgar minha mãe por ela ter demorado tanto para se separar? Não, não vou, ela cresceu em um outro ambiente, cresceu no interior, onde essa concepção de HOMEM MANDA, MULHER OBEDECE é mais forte, ainda. Mas ela conseguiu se libertar. E eu luto para que outras mulheres também consigam se libertar. Eu luto para ajudar na conscientização das mulheres de que elas não precisam passar por isso. E eu luto para que as mulheres sejam livres.
Marchas não mudam a opinião de ninguém. Marchas têm a intenção de fazerem as pessoas refletirem sobre o assunto. Colocarem os assuntos em pauta, e não simplesmente fingirem que o problema não existe. Quando você admite a existência do problema, você começa a pensar, efetivamente, em soluções para ele. Soluções dignas, políticas públicas, e não moralismo barato do tipo "VISTAM ROUPA E PAREM DE ANDAR PELADAS".