Só queria pontuar uma coisa. A sub-criação é antes de tudo moldagem, em múltiplos, variadíssimos níveis e formas. Luz partida em caleidoscópios, é isso mesmo. Mas, justamente por isso, não deixa algo como resíduo. Porque não há "magia" nem na partida nem na chegada, não são ações que utilizam um combustível mágico, inato ou capturado no mundo (não há mana, por exemplo), mas puras ações voluntárias tornadas existentes pelo empenho do ser e tudo que ele já carrega em si: por isso a potência em Tolkien é idêntica à estatura. Os valar, grandes espíritos, enormes espíritos, cantaram os temas enormes que tinham em si, e sua enorme vontade preencheu o caos com formas aéres, aquosas e terrestres. O que se manipula não é, de forma alguma, forças já existentes, ou mesmo formas, ou mesmo matéria. O que se manipulo é o informe pré-existente. Para os espíritos menores, sobre operar na matéria já impressa, mas eles podem também imprimir sobre este trabalho. Os espíritos menores, incluindo os homens, são buriladores, esmiuçadores. Os espíritos menores também não manipulam, assim, forças, mas sim formas pré-existentes. Essas formas, incluindo a matéria e suas propriedades, estão inteiramente contidas em si mesmas, a pureza da água não é pelo espírito de Ulmo que ainda paira sobre ela, mas por ser pura nela mesma, pela água ser cristalina. Por isso ela tanto desfaz a poluição quanto pode ser poluída. Há em Tolkien um certo materialismo, o mundo é exatamente o que ele é, e não deve ser diferente nesse ponto. O único vala que não somente imprimiu sua vontade em formas, mas fez-se forma para incluir-se em toda a matéria foi Melkor. Ele fez-se presente como, de fato, um elemento inconcluso, um potencial nunca satisfeito, mas que só pode variar para a decomposição e a negação de si mesmo e do que ele envolve, o que, infelizmente, é tudo que é matéria em Arda. Só há magia do tipo clássico, como um conhecimento e um artifício, como utilização desta matéria. Mas esta é justamente a arte negra, a maquinaria.