Eu não sei qual é a idéia de vocês do futebol ideal que a Seleção Brasileira deva jogar... Tem gente que gosta mais do estilo de 2002 mesmo. 5-3-2, e deixa um ou outro com talento se virar lá na frente. Tem gente que gosta. Eu não. Quando se trata de Seleção Brasileira, prefiro que perca jogando bonito do que que ganhe defendendo. O título de 2002 pra mim foi um grande "meh...". Teve um ou outro lance genial do Ronaldinho, e do Rivaldo, mas os adversários foram muito fracos. Tunísia na semi-final é tenso... Aquela Alemanha da final foi a Alemanha mais fraca que eu já vi.
Só foi um pouco interessante o jogo da Inglaterra, mas que também não tava jogando bem naquela Copa.
Tem gente que acha entediante o
Tiki Taka do Barça. Bem... respeito as preferências de cada um, mas acho espetacular. A linha de zagueiros sobe, e o campo se reduz pela metade. E aí, encaixando o posicionamento triangular em torno da bola, o time começa a tocar a bola maravilhosamente. Piruzinho com o jogo valendo.
O adjetivo "cadenciado" talvez não seja o mais adequado para o estilo do Barcelona. O time visa sempre a posse de bola, até que a oportunidade de gol clara apareça. Mas é muito intenso. Pra começar, o time troca passes de bola frenéticos no campo do adversário, com agressividade para chegar ao gol. Ao invés de arriscar um chute de longe, ou um passe que em profundidade, que tem 75% de chance de ser cortado, o time prefere não ceder o contra-ataque. Mas tem velocidade nos passes, os jogadores se movimentam igual uns loucos desvairados, e o time avança constantemente em direção ao gol. Quando tem cadência, é culpa do outro time que se fecha inteiro lá atrás... daí o Xavi toca a bola pro Iniesta, volta pro Busquets, vira lá do outro lado pro Pedro... até encontrar um espaço para penetrar pelo chão, sem levantar o chuveirinho na área. Concordo que não é velocidade vertical, como o C. Ronaldo no contra-ataque pela esquerda, mas o estilo do Barça imprime velocidade ao jogo sim.
Eu sei... conheço toda a história recentemente do Barcelona. Cruyff chegou no início dos anos 90, e foi o responsável por reformar as categorias de base do Barça. O time que ele dirigiu como técnico, no entanto, não foi formado em La Masia. Romário, Laudrop, Stoichkov, Koenma, etc... Todos jogadores que foram contratados. O único que veio de La Masia, foi o Guardiola. E, mesmo assim, o Cruyff só identificou no Guardiola o talento que ele precisava, para fazer a função do número 4 (uma posição que o Cruyff inventou nessa época, que é a função que o Xavi tem hoje no Barça. É o armador que joga mais recuado, como um volante, para melhorar muito a qualidade do passe).
Depois o Barcelona teve inúmeros altos e baixos... teve grandes equipes que se formaram e que se acabaram, como foi na época do Rivaldo e do Figo. Depois teve o time do Ronaldinho Gaúcho, com Deco, Eto'o (CF), Henry... Percebam que os grandes jogadores foram sempre contratados. Mas o time jogava sempre na formação com 3 atacantes (característica do futebol holandês, que o Cruyff trouxe como regra). A posse de bola, em todos esses times, sempre foi importante, mas não era uma busca frenética como é no dia de hoje do Barcelona.
Uma coisa que muita gente não sabe, é que o Guardiola era treinador na categoria de base do Barcelona. Ele foi treinador do Messi, do Fábregas, do Piqué, por exemplo. É verdade que foi o Cruyff quem implantou a semente lá atrás. Mas eu não tenho a menor dúvida de que o Guardiola é o embrião que evoluiu e que ultrapassou o criador dessa idéia. Tudo no Barcelona é propício para desenvolver esse estilo de futebol. Mas será que aqui no Brasil não pode ser também? Nós temos o talento bruto, até mais do que eles.
O único problema é que fomos muito mal treinados nos últimos 30 anos. Perdemos pra Itália em 82, e entendemos errado a lição. O nosso time era brilhante, mas era ingênuo no sistema defensivo. Perdemos com justiça para uma Itália que jogou demais, e tivemos vontade de imitar o estilo deles. O Brasil passou a jogar como Itália 12 anos depois. Em 94 o Brasil fez o que tinha que fazer, com os jogadores que tinha às mãos na época... mas ficou viciado em jogar assim.
Quantos Djalminhas nós descartamos ao longo dessa última década, porque quisemos jogar como Itália, hein? Alex (ex-Fenerbach) entra nessa lista... pior do que isso, foi quantos Falcões deixamos de revelar. Na década de 80, tínhamos volantes que jogavam como um 4 do Barcelona. Adílio e Andrade eram volantes que sabiam jogar com a bola no pé, Cerezo, Falcão. Cadê os herdeiros do Clodoaldo? Eu digo onde eles estão. Algum dia, na categoria de base, um treinador acéfalo falou pro moleque que tentava driblar e armar jogadas na altura do círculo central: "Ei, seu fedelho! Aqui não é lugar de fazer isso não. Se quiser jogar bonito, tem que ir lá pra frente".
A Seleção Brasileira é o espelho que vai influenciar todo o futebol no nosso país. Somos um bando de debiloides, hipnotizados igual cachorrinho na frente do frango que é assado na rua, quando vemos a Seleção Brasileira. Pode ser dirigida por um bando de corruptos... dizemos que tá jogando mal, e que nem ligamos se ela ganha ou perde mais. Mas, quando ela joga, todo mundo espreita, nem que pelos cantos dos olhos. Fazemos isso, porque sonhamos que um dia a mágica de 70, de 82 ou de 58 irá voltar. E, se ela não volta, cruzamos de novo os braços, e falamos que não ligamos.
Eu tenho muita esperança de que o Guardiola, como técnico da seleção, teria um significado muito impactante para o resgate do futebol que nós perdemos.
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